por Jorge Serrão
Um dos homens mais informados sobre os intestinos do governo da República Sindicalista, Paulo Lacerda foi afastado, definitivamente, do comando da Agência Brasileira de Inteligência. No entanto, acabou “caindo para cima” com a nomeação para o cargo de adido policial na embaixada do Brasil em Portugal. Sai do inferno da ABIN — onde sete diferentes grupos brigam por poder — para o paraíso da vidinha além-mar, ganhando um salário que pode chegar a R$ 70 mil, sem contar as mordomias diplomáticas de praxe.
O trunfo de Paulo Lacerda foi a informação de cocheira que ele detinha. Caso fosse jogado no ostracismo, amigos de Lacerda indicaram que poderiam vazar um escândalo, na mídia que comercializa a oposição. Viria à tona uma conversa gravada em que um grupo político pedia ao banqueiro Daniel Valente Dantas uma ajuda para a campanha presidencial de 2010. Agora, tal conversa vai sumir do mapa. Como um passe de mágica, será como se nunca tivesse acontecido. Afinal, arquivo bom é arquivo morto — ou bem silenciado pelas conveniências.
Lacerda foi diretor-geral da Polícia Federal de janeiro de 2003 a setembro de 2007. Depois exerceu o comando da ABIN, onde tomou posse no cargo de Diretor-Geral no dia 4 de outubro de 2007. O agente sempre foi uma pessoa muito próxima do chefão Lula — que até o último momento queria reconduzi-lo ao cargo. O chefão acabou voto vencido no Planalto. Viu que não tinha condições políticas de fazer sua vontade presidencial. Nem por isso Lula deixou o amigo Lacerda ficar na merda. Arranjou-lhe uma saída honrosa.
Lacerda foi afastado temporariamente do cargo pelo chefão Lula da Silva, no começo de setembro, quando a revista "Veja" divulgou reportagem sobre suposto grampo, feito pela ABIN, no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em conversa com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Gilmar Mendes rodou a baiana e cobrou providências imediatas de Lula. No meio da crise, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, sugeriu o afastamento de Lacerda. Além do presidente do STF, surgiu a suspeita de que ministros e políticos do governo e da oposição também teriam sido grampeados.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a quem a ABIN está subordinada, informou ontem que o secretário de Planejamento e Orçamento da instituição, Wilson Roberto Trezza, permanece no cargo de forma interina durante pelo menos um mês. Como a nomeação de um novo diretor-geral da ABIN depende de sabatina no Senado, o governo terá todo o recesso de janeiro para decidir a sucessão no órgão.
Ganhos
O novo salário do ex-diretor da ABIN ainda não foi calculado.
Será, no mínimo, semelhante ao de adido policial em Paris, de US$ 17.500 (aproximadamente R$ 42 mil).
A PF só não sabe informar se Lacerda acumulará o valor com a aposentadoria de delegado, em torno dos R$ 20 mil.
Solucionadores
A criação do cargo para Lacerda, em Portugal, foi articulada pelos ministros da Justiça, Tarso Genro, e do GSI, general Jorge Félix.
Os dois foram emissários de Lula junto ao delegado, argumentando que a nomeação preservaria sua biografia e seria interpretada como uma manifestação de que o presidente confia em sua inocência.
O decreto que exonera Lacerda da ABIN será publicado no Diário Oficial de hoje.
Também serão exonerados os assessores que já haviam sido afastados com ele, como o diretor-adjunto José Milton Campana e o delegado Renato da Porciúncula, ainda sem destino definido.
Importante missão
De acordo com o Ministério da Justiça, a principal atribuição de Lacerda em seu novo cargo será representar a PF junto às autoridades locais e à Interpol no combate ao tráfico de pessoas e aos crimes associados à imigração ilegal de brasileiros para o país europeu.
Até hoje, o Brasil só tinha adidos-policiais na França e em seis países com os quais faz fronteira: Argentina, Paraguai, Colômbia, Uruguai, Suriname e Bolívia.
Lacerda será o primeiro delegado aposentado a assumir esse tipo de cargo, que inclui a nomeação de mais um delegado como adjunto.
O Ministério da Justiça pretende abrir outras duas “adidâncias” policiais, na Itália e nos Estados Unidos.
Polêmica escuta
Lacerda caiu em função do suposto grampo nos telefones de Gilmar Mendes.
Até agora, as investigações oficiais não encontraram qualquer indício de autoria ou de que tenha sido feita a escuta.
O documento final do inquérito preparado pelos delegados da PF Rômulo Berredo e William Morad só fica pronto em janeiro, depois de serem ouvidas mais de 120 pessoas, ao longo de três meses de investigação.
Lula aguardava o resultado do inquérito para decidir se reconduziria Paulo Lacerda ao comando da ABIN.
Arquivo morto
No dia 19, o GSI arquivou sindicância interna sobre a participação de agentes da ABIN na Operação Satiagraha.
O GSI concluiu que integrantes da agência não realizaram escutas telefônicas contra Gilmar.
Em Brasília, todo mundo sabe que foi uma empresa privada de segurança quem fez a tal escuta.
Perguntinha idiota
Será que o generoso DVD vai atender ao pedido que lhe foi feito, de ajudar na campanha presidencial de 2010?
Ouvidos bem atentos que atuam em Brasília e adjacências juram que a resposta é SIM!
Daniel Dantas sabe muito bem que toda a bronca contra ele logo se dissipa, e os negócios todos voltam ao normal, no melhor dos mundos possíveis e inimagináveis por quem não entende como funciona o poder no Brasil.
Fonte: Alerta Total
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