por Maria Lúcia Victor Barbosa
Ultimamente muito se tem falado em Antonio Gramsci (1891-1937), um dos principais dirigentes do Partido Comunista italiano que preso pelo regime fascista morreu logo apos sair do cárcere onde se encontrava desde 1926.
Como vários teóricos marxistas do século XX, Gramsci não negou a importância da infra-estrutura, que segundo a teoria de Karl Marx é o modo de produção da vida material, mas ressaltou a importância e o papel da superestrutura que compreende as instituições políticas, o direito, a moral, a religião, as artes, a filosofia, a economia, etc.
Para Gramsci a superestrutura possui dois elementos fundamentais: “a sociedade política”, onde se encontra o aparelho de coação e comando, isto é, o Estado ou governo, e a sociedade civil que assenta na persuasão. E se para os revolucionários russos, o essencial era derrubar o aparelho do Estado, para os revolucionários ocidentais o terreno essencial de luta se situa na sociedade civil que sempre aceitou os valores e a ideologia da classe dominante, portanto sua hegemonia.
Entendeu Gramsci que a hegemonia é assegurada por aqueles a quem chamou de intelectuais orgânicos (clero, intelectuais, universitários, tecnocratas), e os trabalhadores somente se afirmariam se conseguissem fazer prevalecer o seu próprio sistema de valores, sua própria visão de mundo, sua própria ideologia. Seria, então, imperativo que aqueles tomassem a direção cultural e moral da sociedade e passassem a ser uma classe dirigente antes de ser uma classe dominante.
Em suma, Antonio Gramsci elaborou uma “estratégia do consentimento” através dos intelectuais orgânicos que são o elemento organizador da sociedade civil. E isto é algo mais eficaz do que a tomada do poder pela força. Seria uma revolução sem armas rumo ao comunismo. Funcionaria como processo corrosivo trabalhado através da persuasão envolvendo mentes e sentimentos.
Sentimentos podem ser induzidos por intelectuais orgânicos e se conquistam com líderes eloqüentes e muita propaganda, coisas que não são difíceis de fabricar porque os homens não oram apenas pelo pão de cada dia, mas também por sua ilusão diária. Isso porque, a maioria vive em circunstâncias de frustração calada.
Ora, pessoas frustradas são mais crédulas na medida em que necessitam de algo em que acreditar. Gente frustrada precisa também de odiar e o ódio compartilhado com outros é a mais poderosa de todas as emoções unificadoras. Naturalmente é fácil odiar uns aos outros através da luta de classes. Estimular o ódio entre classes, raças ou etnias é, portanto, o caminho mais fácil para a conquista e a manutenção do poder.
Todavia, Gramsci não foi tão inovador como se pensa. Lavrenty Pavlovich Beria (1899-1953), ministro do Interior e marechal da União Soviética, executado depois da morte de Stalin, também sabia que nem só de infra-estrutura vive o homem. Sua arma para dominar os incautos, os frustrados, os necessitados de ilusão, na verdade era uma espécie de ciência que ele denominou de Psicopolítica, através da qual se podia obter a “cura mental”, ou algo que podemos chamar de lavagem cerebral.
Para entendermos melhor de Psicopolítica, observemos alguns trechos de um discurso que Beria proferiu para estudantes americanos, na Universidade Lênin:
“Vocês devem trabalhar para que todos os profissionais e professores somente professem a doutrina de “cura” originária no comunismo e nos nossos propósitos. ... Vocês devem trabalhar para que tenhamos o domínio das mentes e dos corpos de todas as pessoas importantes de vossa Nação. ... Vocês devem conseguir tal descrédito pelo estado de insanidade e tal convicção sobre seu pronunciamento que nenhuma autoridade governamental assim estigmatizada possa novamente ter o crédito de seu povo. ... Vocês podem mudar a lealdade das pessoas pela Psicopolitica; podem alterar para sempre a devoção de um soldado, de um governante ou de um líder em seu próprio país; ou vocês podem destruir suas mentes. ... Usem as Cortes, usem os juízes, usem a Constituição do país, usem as sociedades médicas e suas leis para ampliar nosso fim. Tudo vale na nossa campanha para implementar e controlar a ‘cura mental”; para disseminar nossa doutrina e para nos vermos livres dos nossos inimigos. ... Pela Psicopolítica criem o caos. ... Tomem a nação sem líderes, matando assim os oposicionistas. ... E tragam para a Terra, através do comunismo, a maior paz que o homem jamais conheceu”.
Um paciente trabalho de intelectuais orgânicos foi efetuado no Brasil. Padres, professores, intelectuais, artistas, profissionais liberais se empenharam para elevar ao poder não a classe trabalhadora, mas o Partido dos Trabalhadores. Não temos mais instituições, oposições, lideranças que resistam à “cura mental” que nos é ministrada dia a dia. Confiantes, aguardemos através do petismo a maior paz que o brasileiro jamais conheceu. O problema é que a História sempre se vinga dos que a ignoram.
Para Gramsci a superestrutura possui dois elementos fundamentais: “a sociedade política”, onde se encontra o aparelho de coação e comando, isto é, o Estado ou governo, e a sociedade civil que assenta na persuasão. E se para os revolucionários russos, o essencial era derrubar o aparelho do Estado, para os revolucionários ocidentais o terreno essencial de luta se situa na sociedade civil que sempre aceitou os valores e a ideologia da classe dominante, portanto sua hegemonia.
Entendeu Gramsci que a hegemonia é assegurada por aqueles a quem chamou de intelectuais orgânicos (clero, intelectuais, universitários, tecnocratas), e os trabalhadores somente se afirmariam se conseguissem fazer prevalecer o seu próprio sistema de valores, sua própria visão de mundo, sua própria ideologia. Seria, então, imperativo que aqueles tomassem a direção cultural e moral da sociedade e passassem a ser uma classe dirigente antes de ser uma classe dominante.
Em suma, Antonio Gramsci elaborou uma “estratégia do consentimento” através dos intelectuais orgânicos que são o elemento organizador da sociedade civil. E isto é algo mais eficaz do que a tomada do poder pela força. Seria uma revolução sem armas rumo ao comunismo. Funcionaria como processo corrosivo trabalhado através da persuasão envolvendo mentes e sentimentos.
Sentimentos podem ser induzidos por intelectuais orgânicos e se conquistam com líderes eloqüentes e muita propaganda, coisas que não são difíceis de fabricar porque os homens não oram apenas pelo pão de cada dia, mas também por sua ilusão diária. Isso porque, a maioria vive em circunstâncias de frustração calada.
Ora, pessoas frustradas são mais crédulas na medida em que necessitam de algo em que acreditar. Gente frustrada precisa também de odiar e o ódio compartilhado com outros é a mais poderosa de todas as emoções unificadoras. Naturalmente é fácil odiar uns aos outros através da luta de classes. Estimular o ódio entre classes, raças ou etnias é, portanto, o caminho mais fácil para a conquista e a manutenção do poder.
Todavia, Gramsci não foi tão inovador como se pensa. Lavrenty Pavlovich Beria (1899-1953), ministro do Interior e marechal da União Soviética, executado depois da morte de Stalin, também sabia que nem só de infra-estrutura vive o homem. Sua arma para dominar os incautos, os frustrados, os necessitados de ilusão, na verdade era uma espécie de ciência que ele denominou de Psicopolítica, através da qual se podia obter a “cura mental”, ou algo que podemos chamar de lavagem cerebral.
Para entendermos melhor de Psicopolítica, observemos alguns trechos de um discurso que Beria proferiu para estudantes americanos, na Universidade Lênin:
“Vocês devem trabalhar para que todos os profissionais e professores somente professem a doutrina de “cura” originária no comunismo e nos nossos propósitos. ... Vocês devem trabalhar para que tenhamos o domínio das mentes e dos corpos de todas as pessoas importantes de vossa Nação. ... Vocês devem conseguir tal descrédito pelo estado de insanidade e tal convicção sobre seu pronunciamento que nenhuma autoridade governamental assim estigmatizada possa novamente ter o crédito de seu povo. ... Vocês podem mudar a lealdade das pessoas pela Psicopolitica; podem alterar para sempre a devoção de um soldado, de um governante ou de um líder em seu próprio país; ou vocês podem destruir suas mentes. ... Usem as Cortes, usem os juízes, usem a Constituição do país, usem as sociedades médicas e suas leis para ampliar nosso fim. Tudo vale na nossa campanha para implementar e controlar a ‘cura mental”; para disseminar nossa doutrina e para nos vermos livres dos nossos inimigos. ... Pela Psicopolítica criem o caos. ... Tomem a nação sem líderes, matando assim os oposicionistas. ... E tragam para a Terra, através do comunismo, a maior paz que o homem jamais conheceu”.
Um paciente trabalho de intelectuais orgânicos foi efetuado no Brasil. Padres, professores, intelectuais, artistas, profissionais liberais se empenharam para elevar ao poder não a classe trabalhadora, mas o Partido dos Trabalhadores. Não temos mais instituições, oposições, lideranças que resistam à “cura mental” que nos é ministrada dia a dia. Confiantes, aguardemos através do petismo a maior paz que o brasileiro jamais conheceu. O problema é que a História sempre se vinga dos que a ignoram.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga,
professora, e escritora.
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