por Walter Navarro
Estão massacrando meus amigos Ziraldo e Jaguar, só por causa da bolsa-dentadura, perdão, ditadura.
Isso é inveja da tocha olímpica, uso exclusivo das Forças Armadas.
Eu, escroque sem escrúpulos, adoraria receber esta grana.
Vou até inventar umas histórias de perseguição política!
Nunca fui terrorista, mas o que vale é a intenção.
Se eu tivesse 20 anos a mais, com certeza teria entrado na luta armada; só pra dividir uma barraca com o Zé Dirceu, quando ele fazia treinamento em Cuba; pra depois ser dedurado pelo Genoíno no Araguaia.
Imaginem a indizível emoção de acordar numa tenda, camuflado, barbudo e pedir: “Zé Dirceu, me passa o açúcar” e ele: “O que é isso, companheiro Walter? Café com açúcar e afeto é um vício burguês. Banho também”. E eu: “Então me dá o adoçante”.
Realmente, chupar o pau da barraca com Zé Dirceu e ainda ganhar indenização deve ser muito bom.
Mas; foi melhor assim. Eu teria sido preso e torturado à toa, já que, hoje, sou de ultra-direita. Como dizia o Serge Gainsbourg “virei a casaca ao perceber que o forro era de visom”.
E mais, se eu fosse militar daria um novo golpe; mandaria Lula e corja para trabalhos forçados no Piauí. Campo de concentração mesmo: quebrar pedra, debaixo de sol escaldante ao som da chibata. E à noite, pelourinho neles.
Voltando a “Milionário e Zé Rico”, Ziraldo e Jaguar; eles merecem a indenização. Sofreram muito nos porões da ditadura.
Por exemplo, foi na cadeia que obrigaram o Ziraldo a comer broa de milho, pintar o cabelo de branco e usar aqueles ridículos coletes coloridos. Tem coisa pior? Não, coitado!
Enquanto isso, na sala ao lado, Jaguar era forçado a tomar duas garrafas de uísque escocês por dia! Foi encarcerado que, delirando, Ziraldo começou a escrever seus torturantes livros infantis.
O Menino Maluquinho, com aquela panela na cabeça, é clara alusão, metáfora dos suplícios vividos por Ziraldo.
Enquanto isso, no calabouço, Jaguar era obrigado a beber quatro garrafas de uísque escocês, por dia!
Ziraldo sofreu muito até aprender a falar Leblon, com “x”, sem o sotaque de Caratinga.
Ziraldo, com toda a certeza, deve ter passado quase uma semana preso, tomando banho de sol, contando piadas sem graça e dividindo a ducha com Paulo Francis. Nem preciso contar quem pegava o sabonete que caía no chuveiro coletivo, né?
Enquanto isso, na latrina ao lado, Jaguar era obrigado a beber oito garrafas de uísque escocês antes do almoço!
Se Ziraldo não tivesse sido preso, humilhado e perseguido, hoje, estaria muito bem de vida. Mas, pobre Ziraldo, gagá, velho e acabado, tem que morar num mísero duplex da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro e passar férias em sua pequena mansão na Ilha Grande, onde fica estirado numa rede, bebendo champagne francês e chorando ao lembrar do sofrimento de Graciliano Ramos, preso pela ditadura Vargas, na mesma Ilha Grande, onde existiu a famosa e antiga prisão.
Enquanto isso, seu fiel amigo Jaguar fica na rede ao lado, bebendo 16 garrafas de uísque escocês e lembrando de suas terríveis amnésias.
No xilindró, os infelizes Ziraldo e Jaguar tinham nem TV a cabo. Não podiam nem mandar um e-mail pelo celular, porque estavam fora de área ou desligados pelos malvados militares.
Quem é torturado nunca mais esquece os terríveis momentos.
Ziraldo apanhou tanto, tomou tanto choque no pau de arara, que ficou meio malucão e, anos depois, ao fundar a revista Bundas e ressuscitar o jornal Pasquim; dedicou várias capas ao Lula, Zé Dirceu, Genoíno...
Tem gente que, por causa disso, chama o Ziraldo de puxa saco, rei do patrocínio federal, imperador das verbas do governo. Uma injustiça! Pra mim Ziraldo ficou lesado e metido, em conseqüência das coronhadas que tomou na cabeça.
Enquanto isso, Jaguar tinha que beber 32 garrafas de uísque escocês, sem copo.
É mentira também, dizer que Ziraldo só vem a Minas Gerais, pra pedir dinheiro ao governador do momento.
O atormentado cartunista vem é pra reviver suas raízes e esquecer o calvário que viveu no Rio de Janeiro. Aposto que doa ao Fome Zero todo o dinheiro que ganha fazendo propagandas para atrair investimentos para sua querida Minas Gerais.
OK, concordo; é ridículo usar mineiros, como Ziraldo e Milton Nascimento, que moram no Rio há séculos, como garotos-propaganda de Minas. Mas isso também é culpa da tortura e da perseguição política.
Se eu fosse o Milton também pediria uma polpuda indenização.
PS: Enquanto isso, Jaguar calcula quantos litros de uísque escocês ele vai poder comprar com a bolsa ditadura...
Isso é inveja da tocha olímpica, uso exclusivo das Forças Armadas.
Eu, escroque sem escrúpulos, adoraria receber esta grana.
Vou até inventar umas histórias de perseguição política!
Nunca fui terrorista, mas o que vale é a intenção.
Se eu tivesse 20 anos a mais, com certeza teria entrado na luta armada; só pra dividir uma barraca com o Zé Dirceu, quando ele fazia treinamento em Cuba; pra depois ser dedurado pelo Genoíno no Araguaia.
Imaginem a indizível emoção de acordar numa tenda, camuflado, barbudo e pedir: “Zé Dirceu, me passa o açúcar” e ele: “O que é isso, companheiro Walter? Café com açúcar e afeto é um vício burguês. Banho também”. E eu: “Então me dá o adoçante”.
Realmente, chupar o pau da barraca com Zé Dirceu e ainda ganhar indenização deve ser muito bom.
Mas; foi melhor assim. Eu teria sido preso e torturado à toa, já que, hoje, sou de ultra-direita. Como dizia o Serge Gainsbourg “virei a casaca ao perceber que o forro era de visom”.
E mais, se eu fosse militar daria um novo golpe; mandaria Lula e corja para trabalhos forçados no Piauí. Campo de concentração mesmo: quebrar pedra, debaixo de sol escaldante ao som da chibata. E à noite, pelourinho neles.
Voltando a “Milionário e Zé Rico”, Ziraldo e Jaguar; eles merecem a indenização. Sofreram muito nos porões da ditadura.
Por exemplo, foi na cadeia que obrigaram o Ziraldo a comer broa de milho, pintar o cabelo de branco e usar aqueles ridículos coletes coloridos. Tem coisa pior? Não, coitado!
Enquanto isso, na sala ao lado, Jaguar era forçado a tomar duas garrafas de uísque escocês por dia! Foi encarcerado que, delirando, Ziraldo começou a escrever seus torturantes livros infantis.
O Menino Maluquinho, com aquela panela na cabeça, é clara alusão, metáfora dos suplícios vividos por Ziraldo.
Enquanto isso, no calabouço, Jaguar era obrigado a beber quatro garrafas de uísque escocês, por dia!
Ziraldo sofreu muito até aprender a falar Leblon, com “x”, sem o sotaque de Caratinga.
Ziraldo, com toda a certeza, deve ter passado quase uma semana preso, tomando banho de sol, contando piadas sem graça e dividindo a ducha com Paulo Francis. Nem preciso contar quem pegava o sabonete que caía no chuveiro coletivo, né?
Enquanto isso, na latrina ao lado, Jaguar era obrigado a beber oito garrafas de uísque escocês antes do almoço!
Se Ziraldo não tivesse sido preso, humilhado e perseguido, hoje, estaria muito bem de vida. Mas, pobre Ziraldo, gagá, velho e acabado, tem que morar num mísero duplex da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro e passar férias em sua pequena mansão na Ilha Grande, onde fica estirado numa rede, bebendo champagne francês e chorando ao lembrar do sofrimento de Graciliano Ramos, preso pela ditadura Vargas, na mesma Ilha Grande, onde existiu a famosa e antiga prisão.
Enquanto isso, seu fiel amigo Jaguar fica na rede ao lado, bebendo 16 garrafas de uísque escocês e lembrando de suas terríveis amnésias.
No xilindró, os infelizes Ziraldo e Jaguar tinham nem TV a cabo. Não podiam nem mandar um e-mail pelo celular, porque estavam fora de área ou desligados pelos malvados militares.
Quem é torturado nunca mais esquece os terríveis momentos.
Ziraldo apanhou tanto, tomou tanto choque no pau de arara, que ficou meio malucão e, anos depois, ao fundar a revista Bundas e ressuscitar o jornal Pasquim; dedicou várias capas ao Lula, Zé Dirceu, Genoíno...
Tem gente que, por causa disso, chama o Ziraldo de puxa saco, rei do patrocínio federal, imperador das verbas do governo. Uma injustiça! Pra mim Ziraldo ficou lesado e metido, em conseqüência das coronhadas que tomou na cabeça.
Enquanto isso, Jaguar tinha que beber 32 garrafas de uísque escocês, sem copo.
É mentira também, dizer que Ziraldo só vem a Minas Gerais, pra pedir dinheiro ao governador do momento.
O atormentado cartunista vem é pra reviver suas raízes e esquecer o calvário que viveu no Rio de Janeiro. Aposto que doa ao Fome Zero todo o dinheiro que ganha fazendo propagandas para atrair investimentos para sua querida Minas Gerais.
OK, concordo; é ridículo usar mineiros, como Ziraldo e Milton Nascimento, que moram no Rio há séculos, como garotos-propaganda de Minas. Mas isso também é culpa da tortura e da perseguição política.
Se eu fosse o Milton também pediria uma polpuda indenização.
PS: Enquanto isso, Jaguar calcula quantos litros de uísque escocês ele vai poder comprar com a bolsa ditadura...
Coluna de Walter Navarro,
toda quinta no Jornal O Tempo
Fonte: Navegação Programada
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