segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Farsa, Fraude ou Tragédia?

por José Carlos Leite Filho
A manifestação do eleitorado brasileiro nas recentes pesquisas de intenção de voto é de causar espanto, temor mesmo, pela ameaça latente à democracia e aos poderes constituídos. Esse fato preocupa quando parece corroborar a alta popularidade do presidente, transformando-o em um “líder carismático, que não aceita os limites da lei, muito menos críticas, e se considera o pai do “seu” povo”, conforme palavras do jornalista Merval Pereira, em artigo publicado no da 21 deste mês, no jornal O Globo, do Rio de Janeiro. São sintomáticas também as palavras presidenciais, reveladoras de um desejo contido, mas que vez por outra aflora, proferidas em recente cerimônia de sanção da “Lei de Mudanças” no Ministério da Defesa, consideradas por ele mais fáceis e com menos resistência de aprovação do que imaginava, proporcionando-lhe um arremate ao “companheiro” Jobim dizendo-lhe, alto e bom tom, que ele bem que “poderia ter mandado uma emendinha para passar mais uns anos de mandato”...
É quase inacreditável que o presidente da República, em decisão pessoal própria de ditadores, sem consulta partidária, tenha sido capaz de escolher a candidata oficial para lhe suceder. E, pior ainda, o silêncio ocorrido em um partido que costuma ouvir suas bases... A ungida, ex-terrorista participante de ações extremadas das quais se declara orgulhosa, autoritária e ríspida até mesmo, segundo noticiado, com os seus subordinados; incapaz de um sorriso, sem experiência parlamentar, de repente sofre uma metamorfose que lhe muda visual e temperamento, passando a apresentar-se feminina, suave e risonha, na busca da preferência popular capaz de lhe eleger.
Caracteriza-se, assim, um quadro político nacional nada auspicioso, onde uma criatura, se eleita, deverá ser monitorada pelo seu criador, de ego exacerbado capaz de trilhar caminhos próprios de um populismo que lhe assegure poder político continuado em troca de um assistencialismo anestesiador de consciência e, consequentemente, do bem maior do cidadão: a liberdade! Não é outro o horizonte político brasileiro onde o povo inerte continua a aceitar uma conjuntura vergonhosa de hospitais públicos geradores de mutilados e de cadáveres por falta de assistência adequada; uma educação discriminatória incapaz de formar uma elite intelectual apta ao enfrentamento dos desafios de um Brasil grande e um quadro de guerra interna onde as balas vão às escolas e a liberdade de atuação dos marginais supera a do cidadão!
Enquanto isso, a candidata poste, não podendo esconder a triste realidade nacional, passou a prometer acabar com as filas nos hospitais públicos, criar milagrosas unidades de pronto-atendimento, melhorar o ensino e tudo o mais que o governo do seu tutor não viu ou não se interessou fazer em quase oito anos de êxtase e de culto à sua personalidade. E o pior, muito pior, é a falta de reação de um povo que parece se conformar com as migalhas que recebe, o que, se por um lado reforça o resultado das pesquisas, por outro desperta uma grande dúvida na sua correção haja vista a inesperada reação negativa de um auditório, sabidamente popular, ocorrida sábado, dia 28/8, no programa do apresentador de televisão Raul Gil, ante a citação do nome do presumido líder!
É o caso de se perguntar se a metamorfose tão trabalhada pelos marqueteiros e tão bem encenada pela candidata é parte de uma farsa, uma fraude ou de uma tragédia que se avizinha?
Gen Ex José Carlos Leite Filho
linsleite@supercabo.com.br
Fonte: O Jornal de Hoje - 30/08/10 - Pg 18.

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