quarta-feira, 14 de abril de 2010

Respeito à História, à Memória, à Vida e à Morte de Heróis

por Ernesto Caruso
O Paraguai é uma nação amiga. As suas Forças Armadas mantém nos nossos estabelecimentos de ensino alunos nos níveis de formação, aperfeiçoamento, de comando e estado-maior, em perfeita integração, além da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, de há muito contribuindo nesse bom relacionamento, sem antagonismos por conta dos antecedentes históricos. Os heróis de ambos são reverenciados nas cerimônias, lá como cá, com a presença de militares que lhes prestam continência. Solano Lopes e Caxias são símbolos para as suas pátrias e se enfrentaram na Guerra da Tríplice Aliança.
A História não se apaga. As guerras de ontem marcaram uma época, mortos e feridos se imolaram, sofreram as vicissitudes dos campos de batalha, vivos voltaram, escreveram as sua epopéias, cólera, granadas e baionetas sangraram corpos, sepultaram combatentes, vitórias e derrotas forjaram heróis contra o invasor expansionista adentrando no Mato Grosso e se lançando até o Rio Grande do Sul.
O sofrimento da Retirada da Laguna, registrada por Taunay, lancetou mais a alma do que o corpo atingido pelos projéteis inimigos.
Quanto sacrifício nos campos de batalha, na logística difícil, nas atividades produtivas, no esforço de guerra das gentes mesmo longe dos combates, alimento escasso, sem medicamentos, rezando por seus patriotas, parentes e amigos.
Há que se refletir hoje, sentindo essa luta de 1864 a 1870, distante dos centros do poder nacional, restritos no litoral.
A natureza humana impõe a preparação para guerra. O mundo de hoje e de sempre não se esconde de ninguém por maior vocação pacifista dos pregadores. Mata-se no presente em nome de Deus como no passado, só que com armas mais aperfeiçoadas.
O sentimento patriótico precisa ser despertado, ensinado. Os Símbolos Nacionais são o esteio dessa formação, mantendo acesa a necessidade de uma estrutura para defesa do território onde nascemos, como foi nos tempos pretéritos, hoje um tanto descuidada. Os troféus de guerra fazem parte da História, demonstram fisicamente o sangue derramado pelos antepassados como lição vista, sentida e admirada, não como menosprezo ao povo que empunhou armas contra o Brasil em qualquer tempo. Um homem faz a guerra. Fez mais uma, e coube aos brasileiros defendê-lo.
Somos e seremos o que fomos como Nação.
O canhão El Cristiano da Fortaleza de Humaitá é um símbolo da Guerra da Tríplice Aliança, com toda a força que transmite às novas gerações o valor do soldado brasileiro, dentre outras peças que repousam nos museus e ilustram os compêndios de História.
São propriedades da Nação, enriquecidas por acervos doados por descendentes de ex-combatentes de todos os tempos. Não podem ser dilapidados, descuidados por gente que não tem compromisso com o passado de luta e de glórias.
O Paraguai já recebeu com elevada deferência a devolução de objetos pessoais de Solano Lopes, numa demonstração de boa vontade, amizade e respeito. Mas, que tal fato não se estenda aos demais troféus e nem signifique um arrependimento, a confissão de um erro ou o pedido de perdão pelas ações de guerra em defesa do território invadido, afrontado e de desgraças sofridas por quem estava pacificamente guardando e produzindo nas fronteiras em 1864 e não nos palácios de Brasília em 2010.
29 de dezembro de 1864. Colônia Militar de Dourados. Mato Grosso. Tenente Antônio João Ribeiro do Exército Brasileiro — hoje Patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais — no comando de uma guarnição isolada com um punhado de bravos, incluindo quatro civis e uma mulher, não se rendeu diante da força inimiga. Tombaram sob os tiros de mais de 200 bocas de fogo. Deixou uma lição que se deve guardar no peito, escrita na simplicidade das letras e na grandeza do sentimento:
"Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria".
Assim, antes de se efetivar a devolução do canhão, há que se ouvir a Associação de Ex-Combatentes do Brasil, com representação nacional, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro que nasceu em 1838, o Instituto de Geografia de História Militar do Brasil, a Academia de História Militar Terrestre do Brasil, a Liga de Defesa Nacional, ou será mais uma afronta às Forças Armadas que cumpriram e cumprem a missão de defender o país e aos descendentes dos vitimados pela guerra.
Recebido por correio eletrônico

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