segunda-feira, 2 de março de 2009

Pesquisando Alternativas

"O PMDB está se oferecendo para ver quem paga mais e quem ganha mais..." 
(Senador Pedro Simon)
Este artigo é dedicado a Angela Barea
por Waldo Luís Viana*
Concordando com o que escrevi, mas não sem um laivo de desesperança, a leitora a quem dedico este artigo apressou-se, porém, a formular a mais terrível pergunta: "em QUEM iremos votar, se o sistema está COMPLETAMENTE contaminado? O que nos resta fazer? Votarmos todos em BRANCO? Mas aí os bolsistas-esmolas ganham peso...
Como a sua inquietude resumiu mais ou menos as interrogações dos outros dezessete indivíduos que me leem e exibem opiniões, resolvi responder-lhe com novo artigo. Enfim, uma suíte...
A política — já disseram os sábios — detesta o vácuo e, baseando-se nesse princípio físico do século XIX, os políticos espertos procuram mostrar o senso de antecipação, movimentando-se com religiosa antecedência no tempo. Visam com isso, sem dúvida, ao mais estrito e legítimo cumprimento dos próprios interesses. 
Antigamente, todos negavam esses intentos: "não, não sou candidato, não quero, mas se o povo todo quiser, serei uma possibilidade, talvez, sou soldado do partido, depende do quadro à frente, etc." Tais evasivas, inclusive, demonstravam o quanto os caras eram profissionais, num jogo pesado em que ninguém é virgem.
A antecipação adviria de dois obstáculos inerentes à democracia, tacitamente colocada como o regime a ser vencido, em virtude dos apetites tipicamente monárquicos dos que simulam a sua defesa: mal ou bem existe um povo com vontade volúvel, a ser medido por intrincadas e viciadas pesquisas de opinião, e o inevitável transcorrer dos mandatos que um dia se extinguem, para íntima tristeza deles. 
Assim, quem considera a política uma "carreira" — em geral não possuindo elogiável espírito público — não pode deixar de pensar com antecedência, pelo temor de que os mecanismos de renovação eleitoral o surpreendam, retirando-lhe as mordomias, a fruição do poder e o pão-da-boca.
O transcorrer do mandato — ah! como escorre, inevitável, a areia da ampulheta! — pressupõe a criação de oportunidades que deverão promover os interesses do eterno postulante a qualquer cargo futuro e modificar a história a seu favor. 
E os políticos sabem que existe até um cronograma: nas campanhas, promete-se o impossível, sabendo-se que depois da posse não se poderá fazer nada no primeiro ano, com os cofres vazios e o orçamento decidido por lei pelo antecessor; no segundo e terceiro anos, não podendo mais falar em herança maldita, deve-se mostrar ao que veio, tocando as obras e cumprindo algumas promessas, gravadas em vídeo-tape ou noutra mídia digital, que, por sua vez, serão entregues no quarto ano, até a desincompatibilização do cargo para novo pleito ou, como permite a Constituição, lançar-se à reeleição mantendo a posição tão duramente conquistada.
No caso de um congressista, como o Legislativo é um túmulo, após passar três anos gozando de mordomias inexplicáveis, o deputado ou senador precipita-se sobre as bases para tentar repetir o mandato e ficar mais quatro ou oito anos marcando o território de poder, como um rinoceronte que faz xixi na árvore. Os estaduais e federais candidatam-se no meio do mandato às prefeituras de suas regiões; os senadores, de quatro em quatro anos, ao governos dos Estados. E a farra, permitida pelos mesmos que fazem as leis, continua... 
Lula et caterva, de peito aberto, resolveram contrariar a tendência típica da política brasileira e lançaram com antecedência um candidato. Não se sabe, ainda, se é balão de ensaio dele mesmo, mas o candidato está aí. Até operação plástica fez, como se conseguisse, como um José Dirceu de saias, apagar o passado. Acredita-se que a imensa popularidade virtual do presidente pé-frio, que não suporta vaia, possa sustentar o sonho antecipado.
O objetivo é testar a exposição da candidatura com todos os meios da máquina do executivo, ao arrepio da lei eleitoral (para a qual, inclusive, o governo não dá a menor bola), com o objetivo de chegar aos 20% de aceitação da opinião pública, até meados de 2009. Calcula-se que, a essa altura, a coleira do presidente e as obras do PAC irão operar milagres. Falta apenas perguntar ao povo — parafraseando o ilustre Mané Garrincha... 
No entanto, o candidato posto obrigou, como num jogo de xadrez, a que os demais mostrassem as próprias peças escondidas na manga. A falsa oposição brasileira passou a se mexer e apareceram dois candidatos num mesmo partido. Com isso, espertamente quiseram criar um fato consumado. É como se dissessem; "a briga é entre nós; não há terceira via ou outras alternativas." 
Esse falso dilema entre Coca e Pepsi tornou-se engraçado e ridículo, a tal ponto que um dos opositores de simulacro não consegue nem dizer sobre o que discorda. Os três candidatos são continuístas e adoram a gestão do presidente. Só querem a sua cadeira, mais nada. 
Tal situação, não contestada pela mídia, lembra-me muito os críticos da Escola de Frankfurt, jovens filósofos dos meados do século passado, que se perguntavam, ao criticarem a indústria cultural, será que a realidade é só isso?
Será que a sucessão, em nosso grande país, se resume a esses três mosqueteiros, com um bando de figurantes-aproveitadores aparecendo por pequenos partidos no futuro e desagradável horário eleitoral gratuito? E o PMDB, "to be or not to be" com caveira e tudo, para onde vai balançar? Quem dá mais?
Será que todos os nossos politicões viciados passaram para a direita e acreditam, no fundo, na eternidade da corrupção?
Não, lembremos que em 1989 tivemos um Collor de Mello como novidade, destruindo todas as raposas que disputavam com "elle" as eleições presidenciais, mas que não soube aproveitar a oportunidade histórica de realmente transformar o país, prisioneiro que era de uma oligarquia nordestina super-hiper-atrasada, os mesmos donatários que hoje dominam o Brasil. 
Dá pena ver o quadro em que submergimos, sem lideranças novas, sem rebeldias, a não ser as mediadas por verbas federais, com dois partidos gêmeos, fingindo que brigam, enquanto o outro disputa os melhores pedaços da carniça. 
Essa crise, traduzida pela sabedoria chinesa como perigo e risco, mas também como sorte e oportunidade, pode, no entanto, gestar a solução que precisamos e pela qual anseia a leitora.
Embora o setor político aparente esteja engessado pela corrupção continuada, pela mediocridade infinita do presidente e de seu governo e pelo senso de esperteza dos integrantes que o cercam — é exatamente esse ambiente enevoado que gestará a solução de que precisamos e que o povo vai perceber, facilmente, que tem novo sabor. 
Acalme-se, pois, querida leitora, que a solução aparecerá e estará ao alcance de nossa mão. Não dependerá dos bancos e dos milionários que nunca neste país se locupletaram tanto com um governo, nem das pretensas lideranças burocráticas que espertamente sonham em o suceder. 
A solução misteriosa ainda não se levantou. Pobre PMDB que não consegue adivinhar o seu nome para tentar aderir. O que sei — e posso garantir aos meus poucos e assustados leitores — é que se as situação continuar como está, com as podres alternativas já postas, o Brasil vai inevitavelmente caminhar para a guerra civil... 
Quem viver, verá! 
*Waldo Luís Viana é escritor, economista e
quase tão corajoso quanto mulher de militar...

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