sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A Explosão da Sede do Serviço Secreto Colombiano — 30 Anos Atrás

O atentado de 6 de dezembro de 1989 tinha como alvo o General Miguel Maza Marques, mas matou sessenta pessoas e feriu outras quinhentas, sem alcançar seu objetivo.
O contexto do fato se conheceu quase trinta anos depois.
Imagem: El Colombiano
O Atentado
Quinhentos quilos de dinamite de amônia, detonados nove andares abaixo, provocaram apenas um estremecimento que empurrou a cadeira do general Miguel Maza Márquez, diretor do Departamento Administrativo de Segurança (DAS), e fez com que o piso ficasse coberto com pedaços de reboco e vidro de segurança. 
Fora do escritório blindado, no entanto, a imagem era diferente: eram 7h37 da manhã de 6 de dezembro de 1989 e no cruzamento da Carrera (Avenida) 28 com a Calle (Rua) 18A em Bogotá, no bairro Paloquemao, havia ocorrido o mais forte ataque explosivo da história da Colômbia. Sessenta pessoas morreram e 600 ficaram feridas. Documentos dos arquivos dos tribunais, cuja sede era vizinha do DAS, caíam como uma chuva de papel sobre a rua, onde 34 carros que passavam foram reduzidos a esqueletos em chamas e uma cratera de 4 metros de profundidade por 13 de diâmetro arrematavam a cena de um campo de batalha.
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Poucos segundos antes da detonação, o local central do buraco gigante era ocupado por um ônibus modelo 1986 da Companhia de Aqueduto de Bogotá, de placas SB6765, roubado uma semana antes por membros do cartel de Medellín, que planejavam o ataque sob as ordens de Pablo Escobar e de Gonzalo Rodríguez Gacha, também conhecido como “el Mexicano”. 
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Mas o alvo, Maza, deixou ileso o escritório às 7h45 e começou a descer pelo que restava do prédio, entre escombros e corpos. No caminho — ele contou à agência Colprensa —, encontrou o corpo de uma de suas secretárias. Às 8 da manhã, o ministro do governo, Carlos Lemos, enviou uma mensagem pela linha direta que ele mantinha com o presidente Virgilio Barco, em visita oficial ao Japão: "Maza está vivo". Era o segundo ataque de que o general se salvava naquele ano. Em maio, 100 quilos de dinamite explodiram na passagem de seu carro blindado na esquina da Carrera 7ª com a Calle 57, também em Bogotá. Sete transeuntes morreram.
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Neste segundo ataque, "Los Extraditables" — o grupo criminoso criado por Escobar para fazer guerra contra um julgamento nos EUA — usaram em frente à sede do DAS cinco vezes mais explosivos, mas em vez de matar Maza, apenas multiplicaram o número de vítimas. Muitos ainda estavam sob os escombros às 9 da manhã, quando Pilar Lozano, uma repórter do El País da Espanha, chegou ao local e viu a rua transformada em um purgatório de almas com dor que murmuravam: “Não quero olhar, não quero ver minha família despedaçada". Um homem que passava viu os jornalistas reunidos e gritou para eles: "Digam que odiamos os narcotraficantes". Essa rejeição popular foi retomada por Maza horas depois, quando ele deu suas declarações à imprensa: "Esta é uma guerra contra o povo colombiano", disse ele.
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"Temos que seguir adiante até acordar desse pesadelo." O despertar do palestrante demorou quase 30 anos e acabou tomando seu lugar na história. Naquele dia 6 de dezembro, ninguém duvidava que Maza fosse o maior inimigo do cartel de Medellín, mas isso mudou em 24 de novembro de 2016, quando ele foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça por ter colaborado — em uma aliança tripla entre o DAS, o narcotráfico. e as Forças de Autodefesa de Magdalena Médio — com o assassinato do candidato liberal Luis Carlos Galán, em 18 de agosto de 1989. Só então ficou claro até que ponto os atingidos pela bomba naquele dia, desprotegidos fora do gabinete blindado do general, desconheciam a guerra pela qual morreram.

Ligações de Maza com o crime
A Suprema Corte destacou, em sua sentença, a relação entre o então diretor do DAS, Miguel Maza, com Henry Pérez Durán, comandante das Forças de Autodefesa do Magdalena Médio. Segundo os depoimentos recolhidos na decisão, Maza acusou Pérez de "trabalhos sujos" relacionados ao combate dos guerrilheiros em sua área de influência. Por sua vez, o diretor do DAS colaborou não perseguindo Pérez. Na prática, isso serviu de ponte entre dois inimigos: Maza e Pablo Escobar, por sua relação com o cartel de Medellín.
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O Sobrevivente — William Ortiz González
Aos 10 anos, ele soube que tudo ao seu redor poderia acabar subitamente. Que, qualquer dia, enquanto esperava o café da manhã, por exemplo, as paredes poderiam desabar, os vidros saltarem de suas janelas e o barulho das sirenes e os gritos se tornarem o único som audível.
Foi em 6 de dezembro de 1989. William esperava em uma lanchonete por sua mãe, María Elena, que havia ido a duas quadras dali para deixar sua bolsa em seu escritório no prédio do Departamento Administrativo de Segurança (DAS).
Em algum local, entre o prato colocado sobre a mesa e a bolsa deixada na cadeira, 500 quilos de dinamite explodiram. Tudo mudou do lugar onde deveria estar: os objetos saíram das prateleiras, as mesas viraram, os corpos voaram e aterrissaram, vivos ou mortos, em outro lugar. William levantou-se e caminhou os dois quarteirões que o separavam do prédio do DAS, apenas reparando a cratera de 4 metros no chão, olhando para a porta pela qual, para ele, todas as pessoas do mundo saíam, exceto a sua mãe. Ele demorou a reconhecer a mulher transfigurada pelos escombros que apareceu entre a multidão. Ambos se aproximaram, primeiro em silêncio e andando, depois correndo e gritando, até se estreitarem como nunca antes. O que fazer depois daquele abraço? O que acontece no instante imediatamente após o fim do mundo conhecido? Naquele dia, William e Maria Elena deixaram o palco da guerra, pegaram um táxi e chegaram à casa deles. Mais tarde, ela foi ao hospital e soube que, embora uma viga a tivesse protegido de receber a onda de choque principal, uma parte da pressão entrara em seus ouvidos, danificando completamente um e 50% do outro. O dano a William foi diferente. O que o ataque lhe tirou foi a confiança elementar de que o que o rodeia permanecerá de pé, a tranquilidade de viver sem esperar um estouro. Seu fardo, diz ele, é suficiente para acrescentar o rancor. "Há muito tempo perdoei Pablo Escobar, e a Popeye", diz ele. “Se eu os visse, a única coisa que exigiria seria que olhassem para mim, que me vissem nos olhos".
Fonte: tradução livre de El Colombiano

Por esses fatos, em 1994 um juiz condenou Guillermo Alfonso Gómez Hincapié a 8 anos de prisão e a 9 anos de cárcere a Eduardo Tribín Cárdenas, as pequenas penas foram produto de benefícios pela política de colaboração com a justiça.
Segundo as investigações, Gómez tinha uma relação afetiva com uma secretaria do DAS e teria aproveitado essa situação para fazer espionagem para a mafia. Enquanto que Tribín foi contratado por Gómez para alugar o imóvel no sul de Bogotá, onde armazenaram os explosivos usados no atentado.
Isto foi o que sobrou do chassi do ônibus utilizado no atentado. 
Foto:   arquivo El Tiempo
Posteriormente, Carlos Mario Alzate Urquijo, vulgo "Arete", jagunço de Pablo Escobar condenado pelo ataque ao avião da Avianca, ocorrido uma semana antes ao do DAS, assumiu sua responsabilidade no atentado à sede do órgão.
Alzate Urquijo, foi condenado a 20 anos pelo atentado à Avianca, mas também obteve benefícios por sua colaboração com a justiça e foi libertado em 27 de novembro de 2001. Ao sair da prisão de Itagüí, Antioquia, um sicário o atingiu com dois tiros. Hoje, ‘Arete’ estaria vivendo na Espanha.
Fontes da Fiscalia (Procuradoria) indicaram que atualmente não há nenhuma investigação por este atentado.

Os autores intelectuais: mortos
A investigação aponta como um dos autores intelectuais dos fatos a Pablo Escobar, que financiou o atentado com o qual buscava matar Maza Márquez. Na época, as investigações do próprio DAS sobre o ataque mostraram que Pablo Escobar destinou 1.000 milhões de pesos (cerca de um milhão de reais) para aquele atentado. Escobar foi abatido pela Polícia em 2 de dezembro de 1993 em Medellín.
Também é assinalado outro chefe do cartel de Medellín, Gonzalo Rodríguez Gacha, o 'Mexicano', que contratou o traficante de explosivos no Equador para fornecer ao cartel de Medellín a dinamite utilizada nos atentados em questão. O 'Mexicano' foi abatido em Coveñas, Sucre, em 15 de dezembro de 1989.
John Jairo Arias Tascón, o Pinina, jagunço de confiança de Escobar e um dos chefes do bando ‘los Priscos’, também está citado neste caso. Ele manejava as contas de Escobar desde onde saiu o dinheiro para financiar o ataque ao edifício do DAS. A Polícia abateu o vulgo 'Pinina' em 14 de junho de 1990.
Por último, as autoridades indicaram Gonzalo Chalo Marín, que era integrante do cartel de Medellín e se encarregava de transmitir as ordens de Escobar para realizar atentados com carros bomba. Morreu assassinado em princípios de 1990.
A explosão deixou uma cratera de mais de 10 metros de diámetro. 
Foto:  Arquivo/El Tiempo
O avião pequeno
"Sabíamos que o DAS e seu diretor eram duas das obsessões de Escobar", lembra um funcionário importante da agência que concordou em revelar informações sigilosas, desde que seu nome não seja divulgado.
Por meios técnicos e fontes humanas soubemos que Escobar queria atentar contra o general Maza usando uma aeronave pequena. O escritório do Diretor ficava no 9º andar e, ainda que fosse blindada, era o jeito mais certeiro para causar a sua morte”, explica.
E segue:O plano se frustrou porque apesar de terem localizado pacientes terminais, dispostos a morrer em um atentado em troca de uma boa quantia, nenhum era piloto”.
Escobar, então, optou por reforçar o chassis de um ônibus — identificado com os logos da empresa de Acueducto y Alcantarillado (Água e Esgotos) de Bogotá, previamente roubado — o qual foi carregado com os 500 Kg de dinamite. E encarregou a Jhon Jairo Arias Tascón, vulgo Pinina, seu assassino de confiança, para que executasse o plano terrorista.
O ônibus-bomba explodiu de maneira controlada, enquanto rodava, o que confirma que o condutor morreu junto a civis e membros do DAS. Mas nunca ninguém soube quem conduziu o veículo, e em alguns casos foi difícil identificar os mortos.
A identificação dos cadáveres se tornou penosa e devastadora. Um par de famílias receberam somente pequenos cofres simbólicos do que seriam os restos de seus defuntos.
Vários dos feridos terminaram com lascas de madeira — e vidro — incrustados em seus corpos ou com lesões internas, produto dos golpes secos que receberam contra as paredes como consequência da onda expansiva da explosão.
Dez quadras ao redor resultaram praticamente destruídas. As instalações e edificações da chamada zona industrial de Paloquemao — na Calle 19, um par de quadras acima da Carrera 30 — começaram a desabar, e até escritórios do complexo judicial vizinho foram atingidos. Se calcula que pelo menos 300 empresas tiveram que encerrar suas atividades pelos efeitos do ato terrorista, assim como 30 corporações financeiras.

Mas o alvo de Escobar sobreviveu.
Destruíram o edifício, mas não os homens que trabalham no DAS”,  disse  à imprensa Manuel Antonio González, um dos chefes de segurança, após percorrer os 11 andares do prédio destruído.
Imagem: Arquivo de El Tiempo
Diana Margarita Fonseca, uma secretaria designada à Interpol, se salvou por segundos de morrer, junto com o filho que esperava.
No entanto, a bela mulher, coroada como rainha da simpatia do DAS alguns anos antes, esteve vários meses atrás das grades.
Descobrimos que seu parceiro era Guillermo Alfonso Gómez Hincapié, o mesmo que havia ajudado a alugar o galpão onde havíamos encontrado a dinamite: estava a serviço de Escobar, recorda o funcionário.
E acrescenta que é falso que Carlos Castaño — então lugar-tenente de Escobar e depois chefe paramilitar — tivesse dado informação sobre a localização do galpão: “Tivemos que fazer vigilâncias no bairro por dias. Nessa época, Policia Judiciária, técnicos em explosivos e a Inteligencia do DAS, fazíamos turnos de 24 horas”.
Outro dos ‘duros’ da Inteligencia disse a El Tiempo a única certeza é a de que Castaño obteve informação privilegiada de gente de dentro do DAS e que a pode ter entregue a Escobar para o planejamento deste atentado e o do avião da Avianca, uma semana antes.
Se suspeita que foi assim que souberam que César Gaviria planejava viajar a Cali usando voo comercial.
Alberto Romero Otero, diretor de Inteligencia do DAS, admitiu ante a Fiscalia (Procuradoria) que o informante de codinome Alekos, que informava dados sobre o cartel, era realmente Castaño. Mas seus homens asseguram que Romero era incorruptível e que cortou a comunicação com Alekos quando soube que o informante era Castaño.
Calcula-se que para executar o atentado foram movimentados cerca de 40.000 milhões de pesos da época, por meio de treze contas bancarias.
Gonzalo Rodríguez Gacha, vulgo el Mexicano, foi quem se encarregou de adquirir a dinamite por intermédio de Julio César Riofrío Orozco, um cidadão equatoriano. Este trouxe a explosiva carga desde seu país e a introduziu na Colômbia pela fronteira com Equador; seguiu até Medellín e finalmente chegou a Bogotá.
Gómez Hincapié, companheiro da linda secretaria do DAS, recebeu 10 milhões de pesos pelo trabalho sujo e criminoso e, depois de jurar que a ex-Rainha Simpatia não havia tido nada que ver com o episódio, conseguiu que a pusessem em liberdade.
A ele, um juiz regional de Antioquia condenou a oito anos de cárcere e a seu cúmplice, Eduardo Tribín Cárdenas, a 9 anos e 8 meses. As ridículas penas obedeceram a os benefícios previstos no Decreto 2047 de 1990 e a que ambos colaboraram com suposta informação sobre os atentados de Escobar.
Por isso, ninguém duvida que o sujeito que apareceu morto em 3 de julho de 1998, identificado como Guillermo Hincapié, um empregado do mafioso Leonidas Vargas, é o mesmo do ataque ao DAS.

‘Los Magníficos’
Na instituição se falava que um grupo de seus melhores agentes, conhecidos como ‘Los Magníficos’, se dedicou a vingar o atentado, em uma espécie de ponto de honra.
Só posso dizer que ajudamos a capturar a vários sicários de Escobar, incluído o vulgo 'el Zarco'. Recordo que naquele dia a camioneta do DAS deu pane, e o bandido zombou de nós dizendo que seu patrão sim metia grana na guerra contra o Estado. E sobre o mito das atuações dos ‘Magníficos’ só posso dizer que sempre será 'segredo profissional', disse o funcionário sobrevivente.
Fonte: tradução livre de El Tiempo
COMENTO: de tudo o que foi relatado, fica a lição de que nunca é demais o cuidado no trato com Informantes não pertencentes aos quadros de um órgão de Inteligência, para não fornecer dados ao invés de obtê-los. Pequenas indiscrições sempre se transformam em dados significativos nas mãos de bons analistas adversários. A vaidade de mostrar-se "bem informado" quase sempre é paga com grandes decepções. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O Silêncio do Populismo

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Imagem da Internet
por Renato Sant'Ana
Ela era mulher, negra, jovem e estava mais para pobre que para classe média: recebia o modesto salário em parcelas e atrasado. Marciele Renata dos Santos Alves, 28 anos, policial militar, foi assassinada em ação, no enfrentamento com uma quadrilha no Vale do Rio Pardo, RS.
O que vão dizer agora os "coletivos" que se julgam detentores de mandato para falar em nome das mulheres, dos negros e dos pobres? Cadê o ruidoso (e "fake") ativismo dos direitos humanos?
Quando a vereadora Marielle Franco foi assassinada, um crime repulsivo, claro, em poucas horas, graças à mobilização frenética de certos "movimentos" e com o auxílio inestimável da extrema-imprensa, viu-se a mais agressiva tentativa de provocar comoção e de construir um mito.
Ela morreu na noite de 14/03/2018 com seu motorista, Anderson Gomes. Duas horas após o fato, segundo Rute de Aquino (O Globo, 17/03/18), "eram registrados 594 tuítes por minuto". Até parecia que os "movimentos" estavam de plantão a espera de um cadáver.
Levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP), apurou que, das 21h de 14/03/18 (logo após o crime) às 10h30min de 16/03/18, para efeito de impulsionamento de conteúdo nas redes sociais (um truque de manipulação), foram usados 1.833 robôs nos tuítes publicados sobre a morte da vereadora.
O resultado foi considerável. Embora ninguém conhecesse a motivação nem a autoria do crime, em menos de 12 horas, já havia pessoas por todo o país que, jamais tendo ouvido falar no nome dela, se sentiam de luto e até apontavam culpados. E, claro, como esponjas, absorviam o conteúdo subliminar das "narrativas" de redes sociais.
Naqueles dias, inumeráveis crônicas e artigos lembraram o caso da juíza Patrícia Acioli, assassinada com 21 tiros numa emboscada em Niterói.
Tudo para dizer que a comoção pela morte de Marielle foi muito maior.
A juíza, nos últimos 10 de seus 47 anos, mandou para a cadeia cerca de 60 bandidos da Baixada Fluminense ( inclusive policiais e milicianos).
Seu nome entrou numa lista de 12 pessoas que o crime organizado
pretendia executar. Ela, sim, foi testada em sua coragem. E jamais recuou. Patricia Acioli passou à história como "juíza linha dura".
Mas para Samira Bueno, então diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "Se alguém carregava em si toda a representação do que é a vulnerabilidade gerada pela violência, essa pessoa era ela [Marielle]", isso porque era mulher, negra, de origem simples, "militante" dos direitos humanos e lésbica.
Patricia Acioli não era essa polivítima. Logo, não servia para, de uma só tacada, propagandear as agendas que a esquerda roubou das mulheres, dos negros, dos pobres, dos homossexuais, etc.
A comparação entre Patrícia e Marielle foi um tiro que saiu pela culatra, servindo para desmascarar o planejado "culto à personalidade" da vereadora e o propósito populista desse expediente.
Cada vez mais, mulheres, negros, homossexuais e pobres do país rejeitam a credencial de vítima que a esquerda lhes oferece.
E é cada vez mais ampla a consciência de que bondade, egoísmo, dignidade, estupidez, respeito e propensão ao abuso nada têm a ver com sexo, cor da pele nem classe social.
E a isto chegamos: hoje, apesar da tremenda mobilização inicial e de o nome de Marielle seguir sendo usado a torto e a direito pela mídia amestrada, por estudantes de passeata e assemelhados, a invenção de um Che Guevara de saia não vingou.
De Marciele Renata dos Santos Alves, sabe-se que não vai interessar a "movimentos" populistas. Era uma mulher de ação. Não incorporava o vitimismo. E deu iniludíveis provas de coragem.
Como disse o governador Eduardo Leite, Marciele "Levou ao limite o seu juramento colocando a própria vida em risco para proteger a sociedade."
Ela tem o reconhecimento e a homenagem desta coluna, porque seu exemplo ilumina e inspira.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail: sentinela.rs@uol.com.br
Fonte:  Blog do Políbio Braga

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

27 de Novembro — Dia Nacional de Luta Contra o Comunismo

por Rodrigo Pedroso
O dia 27 de novembro é uma data que nunca deve ser esquecida pelos brasileiros. Nesta data, comemoramos a vitória sobre os traidores que, a soldo de uma potência estrangeira, intentaram transformar o Brasil em uma República comunista, e prestamos homenagens às vítimas dessa sangrenta insurreição. Durante aquela que ficou conhecida como a “Intentona Comunista”, oficiais legalistas foram apunhalados por colegas de farda enquanto dormiam. Moças foram estupradas. Civis foram roubados e mortos.
Trata-se de um caso real, ocorrido no Brasil, e não de informações relativas a terras longínquas.
Na década de 1930, o comunismo dominava apenas dois países em todo o mundo: a União Soviética e seu satélite inexpressivo, a Mongólia. Para o movimento comunista internacional, era vital tirar a Rússia do isolamento e expandir a revolução socialista, conforme o princípio marxista de que o comunismo deve ser implantado em escala mundial. Nesses anos, abriu-se a possibilidade de “exportar” a revolução: Luiz Carlos Prestes e seus companheiros do PCB (Partido Comunista do Brasil) convenceram o governo de Moscou de que o Brasil estava “maduro” para a revolução comunista.
Brasil foi um dos primeiros países do mundo a se tornar alvo do comunismo soviético
O imperialismo soviético tinha especial interesse pelo Brasil, o país mais importante da América ibérica e do Atlântico Sul, além de contar com imensas reservas de recursos naturais. Num relatório datado de 20.09.1930, enviado a Moscou por Abraham Guralski, então chefe do escritório sul-americano do Komintern, constava que “o Brasil é e continuará sendo o centro de gravidade de todas as batalhas futuras” (WAACK, William. Camaradas; A história secreta da revolução brasileira de 1935 nos arquivos de Moscou. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. p. 39).
Margarete Buber-Neumann relata que, antes da realização do VII Congresso da Internacional Comunista, houve em Moscou uma reunião da alta cúpula do Komintern, com a participação de Dmitri Manuilski (Presidente do Komintern), Georgi Dimitrov, Palmiro Togliatti (Itália), Ho Chi Minh (Vietnã), Maurice Thorez (França), Van Min (China) e Luiz Carlos Prestes (Brasil). Nesta reunião decidiu-se que Prestes deveria preparar uma revolução comunista no Brasil (BUBER-NEUMANN, Margarete. La Révolution Mondiale. Paris, Casterman, 1971. p. 349).
O Komintern (Kommunistítcheski Internatsional, Internacional Comunista — IC) era uma organização de revolucionários profissionais, criada por Lênin em 1919 para implantar o comunismo em todas as nações e impor aos partidos comunistas de todo o mundo uma única direção e orientação. Os partidos comunistas que funcionavam nos diversos países deveriam existir apenas como seções destacadas do Komintern. O PCB, fundado em 1922, seguiu à risca essa determinação, adotando a denominação oficial de “Partido Communista do Brasil — Secção Brasileira da Internacional Communista”. A 5ª das 21 condições impostas pelo Komintern aos partidos comunistas nacionais era a seguinte: Todos os partidos comunistas devem renunciar não somente ao patriotismo como também ao pacifismo social.
Na verdade, o Komintern nada mais foi que uma extensão do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) no plano internacional, um instrumento para manter os líderes comunistas do mundo todo subordinados aos interesses imperialistas de Moscou. Desde cedo, o Komintern foi rigorosamente controlado não só pelo PCUS, mas também pelas agências secretas e órgãos de repressão soviéticos.
O Komintern era dirigido por um Comitê Executivo, o EKKI, composto de 50 membros. Luiz Carlos Prestes foi incluído como membro desse Comitê Executivo em 8 de junho de 1934.
Os agentes do Komintern tinham poderes praticamente ilimitados de intervenção nos partidos comunistas dos diversos países, bem como instruções muito precisas sobre como levar adiante as planejadas ações revolucionárias.
Através do Komintern, o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) mantinha sob estrito controle a direção política do Partido Comunista do Brasil, o modo como eram escolhidas as suas lideranças e seus processos de formação ideológica. O PCB era totalmente submisso aos ditames do PCUS, de quem adotava os símbolos, as bandeiras e as palavras-de-ordem, e nada fazia sem o aval e o financiamento de Moscou. Agora perguntemos: Que valor pode ter aos olhos de um patriota, de alguém que ama a terra em que nasceu e quer o bem da sua gente, uma organização que adota os símbolos e as bandeiras de um partido estrangeiro, e professa uma ideologia exótica, materialista e internacionalista, inimiga de Deus, da Pátria e da família?
Foi decidido em Moscou que Luiz Carlos Prestes deveria preparar uma revolução comunista no Brasil. Para assessorar o planejamento do levante, o Komintern passou a enviar agentes estrangeiros para o nosso País.
AGENTES COMUNISTAS A SERVIÇO DE MOSCOU NO BRASIL 
Com a abertura dos arquivos de Moscou soube-se que não eram apenas nove, como inicialmente se pensou, os estrangeiros pertencentes ao Serviço de Relações Internacionais do Komintern que se encontravam no Brasil preparando a revolução socialista, mas sim vinte e dois! O jornalista brasileiro William Waak, que pesquisou os arquivos do Komintern após a desintegração da União Soviética, publicou os seus nomes no livro Camaradas, editado em 1993:
— Pavel Vladimirovich Stuchevski, soviético. Usava os nomes de guerra de “Leon Jules Vallée”, “Paul” e “René. Foi deslocado para o Brasil pelo Komintern em 1935. Chefiava o único serviço do Komintern instalado na América Latina. Esse serviço chegou a utilizar 7 pessoas no Rio de Janeiro, 2 em São Paulo e 2 em Buenos Aires, onde funcionava o Birô Sul-Americano (BSA). Foi executado em 1938, em Moscou, pela NKVD, a polícia secreta do governo soviético, depois chamada KGB.
— Sofia Semionova Stuchskaia, soviética. Usava os codinomes de “Sofia Semionova Morgulian” e “Alphonsine Vallée”. Casada com Pavel Vladimirovich Stuchevski. Executada em 1938, em Moscou, pela NKVD.
— Arthur Ernst Ewert, alemão. Usava os nomes de guerra de “Harry Berger”, “Albert”, “Castro” e “Negro”. Desembarcou no Rio de Janeiro em março de 1934. Após a Intentona foi preso no Rio, sendo libertado em 1945 em decorrência da anistia concedida em abril desse ano pelo Presidente Vargas, viajando para a Alemanha Oriental, onde morreu, em 1959.
— Elise Saborovsky, alemã, também conhecida pelo apelido de Sabo, mulher de Arthur Ewert. Foi presa após a Intentona e, em 1936, deportada para a Alemanha, juntamente com Olga Benário.
— Victor Allan Baron, norte-americano. Usava os codinomes de “James Martin” e “Raimond”. Encontrado morto após ser preso pela polícia, em 1935, sendo a morte dada como suicídio.
— Rodolpho José Ghioldi, argentino. Usava os codinomes de “Autobelli”, “Luciano Busteros”, “Índio” e “Quiroga”. Membro do escritório sul-americano do Komintern. Foi deslocado para o Brasil em dezembro de 1934, junto com sua mulher Carmen de Alfaya. Após a Intentona foi preso e após a II Guerra Mundial deportado para a Argentina, onde morreu em 1985.
— Carmen de Alfaya, argentina, casada com Rodolpho Jose Ghioldi. Após a Intentona foi presa e, durante a II Guerra Mundial, deportada para a Argentina.
— Abraham Guralsky, soviético. Codinomes: “Boris Heifetz” e “Rústico”. Foi chefe do escritório sul-americano do Komintern, no início da década de 1930. Em dezembro de 1934 foi deslocado para o Brasil, procedente de Moscou.
— Inês Tulchniska, soviética, mulher de Abraham Guralski. Utilizava o codinomes de “Tanina”.
— Pierre, não identificado. Enviado ao Brasil em 1930 com a missão de reformular a direção do PCB.
— Jan Jolles, alemão. Codinomes: “Alonso”, “Emílio”, “Eoles”, “Cazon” e “Macário”. Deslocado para o Brasil em abril de 1933. Saiu do país em abril de 1935, por incompatibilidade com Rodolpho Ghioldi.
— Boris Kraevsky, soviético; atuou no Rio Grande do Sul no início dos anos 1930 com a tarefa de dar assistência política à Juventude Comunista do PCB.
— Olga Benário, alemã. Codinomes: “Frida Leuschner”, “Ana Baum de Revidor”, “Olga Sinek”, “Maria Bergner Villar” e “Zarkovich”. Membro do IV Departamento do Exército Vermelho (Inteligência Externa), viajou ao Brasil, em dezembro de 1934, acompanhando Luiz Carlos Prestes, cumprindo missão que lhe fora atribuída pelo Comitê Executivo do Komintern. Foi presa no Brasil em 6 de março de 1936, juntamente com Luiz Carlos Prestes, sendo deportada para a Alemanha, onde morreu, em 1942, em um campo de concentração;
— Johann de Graaf, alemão. Codinomes: “Jonny”, “Mattern”, “Franz Gruber”, “Pedro” e “Richard Walter”. Deslocado para o Brasil em 1935. Foi executado em Moscou, em 1938, pela NKVD, polícia secreta do governo soviético.
— Helena Kruger, alemã, mulher de Johann de Graaf. Codinomes: “Ema Gruber”, “Lena” e “Lee”. Deslocada para o Brasil junto com seu marido. Teria se suicidado em Buenos Aires, em dezembro de 1936, após receber ordem para voltar a Moscou;
— Amleto Locatelli, italiano. Codinomes: “Adolphe Hala”, “Walter” e “Bruno”. Deslocado para o Brasil em outubro de 1935. Morreu em março de 1937, participando da Guerra Civil Espanhola;
— Marga, alemã, não identificada; secretária de Arthur Ernst Ewert;
— Mendel Mirochevski, polonês. Codinomes: “Losovski”, “lovski” e “Juan”. Deslocado para o Brasil em setembro de 1935;
— Steban Peano, argentino. Codinome: “Gras”. Assistente político do Comitê Regional do PCB em São Paulo a partir de 1934;
— Maria Banejas, argentina. Codinome “Antonia”. Concubina do brasileiro Honório de Freitas Guimarães (“Martins”), Secretário de Organização do Comitê Central do PCB;
— Marcos Youbman, argentino. Codinome: Arias. Correio pessoal de Pavel Vladimirovich;
— Carmen, argentina, servia de correio pessoal de Pavel Vladimirovich (não era a mulher de Rodolpho Ghioldi).
O livro de Waack dá detalhes inéditos da história secreta da Intentona Comunista, com base nos documentos dos arquivos de Moscou a que teve acesso.
OLGA BENÁRIO E LUÍS CARLOS PRESTES: 
A VERDADE POR TRÁS DO MITO CRIADO POR COMUNISTAS
A judia alemã Olga Benário nunca foi casada com Prestes, foi apenas sua concubina. Ela era casada em Moscou com um integrante da Academia Militar Frunze, chamado B. P. Nikitin,
 e acompanhou Prestes ao Brasil cumprindo uma tarefa que lhe fora determinada pelo IV Departamento do Estado-Maior do Exército Vermelho, órgão do serviço secreto militar da União Soviética, hoje conhecido pela sigla GRU. Olga nunca foi uma heroína, mas uma agente estrangeira que veio para o Brasil organizar uma revolução para instaurar um governo comunista e submeter nosso País ao imperialismo da União Soviética.
A abertura dos arquivos de Moscou, após a dissolução da União Soviética, também comprovou que, desde 1935, Luís Carlos Prestes era um assalariado dos soviéticos, um mercenário do movimento comunista internacional, situação que perdurou durante toda a sua vida, visto que nunca desempenhou qualquer atividade remunerada. A quantia de US$ 1.714,00, 11,9% das despesas do Komintern com a conspiração no Brasil, no período de abril a setembro de 1935, representava o salário de Prestes.
Em dezembro de 1934, Prestes saiu da União Soviética para liderar a revolução no Brasil, onde chegou com passaporte português, com o nome falso de “Antônio Villar”. O traidor vinha com a missão que lhe impusera o Komintern: chefiar o movimento armado que se preparava no Brasil. Prestes, que se dizia em Barcelona, estava oculto em lugar ignorado no Rio de Janeiro. De seu esconderijo enviava ordens e manifestos, controlando, passo a passo, o desenrolar dos trabalhos.
Quem realmente dirigia o Partido Comunista no Brasil eram três estrangeiros: o soviético Pavel Vladimirovich Stuchevski, o judeu alemão Arthur Ernest Ewert (que adotava o nome de guerra de “Harry Berger”) e o norte-americano Victor Allan Baron. Eram os homens que mandavam em Prestes, que era um executor das decisões deles.
Prestes e o PCB contavam com simpatizantes em importantes unidades do Exército. O levante dos quartéis seria o sinal para uma greve geral e o início da revolução. Como outras instituições da sociedade brasileira, as Forças Armadas também sofreram a infiltração de agentes do movimento comunista. Células comunistas, envolvendo oficiais e sargentos, funcionavam no Exército e na Marinha.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB), com a ajuda financeira do Komintern, e a adesão de simpatizantes em importantes unidades do Exército, dava seguimento aos preparativos finais no planejamento da rebelião político-militar. A intenção era derrubar o Presidente Getúlio Vargas e instalar um governo controlado pelos comunistas. O levante nos quartéis seria o sinal para uma greve geral e o início da Revolução. A ordem para a sua deflagração viria diretamente de Moscou.
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A INTENTONA EM NATAL / RN
A Intentona Comunista teve início em Natal, Estado do Rio Grande do Norte.
Tudo estava planejado para o irrompimento simultâneo do levante armado em todo o País. A insurreição deveria eclodir de forma sincronizada, num único movimento. Entretanto, em Natal, a precipitação dos conspiradores acabou por antecipar o levante. Pelas 19h30 de sábado, dia 23 de novembro de 1935, militares ligados ao Partido Comunista assumiram o controle do 21º Batalhão de Caçadores.
O 21º Batalhão, sublevado, e militantes do Partido Comunista armados com material bélico tomado do Exército, distribuíram-se em grupos e assumiram o controle dos pontos estratégicos da cidade. O Governador do Estado, Dr. Rafael Fernandes, sob o tiroteio dos rebeldes, refugiou-se inicialmente no Consulado da Itália, e em seguida em um navio de bandeira francesa.
O Coronel José Otaviano Pinto Soares, comandante do 21º Batalhão de Caçadores, juntamente com o Major Luís Júlio, Comandante do Batalhão de Polícia, organizaram a resistência no quartel da Polícia Militar, que ficou sitiado sob fogo cruzado. O Batalhão da Polícia Militar resistiu durante 19 horas, até queimar o último cartucho, rendendo-se às 15h de domingo. Depois de tomado o quartel da Polícia, foi morto o soldado Luís Gonzaga, considerado hoje um herói da reação ao movimento.
Os revolucionários ocuparam o palácio do governo e instalaram um “Comitê Popular Revolucionário”, que foi o primeiro governo comunista das Américas. Nesse comitê se destacavam Lauro Cortez do Lago (“Ministro do Interior”), o Sargento Quintino Clementino de Barros (“Ministro da Defesa”), José Praxedes de Andrade (“Ministro do Abastecimento”) e João Batista Galvão (“Ministro da Viação”). José Praxedes, posteriormente, foi afastado do Partido Comunista, por ter praticado irregularidades na administração das finanças do partido.
O primeiro ato do “governo revolucionário popular” foi determinar o arrombamento dos cofres do Banco do Brasil, do Banco do Rio Grande do Norte, da Delegacia Fiscal e da Recebedoria de Rendas, o que foi efetuado a maçarico. Calcula-se que os rebeldes se apoderaram de quantia superior a 5 mil contos de réis (algo em torno de 350 mil dólares). Em entrevista publicada no jornal “O Poti”, em 30.06.1985, Giocondo Dias, um dos participantes da Intentona em Natal e sucessor de Prestes na Secretaria-Geral do PCB, confirmou que o dinheiro retirado do Banco do Brasil foi repartido entre participantes do “governo revolucionário, o que teria sido um “erro” do movimento... Na terceira parte da entrevista, publicada no mesmo jornal em 07.07.1985, Giocondo reconheceu que também ordenou prisões e fuzilamentos.
Outra decisão notável do governo comunista foi determinar a soltura de centenas de criminosos comuns que estavam na Casa de Detenção.
Um clima de terror foi estabelecido em toda a cidade. Moças foram estupradas. Dois civis, o Sr. Otacílio Werneck de Castro e o funcionário de uma companhia de navegação, foram covardemente executados, sob a acusação de que teriam ridicularizado a “Revolução”. Estabelecimentos comerciais e residências particulares foram saqueadas e depredadas. Navios no porto foram ocupados. Pilhagens e roubos se generalizaram. Caminhões e automóveis particulares eram “requisitados” pelos revolucionários. Cenas jamais vistas de crueldade e vandalismo tiveram lugar. A cidade virou terra de ninguém. A população, apavorada, permanecia em casa, com medo de sair à rua.
Rapidamente, o movimento comunista procurou controlar o interior do Estado. Os rebeldes organizaram três colunas, que deveriam partir, respectivamente, em direção de Recife, Mossoró e Caicó. As colunas revolucionárias conseguiram ocupar as localidades de Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Santa Cruz e Canguaretama, mas encontraram resistência.
A população do interior imediatamente começou a organizar-se para reagir aos comunistas. O comerciante Dinarte Mariz e o advogado Dr. Enoch Garcia, cada um com uma metralhadora de mão, chegaram em Caicó e passaram a fazer discursos, conclamando o povo a pegar em armas para defender a sociedade contra o comunismo. Em poucas horas Dinarte conseguiu formar uma coluna com 180 decididos sertanejos. O Padre Walfredo Gurgel, de Acari, também foi um dos que tomaram a frente na reação contra os comunistas, organizando um corpo de cerca de trinta voluntários.
Em 25 de novembro, em Serra Caiada, ocorre o primeiro embate entre os soldados revoltosos e os sertanejos de Dinarte Mariz, que vencem a luta e ainda ficam com boa parte do armamento dos soldados. No dia 26, ocorrem combates no povoado de Panelas e na Serra do Doutor, ambos vencidos pelos sertanejos. Da luta na Serra do Doutor participaram os trinta voluntários do valente Padre Walfredo, que comandou os serviços preparatórios do combate.
Enquanto isso, na capital, os comunistas recebiam a notícia de que tropas da Paraíba e de Pernambuco estavam chegando para reprimir o movimento. O tal ”Comitê Popular Revolucionário” dissolveu-se rapidamente, sem a menor resistência. Todos os “comissários do povo” debandaram covardemente, levando o que podiam, ao mesmo tempo em que se desfaziam de tudo o que pudesse comprometê-los.
No dia seguinte, os sertanejos com as tropas legalistas, vindas de Recife e João Pessoa, entravam em Natal, sem encontrar resistência.
A INTENTONA NO RECIFE / PE
Em Recife, a Intentona eclodiu na manhã do dia 25 de novembro, quando chegaram à cidade as notícias do levante de Natal. Aproveitando-se da ausência do Governador do Estado, Dr. Carlos Lima Cavalcanti, do Comandante da Região Militar do Exército e do Comandante da Polícia Militar, que encontravam-se fora do Estado, os oficiais comunistas Lamartine Correia de Oliveira e Roberto Bomilcar Besouchet conseguiram sublevar o 29º Batalhão de Caçadores. O Secretário de Segurança Pública, Capitão Malvino Reis Neto, e o Subcomandante da Brigada Militar, Afonso Albuquerque de Lima, organizaram a reação contra a Intentona. No dia seguinte, chegaram reforços de tropas legalistas, vindas de João Pessoa e Maceió. Em 26 de novembro, Recife já estava completamente dominada pelas forças legais e os comunistas, derrotados, debandaram para o interior. Seus principais líderes foram presos. O levante em Recife foi dominado em apenas um dia. As tropas legalistas foram em seguida deslocadas para Natal, onde puseram fim ao “Comitê Popular Revolucionário”.
A INTENTONA NO RIO DE JANEIRO 
Notícias confusas e alarmantes chegavam ao Rio de Janeiro (na época, a capital federal) sobre os acontecimentos de Natal e Recife. Esperava-se que uma ação comunista se desencadeasse a qualquer momento, sem que se pudesse precisar onde surgiria. Em 26 de novembro o Presidente Getúlio Vargas declarava em estado de sítio todo o território nacional.
As autoridades não ignoravam que elementos comunistas infiltrados em vários quartéis estavam na iminência de uma insurreição. Mesmo assim, houve surpresas. Muitos dos comprometidos não figuravam nas listas de suspeitos.
No dia 26 de novembro, Luiz Carlos Prestes, Arthur Ernst Ewert e “Miranda” (codinome de Antônio Maciel Bonfim, Secretário-Geral do Partido Comunista do Brasil) se reuniram e decidiram deflagrar o movimento armado em outras unidades militares, em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, na madrugada do dia seguinte. Prestes marcou a hora H para o desencadeamento das ações, conforme a mensagem enviada ao Capitão Agildo Barata, encarregado de comandar o levante no 3º Regimento de Infantaria:
O 3º Regimento Popular Revolucionário deverá levantar-se às duas da madrugada de 27 de novembro e a partir de 3 horas deslocar tropas para as proximidades do Arsenal de Marinha e do Palácio do Catete, devendo outras impedir a ação da Polícia Especial e do Batalhão da Polícia Militar da rua São Clemente.
Prestes redigiu um manifesto que foi distribuído à população, convocando-a para a revolta. Com isso foi admitida pela primeira vez a presença dele no país. À noite do dia 26 de novembro, Barron ligou a estação de rádio e transmitiu ao Comintern a desencadeação do levante. A revolução comunista brasileira iria começar no Rio às 3 horas da madrugada do dia 27 de novembro.
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No 3º Regimento de Infantaria (3º RI), na Praia Vermelha, os Capitães Agildo Barata e Álvaro de Souza e o Tenente Leivas Otero iniciaram o levante na hora prevista, chegando a aprisionar os oficiais legalistas e a dominar quase totalmente o quartel. O Regimento possuía 1.700 homens, dos quais cerca de dois terços aderiram aos oficiais revoltosos.
A reação dos legalistas do próprio 3º Regimento teve grande importância, pois impediu que a unidade rebelada atacasse o Palácio do Catete (na época, a sede do Governo Federal), conforme Prestes havia determinado no plano da insurreição.
O Comandante da 1ª Região Militar, General Eurico Gaspar Dutra, estava com sua tropa de prontidão e mobilizou-a contra os revoltosos, dirigindo e coordenando pessoalmente o assalto à unidade rebelada. As primeiras tentativas dos rebeldes de sair do quartel foram frustradas pelas tropas legalistas. O quartel foi bombardeado por canhões da Marinha de Guerra e pela aviação. Finalmente, às 13h30, bandeiras brancas improvisadas foram agitadas nas janelas do edifício, parcialmente destruído.
Na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, os oficiais comunistas Sócrates Gonçalves da Silva, Ivan Ribeiro, Dinarco Reis e Agliberto Vieira de Azevedo iniciaram o levante. Na ocasião, o Major Armando de Souza e Melo, e outros oficiais legalistas, foram covardemente apunhalados e mortos enquanto dormiam (CARNEIRO, Glauco. História das Revoluções Brasileiras. Rio de Janeiro, Edições O Cruzeiro). O Capitão Agliberto ainda matou friamente o seu amigo Capitão Benedito Lopes Bragança, quando este já se encontrava preso, desarmado e incapaz de qualquer reação.
Em seguida, os rebeldes passaram a atacar o 1º Regimento de Aviação, para tomar os hangares a fim de acionar os aviões e com isso alastrar o movimento. O comandante do 1º Regimento, o Tenente-Coronel Eduardo Gomes enfrentou-os, no primeiro momento sozinho, tendo sido ferido na mão; logo após outros oficiais e soldados se juntaram a ele. A rápida intervenção das tropas legalistas determinou a rendição dos revoltosos, após algumas horas de violenta fuzilaria e bombardeio.
Dentro das Forças Armadas, no balanço geral em todo o País, os acontecimentos de Natal, Recife e Rio de Janeiro, somados, custaram a vida de 28 militares legalistas, entre oficiais e soldados.
Do plano do PCB constava a deflagração de greves em todo o país para dar cobertura aos levantes armados. Entretanto, as greves não tiveram a dimensão que delas esperavam os chefes revolucionários.
DEPOIS DA INTENTONA 
Devido à reação enérgica do Presidente Getúlio Vargas a Intentona foi prontamente dominada e os responsáveis foram presos, julgados e condenados. O arquivo do Partido Comunista foi apreendido, e bem assim grande parte dos relatórios e esquemas elaborados pelo secretariado sul-americano da Internacional Comunista.
Luiz Carlos Prestes precisava encontrar um bode expiatório para o seu fracasso revolucionário. E este foi encontrado na pessoa de Elza Fernandes, namorada de “Miranda”, Secretário-Geral do Partido Comunista.
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Houve no Partido quem se opusesse à execução de “Elza”. A reação de Luiz Carlos Prestes foi imediata: escreveu uma carta aos membros do “tribunal revolucionário” tachando-os de medrosos e sentimentalistas, e exigindo o cumprimento da sentença:
Fui dolorosamente surpreendido pela falta de resolução e vacilação de vocês. Assim não se pode dirigir o partido do proletariado, da classe revolucionária. (...) Por que modificar a decisão a respeito da ‘garota’? Que tem a ver uma coisa com a outra? Há ou não uma traição por parte dela? É ou não é ela perigosíssima ao Partido, como elemento inteiramente a serviço do adversário, conhecedora de muita coisa e testemunha única contra um grande número de companheiros e simpatizantes? (...) Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês a minha opinião sobre o que fazer com ela. Em minha carta de 16, sou categórico e nada mais tenho a acrescentar, nem creio que os últimos bilhetes possam modificar uma tal decisão (...). Uma tal linguagem não é digna dos chefes do nosso partido, porque é a linguagem dos medrosos, incapazes de uma decisão, temerosos ante a responsabilidadeOu bem que vocês concordam com as medidas extremas e neste caso já as deviam ter resolutamente posto em prática, ou então discordam mas não defendem como devem tal opinião”.
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O assassinato de “Elza” não foi o único. Na mesma época, outros militantes comunistas foram executados por não serem mais considerados merecedores da confiança do Partido: Tobias Warschavski, Bernardino Pinto de Almeida, Afonso José dos Santos, Maria Silveira e Domingos Antunes Azevedo. vida de nenhuma dessas vítimas do comunismo foi parar nas telas do cinema.
Ao que parece, o verdadeiro traidor do Partido, que teria passado informações secretas à polícia brasileira a respeito dos revolucionários, seria um dos agentes estrangeiros enviados pelo Komintern: Johann de Graaf, que usava o codinome de “Franz Gruber”, e seria um agente duplo do serviço secreto britânico. Gruber era estrangeiro e pela lei em vigor só conseguiria atestado de residente no Brasil quem estivesse aqui há mais de cinco anos ou então “quem tivesse prestado um grande serviço à Nação”. “Gruber”, que não estava há cinco anos no Brasil, ganhou o atestado logo após a prisão de Arthur Ewert. Ademais, quando os policiais invadiram a casa de Prestes e abriram o cofre em que estavam os documentos comprometedores do partido, falharam as dinamites colocadas para explodi-lo em caso de arrombamento — as quais foram instaladas por Graaf, dito “Gruber”.
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O COMUNISMO HOJE
Depois da desintegração da União Soviética, alguns ingênuos pensam que o comunismo morreu. Ele se finge de morto, mas continua muito vivo.
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Por tender necessariamente à estagnação econômica, o comunismo precisa se sustentar de outras forças econômicas para sobreviver. A China, por exemplo, permitiu a introdução de mecanismos de mercado em certas regiões do país unicamente para impedir a morte do socialismo.
É aí que entra o Brasil no plano dos comunistas. Nenhuma outra nação foi mais bem aquinhoada de recursos naturais pelo Criador. O Brasil é o país que possui o maior índice de minérios no subsolo, a maior extensão de terras aráveis, o maior rebanho bovino comercial e a maior biodiversidade do planeta. E seria de extremo interesse para o movimento comunista internacional usar as riquezas do Brasil para sustentar esse sistema falido nos cantos do planeta em que ele ainda mantém-se de pé.
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Quando você vir a bandeira vermelha dos comunistas, medite nisso. Ela está tingida com o sangue de brasileiros.
Fonte: extrato de texto de  Julio Severo.com
COMENTO: Parece estória, mas é História. Não iludam-se os que pensam que "os comunistas modernos" pensam diferente dos seus antigos camaradas. A intenção de impor em todo o mundo o sistema que idolatram ainda é perseguida por eles.  Quem se der ao trabalho de buscar a história de vida do idolatrado Prestes, verificará que desde sua prisão no governo de Getúlio Vargas, ele passou a cometer "equívocos" que terminavam por comprometer seus parceiros de aventuras. Dizem que era possuidor de inteligência acima da média. Sua história contém diversos fatos obscuros. Um deles foi o recebimento de 800 contos (milhões) de réis de Getúlio Vargas para apoiar a Revolução de 1930. Ele ficou com o dinheiro mas não apoiou Vargas. Antes disso, de 1924 a 1926 teve papel secundário em uma tentativa revolucionária posteriormente batizada como "Coluna Prestes" por seus simpatizantes. Sua subordinação é comprovada. 
Prestes pede orientação ao "Sr General Miguel Costa"
Posteriormente, em 1934, recém chegado da extinta URSS foi aclamado presidente da comunista ANL (Aliança Nacional Libertadora). Em meados de 1935 divulgou um manifesto provocando Vargas, que tornou a ANL ilegal. Isso teria motivado a covarde Intentona Comunista de 27 Nov 35, deflagrada por ordem direta de Prestes, que teria feito 'uma avaliação  equivocada sobre o apoio popular à revolução', apesar dos avisos de companheiros de partido. A violenta repressão feita pela polícia de Vargas desmantelou a ANL e o PCB de então. Prestes foi preso por nove anos, mas não há notícia de que tenha sofrido maus tratos como os que foram provocados em seus companheiros comunistas, inclusive sua mulher, Olga Benário, entregue ao governo nazista da Alemanha, onde foi executada. Com o fim do Estado Novo em 1945, anistiado e solto, elege-se Senador. O radicalismo das ações dos comunistas faz com que, em 1947, o partido volte a ser proscrito e Prestes retorne à clandestinidade até 1958, quando a ordem de sua prisão foi revogada. Com a Contra Revolução de 1964, com os direitos políticos cassados e procurado para prisão, retorna à clandestinidade. Equivocadamente, também, permitiu que fossem apreendidas várias agendas onde constavam os dados necessários para incriminar as demais lideranças comunistas. Em 1971, foge de novo para a URSS de onde retorna em 1979 por ocasião da anistia decretada pelo governo. Apoiou a criação do PDT por Leonel Brizola e, em 1989, as candidaturas deste ao governo do RJ e de Lula à Presidência da República. Morreu em março de 1990.
Parece um resumo biográfico de um herói? A mim parece a vida de um sujeito que soube tirar proveito da ideologia para "se dar bem"! Conhecendo os bois com que lavro, como dizia Janer Cristaldo, essa trajetória me parece a de um eficiente "agente duplo". Sempre "nas bocas", punido, mas não muito, perseguido, mas sempre sobrevivendo quando seus companheiros de empreitada eram presos ou mortos. Muito suspeito. Se eu fosse pesquisador, me pareceria um bom assunto. E só eles conseguem entender esse propósito como o melhor para a humanidade.
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quarta-feira, 20 de novembro de 2019

As Investigações Sobre a Odebrecht na Colômbia

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"A Colômbia foi além no caso da Odebrecht; no Brasil não tem mais nada"
O promotor renunciante Andrés Jiménez revela reuniões secretas com promotores no Brasil e no caso Cemex.
O demissionário Andrés Jiménez afirma que Colômbia avançou muito mais nas investigações dos subornos da Odebrecht.  Foto: Abel Cárdenas
Por Unidade de Pesquisa
Andrés Jiménez, promotor encarregado contra crimes financeiros, renunciou ao cargo, fez malas há oito dias e foi para a Europa para executar um projeto particular. Porém, antes admitiu a El Tiempo que teve acesso ao processo que o Brasil tem sobre o escândalo da Odebrecht e garantiu que o Ministério Público da Colômbia avançou muito mais naquele trabalho.
Além disso, ele revelou que parte dos subornos que o ex-vice-ministro Gabriel García recebeu foram perdidos em investimentos fracassados ​​na Bolsa de Valores de Nova York. E ele disse, ainda, por que os pré-acordos principais no caso Cemex não prosperaram.
Ele também falou de outros processos emblemáticos, como o da Lamborghini dos Ambuila e o processo de lavagem de dinheiro contra o renomado empresário Salomón Kor.
Esta é uma das imagens de Jenny Ambuila no carro de luxo.
Esta é uma das imagens de Jenny Ambuila no carro de luxo.- Foto: Acusação
Jiménez disse que deixa como legado uma Promotoria empoderada, com 500 promotores e investigadores treinados na investigação de crimes financeiros e com a melhor sucessora: Luz Ángela Bahamón.
— Quais foram os principais casos adiantados em seu mandato?
Os Documentos do Panamá; a corrupção no INVIMA e até os produtos "esotéricos" que Stella Durán vendia. Quanto à luta contra o contrabando e a corrupção, o caso mais falado foi o de Ómar Ambuila e sua filha JennyEla morava em uma cobertura na Trump Tower em Miami e tinha uma Lamborghini de US$ 300.000, paga na Colômbia. De mãos com a DIAN, retiramos muitos funcionários corruptos dessa entidade. Também emitimos um mandado de prisão contra Álex Saab  o chamado "testa de ferro" do regime venezuelano  muito antes de ser incluído na lista de Clinton. Somente nas operações de lavagem, nos últimos três anos, processamos 16 bilhões de pesos.
Em termos de extinção de domínio, os resultados também são históricos. De agosto de 2016 até a semana passada, quando me aposentei, esse número estava em pouco mais de 17 bilhões de pesos: [equivalentes a] duas reformas tributárias. Houve resultados notáveis ​​contra o tráfico de drogas e mercadorias que não foram entregues pelos ex-guerrilheiros das FARC, cerca de 2,5 bilhões do total que mencionei.
— O contrabando e a lavagem são comparados ao tráfico de drogas? 

Eles são primos de primeiro grau. Nos dois anos de permanência no cargo, aumentamos a produtividade da Diretoria contra o Branqueamento de Capitais em 65%. Atacamos estruturas que lavavam dinheiro de organizações criminosas. Entre outros, processamos o empresário Salomon Korn, que aparentava trocar cotoveladas com o show business enquanto interceptações mostravam como ele concordava em lavar o dinheiro.
— Dois comerciantes de ouro são processados ​​por lavagem. O que acontece nesse setor?
Hoje, a mineração ilegal constitui uma economia criminosa gigantesca que ataca o meio ambiente e fortalece grupos ilegais. Hoje, é mais lucrativo exportar ouro ilegalmente do que o próprio negócio do narcotráfico. Um quilo de coca nas ruas de Nova York custa US$ 36.000 e um quilo de ouro, US$ 42.000, e os reembolsos são feitos pelos bancos. Faça contas 
Concentramos os esforços nos profissionais de marketing interno, que compravam ouro independentemente da origem e sem cumprir o regulamento. Também em profissionais de marketing internacionais, que movimentam bilhões. Em três anos, foram realizadas operações que representaram quase 12 bilhões de lavagem através dessas operações. 
— Fontes no Brasil disseram a El Tiempo que você viajou para negociar o acordo para acessar as evidências do caso Odebrecht. Por que ele não assinou?
Tens boas fontes. No início do processo da Odebrecht, em 2017, como Diretor da Polícia Financeira (PEF), viajei várias vezes ao Brasil em busca de trocas de dados probatórios. Em junho de 2017, eu me encontrei em Brasília  na companhia de um dos Promotores colombianos no caso Odebrecht — com o coordenador de cooperação judicial do Ministério Público, Vladimir Aras. Havia também cinco ou seis Promotores que faziam parte da Força-Tarefa de Curitiba e Brasília. Trocamos informações. O resultado é que apenas 6 meses após o início do caso na Colômbia, nosso Ministério Público já tinha mais evidências de corrupção do que o Brasil e os Estados Unidos haviam coletado juntos. Os brasileiros ficaram surpresos e informalmente nos mostraram o resumo das evidências que o Ministério Público daquele país tinha e o que os colaboradores haviam dito no processo de Lava Jato.
O acordo proposto pelo Brasil implicava que as evidências que eles nos deram não poderiam ser usadas contra a Odebrecht ou seus executivos. A Colômbia não poderia aceitar essa condição, ainda mais se as evidências existentes já tivessem sido obtidas em nosso país, como resultado de nosso trabalho e dos princípios de oportunidade negociados com Luis Bueno e Eleuberto Martoreli. Teríamos ficado com as mãos atadas. Que eu saiba, a Colômbia foi o primeiro país em que mandados de prisão foram processados ​​e emitidos contra brasileiros. 
Penso que o papel dos 14 promotores do caso Odebrecht na Colômbia não foi reconhecido nem dimensionado aqui. Eles conseguiram descobrir mais coisas do que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou.
Otto Bula, ex-senador da Cordilheira condenado pelo escândalo da Odebrecht. Foto: Abel Cárdenas / A HORA
— El Tiempo revelou evidências que o Brasil tem sobre o caso colombiano. Mas o Supremo Tribunal tenta acessar o arquivo. Será que eles vão encontrar algo mais?
Como é bom que você tenha divulgado essa informação. Sabíamos tudo o que o Brasil tem. De acordo com o que vimos com o promotor com quem viajei, não há mais nada além do que já foi investigado na Colômbia. Eles não encontrarão nada além do que o Ministério Público já investigou e enviou ao Tribunal e a Procuradoria Geral da República.
Em junho de 2017, a justiça estrangeira falava em subornos na Colômbia em dois contratos de 11 milhões de dólares e, nessa época, o Ministério Público já havia estabelecido quatro contratos corrompidos: Ruta del Sol, Ocaña-Gamarra, Estabilidade Legal e Tunjuelo-Canoas, com pagamentos ilegais no valor de 84.000 milhões de pesos, três vezes o valor revelado pelos gringos e pela justiça brasileira. 
— Setores da opinião insistem que não houve progresso aqui como no Peru, com ex-presidentes envolvidos ...
O caso do Peru é diferente. Lá, a corrupção chegou aos bolsos dos ex-presidentes, o que dá muito para manchetes. De acordo com as evidências que vimos no Brasil e as coletadas no país, outro modelo de corrupção foi escolhido aqui: a compra de funcionários de entidades contratantes e congressistas, como aconteceu na República Dominicana. Existem alguns setores que, por razões políticas, continuarão sustentando que, enquanto ex-presidentes e parceiros nacionais da Odebrecht não forem processados, nada foi feito. É um absurdo, pois as muitas evidências coletadas no Brasil e na Colômbia que já são públicas não os envolvem. 
A memória é frágil. Duas semanas após a explosão do escândalo, o ex-vice-ministro Gabriel García e o ex-senador Bula já haviam sido capturados. Nada disso aconteceu na América Latina. Dou uma cifra única: no Brasil 89 pessoas foram processadas, aqui superamos a cifra.
Uma das evidências que o Brasil tem sobre o caso na Colômbia. Luiz Bueno detalhou as reuniões com o vice-ministro Gabriel García Morales e o pagamento de 6,5 milhões de dólares. Foto: El Tiempo
— E sobre as campanhas presidenciais?
A acusação provou há três anos que havia chegado dinheiro a campanhas presidenciais. No início, essas notícias foram recebidas com ceticismo e hoje não são questionadas. No Brasil, havia alguma evidência sobre o financiamento político de 2014, mas eles não sabiam das contribuições de 2010 que encontramos na Colômbia e, de qualquer forma, esse financiamento não estava relacionado a subornos. 
Também conseguimos pela primeira vez na história da cooperação judicial com o Panamá, receber informações bancárias e corporativas. Isso permitiu rastrear todo o dinheiro corrompido. Portanto, o vice-ministro Garcia não é o único envolvido no manuseio de dinheiro sujo. Há mais condenados por corrupção e lavagem de dinheiro. 
Ninguém questiona a justiça americana ou a justiça brasileira no caso da Odebrecht. Aqui, se encontrou o dobro de contratos públicos denunciados internacionalmente por corrupção, foram identificados dezenas de contratos ilegais para mover verbas irregulares, que não eram conhecidas no Brasil, e ficou provado que o dinheiro de propinas era o triplo do valor divulgado pelas autoridades estrangeiras. 
A ironia é que o debate nacional é feito com as informações coletadas pelo Ministério Público da Colômbia.
El Tiempo revelou como foi transferida verba do 'carrossel' das contratações para os EUA. Como está o caso?
Isso era uma dívida que a justiça da Colômbia tinha. Quando assumi o cargo, fizemos um balanço das operações financeiras vinculadas ao 'carrossel' de contratações. Ainda que as investigações de corrupção progredissem  ainda na semana passada, o ex-prefeito Samuel Moreno recebeu sua terceira condenação  o mesmo não ocorreu com a questão financeira. Uma das dificuldades foi montar um rastreio financeiro quase dez anos após a pilhagem. Em alguns casos, a informação já não existia; alguns não queriam cooperar já estando condenados; ou entidades, através das quais os recursos eram movidos, já não existiam mais. Mas tivemos dois resultados importantes. 
Um foi saber como os recursos foram transferidos do 'carrossel' para os Estados Unidos; e o papel do ex-embaixador Fernando Marín Valencia. Descobrimos uma rede de empresas que foram estabelecidas para comprar bens relacionados a Moreno em Miami. As empresas foram liquidadas em 2012, mas ainda estão investigando o que aconteceu após o fechamento. Também foi revelado que parte dos recursos acabou em um projeto imobiliário em Miami, cujo valor comercial seria de 70 milhões de dólares. Essas questões ainda estão em andamento com o objetivo de buscar esses recursos e rastrear outros.
O Ministério Público garante que o dinheiro do saqueio a Bogotá acabou investido em Miami. O caso envolve o ex-prefeito de Bogotá, Samuel Moreno Rojas. 
Foto: Ana Maria García-El Tiempo
— E o outro resultado?
O segundo resultado foi a apreensão de dois apartamentos relacionados com os Nule nos Estados Unidos. Eles valem aproximadamente dois milhões de dólares e foram apreendidos por ordens de um promotor de extinção de domínios da Colômbia. Mais importante ainda, essa medida foi reconhecida por um tribunal federal dos Estados Unidos. Conseguir isso em termos de cooperação judiciária internacional em tão pouco tempo é muito notável. Isso também foi alcançado graças ao acordo de compartilhamento de bens existente com os Estados Unidos, assinado no final de 2016 que, é claro, ajuda a viabilizar essas questões. 
Nesse caso, foram obtidos resultados nunca obtidos antes no Ministério Público, mas também se perdeu tempo por não terem sido feita as perguntas certas no passado. 
— O que aconteceu no caso Cemex com a confissão de dois envolvidos, que estão nos EUA? Por que não foram assinados os acordos preliminares?
As aproximações e negociação foram lideradas por mim, de mãos dadas com promotores do Departamento de Justiça de Washington e do escritório do FBI em Nova York. Viajei duas vezes a convite do Departamento de Justiça para falar com as pessoas que você mencionou. Os depoimentos foram recebidos na presença de funcionários do Ministério Público da Colômbia, do FBI e do Departamento de Justiça [americano]. No caso de Édgar Ramírez  executivo para a América Latina da Cemex , analisadas as informações, ele recebeu uma oferta de acordo, mas a rejeitou em agosto. Com Eugenio Correa, não foi possível chegar a um acordo, porque ele não forneceu todas as informações solicitadas pelo Ministério Público. Apesar disso, a investigação ainda está sendo conduzida de forma independente pelas autoridades dos Estados Unidos. O caso está progredindo e o país conhecerá em breve o alcance desta investigação.
UNIDADE DE PESQUISA 
u.investigativa@eltiempo.com
Fonte: tradução livre de El Tiempo