domingo, 20 de abril de 2008

A Farda Abafa ou Não o Cidadão??

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A jornalista Dora Kramer escreveu hoje no Estadão:
"No começo, era quase uma formalidade disciplinar e, objetivamente, a repreensão do presidente Lula ao comandante da Amazônia, general Heleno Augusto, por causa das críticas à política indígena, não teria potencial para mais.
Mas a reação dos presidentes de clubes militares politiza e desvia o episódio do rumo inicial. Dá a nítida impressão de que aguardavam um pretexto para externar suas insatisfações com o governo. Falam de índios, mas parecem querer mesmo é falar mal do presidente.
Exercício livre a qualquer cidadão. Menos aos militares, cuja intromissão na política não é experiência que o Brasil suporte repetir. O ponto final no tom de embate de fardados em direção ao Planalto é o desfecho ideal."
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Certamente, a competente jornalista, tem pouco conhecimento, mesmo teórico, sobre o sentimento de ser militar. 
Aparentemente, esqueceu-se de que militares também são cidadãos "destepaíz". Ou não?
O que poderia servir como parâmetro de supressão de direitos básicos aos militares? Já não basta serem "cidadãos de segunda categoria" no que diz respeito às condições de trabalho ("salários" baixos, condições insalubres sem compensação financeira, horários irregulares  sempre em detrimento do profissional, afinal são "militares 25 horas por dia" , impossibilidade legal de associação sindical, obrigatoriedade de movimentações "por necessidade do serviço"  em detrimento do mínimo bem estar familiar, dificultando a educação de filhos, profissionalização do cônjuge, aquisição de moradia, ... , e por aí vai).
O que define ser cidadão? Por acaso, para ser militar não é obrigatória a nacionalidade brasileira? O militar não é coagido, como os demais eleitores, a escolher um dentre os diversos safados empurrados goela abaixo da população pelos "partidos políticos" (ramos diversos da mesma quadrilha que pesteia o país)? O militar é isento de algum imposto (como são os integrantes da "quadrilha dos anistiados")? O fato de ser militar profissional, cumprindo suas obrigações, ultrapassando expectativas devido às carências do seu material de trabalho, já não é demonstração de amor a "essepaíz"?
Há algum caso conhecido de alguém ascender à carreira militar desbordando a via do concurso e comprando votos por meio de alguma "bolsa-favor" ou fazendo comícios eleitoreiros disfarçados de "inaugurações de obras" (quase sempre ou já em andamento desde governos anteriores ou que não terão continuidade) ou sendo simplesmente "nomeado por Q.I."?
Os militares são profissionais por opção e assim permanecem, depois de seu ingresso, por toda a extensão de suas vidas.
A carreira militar não é uma atividade inespecífica e descartável, um simples emprego, uma ocupação, mas um ofício absorvente e exclusivista, que nos condiciona e autolimita até o fim. Ela não nos exige as horas de trabalho da lei, mas todas as horas do dia, nos impondo também nossos destinos."
"A farda não é uma veste, que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à própria alma, irreversível para sempre.” (Gen Octávio Costa)
Seria tedioso transcrever aqui os artigos do Estatuto dos Militares que tratam "Das Obrigações e dos Deveres dos Militares", que deveriam ser do conhecimento de todos os que se pretendem como "Comandante Supremo" das Forças Armadas, e que compreensivelmente talvez não seja do conhecimento da profissional de imprensa. Mas lembro que o Art. 35 daquele diploma legal reza que: "A subordinação não afeta, de modo algum, a dignidade pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da estrutura hierarquizada das Forças Armadas"; e que o item que fala em "acatar as autoridades civis" não significa acompanhar as estrepolias praticadas por essas autoridades.
Os militares "são militares" e os políticos, de todos os níveis, "estão em seus cargos" durante e até o final de seus mandatos, que poderão ou não serem renovados pelo voto popular (ou por alguma nomeação por Q.I.).
Para não me estender mais gostaria de lembrar a solene frase do Marechal Osório, patrono da Arma de Cavalaria, origem do Gen Heleno: "A farda não abafa o cidadão no peito do Soldado".
Assim, já é hora de dar término à discriminação aos militares na hora em que reclamam qualquer coisa tida como normal aos detentores de "cidadania" e só lembrarem dos mesmos nos momentos de resolver os problemas criados pela incompetência dos governantes das últimas três décadas, que destruíram os sistemas brasileiros de saneamento básico, de saúde, viário, de segurança, etc.

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