quinta-feira, 31 de março de 2022

Marco Temporal e Soberania do Estado

 

por Ernesto Caruso
Espada de Dâmocles sobre a integridade territorial da Nação Mestiça, Terra de Santa Cruz, edificada ao longo de mais de cinco séculos, como resultante da colonização portuguesa, a unidade linguística, territorial e cristã. Invadida no passado, ambicionada, pressionada e descurada, no presente. Traída?
O sangue do silvícola, tribal, corre nas veias de milhões de brasileiros em número muito maior, dos que habitam as florestas. Das cores lusitanas ao verde-amarelo no cadinho do amor. Indígenas e brancos inicialmente, depois negros africanos, europeus, asiáticos...
A entender que o mundo foi tribal que miscigenando ou não, dos feudos e reinos formaram-se as nações/estados, por vezes com vários idiomas e fé diversa, mas unidos, sob peculiares regimes políticos.
Mas, todos tementes aos enclaves, alimentados por distinção política, social e cultural. O Brasil não pode se submeter, sob quaisquer argumentos, a fraturas na sua concepção original, sob o primado, supremacia do uti possidetis, da Carta de Pero Vaz de Caminha perpassando quinhentos anos de História, luta e sacrifício, com diplomacia e espada.
Não serão onze ministros a degradar o expressivo patrimônio de 213 milhões de brasileiros.
No que se refere às reservas indígenas há de se corrigir o que afronta a Constituição da Republica e a concepção do Estado e rejeitar qualquer iniciativa que ultrapassar o marco temporal estabelecido pelos constituintes de 1988.
Em pauta o Recurso Extraordinário com repercussão geral, RE 1.017.365, que tramita no STF, envolvendo pleitos de grupos sobre áreas de interesse tribal, mas com consequente ameaça ao marco temporal, face à decisão do plenário dessa Corte, que reconheceu por unanimidade a repercussão geral, o que abre uma brecha sobre outras tantas demarcações que atendam a interesses de ONGs sustentadas por entes internacionais.
Assim, impõe o Art. 231, da Constituição
— São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes ... e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
No que se refere a direitos sobre as terras, situa o fato gerador no tempo presente da promulgação da Constituição de 1988, ao referenciá-las com a expressão “... que tradicionalmente ocupam...”.
Nem de soslaio se pode inferir outra interpretação, como se fosse um intervalo aberto à direita, como a predizer, “... que tradicionalmente ocupam e que venham a ocupá-las...”. Insegurança a toda uma população, sob ameaça de pleitos das tribos de todos os cocares, a qualquer momento, retornando às invasões manipuladas, com destruição de fazendas, incêndios de máquinas agrícolas, conflitos armados.
Da votação no STF, em 2008, sobre a Reserva Serra do Sol em Roraima, alguns dados do voto do então ministro Menezes Direto, para apreciação na questão atual.
Na oportunidade, conforme levantamento feito, das 534 terras indígenas, com extensão total de 1.099.744 quilômetros quadrados ou 12,92% de todo o território nacional, sendo que 187 delas se localizam em faixa de fronteira.
No estado de Roraima, 32 áreas, com 103.415 km² a representar 46,11% de todo o território estadual, sendo que todas, exceto três, se localizam em área de fronteira. Também o ex-ministro, já falecido, defendeu a delimitação, como terra indígena, a que era tradicionalmente ocupada por índios em 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal.
As restrições impostas por Menezes Direito e aceita por seus pares (algumas das 18 apresentadas):
1 — Usufruto das riquezas do solo ... existentes nas terras indígenas pode ser suplantado de maneira genérica sempre que houver o interesse público da União (Art. 231 § 6º, da CF 1988);
2 — Usufruto dos índios não abrange a exploração de recursos hídricos ..., que dependerá sempre da autorização do Congresso Nacional;
3 — O usufruto dos índios não abrange ... a lavra de recursos naturais, que dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional. ...
5 — O usufruto dos índios fica condicionado ao interesse da Política de Defesa Nacional. A instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a expansão estratégica da malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho estratégico e o resguardo das riquezas de cunho estratégico a critério dos órgãos competentes (o Ministério da Defesa, o Conselho de Defesa Nacional) serão implementados independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai;
6 — A atuação das Forças Armadas da Polícia Federal na área indígena, no âmbito de suas atribuições, fica garantida e se dará independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai;
7 – O usufruto dos índios não impede a instalação pela União Federal de equipamentos públicos, redes de comunicação, estradas e vias de transporte, além de construções necessárias à prestação de serviços públicos pela União, especialmente os de saúde e de educação. ...
12 — O ingresso, trânsito e a permanência de não-índios não pode ser objeto de cobrança de quaisquer tarifas ou quantias de qualquer natureza por parte das comunidades indígenas;
13 — A cobrança de tarifas ou quantias de qualquer natureza também não poderá incidir ou ser exigida em troca da utilização das estradas ... linhas de transmissão de energia ou de quaisquer outros equipamentos e instalações colocadas a serviço do público ...
17 — É vedada a ampliação da terra indígena já demarcada;
18 — Os direitos dos índios relacionados as suas terras são imprescritíveis e estas são inalienáveis e indisponíveis.
O § 5º/Art. 231 impõe que “É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.”.
Nitidamente, é possível a remoção dos indígenas em duas situações distintas, referendadas pelo parlamento, no interesse da soberania do País e em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco a sua população; nesta hipótese, cessado o risco da população de catástrofe ou epidemia, “o retorno imediato logo que cesse o risco”.
Não se pode alterar o escrito para dar outro sentido de risco, como situações idênticas. Se o espírito da Lei Maior fosse equivalente seria a seguinte expressão, “É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum ... em caso de catástrofe, ou epidemia, ou no interesse da soberania do País...”.
Duas alternativas, com possibilidades da existência de risco e de cessação do risco e, a terceira alternativa se refere à SOBERANIA, sem condicionante, como deve ser, por princípio fundamental.
A observar o texto constitucional no Art. que define o Estado e, impõe como primeiro fundamento da nacionalidade, a soberania, sem a qual o Estado inexiste. E, quem garante a soberania de um país é o poder militar, como parte do poder nacional.
Não sujeição a Estado estrangeiro ou organização internacional. Questionar e verificar organizações não governamentais é preciso.
A concepção do Estado brasileiro e a própria Constituição da Republica tem sido desrespeitada em especial no estabelecimento de reservas indígenas na faixa de fronteira, propositadamente extensas, agregando tribos distintas como sempre foram, nas chamadas áreas contínuas, com objetivos estranhos, como a ‘entregar o ouro ao bandido’, de olho gordo sobre a Amazônia.
As reservas em “ilhas”, fora da faixa de fronteira atenderia às várias etnias, sem submissão aos interesses internacionais. Aberração maior com a reserva Ianomâmi, na fronteira, contígua à sua homônima ao norte na Venezuela. “Prontinho, um enclave perfeito”.
No Brasil, com 96.650 km², na Venezuela, 82.000 km², somando 178.650 km²; isto é, 2,54 a superfície da Irlanda e 7,22 a do Kosovo, que declarou independência em 2008, sendo reconhecida por vários Estados, no jogo político internacional. No balaio o quê? As etnias.
Relembrar e meditar, parece fértil imaginação, comparar uma situação com a outra?
Nas terras indígenas se faz presente constitucionalmente o interesse da sociedade, sob a expressão, “ressalvado relevante interesse público da União” (§ 6º, Art. 231)
O § 2º do artigo 20 da CF considera até 150 km das fronteiras terrestres, como faixa de fronteira, como fundamental para a defesa do território nacional, a ressaltar que 2/3 da faixa de fronteira estão na região norte.
Ainda pequena a ocupação militar, na extensa faixa que engloba o que designam como “comunidades ianomâmi do Brasil e da Venezuela”, três pelotões de fronteira.
Entender todo o trabalho de “formiguinha” com o propósito das ONGs. Uma dessas criada em 1978, se vangloria dos 13 anos de campanha ininterrupta para em 1991 ser demarcada, e registrada em 1992, como ‘Terra Indígena Yanomami’.
Tem nos seus estatutos: 
— Apoiar os Yanomami na proteção e divulgação de sua cultura ... contribuir para sua capacitação frente a novas realidades ... 
— Apoiar os Yanomami na defesa do seu meio ambiente e no direito à posse permanente das terras tradicionalmente ocupadas e ao usufruto exclusivo dos recursos naturais nelas existentes, podendo propor ações judiciais, inclusive ação civil pública com a finalidade de defender bens e direitos sociais, coletivos ou difusos, especialmente os relativos ao meio ambiente e patrimônio cultural.
Ora, espaço e dignidade não pressupõe grandes extensões, nem fantasias de sobrevivência de caça e pesca como nos primórdios da civilização. Não é o tamanho da terra que vai proporcionar felicidade e bem-estar aos “silvícolas” dos tempos de Cabral e Pero Vaz de Caminha, viventes no século XXI em gigantescas cápsulas/urnas de múmias vivas, como no museu a céu aberto, para admiração dos que se consideram cultores do humanismo; humanitários, samaritanos do prêmio Nobel.
Uma enganação, ainda que com toda a liberdade de manifestação, a reunião de seis mil “índios” de cor da pele e cabeleiras de vários tons, brigando pelo museu vivo da miséria, do abandono dos silvícolas a própria sorte, do ócio e do vício.
Como noticiado, artista da International Artist Solidarity que arrecadou US$ 300 mil para ajudar os indígenas.
Na plataforma dos ianomâmis, a ONG é a Norwegian Agency for Development Cooperation.
Fonte: JusBrasil
COMENTO:  já em 2008, o jornalista Hélio Fernandes alertava sobre o despropósito que ocorria na "demarcação de terras indígenas" na Amazônia. O Almirante Roberto Gama e Silva também manifestou a picaretagem, citando a história da criação do termo que nomeia os tais índios. Dois anos depois, o jornalista Jorge Serrão desnudava os interesses obscuros que impulsionaram a demarcação da região da Serra da Lua. Se o leitor não achar suficiente os artigos cujos atalhos foram disponibilizados acima, pode digitar o termo "ianoblefe" na caixa de buscar no topo desta página e encontrará bons textos do saudoso jornalista Janer Cristaldo e outros.
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terça-feira, 1 de março de 2022

A Belonave Que Sobreviveu, na Segunda Guerra Mundial Disfarçada de Ilha Tropical


Era março de 1942 e o navio holandês Abraham Crijnssen está navegando no Mar de Java. Ele estava em uma missão para defender o que eram as Índias Orientais Holandesas — hoje conhecidas como Indonésia. Mas, dias antes, a marinha japonesa havia esmagado a frota aliada da qual o Abraham Crijnssen fazia parte. E embora a única opção do navio fosse escapar para a segurança da Austrália, sua falta de velocidade e armamentos iriam colocá-lo em um perigo real durante a travessia. Não havia mais nada a fazer, então, a não ser camuflar de forma inteligente o navio.
Antes que a tripulação do Abraham Crijnssen se encontrasse a bordo de uma ilha tropical improvisada, eles estavam ocupados lidando com os japoneses. A Guerra do Pacífico começou depois que os japoneses fizeram seu ataque surpresa a Pearl Harbor, no Havaí — arrastando os EUA para a Segunda Guerra Mundial como consequência, em 7 de dezembro de 1941. E o território envolvido no conflito incluía as Índias Orientais Holandesas.

Depois de atingir Pearl Harbor, os japoneses lançaram uma variedade de ofensivas pelo Pacífico — incluindo um ataque às Índias Orientais Holandesas. A colônia era considerada o alvo principal por causa de sua riqueza em recursos naturais, e tanto o petróleo quanto a borracha eram essenciais para os japoneses sustentarem sua campanha de guerra.
A Holanda já havia sido efetivamente anexada pela Alemanha nazista após a rendição do país em 7 de maio de 1940. Mesmo assim, o governo holandês, no exílio em Londres, ainda reclamava sua colônia do Pacífico. Em novembro de 1941, os holandeses enviaram uma força da Marinha Real da Holanda para defender sua posse. E no dia seguinte a Pearl Harbor, o governo da Holanda declarou que a nação estava em guerra com o Império Japonês.
Surpreendentemente, em face da declaração holandesa, os japoneses esperaram a hora certa para atacar, apenas entrando formalmente em guerra com a Holanda semanas depois, em 11 de janeiro de 1942. Mas àquela altura, eles já estavam se movendo no território das Índias Orientais Holandesas de Bornéu — em oposição à aliança denominada ABDA. Além do contingente naval holandês, as forças aliadas consistiam em alguns navios britânicos e australianos junto com navios da frota asiática dos EUA. Os americanos acabaram se envolvendo na malsucedida defesa das Filipinas, falhando então em conter o ataque aparentemente imparável do Eixo no Pacífico. E, infelizmente, os japoneses venceriam de forma semelhante a frota ABDA.
Aparentemente, os japoneses não paravam, pois eles capturaram sistematicamente ilha após ilha. Isso apesar do fato de que suas táticas só avançavam até onde sua cobertura aérea permitia. O historiador Samuel Morison descreveu o movimento japonês pelas ilhas das Índias Orientais Holandesas em seu livro de 1948, The Rising Sun in the Pacific ("O Sol Nascente no Pacífico").
“A maneira como os japoneses avançaram se assemelhava ao aperto irresistível de múltiplos tentáculos”, escreveu Morison. “Como um grande polvo, ele agia por estrangulamento de muitos pequenos pontos, em vez da concentração em um órgão vital. Nenhum braço tentou atender a toda a força da frota ABDA. Cada um prendeu-se a uma pequena porção do inimigo e, incapacitando-o localmente, acabou matando o animal inteiro.”
E a frota ABDA foi inicialmente derrotada em uma série de batalhas marítimas. A primeira e mais devastadora delas para os Aliados foi a Batalha do Mar de Java em 7 de fevereiro de 1942, que viu o comandante holandês da frota da ABDA, Contra-Almirante Karel Doorman, ser morto em uma vitória decisiva da Marinha Japonesa. Então, nos dias que se seguiram, os japoneses aumentaram sua vantagem em conflitos navais menores.
Por exemplo, a Batalha do Estreito de Sunda começaria poucas horas após o sucesso no Mar de Java. Em seguida, houve a Segunda Batalha do Mar de Java, alguns dias após a primeira derrota esmagadora da força naval Aliada. E após esses ataques, a frota ABDA foi reduzida a apenas um grande navio de guerra: o antiquado U.S.S. Marblehead.
Mas, embora as forças da ABDA tivessem efetivamente deixado de existir, o velho Marblehead não foi a única embarcação aliada a escapar da carnificina. Outro sobrevivente foi o Abraham Crijnssen — o navio holandês de que tratamos.
O Abraham Crijnssen foi construído no estaleiro Werf Gusto, na cidade holandesa de Schiedam — um subúrbio do principal porto de Roterdão. Ele foi um dos oito caça-minas de classe Jan van Amstel que foram construídos para a Marinha Holandesa durante a década de 1930. Em setembro de 1936, o navio foi lançado do estaleiro Schiedam, sendo comissionado como navio da marinha oito meses depois.
O navio recebeu esse nome em homenagem a Abraham Crijnssen,  uma espécie de herói naval ao estilo fanfarrão. No século 17, ele lutou em várias batalhas navais em águas europeias, embora seja provavelmente mais lembrado por suas façanhas ao conquistar o Suriname para seu país. Crijnssen foi fundamental para derrotar os britânicos em uma batalha de 1667, que fez parte da Segunda Guerra Anglo-Holandesa, com o Suriname permanecendo nas mãos dos holandeses até 1975.
O navio que levava o nome de Crijnssen, tinha 525 toneladas, 54 metros da popa à proa e quase 8 metros de largura em seu ponto mais largo. Os dois motores movidos por um par de hélices também deram a ele uma velocidade máxima de 27,8 km/h. E ele também estava armado com um canhão de 7,62cm e dois canhões menores de 20 mm, bem como uma série de cargas de profundidade anti-submarinas.
Quando os japoneses começaram seu ataque às Índias Orientais Holandesas em 1941, o Abraham Crijnssen foi colocado em ação. Naquela época, ele estava servindo em Surabaya, a principal cidade de Java Oriental. Após a grande derrota da força naval aliada, no entanto, todos os navios sobreviventes receberam ordens de ir para a Austrália — a uns bons 3.200 quilômetros de Surabaya.
No entanto, embora o Abraham Crijnssen devesse fazer a viagem em uma pequena frota com três outros navios, ele finalmente partiu por conta própria. Era uma empreitada extremamente perigosa, pois com velocidade máxima de 27,8 km/h e apenas um trio de canhões de defesa, a embarcação era altamente vulnerável.
Se algum avião japonês avistasse o Abraham Crijnssen — ou se ele encontrasse qualquer navio inimigo em mar aberto — suas chances de sobrevivência eram mínimas. Na verdade, a única maneira que ele poderia possivelmente ter sucesso em alcançar a Austrália em segurança era se ele pudesse fazer isso sem ser visto pelos japoneses. Mas como um navio de 56 metros de comprimento poderia se manter escondido durante uma viagem tão longa?
E não havia dúvida de que o perigo enfrentado pelo Abraham Crijnssen era muito real. Afinal, três de seus navios caça-minas irmãos já haviam sido perdidos durante o ataque japonês às Índias Orientais. Um deles foi deliberadamente afundado em 2 de março em Surabaya para evitar sua captura, com um segundo tendo sofrido o mesmo destino em 8 de março.
Também em 8 de março, o caça-minas Jan Van Amstel encontrou o destróier japonês Arashio — e foi afundado. Portanto, era importante que o capitão e a tripulação do Abraham Crijnssen pudessem definir um plano que maximizasse suas chances de chegar à Austrália.
E a resposta que eles encontraram foi na camuflagem. Curiosamente, porém, a camuflagem de navios de guerra era um complicado problema com o qual os especialistas haviam trabalhado pelo menos desde a Primeira Guerra Mundial. Naquela época, uma resposta aparentemente contra-intuitiva tinha sido tornar os navios mais em vez de menos visíveis.
Essa estranha estratégia da Primeira Guerra Mundial era conhecida como camuflagem deslumbrante e foi idealizada por um britânico chamado Norman Wilkinson — um homem da marinha que também era um artista. A marinha mercante britânica vinha sofrendo muito nas mãos dos submarinos alemães durante a Primeira Guerra Mundial, de modo que a Marinha Real estava desesperada para minimizar as perdas de natureza mercante e naval.
Na prática, a teoria de Wilkinson envolveu pintar navios com cores brilhantes, sendo feitas formas geométricas irregulares — lembrando algumas formas da arte cubista. Essas formas irregulares, conforme ele acreditava, confundiriam os capitães de submarinos o suficiente para que eles não fossem capazes de disparar seus torpedos com precisão. E os comandantes do Almirantado Britânico decidiram que valia a pena tentar esse plano bizarro.
Muitos navios britânicos foram pintados com esses padrões estranhos, e a ideia se espalhou para os EUA, onde mais de 1.200 embarcações receberam o deslumbrante tratamento durante a Primeira Guerra Mundial. Mas se essa estratégia de camuflagem peculiar foi eficaz ou não permanece uma questão em aberto. Analisando dados às vezes contraditórios, os especialistas não conseguiram dar uma resposta conclusiva.
Em qualquer caso, a tripulação do Abraham Crijnssen não teve tempo — nem presumivelmente a tinta — para começar a redecorar seu navio com uma técnica de camuflagem que pode ou não ter sido eficaz. Mas eles estavam desesperados, e o que eles descobriram foi indiscutivelmente tão improvável quanto essa manobra impressionante.
Então, o que eles decidiram fazer? Eles formularam um astuto plano para fazer seu navio parecer, exatamente como uma pequena ilha do Pacífico. O Abraham Crijnssen, portanto, baixou as âncoras na provável primeira ilha que encontrou. E assim que atracaram, os 45 membros da tripulação começaram a trabalhar com vontade.
Usando todas as ferramentas que estavam à mão, os homens, trabalhando no intenso calor tropical, derrubaram toda a vegetação que puderam. Depois disso, eles a levaram para o navio e a anexaram à sua estrutura. Enquanto isso, as partes da embarcação descobertas pela folhagem foram pintadas de cinza para darem a impressão de rochas em meio ao crescimento da exuberante floresta.
Assim que a tripulação terminou seu trabalho, o Abraham Crijnssen parecia tanto com uma ilha tropical quanto qualquer caça-minas poderia ser. E a ideia não era tão estúpida como pode parecer à primeira vista. Afinal, existem cerca de 18.000 ilhas espalhadas ao redor das águas do Mar de Java — muitas delas cobertas por uma densa folhagem da selva.
Além disso, como essas ilhas estão presentes em todos os tamanhos e formas, pelo menos algumas delas poderiam se encaixar nas dimensões de um caça-minas da Segunda Guerra Mundial. Mas, é claro, a estratégia da Marinha Holandesa era um pouco mais sofisticada do que apenas disfarçar o navio como um pedaço de terra tropical. Assim, o Abraham Crijnssen tomaria cuidado para não navegar em mar aberto durante o dia.
Quando o sol nascesse, então, o navio permaneceria ancorado com segurança na orla de uma das ilhas reais. E, como mostram as fotos, essa tática de se misturar ao ambiente foi surpreendentemente eficaz, já que apenas uma olhada mais próxima revelaria o esconderijo do Abraham Crinjssen.
Finalmente, depois do que pôde ter sido uma viagem de oito dias de arrepiar os cabelos, o Abraham Crijnssen alcançou a segurança do porto de Fremantle, na Austrália Ocidental. Ele chegou em 20 de março de 1942 e foi o último navio a escapar das forças japonesas nas Índias Orientais Holandesas.
Mas este não foi de forma alguma o fim da guerra para o Abraham Crijnssen, visto que ele foi posteriormente colocado para servir os australianos. Agora conhecido como H.M.A.S. Abraham Crijnssen — acrônimo para Navio Australiano de Sua Majestade — ele ingressou formalmente na marinha do país em setembro de 1942.
E o tenente Arthur Irwin Chapman assumiu o comando do que agora seria um navio de escolta anti-submarino. Cerca de três décadas depois, Chapman recordaria o momento em que chegou ao seu novo navio com duas fotos emolduradas: uma do rei britânico George VI e a outra de Rita Hayworth "em um roupão preto muito atraente".
No interesse da boa vontade internacional, foi acordado que Sua Majestade, a Rainha Guilhermina da Holanda permaneceria na sala de guarda do Crijnssen e, portanto, o Rei George foi colocado em minha cabine”, acrescentou Chapman. “Ficou acordado, no entanto, que a Srta. Hayworth era digna de ficar na sala de guarda, e ela foi instalada na anteparo em frente à Rainha Guilhermina.
Mas nem todos os momentos foram de alegria para o Abraham Crijnssen e os marinheiros holandeses e australianos que compunham sua tripulação. Durante o serviço de escolta em 26 de janeiro de 1943, o equipamento de sonar do navio mostrou uma leitura que parecia sugerir um submarino inimigo a apenas 640 metros de distância. Postos de ação foram devidamente alertados, e a sala de máquinas do Abraham Crijnssen recebeu a ordem: "Velocidade máxima à frente".
O navio então lançou duas de suas cargas de profundidade, calibradas para explodir a apenas 15 metros abaixo da superfície do mar. Estas foram seguidas por mais cargas, que detonaram a 30 metros. Mas enquanto os observadores conseguiam ver alguns detritos na superfície, ninguém enxergou evidências definitivas de um submarino abatido.

O Abraham Crijnssen sofreu alguns danos em sua popa no processo, embora ele tenha sido felizmente capaz de navegar de volta para sua base em Sydney para reparos. E mais tarde, Chapman explicou o que tinha acontecido, escrevendo: "O Crijnssen não ganhou velocidade suficiente com sua velocidade de patrulha, e duas cargas de profundidade colocadas a 15 metros sacudiram severamente a seção posterior, quebrando todos os pedaços de louça, desligando interruptores de luz e acessórios, além de fraturar vários dutos menores.
Felizmente, não parecia haver nenhum problema permanente, de modo que o navio voltou para a marinha holandesa em maio de 1943, continuando suas tarefas de escolta pelo resto da guerra.
Então, depois que a paz dominou, o Abraham Crijnssen se envolveu em tentativas malsucedidas de negar a independência às Índias Orientais Holandesas. Em 1960, ele também se tornou um navio de treinamento antes de finalmente se mudar para sua casa atual no Museu da Marinha Holandesa. E até hoje, ele permanece quase certamente a única embarcação de seu tipo a sobreviver à Segunda Guerra Mundial fingindo ser uma ilha.