por Cristiano Romero e Raymundo Costa
Passados cinco anos da crise do mensalão - o escândalo que derrubou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao nível mais baixo de seus dois mandatos -, fatos novos vêm à tona: como a proposta de renúncia ao cargo e a candidatura à Presidência feita a Lula por aliados, a tentativa de Delúbio Soares de beneficiar um banco estrangeiro em troca de auxílio financeiro ao partido, e a peregrinação do empresário Marcos Valério no Banco Central para tentar mudar a lei de liquidação bancária.
O pior momento político do presidente Lula, em quase oito anos de mandato, ocorreu no dia 11 de agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça, instigado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, deu um depoimento-bomba à CPI dos Correios. No testemunho, Duda associou a campanha presidencial de 2002 a crimes eleitorais e financeiros revelados no escândalo do mensalão.
Foi ACM quem convenceu Duda a contar "toda a verdade" à CPI dos Correios, uma das três criadas pelo Congresso em 2005 para apurar o mensalão, que eclodiu há exatos cinco anos. Duda não fora convocado pela CPI para depor. Em 11 de agosto, no entanto, após várias conversas com ACM, o publicitário decidiu ir à comissão. Antes, pediu proteção.
Num depoimento de quase dez horas de duração, Duda confessou ter recebido R$ 15,5 milhões do PT em 2003, em recursos de caixa 2, como pagamento da campanha presidencial do ano anterior. Do total, R$ 10,5 milhões foram depositados numa conta no exterior. O depoimento levou a crise do mensalão para dentro do Palácio do Planalto e derrubou a popularidade do presidente ao nível mais baixo desde que assumiu o cargo - 28%, segundo as pesquisas do Datafolha em outubro e dezembro de 2005, índice impensável para o Lula de hoje em dia (de acordo com pesquisa de abril, o presidente é aprovado por 73% da população).
Nos últimos três meses, o Valor Econômico conversou com os principais personagens da crise do mensalão para investigar por que a oposição desistiu de levar adiante a proposta de impeachment, que passou a ter "prova material", segundo avaliação de integrantes do próprio governo, após o depoimento de Duda; como o presidente Lula atuou politicamente no seu pior momento; que fatos passaram ao largo das três CPIs; quem foram e como atuaram os "bombeiros" da crise.
A apuração revela que o governo acreditou mais na possibilidade de impeachment do que a oposição. Mostra, ainda, como o governo Lula mudou de rumo após aquela crise, dando mais poder ao movimento sindical.
Durante a crise, um grupo de assessores e ministros, batizado de "Grupo das 8", referência ao horário em que eles se encontravam toda manhã, se reunia, numa sala contígua ao gabinete presidencial, para monitorar as CPIs e bolar estratégias de reação. O grupo era formado por Gilberto Carvalho (chefe de gabinete) e os então ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Ciro Gomes (Integração Nacional), Tarso Genro (CDES), Jaques Wagner (Coordenação Política) e Antônio Palocci (Fazenda).
O IMPEACHMENT BATE À PORTA
O governo Lula balançou no dia 11 de agosto de 2005, quando Duda Mendonça deu seu depoimento à CPI. No dia seguinte, após longo e calculado período de alheamento, Lula e o governo passaram a tratar o impeachment como uma ameaça concreta.
A corte de Lula compreendera exatamente a gravidade das confissões feitas por Duda. Além dos participantes habituais do Grupo das 8, apareceram na Granja do Torto outros auxiliares da copa e cozinha de Lula, como Clara Ant (assessora especial e tomadora oficial de notas nas reuniões), Marco Aurélio Garcia (assessor internacional) e o sempre discreto ministro Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência), o encarregado, no Palácio do Planalto, de manter a sintonia fina com os movimentos sociais.
Lula não mediu palavras: o depoimento de Duda fora "um desastre" e era "evidente" que o publicitário havia se acertado com a oposição. O presidente estava certo. Duda fora convencido pelo senador pefelista Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007) a contar "toda a verdade" à CPI.
ACM afastara-se do governo após as eleições municipais de 2004. Lula e o oligarca baiano haviam se aproximado em 2002, nas eleições presidenciais, e selaram a união em convescote na casa de praia de Duda, em Salvador. No ano seguinte, José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, ajudara o senador a se desvencilhar da acusação de ter mandado "grampear" metade da Bahia. Dois anos depois, a disputa pela prefeitura de Salvador, um feudo carlista, novamente colocou ACM e Lula em rota de colisão.
O clima era de funeral no dia 12 de agosto de 2005, uma sexta-feira. Para os principais integrantes do Grupo das 8, a crise havia chegado ao gabinete do presidente da República. Agora não havia mais como Lula continuar a fazer de conta que a crise não era com ele, como fizera até então.
Poucos dias depois, ainda no calor provocado por Duda, ao fim das reuniões da manhã no Palácio do Planalto, Lula chamou um auxiliar direto à sua sala e disse: "Foram lá ontem à noite falar comigo", contou o presidente. Segundo Lula, para propor que ele renunciasse publicamente à campanha pela reeleição no ano seguinte. Esse gesto diminuiria o ímpeto da oposição em levar adiante um processo de impeachment. "Esses caras são gozados. Eles não conhecem a minha ligação com o povo. Isso não vai acontecer! Vou ganhar a eleição desses filhos da mãe!", disse em seguida um Lula indignado. O assessor, atônito, dirigiu-se a alguns dos integrantes do Grupo das 8 e deu seu testemunho: "Não sei quem foi lá ontem, mas o cara não gostou da sugestão não".
Numa primeira versão da história, contada com rigor de detalhes por um assessor de Lula logo após os acontecimentos, Dilma foi ao presidente, acompanhada de Palocci, para lhe dizer que, depois do que Duda contou ao Congresso, seu governo tinha chegado ao fim da linha e que o melhor a fazer naquele momento seria renunciar, não ao direito de se candidatar à reeleição, mas à própria Presidência. Ao gesto ousado de Dilma, Lula teria reagido com um riso contido e a frase: "Vocês não me conhecem".
Mais recentemente, uma nova versão do episódio, disseminada pelo próprio Lula entre assessores, fala apenas em renúncia à candidatura. A conversa teria ocorrido na Granja do Torto. O temor do impeachment era muito forte dentro do Grupo das 8, mas a iniciativa de verbalizá-lo ao chefe teria sido tomada por Palocci, Thomaz Bastos e Dilma sem consultar os outros integrantes do grupo.
Ao mesmo tempo em que reagia, irritado, à sugestão de desistência da candidatura, o próprio Lula alimentava essa possibilidade, possivelmente para testar seus aliados. É um velho hábito. Em 1998, quando julgava que tinha poucas chances de derrotar Fernando Henrique Cardoso nas urnas, Lula aventou a ideia de fazer prévias para a escolha do candidato do PT. Imediatamente, três postulantes se apresentaram, entusiasmados: Tarso Genro, Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque. A partir dali, Lula ficou sabendo quem eram os interessados em disputar sua hegemonia no partido.
O pior momento político do presidente Lula, em quase oito anos de mandato, ocorreu no dia 11 de agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça, instigado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, deu um depoimento-bomba à CPI dos Correios. No testemunho, Duda associou a campanha presidencial de 2002 a crimes eleitorais e financeiros revelados no escândalo do mensalão.
Foi ACM quem convenceu Duda a contar "toda a verdade" à CPI dos Correios, uma das três criadas pelo Congresso em 2005 para apurar o mensalão, que eclodiu há exatos cinco anos. Duda não fora convocado pela CPI para depor. Em 11 de agosto, no entanto, após várias conversas com ACM, o publicitário decidiu ir à comissão. Antes, pediu proteção.
Num depoimento de quase dez horas de duração, Duda confessou ter recebido R$ 15,5 milhões do PT em 2003, em recursos de caixa 2, como pagamento da campanha presidencial do ano anterior. Do total, R$ 10,5 milhões foram depositados numa conta no exterior. O depoimento levou a crise do mensalão para dentro do Palácio do Planalto e derrubou a popularidade do presidente ao nível mais baixo desde que assumiu o cargo - 28%, segundo as pesquisas do Datafolha em outubro e dezembro de 2005, índice impensável para o Lula de hoje em dia (de acordo com pesquisa de abril, o presidente é aprovado por 73% da população).
Nos últimos três meses, o Valor Econômico conversou com os principais personagens da crise do mensalão para investigar por que a oposição desistiu de levar adiante a proposta de impeachment, que passou a ter "prova material", segundo avaliação de integrantes do próprio governo, após o depoimento de Duda; como o presidente Lula atuou politicamente no seu pior momento; que fatos passaram ao largo das três CPIs; quem foram e como atuaram os "bombeiros" da crise.
A apuração revela que o governo acreditou mais na possibilidade de impeachment do que a oposição. Mostra, ainda, como o governo Lula mudou de rumo após aquela crise, dando mais poder ao movimento sindical.
Durante a crise, um grupo de assessores e ministros, batizado de "Grupo das 8", referência ao horário em que eles se encontravam toda manhã, se reunia, numa sala contígua ao gabinete presidencial, para monitorar as CPIs e bolar estratégias de reação. O grupo era formado por Gilberto Carvalho (chefe de gabinete) e os então ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Ciro Gomes (Integração Nacional), Tarso Genro (CDES), Jaques Wagner (Coordenação Política) e Antônio Palocci (Fazenda).
O IMPEACHMENT BATE À PORTA
O governo Lula balançou no dia 11 de agosto de 2005, quando Duda Mendonça deu seu depoimento à CPI. No dia seguinte, após longo e calculado período de alheamento, Lula e o governo passaram a tratar o impeachment como uma ameaça concreta.
A corte de Lula compreendera exatamente a gravidade das confissões feitas por Duda. Além dos participantes habituais do Grupo das 8, apareceram na Granja do Torto outros auxiliares da copa e cozinha de Lula, como Clara Ant (assessora especial e tomadora oficial de notas nas reuniões), Marco Aurélio Garcia (assessor internacional) e o sempre discreto ministro Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência), o encarregado, no Palácio do Planalto, de manter a sintonia fina com os movimentos sociais.
Lula não mediu palavras: o depoimento de Duda fora "um desastre" e era "evidente" que o publicitário havia se acertado com a oposição. O presidente estava certo. Duda fora convencido pelo senador pefelista Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007) a contar "toda a verdade" à CPI.
ACM afastara-se do governo após as eleições municipais de 2004. Lula e o oligarca baiano haviam se aproximado em 2002, nas eleições presidenciais, e selaram a união em convescote na casa de praia de Duda, em Salvador. No ano seguinte, José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, ajudara o senador a se desvencilhar da acusação de ter mandado "grampear" metade da Bahia. Dois anos depois, a disputa pela prefeitura de Salvador, um feudo carlista, novamente colocou ACM e Lula em rota de colisão.
O clima era de funeral no dia 12 de agosto de 2005, uma sexta-feira. Para os principais integrantes do Grupo das 8, a crise havia chegado ao gabinete do presidente da República. Agora não havia mais como Lula continuar a fazer de conta que a crise não era com ele, como fizera até então.
Poucos dias depois, ainda no calor provocado por Duda, ao fim das reuniões da manhã no Palácio do Planalto, Lula chamou um auxiliar direto à sua sala e disse: "Foram lá ontem à noite falar comigo", contou o presidente. Segundo Lula, para propor que ele renunciasse publicamente à campanha pela reeleição no ano seguinte. Esse gesto diminuiria o ímpeto da oposição em levar adiante um processo de impeachment. "Esses caras são gozados. Eles não conhecem a minha ligação com o povo. Isso não vai acontecer! Vou ganhar a eleição desses filhos da mãe!", disse em seguida um Lula indignado. O assessor, atônito, dirigiu-se a alguns dos integrantes do Grupo das 8 e deu seu testemunho: "Não sei quem foi lá ontem, mas o cara não gostou da sugestão não".
Numa primeira versão da história, contada com rigor de detalhes por um assessor de Lula logo após os acontecimentos, Dilma foi ao presidente, acompanhada de Palocci, para lhe dizer que, depois do que Duda contou ao Congresso, seu governo tinha chegado ao fim da linha e que o melhor a fazer naquele momento seria renunciar, não ao direito de se candidatar à reeleição, mas à própria Presidência. Ao gesto ousado de Dilma, Lula teria reagido com um riso contido e a frase: "Vocês não me conhecem".
Mais recentemente, uma nova versão do episódio, disseminada pelo próprio Lula entre assessores, fala apenas em renúncia à candidatura. A conversa teria ocorrido na Granja do Torto. O temor do impeachment era muito forte dentro do Grupo das 8, mas a iniciativa de verbalizá-lo ao chefe teria sido tomada por Palocci, Thomaz Bastos e Dilma sem consultar os outros integrantes do grupo.
Ao mesmo tempo em que reagia, irritado, à sugestão de desistência da candidatura, o próprio Lula alimentava essa possibilidade, possivelmente para testar seus aliados. É um velho hábito. Em 1998, quando julgava que tinha poucas chances de derrotar Fernando Henrique Cardoso nas urnas, Lula aventou a ideia de fazer prévias para a escolha do candidato do PT. Imediatamente, três postulantes se apresentaram, entusiasmados: Tarso Genro, Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque. A partir dali, Lula ficou sabendo quem eram os interessados em disputar sua hegemonia no partido.
Fonte: Brasil Verdade
COMENTO: leia o restante do texto na fonte. Vale a pena. Possibilita a percepção dos métodos desse que se finge apedeuta mas que age maquiavelicamente, e com muita inteligência, diga-se de passagem - Golbery se orgulharia de sua criação. Observa-se, ainda no texto completo, a incompetência, ou seria conivência, do que se tem por oposição política à quadrilha petista. Por fim, a matéria permite que se anteveja o que poderá ser usado na campanha eleitoral deste ano, com o uso das "massas", leia-se CUT, MST e afins. Bando de safados!!!
Qual é a novidade nisso? Nós sabemos, mas os bolsa-familia não. Como mudar isso e fazer eles entenderem?
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