domingo, 15 de fevereiro de 2015

Ameaça Iraniana no Uruguai? E Nós Com Isso?

por Andrés Oppenheimer
Duas recentes ameaças de bomba próximas à Embaixada de Israel no Uruguai, e a misteriosa saída do país de um diplomata iraniano que foi filmado próximo a um dos incidentes, estão levantando novas suspeitas sobre as atividades terroristas do Irã na América Latina.
Os detalhes sobre o descobrimento dos pacotes com materiais explosivos em 24 de novembro e em 8 de janeiro próximos à Embaixada israelense são pouco claros, porém estão sendo divulgados aos poucos desde que o jornal israelense Haaretz informou que o Uruguai havia expulsado um diplomata persa em função do incidente de novembro.
Tanto Uruguai como Irã negaram a expulsão do diplomata, e o governo de José Mujica - criticado pela oposição por haver minimizado os fatos - negou que haja uma "ameaça iraniana".
Porém, depois, o governo disse que o diplomata iraniano (Ahmed Sabatgold, de 32 anos) havia abandonado o país em 7 de dezembro, três dias antes que o Chanceler uruguaio convocasse o Embaixador persa para expressar-lhe a preocupação a respeito de um vídeo que identificava seu funcionário nas cercanias do fato.
Políticos da oposição no Uruguai dizem que o Chanceler Luis Almagro - atual principal candidato ao cargo de Secretário-geral da OEA - forjou estreitos laços com o Irã durante os cinco anos em que esteve na Embaixada do Uruguai em Teerã, de 1991 a 1996. Almagro tem sido um duro crítico de Israel e tratou de minimizar a importância do incidente com o Irã, dizem seus críticos.
Os oposicionistas acrescentam que Almagro demorou mais de duas semanas depois da primeira ameaça de bomba para convocar o Embaixador iraniano, inclusive quando já era conhecido o vídeo que mostra o automóvel com o diplomata persa próximo ao local do incidente. Funcionários uruguaios afirmaram que o falso explosivo provavelmente foi deixado ali para medir o tempo de resposta da Embaixada de Israel.
Em uma entrevista telefônica nesta semana, Almagro me disse que não há elementos probatórios de que o Irã ou algum diplomata iraniano estejam vinculados a estas ameaças de bomba. Disse que, longe de minimizar o fato, ele até exagerou ao convocar o Embaixador persa em 10 de dezembro, porque somente havia "casualidades" que podiam conduzir à suspeita sobre uma possível conexão iraniana.
"Quem sabe me excedi um pouco no meu cuidado profissional e atuei além do que os elementos me permitiam, porque não me agradou a coincidência de que houvesse alguém da Embaixada do Irã justamente próximo à Embaixada de Israel quando a tal maleta foi encontrada", me disse Almagro. "Porém foi uma coincidência da qual não gostei, e por isso trabalhei para que esse tipo de coincidência não ocorra mais no futuro".
Almagro qualificou sua mensagem ao Embaixador do Irã, de 10 de dezembro, como "uma advertência. Lhe adverti que estas casualidades não me agradam, e que as considero inadmissíveis". O Irã alegou que o diplomata se encontrava naquela área porque havia ido a uma consulta médica.
Quanto a ter demorado mais de duas semanas para convocar o Embaixador persa, disse que estava em uma visita oficial ao México, e que agiu ao regressar a seu país.
Perguntado por que não tornou público o fato imediatamente, Almagro disse que "isto é algo que manejamos de maneira reservada, só os países envolvidos: Irã, Israel e Uruguai". Acrescentou que se tivesse evidencias para fazer uma denúncia pública "a teria feito, como fiz quando um Embaixador iraniano negou a ocorrência do Holocausto".
Minha opinião (A.O.): Almagro tem razão em que a mera presença de um diplomata persa próxima ao lugar onde se encontrou a maleta com materiais de uma bomba não prova que tenha havido uma responsabilidade iraniana.
Mas o Irã tem uma larga história de terrorismo no estrangeiro, incluindo o ataque de 1994 ao Centro Comunitário Israelita AMIA, na Argentina, no qual morreram 85 argentinos e outros 300 resultaram feridos. A Argentina solicitou que a INTERPOL prendesse vários funcionários persas suspeitos de terem planejado o ataque.
Em anos recentes, além de financiar grupos terroristas do HAMAS e HEZBOLLAH, o Irã foi acusado de envolvimento, pela Polícia da Índia, em um atentado terrorista contra um diplomata israelense, naquele país, em 2012; e por funcionários búlgaros pelo ataque suicida que matou seis turistas judeus em Burgas, Bulgária, naquele mesmo ano.
Estas ameaças de bomba no Uruguai não deveriam ser menosprezadas: parecem seguir um padrão muito habitual de um regime teocrático que vê o terrorismo como uma outra forma de fazer avançar sua guerra santa.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: este tipo de incidente, aliado ao "asilo" que o Uruguai deu aos seis ex detentos de Guantánamo, acusados de terrorismo, nos faz lembrar as deficiências no controle da entrada de estrangeiros por nossas fronteiras, assunto já tratado aqui. Felizmente, temos passado incólumes, em termos de terrorismo internacional, por grandes eventos mundiais como os Jogos Pan-Americanos de 2007, o Encontro Mundial da Juventude Católica de 2013 e a Copa do Mundo de 2014. A atuação "suspeita" de agentes iranianos no Cone Sul não é novidade. Após vinte anos de protelações, surge agora a denúncia de "acordo" entre os governos iraniano e argentino para "abafar o caso" AMIA. A repercussão do caso e o possível indiciamento da presidente argentina por tentar atrapalhar as investigações em troca de petróleo persa podem radicalizar ações violentas como forma de pressão. Somado ao nosso caos político-econômico - com reflexos negativos na capacidade defensiva do país -, temos previsto para 2016 o evento das Olimpíadas. Será que continuaremos tendo a sorte de não sermos vítimas de atentados terroristas em função de "todos amarem o Brasil" (e servirmos de base de refúgio para bandidos de todos os naipes, inclusive terroristas procurados na Europa e Oriente Médio, que para cá se dirigem até "baixar a poeira")? Ou podemos confiar em nossos dispositivos de segurança? Ou podemos nos preparar para somar mais um desastre na nossa lista de fiascos internacionais?
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