segunda-feira, 17 de março de 2008

Ainda Sobre o Discurso do Senador Camata:

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O SENADOR, O PRESIDENTE, AS FARC E AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS
por Luís Mauro Ferreira Gomes
Há um movimento nacional de organismos — e vou usar a palavra subversivos, bandidos  para desestabilizar a economia do Brasil. Eles são comandados pelo Foro de São Paulo e pelas FARC. Estou dizendo aqui há cinco anos que as FARC estão atuando no Brasil. A ABIN sabe que as FARC estão atuando no Brasil; a ABIN sabe que as FARC estão matando mais no Brasil do que na Colômbia. Os jovens brasileiros estão morrendo em conseqüência do tráfico de cocaína que as FARC enfiam pelas fronteiras do Brasil. As armas que estão matando os jovens brasileiros são infiltradas pela fronteira, pelas FARC, e não se vê uma providência a ser tomada pelo Brasil.
(O Senador Gerson Camata (PMDB/ES), em manifestação, no plenário do Senado Federal, no dia 12 de março de 2008).
São irretocáveis as palavras do Senador transcritas acima, não obstante, no desenvolvimento das idéias que se seguiram, ele faltou com a verdade e foi absurdamente injusto com uma das últimas instituições que ainda se preocupam com as ameaças que pairam sobre o Brasil, e sem dúvida, a única que o salvará, novamente, quando tudo mais tenha falhado.
Disse Sua Excelência:
“O Brasil, o contribuinte brasileiro, você, brasileiro, paga a Marinha mais cara da América Latina; paga o Exército mais caro e melhor aparelhado da América Latina; paga a Aeronáutica melhor aparelhada da América Latina e não recebe nada de volta. A fronteira do Brasil é um queijo cheio de buracos  entram armas, drogas, maconha. E o nosso Exército? Cheio de unidades no Rio e em São Paulo, aqueles quartéis precisam estar na divisa. Por que a Marinha não patrulha as nossas águas, onde são lançadas as armas para serem recolhidas pelos bandidos? Por que não vigiamos as nossas fronteiras? Por que temos as Forças Armadas mais poderosas da América Latina e ninguém nos respeita?
Teria sido mais verdadeiro se tivesse dito que o brasileiro sustenta o governo mais caro, mais corrupto, mais irresponsável, mais inoperante, mais sectário, mais maniqueísta, mais empulhador, mais submisso a interesses estrangeiros, mais ameaçador da soberania e do Estado de direito “da história deste País”, sem receber nada em troca. Ou melhor, recebendo, de quebra, a insegurança, o abandono, a desesperança, a injustiça, a estagnação, a miséria, as epidemias, o ultraje, a desonra, a vergonha, o desrespeito e a rejeição dos outros povos.
Como já dissemos no artigo “Direita, Volver!”, publicado na Revista Aeronáutica nº 261, publicada em 18 de setembro 2007, “nada que um político brasileiro faça ou diga decepciona-nos mais”.
Se não nos decepciona nem nos surpreende, entristece-nos muito ver o Senador preferir parecer ingênuo ou alienado das verdadeiras causas das graves intromissões que tão bem denunciou no seu pronunciamento, atribuindo-as às Forças Armadas brasileiras, a identificar-lhes a verdadeira paternidade na cumplicidade, na conivência e na omissão do governo federal.
Nenhum político minimamente informado pode ignorar que as Forças Armadas dependem, para agir em defesa da Lei e da Ordem, da iniciativa de qualquer dos Poderes Constitucionais, iniciativa que jamais se fez presente na atual conjuntura. Nem o Poder Executivo, nem o Poder Judiciário, nem o Poder Legislativo, do qual o Senador Camata é integrante, a tomaram.
Também é inadmissível ignorar-se que, nos últimos vinte e três anos, as Forças Armadas vêm sendo vítimas de tentativas sistemáticas de desestruturação e desmoralização pelas forças políticas no poder. Enquanto outros países, como a Venezuela do ditador bufão Hugo Chávez, fortalecem-se militarmente, e financiam, a peso de petrodólares, as mesmas FARC que tanto preocupam o Senador, sem que haja a adequação das nossas Forças Armadas ao novo grau de ameaça.
Não teria sido mais coerente se, em seu discurso, o Senador tivesse pedido melhores condições operacionais para a Marinha, o Exército e a Aeronáutica, e exigido que o presidente da República  a quem cabe, primariamente, a iniciativa de combater a infiltração estrangeira e a subversão interna denunciadas  cumpra o dever constitucional de defender a soberania, a integridade e os interesses nacionais?
O que o Senador espera dos Militares brasileiros?
Que ataquem, por iniciativa própria, os elementos subversivos pertencentes a grupos de terroristas internacionais, ou a ditaduras vizinhas de tiranetes visionários, ou a movimentos armados internos ditos sociais, todos, amigos do Presidente? Tal seria impossível de se sustentar sem a deposição do governo. É isso que o Senador deseja? Se assim fosse, por que nem ele, nem qualquer outro político, mesmo os que se dizem de oposição, pediu o impedimento do presidente, nas inúmeras vezes em que fortíssimos indícios apontavam, para o descumprimento sistemático da Constituição e de outros diplomas legais, com o envolvimento de ministros de Estado e do próprio presidente da República, tudo caracterizado como crimes de responsabilidade?
Ou será que prefere a extinção das Forças Armadas, já que disse considerá-las caras e achar que nada fazem? Não. Isso deixaria os movimentos subversivos definitivamente livres para a implantação do socialismo bolivariano e da narcoguerrilha por aqui, para felicidade geral de muitos integrantes do governo. Nesse caso não faria o menor sentido a denuncia de tais movimentos do plenário do Senado.
Mas se não é assim, por que a referência despropositada às Forças Armadas?
Talvez seja mais seguro “acender uma vela a Deus e outra ao diabo”. Denunciar os ditadores e terroristas internacionais aliados e, talvez, financiadores do governo e do seu partido, mas, ao mesmo tempo, fazer-lhes um agrado, atacando, gratuitamente, as Forças Armadas. Afinal o partido do Senador é da base aliada. Sempre que convém.
É muito fácil acusar os outros de omissão, quando nós mesmos nada fazemos.
Enquanto forem prestigiados políticos ambíguos que se dizem de oposição, mas, de olho em seus projetos pessoais de poder, não perdem uma oportunidade, sequer, de trair os seus correligionários, compondo-se, despudoradamente, com o governo, seja ostensiva, seja reservadamente, continuaremos a correr sérios riscos. Tais políticos somente querem o poder para, como se diz hoje, “fazer mais do mesmo”.
O Senador fez, ainda, uma série de perguntas (cujas respostas ele bem conhece, mas não quis dizer) sobre os movimentos subversivos que atuam impunemente no País e quem os patrocina, abriga e defende, tendo terminado por propor uma CPI para apurar tais ações e relações.
Uma CPI para apurar aquilo que todos sabem, mas muitos fingem ignorar poderia ser útil para explicitar o que a repressão governamental trata de esconder, se vivêssemos em um Estado de direito, em que os Poderes fossem efetivamente independentes e uma ditadura mal disfarçada não os corrompesse, constrangesse e coagisse.
Está na hora de os políticos sérios perceberem a gravidade da situação e se definirem claramente, tomando posições firmes, como alguns poucos têm feito.
É indispensável que todos o que pugnamos para que o Brasil realize o seu destino manifesto de grande potência unamo-nos para o cumprimento do sagrado dever de recolocá-lo, novamente, nos caminhos da normalidade institucional, da moralidade administrativa, da busca do bem-comum e da preservação dos valores maiores da nossa nacionalidade, ameaçados, justamente por quem mais deveria defendê-los.
Se falharmos continuaremos externamente a ser lacaios bem-mandados de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fidel Castro, Cristina Kirschner, Manuel Marulanda e de qualquer outro ídolo presidencial, e, no plano doméstico, estaremos fadados a enfrentar uma verdadeira ditadura, como jamais conheceram aqueles que abusam dessa palavra para se referirem aos governos chamados militares. Não conheceram, porque leram pouco.
A história não registra tolerância, muito menos piedade nos regimes comunistas. Fora da servidão, somente haverá lugar para o pequeno número de burocratas partidários que vencerem as disputas internas pelo poder. Para os oportunistas, com sorte, restará a expropriação de todos os bens e a escravidão como a alternativa à morte.
Não é uma escolha inteligente. O melhor, mesmo, é acabar com essa bobagem de fustigar quem está quieto e unir todas as forças àqueles que podem reverter a situação.
Luís Mauro Ferreira Gomes é Coronel-Aviador reformado.
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