por Percival Puggina
Cuba proporciona ao estudioso uma das histórias mais dramáticas na vida do continente. No período que vai do século 16 ao 19, somava-se ali, ao cenário comum das colônias tropicais (extrativismo, monopólio da metrópole e uso intensivo de mão-de-obra escrava), a grande proximidade com os Estados Unidos. Este último fator fez nascer na elite cubana uma forte corrente desejosa da anexação (anexionistas). No entanto, o domínio espanhol se constituía em obstáculo, tanto para os que buscavam uma verdadeira independência, quanto para os anexionistas. No séc. 19, a Ilha foi palco de duas longas guerras contra a Espanha. A primeira durou de 1868 a 1878. A segunda começou em 1895 e se prolongou, sem sucesso, até que, no início de 1898, a explosão do navio USS Maine, que estava ancorado no porto de Havana, alterou o cenário do conflito. Identificado o caráter intencional do ato que matou 260 marinheiros em pleno sono, os norte-americanos desembarcaram na Ilha e, em poucos meses, a Espanha entregava os pontos. O subseqüente tratado de paz transferiu Cuba, Porto Rico e Filipinas para os Estados Unidos.
Assim, em janeiro de 1899, quando todas as outras colônias espanholas já estavam libertadas havia décadas, Cuba trocou de bandeira. Arriou a espanhola e desfraldou a norte-americana. E mesmo quando, três anos mais tarde, conseguiu estabelecer gestão própria, seria extremamente contrário à verdade dos fatos afirmar que aquele autogoverno fosse suficiente para caracterizar um estado nacional soberano. O senhorio ianque era evidente e se manteve, com intervenções diretas e indiretas e sempre com forte presença econômica e política, até cessar o apoio a Fulgencio Batista em fins de 1958.
Embora a economia prosperasse, num cenário paradisíaco e ornado por belíssimas construções coloniais (hoje em ruínas), que justificavam a expressão “Pérola do Caribe” com que era designada a ilha, o fato é que Cuba, até a metade do século passado, não era, ainda, uma nação independente. Por isso, o mundo saudou a vitória dos guerrilheiros de Sierra Maestra. Raiava, enfim, a liberdade sobre Cuba! No entanto, bastaram dois anos sem suporte americano para que Fidel se declarasse comunista de carteirinha e entregasse o país, numa bandeja, à União Soviética. Em troca de vultosas vantagens comerciais, Cuba se converteu na principal fornecedora de infantaria combatente para guerrilhas comunistas em locais tão dispersos quanto Panamá, República Dominicana, Haiti, El Salvador, Nicarágua, Guatemala, Colômbia, Peru, Bolívia, Honduras, Somália, Angola, Congo, Moçambique e Etiópia. Como escrevi em “Cuba, a Tragédia da Utopia”, o sangue e a vida da juventude cubana foi arrendado a URSS por um ditador que gastava hectolitros de saliva para discorrer sobre autodeterminação dos povos. E lá se foram mais três décadas.
Até 1989 a bela ilha caribenha ainda não conhecera uma autonomia real. E quando essa situação se impôs, pelo desmoronamento da União Soviética, no início dos anos 90, a autonomia chegou sob a forma de um amargo abandono à própria sorte. A histórica pobreza da sociedade se converteu em miséria, tendo início o período que Fidel, eufemisticamente, denomina “Período Especial”. Eu chamo caos econômico por falta de patrocinador.
Resumindo: ainda que nestes últimos anos, o Estado cubano esteja vivendo, pela primeira vez em sua história, como senhor de seu destino, o fato é que, para o povo, permanece a servidão, que antes foi à Espanha, depois aos Estados Unidos, mais tarde aos interesses econômicos norte-americanos, posteriormente aos soviéticos, e ao longo das últimas décadas, também a Fidel e ao Partido Comunista Cubano. No 50º aniversário da revolução justifica-se plenamente a dúvida que me assiste desde a sucessão de Fidel por Raúl. O povo cubano vive sob uma monarquia comunista onde a transmissão do poder se faz por consanguineidade ou como empregado muito mal pago da firma Castro & Castro Cia. Ltda.?
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