quinta-feira, 25 de junho de 2009

Da Religião Petista

por Gravataí Merengue
Ser petista não é meramente uma opção política, mas uma circunstância religiosa. E digo que se trata de algo circunstancial porque, depois de certo tempo, o indivíduo já detém mais o controle de seus pensamentos, vontades e – sim – orações, rezas bravas e afins.
A menos que seja pago, aí é outra história. Mas sigamos. 
Subjetiva e objetivamente, psicológica e sociologicamente, o petismo reúne todas as características de uma religião. Todas. Isso chega a ser engraçado, pois são mesmo TODAS. Material e objetivamente: hierarquia, dízimo/financiamento, sacerdócio/catequese, doutrina/dogmas etc.; imaterial e subjetivamente: salvador/messias, santos/avatares etc. 
Para não incorrer no equívoco da analogia superabrangente (aquela coisa de fazer com que algo seja parecido com tudo), é importante focar no raciocínio dogmático, e o petismo tem algo muito parecido com a questão católica da "Infalibilidade Papal"; no caso do PT, trata-se da "Infalibilidade de Lula". 
Ele nunca falha. Ponto final. 
Com exceção, é claro, de pequenos, microscópicos e inofensivíssimos lapsos. Algo como um tropeço ou um pigarro do Sumo Pontífice. Mas, quanto aos atos maiores, não há erro: não se corrompe nem nunca se corrompeu. Nunca pisou no tomate. Nada, nada, nada. É infalível. 
O método científico difere do dogmático na revisão dos erros: para a ciência, há um verdadeiro triunfo na percepção de equívocos e é exatamente isso que move as engrenagens. Nas religiões, ao contrário, tudo é imutável. No petismo, também. Não é por outro motivo que eles NEGAM ATÉ A MORTE TODO E QUALQUER ESCÂNDALO, ERRO, LAPSO, RATA e MANCADA. 
Os olhos furiosos de um petista que nega o Mensalão são os mesmos de um cristão que brada em favor da existência de Adão e Eva. O religioso, contudo, pode apelar para o sagrado refúgio da liberdade constitucional de não ser esmagado pela lógica. Já o petista não tem esse mesmo benefício e aí está exatamente o STF cuidando dessa história. Mas ele continua com os mesmos olhinhos furiosos, jurando que nada disso existiu. 
O Messias 
Já comentei sobre o assunto aqui no blog, e é uma característica clássica do petismo (outra a aproximá-lo de uma religião). Praticamente todos os partidos do Brasil e do mundo alternam seus candidatos à presidência (ou primeiro ministro etc.). Sim, podem eventualmente ter um "líder mais emblemático" ou "figura mais carismática". Mas sempre alternam candidatos. 
Menos o PT. De 1989 a 2002, Lula foi o candidato do partido. Durante todo esse período, não fez outra coisa: exerceu a carreira de candidato. Foram nada menos do que TREZE anos nessa tarefa. Diga isso para alguém do Partido Democrata ou Republicano, nos EUA, e eles dificilmente compreenderão. Treze longos anos sem ocupar uma secretaria, ministério, vereança, prefeitura, governo, nada vezes nada. Única e tão-somente como candidato, esperando de quatro em quatro anos a chance de concorrer. 
Messianismo é isso. Tanto que, ao ganhar, não haveria carranca, nem trator, nem alavanca, e quero ver quem é que arranca ele ali de seu lugar – parafraseando Chico Buarque. Pois foi o que houve: a cada escândalo, alguém foi rifado poupando assim o Messias. Todos caíram, um a um, de Dirceu a Pallocci. Não foi por outra razão que se chegou ao nome da então ilustre desconhecida e petista neófita Dilma Rousseff (entrou no partido em 1999 para não perder um cargo no RS) como possível candidata à sucessão. 
Os Fiéis e o Povo 
Há uma coisa que irrita sobremaneira os fiéis do petismo: o fato de que estão dissociados do povo. Ok, eu sei, tudo os irrita, mas isso os deixa especialmente nervosos, porque a péssima notícia é precedida de um fato ótimo: Lula tem altíssima popularidade. Isso é bom? Sim, é. Mas o povo que o apoia é petista? Não, nem sabe o que é o PT, "esquerda", "direita" etc. E é aí que a rapaziada fica neurastênica. 
Claro, para uso externo não dão o braço a torcer. Já ouvi - e sem que a pessoa ficasse vermelha – que a eleição do Messias representou uma "percepção do povo oprimido quanto à necessidade da mudança dos rumos da economia neoliberal empregada nos últimos anos". Na hora, imaginei aquele cidadão com a enxada num braço e os livros de economia avançada no outro, discutindo a caminho da roça com seus colegas. 
Quando o "não" venceu naquela eleição sobre as armas, os mesmos que imputavam ao povo uma sabedoria de PhD em economia imediatamente trataram de dizer que as pessoas não estavam capacitadas para decidir quanto à venda de armamentos e munições. Achei estranho. Poucos anos atrás, eram livres-docentes em macroeconomia; agora, não sabem o que é um revólver. 
O mesmo acontece com a política. Quando vota no PT, o povo é esclarecidíssimo e tem um grau de politização digno dos melhores "think tanks". Quanto vota contra, é parvo. Simples assim. Recentemente, Marcelo Tas deu uma opinião sobre a USP. Quem a reproduziu foi chamado de "Bart Simpson"(*) pela militância petista do Twitter, que estendeu a alcunha à maioria dos seguidores do apresentador. 
Mas o que dizer de quem ignora o Mensalão ou acredita que Lula REALMENTE não sabia de nada? O que dizer de quem fala do PL Azeredo e ignora que há somente DEZ emendas de Mercadante num total de 23 artigos? E quem convenientemente "ignora" o massacre no Haiti pelo exército brasileiro ou a tortura contra os índios pela Polícia Federal? Seriam os "Kierkegaards"? 
Não. São os fiéis dessa seita, o petismo. 
E, por fim, como acontece com qualquer religião, a seita petista também tem um vício engraçado: julga-se a única portadora de determinada bandeira. Assim como a "Sagrada Fogueira da Barba do Altíssimo Senhor", criada ontem por algum sacripanta, pode alegar ser a VERDADEIRA representante do cristianismo, o PT diz que é a VERDADEIRA esquerda. E todos os demais ou são ultrarradicais ou entreguistas. 
Amém. 
(*) - Sim, sei da tentativa de chiste - como sempre revertida em humor involuntário tendo o próprio comediante como objeto da piada. Trata-se de brincadeira com o "Homer Simpson", daquela confusão com a Globo. 
Revisão: Hellen Guareschi
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