por Janer Cristaldo
Comentei, há dois anos, as pretensões de Ingrid Betancourt, a deputada sequestrada pelas FARC e resgatada pelo Exército colombiano em julho de 2008. Por ter permanecido seis anos como refém do narcotráfico, Betancourt se sentiu logo merecedora do prêmio Nobel. Na véspera da premiação, uma sala já havia sido alugada em um luxuoso hotel de Paris, para uma entrevista coletiva com a sequestrada. Um comitê denominado “Agir avec Ingrid” chegou a preparar um comunicado sobre o significado do troféu a ser conferido à deputada.
Santa ilusão. Deu Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia, discreto mediador de conflitos no mundo todo, que incluem o processo de independência da Namíbia, o conflito armado de Aceh, na Indonésia, mais conflitos no Iraque, na Irlanda do Norte, na antiga Iugoslávia, na Ásia Central e no Chifre da África.
Está ocorrendo um fenômeno curioso no mundo contemporâneo. Qualquer vítima se sente, ipso facto, herói. Que teria feito Ingrid merecer o Nobel da Paz? Permaneceu seis anos como prisioneira de terroristas. Ora, que mérito tem isso? Muitos outros permaneceram esse período prisioneiros das FARC – e outros ainda permanecem – e nem por isso se julgam merecedores do Nobel. Ocorre que Ingrid teve convivência com velhos comunossauros como Pablo Neruda e Gabriel Márquez, sem falar que após sua libertação andou tendo colóquios com sumidades como Bento XVI, Nicolas Sarkozy e outros ícones da mídia contemporânea. Logo se sentiu candidata natural ao Nobel.
Como não levou, está agora buscando outras fontes de renda. Decidiu processar o governo colombiano por seu sequestro. Justo o governo que a libertou do cativeiro. Segundo o Ministério de Defesa, a ex-candidata à presidência do país pediu US$ 6,8 milhões pelos danos sofridos, como o estresse emocional e a perda de renda enquanto esteve no cativeiro, entre 2002 e 2008. Um Nobel significa 1,4 milhão de dólares. Perdido o Nobel dos noruegueses, Ingrid quer nada menos que cinco prêmios Nobel dos colombianos.
Gabriel Devis, o advogado da moça, apressou-se a divulgar um comunicado afirmando que a franco-colombiana não processou ninguém, nem o governo nem as Forças Armadas ou qualquer das pessoas envolvidas em sua libertação. O que Ingrid quer, segundo seu defensor, é uma "reconciliação", procedimento clássico antes de uma reclamação administrativa.
"A conciliação é uma forma de ajudar a refletir sobre mecanismos de proteção fornecida pelo Estado colombiano para os seus cidadãos vítimas do terrorismo", disse Devis ao diário El Tiempo. O advogado ratificou "a profunda e permanente gratidão" de Betancourt "com o governo colombiano, as Forças Armadas e todos aqueles que de uma alguma maneira, corajosamente arriscaram suas vidas para garantir sua libertação e a de seus companheiros cativos".
Ah bom! Não é processo. Mas tentativa de reconciliação. Então tá! Ninguém imagine que Ingrid seria tão ingrata a ponto de processar o Estado que a libertou dos narcotraficantes das FARC. Ela quer modestamente reconciliar-se com seus libertadores. Quer apenas ajudar a refletir sobre mecanismos de proteção fornecida pelo Estado colombiano para os seus cidadãos vítimas do terrorismo. Honni soit qui mal y pense!
Leio em antiga reportagem da Folha de São Paulo que na Colômbia são registrados a cada ano 3.000 sequestros de civis e militares, nacionais e estrangeiros, adultos e crianças. Nove em cada dez sequestros são de caráter extorsivo, ou seja, têm o objetivo de conseguir um pagamento em troca dos reféns. Mas as guerrilhas e os grupos paramilitares de extrema direita - inimigos das FARC - também sequestram por motivos políticos. O alto comando militar afirma que esta indústria abastece a cada ano os diversos grupos ilegais colombianos com mais de US$ 600 milhões.
Bom negócio é aquele que satisfaz ambas as partes. Se satisfeitas as pretensões da candidata ao Nobel, ser sequestrado pode transformar-se em um belo investimento. Algo parecido ao que aconteceu no Brasil, mutatis mutandis, com os detentores de bolsas-ditadura. Diziam estar lutando pela revolução. Em verdade, estavam garantindo gordas aposentadorias.
Ganham os sequestradores e ganham os sequestrados. Só perde o Estado colombiano. Quem mandou combater a guerrilha?
Santa ilusão. Deu Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia, discreto mediador de conflitos no mundo todo, que incluem o processo de independência da Namíbia, o conflito armado de Aceh, na Indonésia, mais conflitos no Iraque, na Irlanda do Norte, na antiga Iugoslávia, na Ásia Central e no Chifre da África.
Está ocorrendo um fenômeno curioso no mundo contemporâneo. Qualquer vítima se sente, ipso facto, herói. Que teria feito Ingrid merecer o Nobel da Paz? Permaneceu seis anos como prisioneira de terroristas. Ora, que mérito tem isso? Muitos outros permaneceram esse período prisioneiros das FARC – e outros ainda permanecem – e nem por isso se julgam merecedores do Nobel. Ocorre que Ingrid teve convivência com velhos comunossauros como Pablo Neruda e Gabriel Márquez, sem falar que após sua libertação andou tendo colóquios com sumidades como Bento XVI, Nicolas Sarkozy e outros ícones da mídia contemporânea. Logo se sentiu candidata natural ao Nobel.
Como não levou, está agora buscando outras fontes de renda. Decidiu processar o governo colombiano por seu sequestro. Justo o governo que a libertou do cativeiro. Segundo o Ministério de Defesa, a ex-candidata à presidência do país pediu US$ 6,8 milhões pelos danos sofridos, como o estresse emocional e a perda de renda enquanto esteve no cativeiro, entre 2002 e 2008. Um Nobel significa 1,4 milhão de dólares. Perdido o Nobel dos noruegueses, Ingrid quer nada menos que cinco prêmios Nobel dos colombianos.
Gabriel Devis, o advogado da moça, apressou-se a divulgar um comunicado afirmando que a franco-colombiana não processou ninguém, nem o governo nem as Forças Armadas ou qualquer das pessoas envolvidas em sua libertação. O que Ingrid quer, segundo seu defensor, é uma "reconciliação", procedimento clássico antes de uma reclamação administrativa.
"A conciliação é uma forma de ajudar a refletir sobre mecanismos de proteção fornecida pelo Estado colombiano para os seus cidadãos vítimas do terrorismo", disse Devis ao diário El Tiempo. O advogado ratificou "a profunda e permanente gratidão" de Betancourt "com o governo colombiano, as Forças Armadas e todos aqueles que de uma alguma maneira, corajosamente arriscaram suas vidas para garantir sua libertação e a de seus companheiros cativos".
Ah bom! Não é processo. Mas tentativa de reconciliação. Então tá! Ninguém imagine que Ingrid seria tão ingrata a ponto de processar o Estado que a libertou dos narcotraficantes das FARC. Ela quer modestamente reconciliar-se com seus libertadores. Quer apenas ajudar a refletir sobre mecanismos de proteção fornecida pelo Estado colombiano para os seus cidadãos vítimas do terrorismo. Honni soit qui mal y pense!
Leio em antiga reportagem da Folha de São Paulo que na Colômbia são registrados a cada ano 3.000 sequestros de civis e militares, nacionais e estrangeiros, adultos e crianças. Nove em cada dez sequestros são de caráter extorsivo, ou seja, têm o objetivo de conseguir um pagamento em troca dos reféns. Mas as guerrilhas e os grupos paramilitares de extrema direita - inimigos das FARC - também sequestram por motivos políticos. O alto comando militar afirma que esta indústria abastece a cada ano os diversos grupos ilegais colombianos com mais de US$ 600 milhões.
Bom negócio é aquele que satisfaz ambas as partes. Se satisfeitas as pretensões da candidata ao Nobel, ser sequestrado pode transformar-se em um belo investimento. Algo parecido ao que aconteceu no Brasil, mutatis mutandis, com os detentores de bolsas-ditadura. Diziam estar lutando pela revolução. Em verdade, estavam garantindo gordas aposentadorias.
Ganham os sequestradores e ganham os sequestrados. Só perde o Estado colombiano. Quem mandou combater a guerrilha?
Fonte: Janer Cristaldo
COMENTO: essa vigarista se diz parte da turma "ambientalista" mas ao mesmo tempo é uma adoradora do "vil metal". À época de seu sequestro, fazia campanha eleitoral criticando o governo colombiano e se dizendo capaz de estabelecer a paz na Colômbia por meio do diálogo com os narcoquadrilheiros. Como todos os candidatos à Presidência do país, tinha direito - e utilizava uma equipe governamental de segurança -, mas recusou-se a acatar as recomendações dessa equipe no sentido de evitar percorrer regiões sob o controle dos bandidos. Confiava em estabelecer contato com os meliantes a fim de "faturar politicamente" alguma conversação, mesmo conhecendo o caráter dos meliantes. Deu no que deu! Nem mesmo seu sequestro - há até quem diga, mesmo em tom de brincadeira mas que pode ter um fundo de verdade, que tudo foi uma farsa premeditada para "alavancar" sua campanha, sem uma combinação prévia com os bandidos das FARC que teriam aproveitado a oportunidade para obter mais um refém famoso (o rompimento com sua companheira de sequestro e gerente de campanha, Clara Rojas, reforça essa hipótese maluca mas aceitável) - teve a capacidade de promoção eleitoreira pois obteve menos de 1% nas eleições que elevaram Álvaro Uribe à direção do país. Por que essa farsante não processa seus sequestradores exigindo-lhes a indenização pretendida? Afinal, os chefes da quadrilha de narcoguerrilheiros são conhecidos por todo o mundo.
ATUALIZANDO: em 11 Jul 2010, o jornal El Colombiano publicou reportagem onde Ingrid Betancourt nega a intenção de processar o Estado em busca de indenização e teria afirmado que "no habrá demanda y por mi cabeza no ha habido nunca la intención de demandar y los culpables del secuestro son las FARC y quienes me liberaron son los héroes de la Operación Jaque". Cínica! Recuou em função da repulsa que a intenção provocou na sociedade colombiana!
ATUALIZANDO: em 11 Jul 2010, o jornal El Colombiano publicou reportagem onde Ingrid Betancourt nega a intenção de processar o Estado em busca de indenização e teria afirmado que "no habrá demanda y por mi cabeza no ha habido nunca la intención de demandar y los culpables del secuestro son las FARC y quienes me liberaron son los héroes de la Operación Jaque". Cínica! Recuou em função da repulsa que a intenção provocou na sociedade colombiana!
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