domingo, 12 de dezembro de 2010

Colunista Stalinista da Folha Defende Criminosos na Europa

por Janer Cristaldo
Leitor me pergunta se não vou comentar os feitos do australiano Julian Assange, o proprietário do site WikiLeaks, que hoje domina as páginas da imprensa internacional. Não, não vou comentar. Todos estão comentando. Apenas diria que considero espantoso um homem relativamente jovem, de 39 anos, conseguir afrontar todas as nações do mundo. Em verdade, os jornais estão exagerando em seus noticiários. Assange, até agora, não revelou nenhum segredo vital de Estado. Apenas fofocas diplomáticas. Diplomacia é a arte da mentira e é normal que, privadamente, diplomatas digam algumas verdades.
Os méritos não são apenas de Assange, mas do soldado que lhe passou a bagatela de 250 mil documentos, Bradley Manning. No que não há nada de espantar. Quando alguém detém uma tribuna importante, as informações lhe chegam espontaneamente. Assange, hoje no cárcere, é aquele através de quem o escândalo surge. Bradley é quem o fornece. Mas causa espécie ver os Estados Unidos querendo abafar a voz de Assange e jogando ao lixo a Primeira Emenda: "O congresso não deve fazer leis a respeito de se estabelecer uma religião, ou proibir o seu livre exercício; ou diminuir a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou sobre o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações por ofensas."
Prefiro comentar o que ninguém comenta. Por exemplo, a coluna de hoje de Vladimir Safatle. Não bastasse a Folha de São Paulo ter um senador corrupto e um jornalista bolsa-ditadura entre seus colunistas, contratou agora às terças-feiras uma múmia stalinista. Isso, duas décadas depois da derrubada do Muro de Berlim. No caso, Vladimir Safatle, cujo prenome já denuncia sua estirpe. Professor no Departamento de Filosofia da USP, a universidade que introduziu o marxismo no Brasil, Vladimir não nega ao que veio. Autor de artigos confusos, nos quais é difícil perceber o que quer dizer, desta vez o jovem comunossauro foi explícito.
Os suíços aprovaram em referendo, no último domingo do mês passado com 53 por cento dos votos a favor e 47 contra, a expulsão do país, de estrangeiros condenados pela justiça. Serão expulsos da Suíça os emigrantes que tenham praticado crimes considerados graves, entre eles o assassinato, assalto à mão armada e tráfico de droga. Ficam impedidos de pisar solo helvético durante 5 a 15 anos ou 20 em caso de reincidência. Os estrangeiros foram responsáveis por 59 por cento dos homicídios em 2009. Fica também prevista a expulsão de estrangeiros que abusam da ajuda social.
Safatle toma a defesa dos criminosos e fala em nada menos que fascismo suíço. Como se fosse fascista um país que não deseja abrigar em seu território criminosos estrangeiros, em geral beneficiados pela assistência social. A Suíça assumiu a vanguarda desse processo. Há alguns dias, ela jogou na lata de lixo o que restava de sua democracia ao aprovar, por plebiscito, uma lei de dupla pena para crimes cometidos por estrangeiros. Um imigrante que, por exemplo, assalte um banco suíço especializado em lavagem de dinheiro, terá de cumprir a pena prevista no Código Civil e, posteriormente, ser expulso do país. Ou seja, ele cumpre uma dupla pena”.
O articulista fala, capciosamente, de bancos suíços especializados em lavagem de dinheiro. Ou seja, está conferindo a assaltantes de bancos o status de fautores de justiça. E considera pena a expulsão do país. Ora, expulsão não é privação de liberdade. Não sei se Safatle se deu conta, mas está considerando punição a devolução, com passagem paga, do imigrante ao país que o viu nascer. No fundo traiu-se, ao confessar que ser expulso de um país capitalista é punição.
Tal aberração jurídica simplesmente quebra o princípio fundamental da democracia, a saber, a isonomia diante da lei – continua o jovem comunossauro -. A noção de que todos, à exceção de inimputáveis, como as crianças e os loucos, estão submetidos às mesmas leis é a base da democracia. Mas, ao criar leis especiais para crimes de imigrantes, a Suíça quebra a isonomia entre delitos e penas e instaura um regime de discriminação legal”.
Ora, os suíços decidiram que não querem criminosos estrangeiros em seu território. As leis suíças são para os suíços. Por que se aplicariam a criminosos que não são suíços? No fundo, o antigo ódio de Marx à Europa, expresso na primeira fase do Manifesto: um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo. Como bom comunista que odeia a democracia européia, Safatle não se furtará a fazer a defesa do Islã:
Os helvéticos já tinham colocado um pé fora da democracia ao aprovarem, novamente por plebiscito, uma lei que proibia a construção de minaretes em mesquitas muçulmanas. Segundo eles, tais minaretes representavam o desejo expansionista e belicista do islã. Cartazes associando minaretes a mísseis foram espalhados pelos Alpes. Com isso, eles quebravam a ideia de que todas as religiões devem ter o mesmo tipo de tratamento pelo Estado (e, se for para falar em belicismo religioso, nenhuma religião passa no teste). Talvez o próximo passo seja a simples interdição para a construção de mesquitas. Afinal, para alguns, muçulmano bom é muçulmano invisível”.
O problema não é a construção de mesquitas. As mesquitas em verdade são madrassas, centros de doutrinamento islâmico. Os muçulmanos têm uma visão teocrática do Estado e pretendem, em uma Europa leiga, que os Estados se submetam a dogmas religiosos. Os árabes querem legislar em territórios que não os seus. Se um dia a Europa proibir a construção de mesquitas, estará apenas exercendo o direito de legítima defesa ante o totalitarismo islâmico. O mundo muçulmano não aceita igrejas católicas em sua geografia e Safatle jamais os acusaria de colocarem o pé fora da democracia. Por uma razão elementar: democracia é palavra proibida no mundo árabe.
Aqueles que realmente se preocupam com a democracia talvez devessem voltar seus olhos para Suíça, Holanda, Itália, Dinamarca. De lá vem a verdadeira ameaça” – escreve o jovem comunossauro. Fiel às suas origens marxistas, parafraseia o mestre: “Se lembrarmos dele, talvez sejamos obrigados a dizer que um fantasma assombra a Europa: o fantasma de uma nova forma de fascismo ordinário”.
Fascista é a Europa, que procura defender-se de totalitarismos. Onde terá pedido asilo a democracia? Certamente na China, Cuba ou Coréia do Norte.
COMENTO:  me permito discordar do termo usado por Cristaldo, quanto ao caso WikiLeaks. Me parece que Julian Assange somente fez o que se propôs por ocasião da criação do seu sítio: difundir dados que lhe sejam fornecidos e que interessem ao público em geral. Por outro lado, não posso ver mérito na atitude de Bradley Manning. Assange pode ter prejudicado as relações entre alguns dirigentes mundiais ao expor a hipocrisia que permeia a diplomacia global, mas quem não sabe que as relações entre países funcionam dessa forma? Quem desconhece o fato que as representações diplomáticas existem para defender os interesses de seus países em território alheio, além de colher informações que possam ser úteis nessa defesa? Por outro lado, o soldado Manning expôs sua face traiçoeira ao subtrair informações a que teve acesso, e que sabia serem capazes de causar problemas ao seu país. Expôs também, e isso é o que me parece mais grave, a fragilidade da segurança das informações norte americanas. Falharam os yankees ao deixarem de usar um dos princípios básicos do manuseio de inteligência: a "compartimentação". O acesso aos arquivos por parte de quem não tem a "necessidade de conhecer", particularmente no caso, por um militar aparentemente sem o comprometimento para com sua Instituição, me parece o fato mais grave no caso WikiLeaks. No mais, os dados revelados são irrelevantes em termos de importância geopolítica. Quanto à defesa dos criminosos a serem expulsos da Suíça, me parece que esse jogo de alegar firulas jurídicas é o mais utilizado, com êxito, pelos nossos 'advogados de porta de cadeia'. Tática alimentada pela infinita incapacidade de se fazer um trabalho bem feito que impera 'neçepaíz'. Já com os suíços essas firulas não funcionam. Não é à toa a diferença que nos separa!

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