sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A Intentona Comunista no Rio de Janeiro — 1935

por Clynson Oliveira
Coronel Inativo do EB
(Monumento aos Mortos na Intentona Comunista de 1935)
[..] Na madrugada do dia 27 de novembro de 1935, alguns sediciosos sublevaram-se no Rio de Janeiro, na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos e no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde vários militares foram mortos por seus próprios companheiros. [..]   (Exército Brasileiro, 1990).
Recebi, em 2014, a missão de comandar o Batalhão de Infantaria de Selva mais jovem do Exército Brasileiro, o 3º BIS, herdeiro das tradições e guardião das memórias do 3º Regimento de Infantaria, cuja honra fora manchada por integrantes comunistas de suas fileiras.
Contar esta história é mais que uma obrigação, mas um dever de eternizar e manter viva a chama da verdade em homenagem aos heróis mortos e suas famílias.
Na madrugada de 27 de novembro, insurgia-se, no Distrito Federal (Rio de Janeiro), parte das guarnições do 3º Regimento de Infantaria (3º RI), na Praia Vermelha, e da Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos.
O capitão Agildo Barata Ribeiro, expulso do Exército em 1932 por insubordinação, exilado em Portugal até 1934 e readmitido ao Exército Brasileiro, após a anistia geral decretada pela Assembleia Constituinte foi o líder da insurreição no 3º RI.
Agildo Barata Ribeiro já havia sido punido com 25 dias de prisão por desenvolver intensa atividade política. Foi transferido para o Rio de Janeiro para cumprir a punição e, em conluio com o Tenente Francisco Antônio Leivas Otero, chefe da célula local do PC e da ANL, articulou o levante no 3º RI.
O 3º RI era a unidade militar de maior prestígio do Exército, completa em equipamento e pessoal, contava com mais de 1700 militares subordinados. Também, foi a unidade do Exército Brasileiro onde a doutrinação de oficiais e praças atingiu seu ápice.
Na calada da noite, Leivas Otero iniciou o levante encurralando seus camaradas. Foram recebidos a fogo pelos militares das companhias de metralhadoras. O primeiro a morrer foi o Major Mendonça, atingido pelos insurgentes que tinham como intenção dominar o Regimento e marchar em direção ao Palácio do Catete, sede do governo brasileiro, para destituir o então presidente Getúlio Vargas.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, a escola de Aviação do Campo dos Afonsos, se insurgia sob o comando do capitão Agliberto, que assassinou a sangue frio seus subordinados, tenentes Bragança e Paladini e capitão Souza Melo.
O heroico Tenente Coronel Eduardo Gomes foi o comandante da reação aos revoltosos, que manteve o fogo até a chegada dos reforços de tropas da Vila Militar, comandadas pelo General José Joaquim de Andrade.
Em clima de guerra, o 3º RI foi bombardeado por terra, céu e mar. As instalações do Regimento na Praia vermelha foram destruídas por completo. O saldo em baixas foi de 19 mortos e 167 feridos.
(Frente do 3º RI após ser bombardeado)
Os comunistas, obcecados pelo poder a qualquer custo, fanáticos comandados pela matriz internacional da subversão tentaram implantar um regime totalitário, de inspiração marxista-leninista. O povo brasileiro, atônito e chocado, viu-se pela vez primeira ante a verdadeira face do comunismo liberticida e materialista”. (Exército Brasileiro, 1985).
Lembrar sempre desta data é uma advertência à nossa geração, não para enfatizar uma vitória, mas, tristemente, para lembrar-se do que fere a sensibilidade do profissional militar, sempre e até hoje.
A incitação ao levante pelas armas, promovido por ideólogos marxistas, tem que ser combatida e reprimida, para que esta chacina promovida no passado, não ocorra nem no presente e nem no futuro.
Eis porque desejo que os civis e o País sejam informados e absorvam a versão correta de um trágico fato que envergonha a nossa história.
Após os fatos narrados, as consequências para o Brasil foram a decretação da clandestinidade do Partido Comunista Brasileiro e a prisão dos líderes. Entretanto, eles todos, voltaram ao PODER no cenário nacional em diversas ocasiões.

Insurgentes de Natal
Lauro Lago, José Macedo e João Galvão foram presos e são personagens do livro as Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. Foram anistiados em 1945, após a segunda Guerra Mundial.
José Praxedes fugiu à pé e se escondeu no meio da mata por quase dois anos. Após ser localizado por agentes do PCB, recebeu nova identidade e se internou no interior da Bahia até 1984 quando veio a falecer.
O “Santa”, líder e assessor do PCB, foi preso com um relatório detalhado sobre a Insurreição. Inexplicavelmente não foi identificado nem nos inquéritos do Rio de Janeiro e nem no de Recife. Anistiado em 1945, até hoje não se sabe a identidade e o paradeiro de um dos maiores nomes da Revolução.
Todos os demais envolvidos na Insurreição foram presos por mais de 8 anos, sendo todos anistiados em 1945.

Insurgentes de Recife
Gregório Bezerra foi preso e anistiado em 1945. Tornou-se um político famoso, sendo eleito deputado pela constituinte de 1946, sendo cassado em 1948. Viveu na clandestinidade organizando ligas camponesas armadas no interior de Pernambuco e núcleos sindicais no Paraná e Goiás.
Foi preso novamente em 1964 por estar envolvido com a luta armada e a subversão, tendo sido solto em 1969 em troca da devolução do embaixador Charles Elbrick, sequestrado por terroristas. Viveu no México e na Rússia tendo retornado ao Brasil em 1979 após a promulgação da Lei da Anistia. Morreu em 1983.

Insurgentes do Rio de Janeiro
Luis Carlos Prestes foi preso e condenado por assassinato, logo após a tentativa frustrada da Intentona Comunista. Foi anistiado em 1945 e eleito Senador de 1946 a 1948, além de ser o secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro até 1980.
Durante o período do Regime Militar, se auto exilou na União Soviética, tendo retornado ao Brasil, voluntariamente, após a promulgação da Lei da Anistia em 1979, vindo a falecer em 1990.
Agildo Barata Ribeiro foi preso e condenado por subversão após o insucesso da Intentona Comunista, sendo anistiado em 1945.
Foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro de 1947 a 1948, quando seu mandato foi cassado e o PCB colocado na ilegalidade no Brasil.
Desligou-se do PCB quando descobriu, após o relatório de Nikita Krushev, os crimes hediondos e contra a humanidade cometidos por Stalin. Morreu em 1968.
Infelizmente a bandidolatria no Brasil não é uma prerrogativa do século XXI, mas é sim, um triste legado. As tentativas dos “isentões” da época em anistiar e reintegrar esses contumazes ideólogos da liberdade, amantes do terrorismo e da violência, não os recuperou da insana vontade eterna de tomar o PODER.
Que estes eventos nos lembrem sempre que o “o Preço da Liberdade é a eterna vigilância”.
Fonte:  Medium
COMENTO:  Ivis Bezerra, médico e professor da UFRN publicou um minucioso relato sobre os fatos ocorridos em Natal, citando diversos outros nomes que não contam no texto acima. Nesse relato, o autor cita que o misterioso "Santa" seria um mestre de obras com nome de João Lopes e o relatório que ele havia feito foi apreendido com Luis Carlos Prestes por ocasião da prisão deste. Na mesma página da Internet, há a transcrição de um depoimento que teria sido dado por João Lopes, o "Santa"  e "Marisa", sua companheira  que se restringe à sua ida para o Nordeste e ao período em que esteve preso. Neste relato, percebe-se que ele não foi identificado como o membro do PCB enviado a Natal para organizar a revolução. Tudo isto só reforça a minha impressão, já expressa no comentário publicado aqui, aqui e aqui, de que, o "Partidão" sempre teve um agente duplo em sua alta direção.

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