quinta-feira, 15 de maio de 2008

Variedades

por Peter Wilm Rosenfeld
As últimas semanas têm sido plenas de assuntos que merecem comentários. Em função disso, resolvi abordar alguns deles, antes que percam a atualidade.
 DOSSIÊ
São indiscutíveis os fatos de que alguém da Casa Civil da Presidência da República mandou preparar um dossiê listando as despesas feitas pelo ex-Presidente da República e sua mulher usando o cartão corporativo do Governo (nota: o uso da expressão “mulher” não é, de maneira alguma, pejorativo. Quando do casamento, tanto o Juiz de Paz, no civil, como o religioso que oficia, declaram que o casal passou a ser marido e mulher. Nenhum dos dois usa a expressão esposo e esposa ou qualquer outra. É nesse contexto que uso o termo). Sem embargo, a Ministra-Chefe da Casa Civil insiste em manter sua negativa inicial, de que se tratava de um simples “banco de dados”. Ora, foi a partir de um banco de dados que se preparou o dossiê, que acabou chegando por correio eletrônico no computador de um dos assessores do Senador Álvaro Dias. Agora, então, o Governo está tentando tapar a peneira mudando o foco do problema para descobrir “quem” efetuou esse envio e, uma vez descoberto esse “quem”, saber porquê o fez. A mentira inicial, porém, continua. Foi preparado um dossiê sim, e sua base foi um, ou “o”, banco de dados existente na Casa Civil.
Esse fato, por si só, poderia ser a justificativa da desastrada pergunta feita pelo Senador Agripino Maia à Ministra-Chefe da Casa Civil a respeito das “mentiras” da Ministra Dilma Rousseff no período em que esteve presa sob o codinome Estela. Se o Senador supôs que invocando o passado da Ministra tinha uma boa desculpa, enganou-se redondamente. A resposta da Ministra foi perfeita, dadas as circunstâncias. Mas que tem mentido sobre o assunto “banco de dados/dossiê” é verdade.
PROPAGANDA POLÍTICA
Todos sabemos que ainda não é permitido fazer propaganda eleitoral. Podemos achar essa disposição legal ridícula, mas ela existe e, em existindo, tem que ser respeitada. Estamos assistindo à maior autoridade do Poder Executivo, o Sr. da Silva, transgredindo essa lei à toda a hora, nos discursos que faz em reuniões fechadas ou em comícios abertos. Ainda na semana passada no R. G do Norte se não me falha a memória, bradou raivosamente (como tem sido seu habitual tom de voz) que “podem ter certeza de que ganharemos essas eleições”. Ora, se isso não é propaganda política sem qualquer tentativa de disfarce, não sei mais o que é propaganda. E o problema se torna muito sério quando o infrator é o primeiro mandatário. Como querer que um candidato a Prefeito ou a Vereador de qualquer cidade localizada em um longínquo interior se atenha à lei? Jamais, principalmente se o exemplo vem da mais alta instância do País. Tão ou mais notável esse fato como o de o Sr. da Silva não ter sido pelo menos admoestado por qualquer autoridade do Poder Judiciário (que, por definição, tem que ser isento de influências político-partidárias).
— PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO
Esse programa me traz à memória o programa tapa-buracos com que o atual Governo tentou enganar a população. Apesar de todos os alertas de que aquele programa representaria dinheiro jogado fora, foram desperdiçados alguns bilhões de reais tentando enganar a população. Aparentemente ninguém no Governo se deu conta de que existiam milhares, se não milhões, de fiscais daquele programa, prontos para apontarem, com provas, a inutilidade daquele trabalho: os usuários das estradas, tanto os profissionais quanto os que as usavam apenas a passeio. E todos, sem exceção, alertaram sobre o desperdício. Não obstante, as “otoridades” técnicas e políticas, possivelmente de olho em algo mais (R$), foram adiante com o programa com o resultado conhecido de todos.
O PAC (que, inclusive, inclui estradas que constavam do “tapa-buracos”), vai em idêntico rumo e, conseqüentemente, chegará ao mesmo destino. Nem a supostamente competente “gerentona” Ministra Rousseff conseguirá mudar essa situação. Diga-se de passagem que muitas de suas assertivas sobre o PAC e de seu andamento atual não correspondem à realidade. Será que mesmo em nosso atual sistema democrático é necessário mentir para enganar alguém? E valerá a pena? Duvido.
— ALGUNS INDICADORES DA SITUAÇÃO ATUAL
Publicados no jornal Zero Hora de Porto Alegre (RS) no último domingo, cito alguns números que preocupam:
— Saldo de nossas contas externas – Que vinha sistematicamente apresentando superávits, está negativo em pouco mais do que US$ 10,8 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2008.
— Dívida interna – Alcançou o inimaginável montante de R$ 1,36 trilhão (R$ 1.360.000.000.000,00), que corresponde à praticamente metade do PIB do País!
— Taxa de juros – Uma das mais elevadas do mundo, tendo sido recentemente elevadas para 11,75%.
— Inflação – Subiu para 5,04% nos últimos doze meses.
— Petróleo – Quando alardeado ao som de trompetes e clarins que o Brasil havia conquistado a auto-suficiência de petróleo, escrevi que se tratava de u’a mentira, pois continuaríamos importando um tipo de petróleo mais caro e exportando um mais barato, com saldo negativo para nós. A situação agora mudou: estamos importando mais petróleo (quantidade) do que estamos exportando. Logo, o saldo negativo aumentou. Como se sabe, toda e qualquer mentira tem pernas curtas...
Para terminar, uma boa notícia: o Sr. da Silva informou ao distinto público que não mais diz “menas” tendo, em troca, aprendido a dizer “en passant”; ainda, que ainda não sabe bem o que é “investment grade”.... A sugestão é que deixe de usar expressões chulas, de baixo calão (como o “sacanagem” pronunciado ao condenar o resto do mundo por combater nossa política de biocombustivel.)
COMENTO:
1 - Quanto ao "banco de dados" da Casa Civil, já foi encontrado o "bode expiatório" que, após ouvido pelas diversas CPIs que não dão em nada, deve retornar a seu cargo regiamente pago no TCU, onde em breve deve receber uma promoção pelo bom comportamento;
2 - A propaganda política desenvolvida pelo "líder supremo" não é reprimida por ser "uma exigência do povo" e ele já disse que vai "continuar inaugurando e falando por todo o país", isto é, "tá tudo dominado!"
3 - O PAC faz parte da campanha tratada no item anterior. É só para manter o "líder supremo" e a "mãe do PAC" em evidência na lembrança dos milhões de usuários das "bolsas-fraude" que compõem a claque nos eventos de inaugurações de "pedras fundamentais". Essa claque não usa estradas e, assim, "tá nem aí" para os gastos do "programa tapa-buracos" e outros empreendimentos que vão dar em nada. Eles só querem receber a "ajudinha" que o "Presimente" lhes concede ao final do mês, não interessando de onde sai o financiamento dessa "ajudinha". Daí, a resposta à questão é: no atual sistema democrático não só vale a pena como é necessário mentir, não para enganar mas para manter viva a imagem que não será contestada por ninguém (afinal, nem no âmbito político o atual governo tem oposição pois PT e PSDB não passam de duas faces da mesma moeda).

4 - Já a situação econômica não é problema pois o país é grande e rico. Depois das eleições de 2010 se dá um jeito!
5 - Por fim, pedir que o presidente pare de falar "sacanagem" é querer tirar-lhe a oportunidade de falar sobre a única coisa de que ele entende.


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