domingo, 25 de julho de 2010

O Atentado de Guararapes

Em 1966, dois anos depois da Revolução Democrática de 31 de Março, a Nação brasileira empenhava-se em reerguer o País, após o caos dos primeiros anos da década de 60.
Entretanto, uma pequena minoria inconformada, constituída pelos comunistas e pelos corruptos que haviam sido alijados da vida política nacional, procurava reorganizar-se e, de qualquer maneira, expressar seu descontentamento.

Recife, a capital pernambucana, foi a escolhida para ser o cenário inicial de uma nova forma de luta — o terrorismo — que, por muitos anos, viria a ensangüentar e a enlutar a sociedade brasileira. 
O 31 de Março de 1966 amanhecia com sol. O povo pernambucano e as autoridades já estavam reunidos no Parque 13 de Maio, aguardando o início das comemorações do segundo ano da Revolução.
Nesse momento, exatamente às 08:47h, ocorria violenta explosão no 6º andar do edifício dos Correios e Telégrafos, onde funcionavam os escritórios regionais do SNI e da Agência Nacional.
Ao mesmo tempo, uma segunda explosão atingia a residência do Comandante do IV Exército.
Mais tarde, seria encontrada uma terceira bomba, falhada, num vaso de flores da Câmara Municipal de Recife, onde havia sido realizada uma sessão solene em comemoração à Revolução Democrática.

Três bombas montadas para, num só momento, atingir personalidades e entidades representativas do governo brasileiro. Iniciava-se a guerra suja.
Entretanto, a bomba falhada no legislativo municipal deveria estar incomodando os terroristas e estar sendo vista como um parcial fracasso de execução.
Assim é que, em 20 de Maio de 1966, 50 dias após esse ensaio geral, foram lançadas outras três bombas — dois "coquetéis molotov" e um petardo de dinamite, contra os portões da Assembléia Legislativa de Pernambuco.

A Nação, estarrecida, vislumbrava tempos difíceis que estavam por vir.

Em 25 de Julho de 1966, uma nova (terceira) série de três bombas, com as mesmas características das anteriores, sacode Recife. Uma, na sede da União de Estudantes de Pernambuco, ferindo, com escoriações e queimaduras no rosto e nas mãos, o senhor José Leite, de 72 anos, vítima inocente que passava pelo local. Outra, nos escritórios do Serviço de Informações dos Estados Unidos (USIS), causando, apenas, danos materiais. A terceira bomba, entretanto, acarretando vítimas fatais, passou a ser o marco balizador do início da luta terrorista no Brasil.
Nessa manhã de 25 de julho de 1966, o Marechal Costa e Silva, então candidato à Presidência da República, era esperado por cerca de 300 pessoas que lotavam o Aeroporto Internacional dos Guararapes.

Às 08:30h, poucos minutos antes da previsão de chegada do Marechal, o serviço de som anunciou que, em virtude de pane no avião, ele estava deslocando-se por via terrestre de João Pessoa até Recife e iria, diretamente, para o prédio da SUDENE.

Esse comunicado provocou o início da retirada do público.

O guarda-civil Sebastião Tomaz de Aquino, o "Paraíba", outrora popular jogador de futebol do Santa Cruz, percebeu uma maleta escura abandonada junto à livraria "Sodiler", localizada no saguão do aeroporto. Julgando que alguém a havia esquecido, pegou-a para entregá-la no balcão do DAC.

Ocorreu uma forte explosão.
O som ampliado pelo recinto, a fumaça, os estragos produzidos e os gemidos dos feridos provocaram o pânico e a correria do público. Passados os primeiros momentos de pavor, o ato terrorista mostrou um trágico saldo de 17 vítimas.
Morreram o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Regis de Carvalho, casado e pai de cinco filhos, com um rombo no abdômen, e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes, com o crânio esfacelado, deixando viúva e dois filhos menores.

O guarda-civil "Paraíba" feriu-se no rosto e nas pernas, o que resultou, alguns meses mais tarde, na amputação de sua perna direita.

O então Tenente-Coronel do Exército, Sylvio Ferreira da Silva, sofreu fratura exposta do ombro esquerdo e amputação traumática de quatro dedos da mão esquerda.
Ficaram, ainda, feridos os advogados Haroldo Collares da Cunha Barreto e Antonio Pedro Morais da Cunha, os funcionários públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro, os estudantes José Oliveira Silvestre, Amaro Duarte Dias e Laerte Lafaiete, a professora Anita Ferreira de Carvalho, a comerciária Idalina Maia, o guarda-civil José Severino Pessoa Barreto, o Deputado Federal Luiz de Magalhães Melo e Eunice Gomes de Barros e seu filho, Roberto Gomes de Barros, de apenas seis anos de idade.

O acaso, transferindo o local de chegada do futuro Presidente, impediu que a tragédia fosse maior.
O terrorismo indiscriminado, atingindo pessoas inocentes e, até, mulheres e crianças, mostrou a frieza e o fanatismo de seus executores. Naquela época, no Recife, apenas uma organização subversiva, o Partido Comunista Revolucionário (PCR), defendia a luta armada como forma de tomada do poder. Dois comunistas foram acusados de envolvimento no ato terrorista: um, Edinaldo Miranda de Oliveira, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e que, em 1986, era professor de Engenharia Elétrica em Recife, e o outro era Ricardo Zaratini Filho, então militante do PCR e atual assessor parlamentar da liderança do PDT na Câmara Federal.
Durante muito tempo, a esquerda escondeu, enquanto pôde, a autoria desse atentado, chegando a afirmar que teria sido feito pela direita para tentar incriminá-la. Técnica antiga muito usada, até os dias de hoje, pela esquerda.
As autoridades, atônitas, procuravam os autores desses atentados. Não obtinham nenhuma resposta. Não tínhamos, até então, nenhum órgão para combater, com eficiência, o terrorismo.
Foi um comunista, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que teve a hombridade de denunciar esse crime: Jacob Gorender, em seu livro Combate nas Trevas — edição revista e ampliada — Editora Ática — 1998, escreve sobre o assunto:
Membro da comissão militar e dirigente nacional da AP, Alípio de Freitas encontrava-se em Recife em meados de 1966, quando se anunciou a visita do general Costa e Silva, em campanha farsesca de candidato presidencial pelo partido governista Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Por conta própria Alípio decidiu promover uma aplicação realista dos ensinamentos sobre a técnica de atentados.
Em entrevista concedida a Sérgio Buarque de Gusmão e editada pelo Jornal da República, logo depois da anistia de 1979, Jair Ferreira de Sá revelou a autoria do atentado do Aeroporto de Guararapes por militantes da AP. Entrevista posterior, ao semanário Em Tempo, referiu-se a Raimundinho como um dos participantes da ação. Certamente, trata-se de Raimundo Gonçalves Figueiredo, que se transferiu para a VAR-Palmares (onde usava o nome de guerra Chico) e morreu, a vinte sete de abril de 1971, num tiroteio com policiais do Recife.”
Fica, portanto, esclarecida a autoria do atentado ao Aeroporto de Guararapes:
· Organização responsável: Ação Popular (AP);
· Mentor intelectual: ex-padre Alípio de Freitas — que já atuava nas Ligas Camponesas —, membro da comissão militar e dirigente nacional da AP;
· Executor: Raimundo Gonçalves Figueiredo, militante da AP.
Em 2004, o ex-padre Alípio de Freitas, residente em Lisboa, foi beneficiando por uma indenização fixada pela Comissão de Anistia em R$ 1,09 milhão.
Raimundo Gonçalves Figueiredo é nome de uma rua em Belo Horizonte/MG e sua família também foi indenizada.
Um ano depois do atentado, em 25 Jul 67, foi inaugurada no Aeroporto uma placa de bronze com os seguintes dizeres:

"HOMENAGEM DA CIDADE DO RECIFE AOS QUE TOMBARAM NESTE AEROPORTO DOS GUARARAPES, NO DIA 25 DE JULHO DE 1966, VITIMADOS PELA INSENSATEZ DOS SEUS SEMELHANTES.
— ALMIRANTE NELSON FERNANDES
 JORNALISTA EDSON REGIS
GLORIFICADOS PELO SACRIFÍCIO, SEUS NOMES SERÃO SEMPRE LEMBRADOS RECORDANDO AOS PÓSTEROS O VIOLENTO E TRÁGICO ATENTADO TERRORISTA, PRATICADO À SORRELFA PELOS INIMIGOS DA PÁTRIA."
Não sabemos se essa placa ainda permanece no aeroporto ou foi retirada ou, mesmo, substituída por homenagens aos comunistas.
Hoje, os terroristas daquela época, arvorando-se em "heróis" libertários, afirmam que o que fizeram foi uma reação à "violência" do Governo brasileiro. Intencionalmente, procuram deturpar a História e levar ao esquecimento as vítimas que causaram em sua sanha fratricida, dentre elas, as de 1966.

Passaram-se muitos anos.
Mas as bombas de Recife e o atentado de Guararapes não serão esquecidos.

Fonte: Ternuma
e A Verdade Sufocada
COMENTO: Hoje em dia, os companheiros dos terroristas daquela época ocupam cargos eletivos ou foram nomeados para cargos "de confiança" dos eleitos. E tentam manter-se no poder ou em sua proximidade, elegendo-se ou colocando seus aliados em posições privilegiadas na política nacional, com a cumplicidade de um eleitorado ignorante e incapaz de saber o mal que está fazendo aos seus descendentes ao aceitar o jogo sujo desses patifes, trocando seu voto por esmolas apelidadas de "benefícios sociais". Leia mais e veja fotografias de logo após o atentado de Guararapes, clicando em qualquer um dos enlaces das fontes.
ATUALIZANDO A POSTAGEM: Sebastião Thomaz de Aquino, o "Canhão do Arruda", faleceu em 29 Mai 2017 sem receber alguma indenização, ao contrário dos criminosos que interromperam sua carreira profissional como jogador de futebol. Por ironia do destino, Alípio Cristiano de Freitas, o Padre Alípio, mentor da tragédia que atingiu o "Canhão do Arruda" morreu, também, quase um mês depois, em 13 Jun 2017.

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