por David E. Sanger
Em 1981, Israel destruiu o reator nuclear do Iraque em Osirak, declarando que não podia aceitar a possibilidade daquele país conseguir a capacidade de obter armas nucleares. Em 2007, eliminou um reator construído pela Coréia do Norte na Síria. E ano seguinte, os israelitas secretamente pediram auxílio a administração de Bush para equipamentos de vôos longos que eles pudessem precisar para atingir instalações nucleares do Irã.Eles não foram atendidos, mas o pedido adicionou urgência para a pergunta: Israel tomaria o risco de um ataque? E nesse caso, o que seguiria?
Agora, aquela pergunta de jogo de sala de estar se transformou em simulações de jogos de guerra mais formais. As próprias simulações do governo são secretas, mas o Centro Saban para Política de Oriente Médio da Instituição Brookings criou uma própria em dezembro. Os resultados foram tão provocativos que um resumo deles circulou nos meios governamentais oficiais militares norte-americanos e em capitais estrangeiras.
Por causa de verossimilhança, antigos "policymakers" e oficiais de inteligência americanos — algum bem conhecidos — foram adicionados a mistura. Eles impressionaram o presidente e seus conselheiros superiores; o Primeiro Ministro israelita e gabinete; e líderes iranianos. Eles tiveram o anonimato concedido para poder tocar seus trabalhos livremente, sem medo de pressões. (Este repórter era convidado como um observador.) Um relatório por Kenneth M. Pollack, que dirigiu toda a simulação, pode ser encontrado no sítio do Centro Saban, na rede mundial de computadores.
Uma precaução: o tempo resumido simplifica demais os eventos de simulações. Freqüentemente eles menosprezam o risco de erro — por exemplo, analistas de inteligência inexperientes podem interpretar mal um ato fortuito, tomando-o como parte de um padrão de agressão. Neste caso, as ações dos americanos e equipes israelitas parecem bastante plausíveis; os analistas conhecem bem a burocracia e política de ambos os países. Prever movimentos do Irã é outro problema, pois muito pouco se sabe sobre seu processo de tomada de decisão.
David E. SANGER
Resumo da Simulação
1. ISRAEL ATACASem avisar os Estados Unidos com antecedência, Israel atinge seis das instalações nucleares principais do Irã, usando uma base de reabastecimento provisoriamente instalada no deserto da Arábia Saudita sem conhecimento do governo saudita. (Não fica claro para os iranianos se o sauditas foram participantes ativos ou não.)
As relações já tensas entre a Casa Branca e Israel pioram rapidamente, e a falta de anúncio do ataque permite a Washington afirmar com veemência que não aceita o ataque.
2. OS ESTADOS UNIDOS SE ENVOLVEM
Com um discurso severo, os Estados Unidos exigem que Israel cesse seus ataques, entretanto algumas pessoas em Washington visualizam o momento como uma oportunidade adicional para debilitar o governo iraniano, particularmente o Corpo de Exército da Guarda Revolucionário Islâmica.
Dizendo essencialmente que Israel que fez uma bagunça, Washington instrui o país para acomodar-se enquanto os Estados Unidos tentam ajeitar as coisas.
3. OS ESTADOS UNIDOS ENVIA ARMAS
Mesmo pedindo contenção de todos os lados, os Estados Unidos enviam mais baterias de antimisseis Patriota e cruzadores Aégis para a região, como uma advertência ao Irã para não retaliar.
Mesmo assim, alguns conselheiros da Casa Branca alertam para o risco de ser envolvido no conflito, acreditando que a verdadeira estratégia de Israel é atrair a América para terminar o trabalho com ataques adicionais sobre as instalações iranianas danificadas.
4. IRÃ RETALIA
Apesar das advertências, Irã despeja projéteis em Israel, inclusive sobre seu complexo de armas nucleares em Dimona, mas danos e vítimas são mínimos. Enquanto isso, os dois aliados do Irã, Hezbollah e Hamas, atacam com lançamento de foguetes contra Israel.
Acreditando que já alcançou sua meta principal de sustar o programa nuclear iraniano por anos, Israel apenas responde.
5. IRÃ VÊ OPORTUNIDADES
Irã, mesmo abalado, vê oportunidades a longo prazo para unificar seu povo - e cooptar seus partidos de oposição - por razões nacionalistas. Sua estratégia é para montar ataques de baixo nível em Israel enquanto retrata os Estados Unidos como um tigre de papel - incapaz de controlar seu aliado e pouco disposto a responder para o Irã.
Seguro de que os sauditas tiveram conluio com os israelitas, e incentivados pela moderada posição Americana inicial, o Irã dispara mísseis no centro de processamento e exportação de óleo saudita em Abqaiq, e tenta incitar muçulmanos xiitas do leste da Arábia para atacar o regime saudita.
Irã também conduz ataques de terror contra objetivos europeus, na esperança de que os governos de lá acusarão Israel e os Estados Unidos
6. IRÃ EVITA OBJETIVOS DOS ESTADOS UNIDOS
Depois de uma reunião de sua liderança dividida, Irã decide não atacar diretamente quaisquer objetivos Americanos - para evitar uma resposta Americana total.
7. DISCUSSÃO EM ISRAEL
Embora a vingança do Irã contra Israel cause danos modestos, críticos na mídia israelita dizem que os líderes do país, ao não responder a cada ataque, enfraqueceram a credibilidade de dissuasão do país. Hezbollah dispara até 100 foguetes por dia ao norte de Israel, com alguns apontando para Haifa e Tel Aviv.
A economia israelita caminha para uma paralização e autoridades israelitas, pedindo a intervenção norte-americana, reclama que um terço da população do país está vivendo em abrigos. Centenas de milhares de israelenses fogem de Haifa e Tel Aviv.
8. ISRAEL CONTRA ATACA
Israel finalmente ganha aquiescência norte-americana para retaliar contra o Hezbollah. Ordena uma campanha de 48 horas por via aérea e forças especiais contra o Líbano e começa a preparar uma operação muito maior por ar e terrestre.
9. IRÃ JOGA A CARTA DO ÓLEO
Sabendo que sua última arma é sua habilidade de enviar os preços do óleo para o alto, Irã decide atacar com projéteis convencionais um centro de indústria de óleo em Dahran, na Arábia Saudita, e começar a minar o Estreito de Hormuz.
Um Navio-tanque panamenho registrado como americano e um caça-minas americano são severamente danificados. O preço do óleo dispara, entretanto temporariamente.
10. OS ESTADOS UNIDOS IMPULSIONAM FORÇAS
Incapaz de permanecer em posição secundária enquanto o fornecimento de petróleo e forças americanas são ameaçadas, Washington começa um reforço militar volumoso da região do Golfo.
11. REVERBERAÇÕES
O jogo termina oito dias depois do ataque inicial israelita. Mas os Estados Unidos estavam claramente objetivando destruir todo poder aéreo, terrestre e objetivos iranianos no mar e em torno do Estreito de Hormuz, aproveitando que as forças do Irã estavam para sofrer uma derrota significante. O debate aparece inesperadamente sobre quanto o programa nuclear do Irã foi verdadeiramente incapacitado, e se o país teria instalações substitutas secretas que poderiam estar funcionando em um só ano ou dois.
OBSERVAÇÕES DO REPÓRTER
1. Atacando sem conhecimento prévio de Washington, Israel teve os benefícios da surpresa e inércia - não só sobre os iranianos, mas também de seus aliados americanos - e no primeiro dia ou dois, gerentes de crise da Casa Branca correram em círculos ao redor.
2. A batalha rapidamente envolve a região inteira - e Washington. Os líderes árabe que poderiam ter quietamente aplaudido um ataque contra o Irã tem que se preocupar sobre a reação em suas ruas. A guerra passa a defender instalações de óleo saudita, o uso de aliados do Irã faz com que outros atores regionais rapidamente sejam envolvidos.
3. Você pode bombardear instalações, mas você não pode bombardear conhecimento. Irã não só dispersou suas instalações, mas também dispersou suas lideranças científicas e de engenharia, na esperança de reconstrução depois de um ataque.
4. Ninguém ganhou, e o sucesso dos Estados Unidos e Israel são medidos diferentemente. Em Washington, oficiais creditam que para sustar o programa nuclear iraniano só por alguns anos não valeu a pena o enorme custo. Em Israel, até algum atraso de anos parece valer o custo, e os israelitas afirmam que isto pode minar mais, fragilizando o regime e talvez acelerando seu desaparecimento. A maior parte dos americanos pensam que isto não passa de alucinação.
D.E.S.
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