sexta-feira, 21 de abril de 2017

O Caso da Sexta-Feira Santa - Donald Trump Encontra Ex-presidentes Colombianos

Editorial
ILUSTRAÇÃO MORPHART
O encontro mantido na Sexta-Feira Santa (14 Abr 17) pelos ex Presidentes colombianos Andrés Pastrana e Álvaro Uribe com Donald Trump, em um clube privado de propriedade deste último na Flórida, tem gerado todo tipo de especulações, encontrando terreno propício para a "rumorologia" por não se saber do que falaram, em que termos nem o caráter de dito encontro.
Só o que se sabe são as sucintas linhas do ex-presidente Pastrana em seu Twitter: "Grato, Donald Trump, pela cordial e muito franca conversação sobre problemas e perspectivas da Colômbia e a região". O ex-presidente Uribe limitou-se a dizer que foi um encontro social "organizado por terceiros". CNN em Espanhol assegurava ontem (16 Abr 17) que se tratou apenas de uma saudação muito breve, em um corredor.
O certo é que esta notícia pegou o Governo colombiano de surpresa, deixando-o confuso.  Apenas ontem, porta-vozes como o novo Secretário-Geral da Presidência, Alfonso Prada, ou o Vice-presidente Óscar Naranjo, saíram a manifestar suas preocupações pelo que possam ter falado sobre a Colômbia e o governo de Juan Manuel Santos.
A pergunta é se é ético ou não por parte dos dois ex chefes de Estado reunirem-se com o Presidente daquela potência mundial antes mesmo do governante em exercício. Ou que manifestem opiniões sobre fatos políticos de seu país. Mas a resposta a esses questionamentos estará forçosamente sujeita a saber o que foi falado, e como.
A todos os presidentes incomoda sempre que líderes políticos vão ao exterior a formular críticas contra eles ou contra suas políticas. A tal ponto vai essa sensibilidade que as críticas feitas desde fora são consideradas como ataques contra a própria Pátria. Mas no mundo de hoje são poucas as nações que podem impedir que seus líderes (políticos, empresariais, de opinião) possam manifestar no estrangeiro, livremente, suas análises sobre o que se passa em sua terra.
O mesmo Juan Manuel Santos tem experiências, como quando durante o governo de Ernesto Samper (1994-1998) falou com líderes internacionais, entre eles Felipe González, na Espanha, para conseguir uma transição de poder mediante a renúncia do então questionado mandatário.
Muitos outros políticos agiram igual, e no governo de Álvaro Uribe os dirigentes de esquerda foram especialmente ativos em sua diplomacia paralela, tanto nos Estados Unidos como na Europa e América Latina.
O que se questiona agora é que quem faz isso são dois ex-Presidentes, que por sua trajetória e experiência sabem que em política internacional se deve guardar uma série de consensos mínimos e de reconhecimento dos poderes do Chefe de Estado para conduzir as relações exteriores.
Todavia, os ex-presidentes Pastrana e Uribe, até onde se sabe, não assumiram representação internacional para este encontro com Trump, portanto, não se pode falar em usurpação de funções em política exterior. Ainda que seja evidente que, se o fato acontecesse durante seus governos, haveriam de manifestar total contrariedade.
Também deve ser considerado o "estilo Trump". Que certamente tem conduzido sem muitos cuidados as formalidades e protocolos da diplomacia tradicional, a que se sujeita a Chancelaria colombiana. Ele não considerou anormal receber os dois ex-presidentes sem ter feito o mesmo com Santos. Não é Colômbia a única que pode mostrar sua discordância pela forma como o novo presidente dos EUA maneja as relações com quase todos os demais países, sejam ou não do chamado "terceiro mundo".
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: na mesma edição do periódico, Juan David Garcia Ramírez, analista de Política Internacional e Professor da UPB (Universidade Pontifícia Bolivariana) defende que "o encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e os ex-presidentes Álvaro Uribe e Andrés Pastrana, não só foi necessário, como também desejável, uma vez que são os representantes da oposição política ao governo de Juan Manuel Santos, que somente mostraria a Trump as bondades e aspectos positivos dos acordos com as FARC, enquanto que uma visão crítica e realista dos mesmos, de suas implicações para a estabilidade do país, como também da dramática situação por que atravessa a Venezuela e os perigos que a ditadura chavista comporta para a região, permitirão a Trump tomar decisões concretas e acertadas a respeito da América Latina.
Em absoluto esse encontro constitui uma substituição dos canais diplomáticos, pelo contrário, é a oportunidade para que se tenha em conta as preocupações dos líderes da oposição, que em última análise representam uma parte muito importante da cidadania e estão plenamente legitimados para expressar seus pontos de vista."
Esse é o padrão de discussão política em um país onde seus cidadão estão atentos ao seu futuro. Onde futebol e novelas são apreciados como diversão e não como coisas imprescindíveis e os políticos de oposição procuram agir em consonância com os interesses da população e não somente de acordo com os interesses partidários e particulares.
Enquanto os colombianos discutem o relacionamento com quem determina a política da maior potência mundial (econômica e militar, gostem ou não), abaixo da linha do Equador, a diplomacia se preocupa com a recusa da visita papal.
Falta muito para que a junção da maior extensão territorial da América Latina e o povo que a habita possa ser considerada um País, uma Nação.
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domingo, 9 de abril de 2017

Miséria Intelectual

por João Pequeno
Uma boa régua para medir o abismo entre o povo e intelectuais orgânicos que fingem falar em seu nome pode ser vista em duas pesquisas elaboradas por entidades ligadas ao PT. 
“Nunca na história da República o Congresso votou uma lei tão contrária aos interesses da maioria do povo brasileiro”, acusou, na “Folha de S.Paulo”, Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP e militante do PSol, sobre as terceirizações. 
No artigo “O Fim do Emprego”, ele não cita número que mostre essa tal maioria, mas sim o de uma pesquisa do Dieese/CUT apontando que trabalhadores terceirizados ganham, em média, 24% menos do que os contratados diretamente.
Acontece que “como atualmente a terceirização só é permitida para atividades meio, é razoável supor que (...) ganhem menos do que os trabalhadores nas atividades fim, independente da forma de contrato”, como destrincha Roberto Ellery, professor de Economia da UnB, no site ILISP. Ele usa o próprio estudo do Dieese para mostrar que setores tipicamente terceirizados concentram mais trabalhadores até o ensino fundamental, enquanto os tipicamente contratantes têm quase o triplo proporcional com superior completo: 22,7% contra 8,7%. Outro estudo, da FGV, compara seis atividades e mostra que, na média, terceirizados ganham só 3% a menos que contratados. A diferença era maior em limpeza e telemarketing, ficando em 5% no setor de segurança; já na área de TI, os terceirizados ganhavam melhor. Os dados podem ser vistos no link: FGV-Arquivos.pdf.
Ainda que os terceirizados ganhassem menos em qualquer área, o que seria melhor? Seguir desempregado, como quem perdeu o trabalho ante a recessão acumulada de 7,2% catapultada pelo governo Dilma Rousseff? Isso sim foi o fim de empregos – quase 3 milhões em dois anos, segundo o IBGE. 
Já a Fundação Perseu Abramo, do PT, foi ouvir moradores da periferia de São Paulo e não se conformou por eles terem visão bem mais liberal que a de seus abastados acadêmicos.
“Todos são ‘vítimas’ do Estado” e “muitos assumem o discurso propagado pela elite e pelas classes médias apontando a burocracia e os altos impostos como impecilhos (sic) para o empreendedorismo”, lamentou, com ironia, nas notas da pesquisa: P Abramo-Pesquisa Periferia.pdf.
Então, brasileiros deveriam agradecer por levar, em média, 107 dias para abrir uma empresa e cinco meses trabalhando só para pagar impostos, de acordo com o Banco Mundial e o IBPT, respectivamente. Não deixa de ser uma opinião coerente com quem escreve empecilho com I.
João Pequeno é Repórter do Destak Rio
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