por Paulo Nathanael Pereira de Souza
O Tribunal Superior Eleitoral divulgou o resultado de pesquisa interna segundo a qual, num eleitorado de 127,4 milhões, que é o brasileiro, 51,5% dos eleitores não conseguiram concluir o ensino fundamental ou sabem apenas ler e escrever precariamente. Dentro desse percentual, 8,2 milhões são analfabetos puros. Como sempre, o Nordeste apresenta a mais alta taxa de analfabetismo e baixa escolaridade, segundo o TSE: 70% desses 8,2 milhões. Trata-se, como se vê, de uma estatística vergonhosa, mas que serve para explicar o retardo político-administrativo em que tem vivido o país, com seus governos estatizantes e a incapacidade da população para reagir a certos absurdos que acontecem no âmbito dos três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Somos subdesenvolvidos porque o nosso povo é subdesenvolvido. O crescimento econômico não é a causa da prosperidade das nações, e sim o IDH alto da população, índice esse que traz, na sua composição aritmética, um peso maior para a escolaridade popular. A lógica dessa afirmação explica-se pelo fato de todos os países emergentes que estão dando certo terem qualificado a sua educação e ampliado radicalmente o número de anos de estudo da população. Haja vista o que se passa na Coréia do Sul, na Índia, em Cingapura, no Chile, em Taiwan, países que há 40 anos estavam todos abaixo do Brasil em índices de prosperidade, e que, hoje, nos fazem comer a poeira das suas disparadas desenvolvimentistas.
Somos uma República, mas não temos conseguido ser uma autêntica democracia, eis que a insuficiente instrução popular impede a participação cidadã da sociedade nas tomadas de decisão de interesse nacional. Os burocratas e tecnocratas têm substituído a chamada vontade popular. E os que se dizem representantes do povo, quase sempre movidos menos pelo civismo e pela ética e mais pela vocação de fazer fortuna rápida e fácil, criam as condições para que o populismo voraz se fortaleça e perpetue no poder. A democracia moderna depende de uma cidadania participante e consciente, para robustecer-se e poder prestar serviços qualificados à sociedade.
Numa sociedade verdadeiramente democrática não poderia haver as vergonhosas taxas de analfabetismo no eleitorado, como essas denunciadas pelo Tribunal Eleitoral, até porque são os analfabetos, detentores da maioria dos votos, que acabam elegendo presidentes, governadores, prefeitos e parlamentares neste macunaímico Brasil das contradições. A República pode fazer-se com analfabetos, a democracia, jamais.
Se o governo sabe disso tudo, porque não age para, no curto e médio prazo, pôr um paradeiro nessa trágica realidade? Sobretudo, por tratar-se de um governo que, durante dezenas de anos, quando era oposição, vendeu a idéia de que não se resolvia o problema educacional da nação porque a manutenção da ignorância geral convinha à elite no poder. E quando vira governo, o que impede a mobilização dos meios para o combate às desescolaridade popular, notadamente no Nordeste? Por que não se monta uma cruzada em favor da extirpação do analfabetismo do cenário nacional, com centenas de milhares de professores atuando num megaprotesto voltado para isso? É de crer-se que um esforço ciclópico como esse custaria tanto ou menos do que a verba gasta com essas bolsas disso e daquilo, que tem a ver mais com caridade do que com projeto social propriamente dito.
Paulo Nathanael Pereira de Souza é Doutor em Educação e presidente do Conselho de Administração do CIEE
Fonte: "Correio Braziliense" - 18 Ago 2008
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