terça-feira, 7 de julho de 2009

Promotor Jerico Quer Criar Nova Profissão

por Janer Cristaldo
Continuam fazendo fortuna no país as ideias de jerico. Desde há muito o Estado delegou aos cidadãos a missão de proteger suas propriedades. Se você quiser ter segurança em seu prédio, a polícia nada tem a ver com isso. Contrate porteiros, vigilantes, instale sistemas de segurança. E pague por isso. O problema é seu, não das autoridades às quais você paga para garantir sua segurança. Este pagamento é destinado a subsídios mais nobres, tipo silicone para travestis, putas para deputados e turismo para senadores.
O mesmo quanto a seu carro. A polícia nada tem a ver com isso. Aqueles extorsionários que riscam ou furam os pneus de seu carro se você não pagar para que não o façam, que haviam sido regulamentados em Porto Alegre, foram agora regulamentados no Distrito Federal. Em breve, extorsão será direito adquirido de marginais em todo o país. Não bastasse este encargo, o Ministério Público de São Paulo houve por bem delegar a segurança das ruas ... aos proprietários de restaurantes. Quer o MP que os donos de bares deixem de ser só plateia para exercerem a função de "mediadores de conflitos". A proposta é transformá-los em instrumento de redução da criminalidade da capital.
Segundo o projeto, idealizado pelo arguto promotor Augusto Rossini, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, os proprietários passariam por curso de capacitação, que seria condição para conseguirem o alvará de funcionamento. "Assim como é preciso ter licença para ter uma arma, é preciso treinamento específico para ter um bar". Mais um pouco, sem diploma cidadão algum poderá instalar um bar.
Segundo os jericos-mentores do projeto, as histórias que ilustram a proximidade entre bares e violência são inúmeras. Depois do exagero na bebida, maridos violentos voltam para espancar as mulheres, jovens universitários resolvem acertar as contas com desafetos e traficantes também costumam escolher os barzinhos como escritórios clandestinos. Foi então elaborada a ideia de “um curso simples de capacitação para que os proprietários possam reconhecer um potencial assaltante e barrar uma violência doméstica".
Caberá agora aos donos de “bares mediadores” prevenir assaltos e surras de marido em mulher. Todo bar passará a ter atribuições de delegacia. Algumas perguntas se impõem. Se o dono de bar vai exercer função de policial, receberá algo por isso? Terá direito a portar arma para prevenir a violência? Terá poderes para decretar a prisão de suspeitos? Se um cliente recusar-se a pagar a conta — o que não deixa de ser um conflito — poderá dar-lhe voz de prisão?
Para o secretário da Coordenação das Subprefeituras, jerico Andrea Matarazzo, a medida é oportunissima. "Acho ótimo. Atualmente, já oferecemos treinamentos de manuseio de alimentos, limpeza e higiene aos bares. A mediação de conflitos poderia ser agregada”. A meu ver, o secretário está sendo tímido. Poderia agregar também a competência de juiz. Já que o dono de bar terá função de policial, poderia também ser magistrado. A clientela, colaborando com o brilhante projeto, poderia constituir um júri. Aposto que muita gente iria adorar. Ao ir para o bar, sentir-se-ia indo para o tribunal.
Mais alguns anos, e os “mediadores de conflitos” teriam sua profissão regulamentada, assim como os flanelinhas e demais achacadores. Com direito a sindicato, mordomias, imposto sindical e carro de som. Por falar nisso, acaba de passar pela Comissão de Constituição e Justiça um projeto que regulamenta a profissão de repentista. Cuidado leitor! Se você é dado a improvisos, acautele-se. Dentro em breve, poderá ser incurso em exercício ilegal da profissão.

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