terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Brancos Provocam Terremoto no Haiti

por Janer Cristaldo
"Houve uma coisa que aconteceu no Haiti muito tempo atrás, e as pessoas não querem falar sobre isso— disse ontem o pastor evangélico Pat Robertson em um programa da Christian Broadcasting Network's (rede de TV comandada por Robertson). "Eles estavam sob o domínio francês. Você sabe, Napoleão 3º, ou o que for. Então eles se juntaram e selaram um pacto com o Diabo. Disseram: 'Vamos servi-lo se você nos tornar livres dos franceses’. É uma história verdadeira. Então, o Diabo disse: ok, negócio fechado".
Que um pastor evangélico diga isto é inteligível. Em um país religiosamente fanatizado como os Estados Unidos, o diabo ainda tem grande futuro. Mais ainda: tinha Napoleão III como coadjuvante. Que pessoas simples vejam terremotos como castigo divino, também se entende. Verdade que fica um tanto difícil entender como o bom Deus teria levado junto uma de suas mais fiéis servidoras, Zilda Arns, a Teresa de Calcutá tupiniquim, e quem conhece o que penso de Agnes Gonxha Bojaxhiu, a santarrona albanesa, sabe que nisto não vai nenhum elogio. Zilda Arns, hoje santa, pertence à ala mais rançosa da Igreja católica. Apesar de vivermos em país que se pretende laico, lutou toda sua vida contra o aborto e as pesquisas com células-tronco.
Sem falar que sua Pastoral da Criança não admite anticoncepcionais nem preservativos. Quanto mais famintos existirem no mundo, mais aplainado fica o caminho até o Nobel da Paz, láurea que tem se caracterizado por prestigiar notórios vigaristas internacionais. Zilda tentou três vezes. Verdade que até hoje os noruegueses foram insensíveis às pretensões da irmã do cardeal fanzoca de Fidel Castro e defensor dos terroristas que um dia tentaram transformar o Brasil em uma grande Cuba. Na Folha de São Paulo, por conta própria, Eliane Cantanhêde já lhe conferiu um prêmio Nobel da Paz póstumo.
Que mais não seja, personagem que é louvado por frei Betto e Reinaldo Azevedo, por Lula e Sarney, por Michel Temer e Marina Silva, boa bisca há de ser. Zilda Arns já conta com um milagre em sua vida para futura canonização: reuniu Reinaldo e Frei Betto, Lula e Sarney sob uma mesma bandeira. O recórter hidrófobo tucanopapista finalmente juntou-se aos seus pares. Uma vez Libelu, sempre Libelu.
Sua morte deve ter alguma explicação. Vai ver que foi dano colateral, como costumam dizer os militares americanos para justificar seus assassinatos de inocentes. De qualquer forma, causa espécie que, nestes albores do século XXI, alguém pense que terremotos têm causas teológicas e não geológicas.
Uma outra teologia que não a católica está minando os espíritos na tentativa de explicar a tragédia. É a teologia dos ecochatos: o responsável pelo terremoto é o ser humano. Mal transcorreram três dias do acidente e já ouvi uma cópia de teorias, todas elas transferindo à ação do homem sobre a natureza a responsabilidade pelo sinistro. Como se placas tectônicas estivessem preocupadas com o que os homenzinhos fazem na superfície do planeta. Decididamente, os apocalípticos da ecologia já ganharam o debate.
Trocando os queijos de bolso: mal o termômetro chega a 30º aqui em São Paulo, não falta taxista que branda o efeito estufa. Seria a ação desordenada do ser humano que provoca essas temperaturas. Como se durante séculos 30º graus não fossem normais em São Paulo. Como se as eras de glaciação e aquecimento não tenham se alternado, durante milênios, na trajetória do planetinha, quando o homem ainda nem pisava a Terra. Como se hoje, em plenos dias dos profetas do efeito estufa, a Europa não estivesse soterrada sob um dos mais rigorosos invernos das últimas décadas. Mas fé é fé. Contra a fé, não há argumentos. 30º graus? O culpado é o ser humano.
Existe no entanto tese ainda mais insólita que a dos pastores evangélicos americanos ou a dos taxistas paulistanos. Na Folha de São Paulo de ontem, em artigo intitulado "O Haiti já estava de joelhos; agora, está prostrado", Omar Ribeiro Thomaz, antropólogo e professor da Unicamp, culpava pelo terremoto não Deus nem o ser humano. Mas especificamente... o homem branco:
Diante da fúria da natureza não cabe outro sentimento que o de uma frustração que deita raízes numa história profunda e que subitamente pode ganhar cor: o mundo dos brancos nos destruiu; o mundo dos brancos diz que quer fazer alguma coisa, mas o que faz, além de nutrir seus telejornais com fotos miseráveis que só fazem alimentar a satisfação autocentrada dos países ditos ocidentais?
A deduzir-se do artigo do antropólogo, os contingentes brancos que estão chegando ao Haiti para tentar salvar os sobreviventes do desastre, as somas milionárias que o Ocidente está despendendo para reerguer o Haiti, tudo isto não passa de “mauvaise conscience” do homem branco ocidental.
Essa agora! Fui responsável pelo terremoto e não sabia. Fomos nós, homens brancos, quem acionamos placas tectônicas subterrâneas para exercer nosso racismo e ódio contra os haitianos. Ainda bem que existem a Folha e a Unicamp para esclarecer-nos sobre nossas ações deletérias contra a saúde do planeta. Desculpem-me os leitores minha mão pesada. Se, em meio a tantos negros, matei alguns branquelas.
Danos colaterais.

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