terça-feira, 30 de julho de 2019

Nicaragua — Esperança e Decepção

Editorial
Na sexta-feira passada, 19 Jul, foram comemorados os quarenta anos da revolução sandinista, aquela que em seu momento encarnou a esperança da esquerda latino americana, inspirada em sua mística revolucionária. Na atualidade o balanço da revolução é agridoce porque, para os nicaraguenses, é cada vez maior o desencanto frente ao governo de Daniel Ortega, o símbolo por excelência dessa época que alguns recordam com nostalgia.
Naquele 19 de julho de 1979, a Frente Sandinista de Libertação, uma organização heterogênea e com inclinação para a esquerda, entrou triunfante em Manágua. A fuga para o Paraguai, três dias antes, do ditador Anastásio Somoza  o último representante de uma dinastia que sobreviveu desde 1936, selou seu fim.
O governo de reconstrução nacional que se instaurou depois da queda do ditador, estava composto por cinco membros (Sergio Ramírez Mercado, Alfonso Robelo Callejas, Violeta Barrios de Chamorro, Daniel Ortega e Moisés Hassan Morales). Sua tarefa urgente era restaurar o funcionamento de uma sociedade fraturada por um guerra que, estima-se, deixou entre 35.000 e 40.000 mortos, em meio ao cerco de setores opositores de diferentes origens, que queriam ver os sandinistas fora do poder.
Cinco anos depois da queda de Somoza, a Nicarágua estava outra vez em guerra. A eleição em 1984 de Daniel Ortega como Presidente, com 67% dos votos, foi questionada por seus opositores, que haviam se empenhado pela abstenção. O país se polarizou e as forças antisandinistas, bem financiadas, iniciaram uma guerra civil que terminaria com os acordos de paz de 1990, deixando mais 30.000 mortos e um país devastado.
Os sandinistas perderam o poder em 1990, nas eleições pactuadas como parte dos compromissos para finalizar a guerra. Se seguiram no comando do país: Violeta  Chamorro, José Arnoldo Alemán Lacayo e Enrique José Bolaños Geyer. Ortega recuperou o poder em 2007, depois de várias tentativas, em meio a escândalos de corrupção, e não o soltou mais desde então. Ele acumula cada vez mais poderes, já alterou a ordem constitucional para poder reeleger-se, enquanto aumentam as acusações de corrupção e de violações aos direitos humanos.
O regime de Ortega se parece cada vez mais (nepotismo, confisco de riquezas do país para aumentar a de sua família, perseguição política) ao que combatia há quarenta anos atrás. Não titubeou ao reprimir violentamente as manifestações contra seu governo. A isto se soma o péssimo manejo dado à economia nicaraguense, o que a levou a uma profunda crise. Se estima que a economia da Nicarágua se contraiu 4% em 2018 e que no corrente ano continuará decrescendo (-5,2%). Enquanto isso, a educação segue de má qualidade e os mais pobres permanecem excluídos da escola e continuam marginalizados da sociedade.
Até alguns anos atrás, a celebração dos aniversários da revolução sandinista era sempre uma festa na Nicarágua, porque lembrava aos seus cidadãos a libertação da infâmia de uma ditadura feroz e sanguinária. Porém, pouco a pouco o entusiasmo foi se perdendo, na medida em que o guerrilheiro que venceu a Somoza quer manter-se no poder usando todos os meios. Ortega não quer entender a aspiração de mudanças que almejam os nicaraguenses, se recusa a partir antecipadamente, busca apoio entre os evangélicos mais retrógrados e se aferra ao poder, do qual parece haver se tornado viciado. Triste aniversário.  
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: aparentemente, o sonho dos fundadores do Foro de São Paulo — Fidel Castro (felizmente já nos braços do Capeta) e Lula, zumbi político que teima mugir desde seu cárcere — de restabelecer na América Latina a falida URSS (União das Repúblicas Socialista Soviéticas) vai aos poucos se encaminhando para seu real destino: o lixo da história. Os seus grande "líderes" estão mortos (Fidel, Chavez, Marulanda, Alan Garcia) ou na cadeia (Lula) e lideranças que dele emergiram encontram-se em vias de enfrentar a Justiça (Cristina Kichner e Rafael Correia). A exceção é o vivaldino Evo Morales que, espertamente, já tentou uma aproximação ao Presidente Jair Bolsonaro, na esperança de obter apoio para manter-se no trono boliviano. Recentemente, entre 25 e 28 Jul 19, os "mortos-vivos" dessa quimera maligna reuniram-se em Caracas/Venezuela (o local é emblemático da situação da "entidade") tentando prorrogar a agonia dos estertores dessa nefasta iniciativa.
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terça-feira, 16 de julho de 2019

1º Sequestro da História da Aviação Comercial — 71 Anos

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O primeiro sequestro aéreo da história aconteceu em MACAU com um fim trágico, quando um avião 'Catalina' modelo PBY-5  que fazia a ligação diária Macau Hong-Kong em 16 de julho de 1948 se estatelou em pleno mar, em voo picado, devido à morte do piloto que caiu sobre o manche, executado por um assaltante do avião.
Quando se fala em Miss Macau, a maioria das pessoas pensa em desfiles de beldades em roupa de banho diante de uma plateia sorridente e das câmeras de televisão. Mas na história dos aviões Miss Macau representa o primeiro desvio aéreo ocorrido no Mundo, muito antes da generalização das operações de pirataria e de terrorismo aeronáutico registrada na década de 70 do século passado.
O ataque foi tão “antes de tempo” que o avião desviado era um anfíbio Catalina e o motivo não teve nada a ver com motivações políticas, mas apenas com o roubo de uma considerável quantidade de ouro que era transportada de Macau para Hong Kong.
Miss Macao era a denominação dessa aeronave anfíbia, pertencente à Cathay Pacific e operada por uma subsidiaria  Companhia Limitada de Transportes Aéreos de Macau (MATCO), fundada por Pedro Lobo e Liang Chang em abril de 1948.
"A proibição do comércio de ouro, decretada pelo tratado de Bretton-Woods estava prestes a vigorar em Hong Kong, e motivou um enorme frenesi aéreo, com a criação, em 1948, de uma companhia de aviação em Macau MATCO (Macau Aerial Transport Co.) e a tentativa frustrada de se criar uma pista na Areia Preta.
Como alternativa, o então homem forte de Macau, Pedro José Lobo, associa-se aos fundadores da Cathay Pacific com os quais explora a rota para Hong Kong com aparelhos anfíbios que usavam as águas do Porto Exterior para chegar e sair de Macau. É um desses Catalina que em 16 de Junho de 1948 foi assaltado em pleno voo por uma quadrilha de chineses, embarcados em Macau como passageiros, e que apenas conseguiram fazer despencar o avião, levando para a morte todos os que iam a bordo, exceto um dos assaltantes que ficou preso em Macau durante alguns anos. No dia da sua libertação, foi morto à porta da cadeia.
Abril de 1948 – Pedro Lobo e Liang Chang organizam a Companhia Limitada de Transportes Aéreos de Macau, registada em Hong Kong tendo alugado à Cathay Pacific Airways o seu primeiro avião (anfíbio, de 2 hélices) baptizado como «Miss Macau». As viagens entre Kai Tak e o Porto Exterior de Macau custavam 40 dólares de Hong Kong (simples) e 75 (ida e volta). A viagem num sentido demorava cerca de 20 minutos.SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direção dos Serviços de Educação e Juventude, 2ª Edição, Macau, 1997, 454 p. (ISBN 972-8091-11-7)
O Miss Macao fazia um voo de rotina de Macau para Hong Kong (cerca de 20 minutos de voo). Ele foi sequestrado poucos minutos após decolar, por quatro homens portando armas, um deles determinou que o copiloto lhe passasse o controle. O copiloto recusou e foi baleado. O piloto, Dale Warren Cramer, que estava no  domo da aeronave, saltou para baixo, para ver o que acontecia e foi baleado cinco vezes nas costas por um Chinês que portava uma metralhadora. Ele, então tombou sobre os controles de voo do avião. 
A aeronave entrou em um mergulho incontrolado e caiu no mar. Vinte e seis das 27 pessoas a bordo morreram na queda. O único sobrevivente foi o líder dos sequestradores. (como lembrou o irmão do piloto).
Esse único sobrevivente, Huang Yu, foi levado ao Tribunal pela Polícia de Macau, mas o Tribunal de Macau sugeriu que a acusação fosse feita por Hong Kong, uma vez que o avião estava registrado lá e a maioria dos passageiros também era de lá. No entanto, o governo colonial britânico em Hong Kong afirmou que o incidente aconteceu em território chinês, no qual os britânicos não teriam jurisdição. No final, Huang foi absolvido.
Nos 30 anos seguintes, os sequestros se tornaram cada vez mais frequentes. A média de 10 anos entre 1948 e 1957 foi de pouco mais de uma por ano, mas a média anual de 1968 a 1977 subiu para 41 por ano. Desde 1948, as medidas de segurança das companhias aéreas melhoraram bastante e o número de sequestros não voltou a atingir a marca dos anos 70."
(Tradução livre de texto do livro “Um Século de Aventuras, Aviação em Macau” - Edição Livros do Oriente, de Luís Andrade de Sá).
Fonte:  Macau Antigo
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