por Nivaldo Cordeiro
Recebi via e-mail convite para participar do Seminário Nacional promovido pela Fundação Astrogildo Pereira, em memória da Declaração Política de Março de 1958, lançada pelo então Partido Comunista Brasileiro, ao qual não pude comparecer. O evento realizou-se nos dias 28 e 29 do corrente. Estranhei o convite, eu que me afastei completamente das idéias socialistas há muitos anos e hoje milito na causa da liberdade, vendo nas idéias a ações socialistas as verdadeiras inimigas do gênero humano. Os socialistas e comunistas são as forças malignas do atraso, que não escondem sua vocação genocida, como aliás tem sido a prática onde essa gente se instalou no poder.Na agenda do Seminário estava previsto um painel cujo título era Idéias para uma nova Declaração Política. Também pudera. Eu li atentamente o documento de 1958 e obviamente é um texto datado, condicionado pelos relevantes fatos de que o Partidão estava na ilegalidade, que a Guerra Fria estava em pura efervescência e o PCB estava na linha de frente do comunismo internacional, fazendo propaganda do regime soviético, mentindo sobre os fatos que anos depois ficaram claros para a opinião pública mundial. A Frente Única democrática que o documento propunha redundou na eleição de Jânio Quadros e do vice João Goulart, que acabou por assumir o poder e precipitar os acontecimentos de 31 de março de 1964, a gloriosa revolução militar a qual saúdo com todo vigor cívico. Ela salvou o Brasil da ditadura intentada pelos alucinados revolucionários. Salvou o Brasil dessa gente irresponsável.
E também convém lembrar que o PCB então detinha o monopólio de ser o partido revolucionário de vanguarda, diretamente manejado por Moscou. Hoje tudo mudou. O PT surgiu, elegeu-se e instalou uma plena república sindicalista, talvez única no mundo no modo de agir. A tal “democratização” ansiada pelo partidão à época está em plena vigência. Lula presidente governa por medidas Provisórias, está por concluir o segundo mandato e meros três votos no Senado Federal o separam de um terceiro mandato, nada que não se possa ajeitar “democraticamente”. Nesses anos no poder o PT moldou o sistema jurídico e as instituições à marcha acelerada rumo ao socialismo, alinhou o Brasil com seus congêneres internacionais, deu apoio às FARC, Hugo Chávez, Evo Morales e a todos os inimigos da democracia do Continente Latino-Americano, abrigados no Foro de São Paulo. Seus correligionários governam agora praticamente todos os países, com as notáveis exceções da Colômbia e do México.
O documento não esconde as más intenções revolucionárias da época, como podemos ler: “O proletariado brasileiro necessita de uma vanguarda marxista-leninista organizada e combativa a fria (sic) de realizar sua política de classe. O Partido Comunista Brasileiro, que é esta vanguarda, deve ser capaz de cumprir o seu papel na ação política concreta”. O evento parece dominado pelas múmias políticas originadas do velho Partidão que não se filiaram ao PT e parece querer construir uma alternativa revolucionária à hegemônica presença de Lula e sua tropa no cenário político. Mas creio firmemente que o PPS não é o único herdeiro da tradição comunista nacional e o PT revelou-se a facção mais capaz não apenas para chegar ao poder, mas para se articular em escala continental, em franco movimento revolucionário. O PT é um legítimo herdeiro do Partidão.
Em comum com o documento exumado temos o ódio aos EUA, ao imperialismo. Foi escrito em hieróglifos políticos, praticamente ilegíveis para aqueles que não estudaram o momento político em que foi escrito e a literatura comunista da época. Está cheio de teses esdrúxulas e idéias de jerico, como a proposta da aliança democrático-burguesa, a risível tese de um feudalismo na distribuição de terras, a presença já extinta de largos contingentes populacionais no campo (que deu lugar à atual urbanização irreversível). Ridiculamente, pois a grande nação do Norte encontra-se agora mergulhada em uma profunda crise econômica interna e engajada no enfrentamento da guerra do Iraque, cujo desfecho ainda é desconhecido. Certo, a ex-URSS não existe mais, mas os norte-americanos deixaram de ser o que eram. Perderam substância estratégica e só lhes resta ainda a relativa supremacia militar. Mas as bases dessa supremacia estão seriamente minadas pela crise econômica.
Se eu tivesse ido ao Seminário e a palavra a mim fosse franqueada, eu a usaria para chamar essa gente ao bom senso, tarefa inglória e destinada ao fracasso. O grande perigo não são os EUA, que nem perigo são, mas o próprio PT, que está destruindo a ordem jurídica, está fabricando uma crise de largas proporções que está chegando a galope, por excesso de gastos públicos e pela má política salarial, pelo distributivismo irresponsável que anula a ética do trabalho honesto. Tudo isso somado está devorando os saldos na balança comercial tão duramente conquistados e que têm dado a vacina para livrar o Brasil das ondas de choque da crise mundial que se avizinha. O mesmo fenômeno ameaça fazer voltar a inflação tão duramente debelada. Se as besteiras continuarem a serem feitas na economia é provável que a crise no mercado interno brasileiro chegue antes da crise mundial que se espera.
Diria mais, que as instituições democráticas correm perigo. A entrevista que o presidente do Congresso Nacional, Garibaldi Alves, concedeu à revista Veja que está nas bancas, é reveladora. Nas suas palavras: “O Congresso deixou de votar, de legislar, de cumprir sua função. É uma agonia lenta que está chegando a um ponto culminante. Essa questão das medidas provisórias é emblemática da crise do Legislativo, que não é mais uma voz da sociedade, não é mais uma caixa de ressonância da opinião pública. Está meio sem função. O Congresso está na UTI, e ninguém do mundo político percebe que esse desapreço pelo Poder Legislativo é uma coisa que está minando as suas bases de sustentação e que a qualquer hora poderá haver um momento de maior tensão, de crise entre os poderes. À medida que o Legislativo abre mão de suas prerrogativas, o Executivo invade espaços".
O presidente do Congresso disse que o colapso do Poder Legislativo é uma realidade e uma eventual descontinuidade desse Poder, por absoluta inoperância, é uma ameaça imediata. Não pode haver democracia sem parlamento. Essa situação só favorece a re-reeleição de Lula, que governa praticamente sem oposição. Eu diria que o Brasil pode estar na iminência de uma ditadura de partido único. O velho sonho do Partidão de ser o partido de vanguarda capitaneado a ditadura do proletariado está em vias de ser alcançado, mas não pelos seus oligarcas históricos, como é bom exemplo Roberto Freire, sempiterno presidente do PPS. Chamaria esses sonhadores á realidade, exortaria a deixarem de ser comunistas para serem patriotas. Apelaria ao senso de perigo para as coisas cataclísmicas que podem acontecer. E mais não precisaria dizer, pois tudo teria sido dito.
Que Deus nos livre e guarde das tragédias que nos ameaçam.
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