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por Marcelo Rech, de Washington
A pergunta me foi feita por vários oficiais latino-americanos que cursam a Universidade Nacional de Defesa (NDU), na capital dos Estados Unidos.
Eu disse que não. Não se pode perder o que não se possui!
Há pelo menos dois anos a Agência Brasileira da Inteligência (ABIN) vive entregue à própria sorte. O mesmo governo que tentou aparelhá-la em 2003 para fazer arapongagem em vez de Inteligência, achou melhor matá-la por inanição.
Agora, os meios de comunicação destacam que a agência perde força ao deixar de comandar o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), que passará (?) a ser controlado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Presidência da República.
Ora, primeiro que esse sistema nunca existiu na prática. Depois, o GSI sempre esteve acima da ABIN.
Mauro Marcelo, o extravagante diretor-geral que sonhava transformá-la numa grife nos moldes da CIA, foi o primeiro que se acoxou com o petismo para ficar bem na fita.
Deixou o general Jorge Armando Félix desmoralizado em várias oportunidades com seus lampejos hollywodianos e acordos nada transparentes com serviços secretos como o cubano.
Curiosamente, caiu por dizer a verdade a respeito dos nossos políticos. Foi a chance de Félix retomar o controle e subordinar a ABIN ao Planalto.
A indicação de Márcio Buzanelli deu à Inteligência outro vigor. Ele conseguiu criar uma identidade que a ABIN nunca teve, associada que sempre foi ao xeretismo do regime militar.
O Serviço Secreto ganhou hino, bandeira, comendas, museu, analistas civis que ingressaram por concurso público. Mas, Buzanelli também não agradou. A velha guarda tratou de miná-lo e a “juventude abinista” pecou também por omissão.
Veio o delegado Paulo Lacerda, da Polícia Federal, que chegou prometendo limpar a ABIN de toda sujeira. Apeou muita gente, mas de prático nada fez para reestruturar o Serviço de Inteligência.
Há poucos dias, o Senado finalmente aprovou a indicação de Wilson Roberto Trezza que há mais de um ano respondia pela direção-geral do órgão, o que não significa rigorosamente nada.
A Inteligência continua relegada como leprosa. Bom para aqueles que fazem do Brasil uma mãe joana. Enquanto tratamos a Inteligência como política de governo e não de Estado, crescem os crimes transnacionais no nosso quintal.
Não há dúvidas que esse estado de putrefação em que vive a ABIN interessa para muita gente, sobretudo em períodos que antecedem eleições como a de 2010.
Não se entende como um país com tantas ambições que se projeta internacionalmente não consegue estruturar e manter um Serviço de Inteligência de Estado, acima de partidos e de fofocas, profissional, capaz de prover dados e informações que permitam situar o Brasil no contexto mundial.
Enquanto isso, discutem o óbvio.
Um núcleo será criado e terá a ABIN como responsável pela Inteligência de Estado.
O ministério da Fazenda, através do COAF ficará com a inteligência economico-financeira; o ministério da Justiça, coordenará a segurança pública através das secretarias estaduais, Polícia Federal, e sistema penitenciário.
A Defesa vai comandar a Inteligência Militar (Exército, Marinha e Aeronáutica).
Mais do mesmo. Na prática, fica como o petismo quer e como os ilegais gostam.
Marcelo Rech, 38, é jornalista.
Correio eletrônico: inforel@inforel.org
Fonte: Info Rel
COMENTO: posso estar enganado, mas não concordo com algumas assertivas expostas. Em primeiro lugar, a ABIN não está "entregue à própria sorte" há pelo menos dois anos. Desde o "sultanato" de Fernando Henrique, apesar dos esforços do Gen Cardoso, a Agência nunca teve a atenção governamental. O governo de Stalinácio se encarregou da "pá de cal" — apesar de ter aprovado o tão sonhado "plano de carreira" (cargos e salários), numa tentativa de cooptar politicamente os funcionários. Buzanelli, realmente, tentou dar ânimo moral aos funcionários. Parece que não foi compreendido. Tenho dúvidas se foi derrubado pela "velha guarda" ou pelos mais jovens que preconceituosamente desejam extinguir todo e qualquer "resquício" do velho SNI, sem mesmo levar em consideração o profissionalismo e a experiência dos "antigos" (que já são muito poucos, diga-se de passagem). Por fim, a ascensão de Wilson Trezza parecia uma saída "profissional" privilegiando um antigo funcionário, mas a passagem oficial da ABIN para o "2º ou 3º escalão" (responsável pela Inteligência de um Estado que sequer define o que lhe interessa) fecha a sua conclusão: "fica como o petismo quer e como os ilegais gostam."
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Buzanelli era um tolo personalista com sonhos napoleônicos... nenhum diretor que se preze comporia o hino da própria instituição ele mesmo - abriria um concurso interno, no mínimo, para que os servidores escolhessem um hino.
ResponderExcluirAliás, para que um hino? A Abin não é quartel, nem deve ser. Hino? O que os servidores queriam era dignidade, salário justo, condições para trabalhar a Inteligência como se deve - e não as perfumarias de Buzanellis ou o estrelismo de Mauros Marcelos...