terça-feira, 6 de maio de 2008

E a Bolívia hein?

Aconteceu hoje na Bolívia um importante referendum promovido pelo estado de Santa Cruz que pede sua autonomia em relação ao governo do país. Ao contrário do que estão apregoando, Evo Morales, Hugo Chávez e demais forças políticas comuno-socialistas da América Latina, o que os santa-cruzenhos desejam não é o separatismo mas a descentralização econômico-administrativa, a federalização de seu estado que é quem mais produz e, no entanto, se vê penalizado pelas políticas comuno-chavistas do “Socialismo do Século XXI” do cocalero presidente Morales.
Fiz o enorme sacrifício de assistir os telejornais da rede Globo durante toda a semana, para ver se davam alguma informação acerca deste acontecimento mas, como era previsível, a única informação que parece não acabar nunca é o caso da menina Isabelle assassinada no começo do mês em São Paulo, que é divulgado com riqueza de detalhes e pormenores. Não minimizo este crime hediondo mas, convenhamos, a mídia nacional foi a grande responsável pela histeria coletiva que se instalou em torno do caso que, por mais grave que tenha sido, foi um caso particular que não diz respeito ao país, aos destinos da Nação. Do mesmo modo é o caso da Reserva Raposa Serra do Sol, — este sim, um legítimo processo de separatismo — que não é levado às discussões públicas, cuja mídia pouco ou nada informa porque não interessa ao governo que a população saiba do ato lesivo à nossa soberania que está sendo tramado de comum acordo com a neo-comunista ONU e outros organismos igualmente comuno-internacionalistas.
O referendum que pede a autonomia de Santa Cruz é legítimo, entretanto, Morales e seus seguidores insistem em mentir, alegando que a “oligarquia” apoiada pelo “império” não quer perder seus privilégios e joga irmãos contra irmãos. Se há algo ilegal é a Constituição boliviana vigente — na qual ele tem se apoiado para desautorizar o referendum —, pois foi feita a portas fechadas e contando apenas com os parlamentares oficialistas; a oposição foi PROIBIDA de entrar no recinto e participar da votação, o que significa, em qualquer país do mundo civilizado onde vige o regime democrático, uma fraude, um embuste, uma gigantesca FARSA. As imagens (fotos e canal CNN em Espanhol) do dia de hoje na Bolívia, dão conta de extrema violência por parte dos seguidores do cocaleiro presidente, como mostram as fotos que ilustram a edição de hoje.
Para que se compreenda melhor o que significa este referendum para seus promotores, sugiro a leitura do artigo “Lições da crise colombiana II - próximo alvo: Peru”, do brilhante analista político e meu amigo Heitor De Paola, bem como “Bolivianos, cuidado com a OEA” do presidente de Fuerza Solidaria, o também amigo Alejandro Peña Esclusa.
Os temores sobre o aumento da violência interna na Bolívia se viram agudizados na última semana, ante a radicalização de atos organizados por aquilo que eufemisticamente insistem em chamar de “movimentos sociais” que respaldam o governo, sobretudo os sub-humanos índios aymarás — etnia de Morales — conhecidos como “ponchos vermelhos”. Em novembro do ano passado eles já se articulavam contra a chamada “Meia Lua”, que conforma os estados Santa Cruz, Tarija, Beni, Cochabamba e Pando que pedem a autonomia, e chegaram a incendiar a prefeitura de um desses estados sendo contido a tempo e não deixando vítimas. Apesar de já ter sido divulgado amplamente pela rede, não tem desperdício rever “Na Bolívia degolam cães em ameaça aos opositores”, filmado em 23 de novembro de 2007, que descreve com precisão a quê esta gente está disposta.
E hoje eles tomaram as ruas, fecharam estradas, incendiaram urnas e cédulas de votação. Junto com oficialistas do partido MAS (Movimiento Al Socialismo), tentaram impedir que as pessoas votassem deixando até agora um saldo de 20 pessoas feridas e uma morta, a maioria nas localidades de San Julián, Yapacaní, Montero e Plan Tres Mil, um dos bairros mais pobres de Yapacaní.
As tensões já existentes foram agravadas por um pronunciamento publicado nos jornais das Forças Armadas que afirmavam que não se podia aprovar o estatuto autonômico porque ele “afeta a segurança e defesa nacional do Estado boliviano” e que “depois de ter realizado uma exaustiva análise do projeto de Estatuto Autonômico de Santa Cruz, alguns de seus artigos afetam a segurança e defesa nacional do Estado boliviano”. Esta declaração dos altos comandos do Exército, Aviação e Marinha é seguida por outra do Conselho Supremo de Defesa Nacional, uma instância militar de apoio às Forças Armadas, que advertiu no sábado que o estatuto autonômico do estado de Santa Cruz “ameaça a integridade do território nacional”, repetindo o que determina o governo autoritário do cocaleiro presidente Morales.
Chávez e seu ministro da Defesa foram derrotados mais uma vez pela oficialidade que se negou a deslocar-se até a Bolívia para servir de “guarda-costas” de Morales. Conforme conta Patricia Poleo em sua coluna “Factores de Poder”, no jornal “El Nuevo País” de hoje. “Desde sexta-feira à tarde, oficiais de todas as Forças, especialmente da Guarda Nacional, majores, capitães e tenentes estavam sendo citados na DIM (Direção de Inteligência Militar), por dezenas de panfletos e comunicados que estiveram circulando nas instalações militares desde que o ministro da Defesa, Gustavo Rangel Briceño, chamou de ‘burros’ os oficiais institucionais”. (...) “Em fontes militares já se comenta, sem medo e sem pudor, que um dos detonantes para que o ministro da Defesa arremetesse contra os militares institucionais, foi a negativa destes em trasladar-se à Bolívia para reforçar a segurança de Evo Morales durante o referendum de hoje, domingo, que se anuncia que será letal para a estabilidade do presidente boliviano. Os oficiais simplesmente se negaram a obedecer a ordem de atuar na Bolívia” .
A respeito desse “destempero” do ministro da Defesa “rojo, rojito”, vale a pena registrar o que ele disse no Forte Tiuna (sede do Ministério da Defesa), pois é com um elemento destes que o governo brasileiro, através do seu ministro da Defesa Nelson Jobim e as nossas Forças Armadas, está fechando acordo de criar até outubro deste ano o “Conselho Sul-americano de Defesa”. Disse ele em escandalosa declaração afrontosa à Constituição que, antes, proibia a politização das FAN: “Não aceito essa visão covarde que retira das responsabilidades reais e verdadeiras do momento histórico que estamos vivendo porque ‘eu sou institucionalista e então, não...’. Então, você não? Então você se vá, você está fora de ordem, não entende o que está se passando”. E perguntou se um “institucionalista” não é na realidade “um grande covarde ou um burro que se nega a aceitar a realidade. Temos uma realidade na mão e ela é política. A oportunidade que temos é política”. E encerrou com “Pátria, Socialismo ou Morte. Venceremos!”.
Depois deste parênteses que merecia ser comentado porque está relacionado com o evento da Bolívia de hoje, é da maior importância se saber porquê a violência do bando oficialista, quais são seus reais interesses para o país e porquê a oposição insistiu tanto nessa autonomia. Em um documento escrito em agosto de 2006, logo após a assunção de Morales à Presidência, seu partido (MAS) elaborou um documento — assinado por Morales — que vem cumprindo diligentemente e que só através dele é possível compreender todo este processo. Intitulado “Guia de Ação Política de Orinoca — Para os companheiros revolucionários do MAS e seus aliados”, o documento descreve em detalhes suas estratégias, focos de ação e alvos a atingir. Copio apenas os itens mais importantes:
1. Como objetivo: a criação de um Estado plurinacional camponês-indígena e com um governo centralista e estruturado sobre a figura de nosso líder, Evo Morales Ayma. (...) 
 Trata-se de conformar uma Democracia formal socialista com poder total e absoluto [o socialismo é pragmático e deve se orientar pelos estabelecimentos do Socialismo do Século XXI e promovido pelo camarada, irmão e Comandante Hugo Chávez da Venezuela];
 Viabilidade do novo Estado: Conformar uma Pátria Grande Sul-americana e bolivariana. Para isso é desejável a conformação de forças estatais-repressivas conjuntas entre países da região com orientação socialista e financiada pelos próprios Estados, e o orçamento facilitado pelo Governo bolivariano da Venezuela;
 Estabelece-se um ‘neo-foquismo’, onde a Bolívia seja o centro de irradiação deste Socialismo do Século XXI em nível latino-americano e promovido principalmente pelo governo-irmão da Venezuela;
 É também desejável a conformação e o financiamento de grupos ou forças irregulares, para reprimir a sociedade civil rebelde, se isto for necessário. Estes quadros deverão ser orientados a gerar violência na sociedade boliviana, e assim confrontar exitosamente os oligarcas e anti-revolucionários. Não se descarta que estes grupos sejam multinacionais: peruanos, bolivianos, colombianos, etc., pois a luta agora é universal e latino-americana;
 É positiva e funcional a cooptação de organizações sociais do país, como modo de grupos de pressão para reprimir instituições políticas ou sociais da oposição, assim como meios de comunicação burgueses e opostas à mudança.
II  Como justificativa: Se não se puder por meios democráticos, a violência [parteira da História] é necessária para impor o Novo Estado Plurinacional.
Como políticas a serem levadas a cabo pelo governo revolucionário do MAS:
1. Estabelecimentos Estratégicos
1.1. Deve-se promover a agudização das contradições na sociedade boliviana. É desejável a crise econômica e política do país, deste modo a instabilidade geral e o caos possibilitarão o governo revolucionário do Companheiro Evo atuar com a força requerida para impor nosso projeto de Estado;
1.2. Destruir o neoliberalismo (lembrem-se que este foi o mote do XIII Encontro do Foro de São Paulo ocorrido no ano passado) de ultra-direita fundamentado hoje, na chamada República boliviana e representada pela ‘Meia Lua’.
1.3. Deve-se instrumentalizar exitosamente a Assembléia Constituinte para impor a visão do novo Estado. (...) 
1.5. Deve-se continuar com o processo exitoso de cooptação de: (...) 
b) Níveis hierárquicos das FFAA e da Polícia. Com a ajuda econômica do irmão Governo da Venezuela, espera-se a lealdade destes efetivos e funcionários para a repressão política planejada especialmente para a Meia Lua. (...) 
3. Atacar o inimigo do Povo: a Meia Lua
3.1. O inimigo do povo é a denominada “Meia Lua”, hoje em processo de articulação. Dentro deste contexto, o inimigo estratégico é o Estado de Santa Cruz de la Sierra, visibilizado através do Prefeito e Comitê Cívico;
Justificativa: O inimigo deve ser aniquilado porque através do processo autonômico estadual, se poderia inviabilizar o novo Estado Plurinacional [que está por nascer]. Lembremos que tais autonomias defendem o Estado de Direito, a democracia e outras instituições burguesas e corruptas próprias da atual República da Bolívia; precisamente — pois — promovem as instituições que o povo deve 'desmontar'. 
3.2. Estratégias/Ações:
Gestar a inevitável divisão e confrontação campo-cidade em nível municipal. No caso de Santa Cruz inclusive, já se selecionaram municípios com elevada população migrante camponês-indígena (San Julián, etc.), para opor-se ao processo autonômico. Deve-se financiar quadros e grupos de pressão para violentar, quando seja necessário, o processo autonômico oligárquico e corrupto, e durante o processo de expropriação de terras aos fazendeiros e latifundiários”. E encerra com as palavras do cocaleiro-presidente: “Companheiras e companheiros revolucionários, creio que este guia será o instrumento de mudança para levar o poder ao povo e a nossos irmãos camponeses, indígenas e originários. Pátria ou Morte! Venceremos ao lado do povo! Morte à Bolívia senhorial e colonial!
Evo Morales Ayma  Presidente constitucional da República da Bolívia”. 
Bem, o documento é imenso mas creio que estes itens são bastantes para se avaliar e compreender o processo acelerado de comunização castro-chavista que está ocorrendo na Bolívia hoje, sem esquecer que tudo isto tem o aval, estímulo e iniciativa do governo brasileiro através do Foro de São Paulo.
Uma pesquisa de boca de urna realizada pela agência “Captura Consulting” para a rede “Usted Decide”, afirmou que na capital de Santa Cruz a percentagem do SIM foi de 85,3%, frente a 14,7% pelo NÃO. Entretanto, nas cidades foi maior a aprovação: 89,6% a favor do SIM e 10,4% para o NÃO. Embora não tenha sido informado ainda o número de abstenções, a cadeia ATB situou em torno dos 40%. Santa Cruz agora terá atribuições reservadas ao Estado nacional, como educação, segurança, justiça e economia, construindo uma verdadeira barreira contra o plano do Governo de “refundar” o país com uma nova Constituição socialista. A nova Constituição, aprovada sem o aval da oposição por uma assembleia constituinte controlada pelo oficialismo e que deve passar por uma série de referenduns, daria mais poder à maioria indígena, fortaleceria o controle do Estado sobre a economia e outorgaria um marco legal à política oficial de nacionalização dos recursos naturais.
Esta vitória é mais uma pedra no sapato do “Eixo do Mal” e do Foro de São Paulo, derrotado pela segunda vez em referedum (a primeira foi a derrota de Chávez em 2 de dezembro passado, também para implantar um regime totalitário comunista), o que prova que, majoritariamente, o povo latino-americano rejeita categoricamente o comunismo, é amante da ordem, do progresso, da liberdade e da democracia, não um arremedo dela, como estamos vivendo hoje no Brasil dos “cumpanhêro”. Que Deus abençoe e proteja os bolivianos de bem!
Fiquem com Deus e até a próxima!
Comentários e traduções: G. Salgueiro
Fonte: Notalatina

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