terça-feira, 28 de outubro de 2014

Falece Janer Cristaldo

por Maurício Renner // terça, 28/10/2014 08:40
Faleceu nesta segunda-feira, 27, em São Paulo, vítima de um câncer contra o qual vinha lutando há anos, o colunista do Baguete Diário Janer Cristaldo Ferreira Moreira (Santana do Livramento, 2 de abril de 1947 — São Paulo, 27 de outubro de 2014) .
Janer podia causar bem mais estrago com uma coluna
do que com um martelo.
O Janer começou a escrever no site ainda na primeira encarnação do Baguete, quando éramos um portal de clipagens, lá em 1999.
Desde que eu assumi a editoria do Baguete, em 2006, vi o Janer criar centenas de polêmicas com a esquerda, seu alvo favorito (um dos seus orgulhos era ter criado a definição “Supremo Apedeuta” para se referir a Luis Inácio Lula da Silva. Outro era ter participado da demolição do Muro de Berlim).
Mas o Janer não parava por aí. Também implicava, da maneira mais agressiva e informada possível com religiões de todo tipo (motivo pelo qual ele criticava parte da direita também), o movimento gay, o tradicionalismo gaúcho, a academia, a imprensa, os psicanalistas, os terapeutas equinos e, até, a categoria profissional dos ornitólogos, e mais de uma vez.
Perdi as contas de quantas vezes me disseram que nós precisávamos tirar o Janer do site, dizendo que o estilo incisivo, às vezes deliberadamente agressivo dele “queimava nosso filme” ou “não tinha nada que ver com tecnologia” ou “ia acabar fazendo com que nós fôssemos processados”.
A maioria das pessoas que me dizia isso o fazia depois de ler alguma coluna especialmente polêmica do Janer. Poucos queriam argumentar com ele, que sempre respondeu com educação (ou, pelo menos, com a educação merecida) a todos os comentários na sua coluna e nunca me pediu para censurar nenhum, mesmo os mais agressivos.
Eu nunca tive coragem de fazer a coisa mais cautelosa e dizer para o Janer que ele não podia escrever mais para nós, apesar de não concordar com boa parte do que o Janer dizia (a única pessoa que poderia concordar com tudo que o Janer dizia provavelmente era o próprio Janer). 
Apesar de tudo, o estilo ácido, a imensa erudição e as inúmeras polêmicas dele contribuíram para fazer do Baguete o portal meio imprevisível e diferente dos demais que nós gostamos que ele seja.
O velório será na terça-feira, 28, entre 10h e 14h, no cemitério São Pedro, em São Paulo. Antes da cremação, haverá uma cerimônia de despedida às 14h no Crematório da Vila Alpina, na Avenida Francisco Falconi, n. 437 (ao lado do cemitério). 
Descansa em paz Janer.
Fonte:  Baguete
COMENTO: efetivamente, Janer Cristaldo foi uma pessoa polêmica. Com um texto primoroso e sempre fiel às suas convicções, incomodou e agradou a muitos. É uma enorme perda para a cultura brasileira. Suas opiniões, sempre muito francas, farão falta! Que o Deus, no qual ele não cria, o receba com piedade.
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Um comentário:

felipe disse...

Conheci o Janer através de um texto que encontrei por acaso em um computador da faculdade, foi amor a primeira vista, a maneira como ele pautava os assuntos era sublime, me orgulho em ter lido TODOS os seus textos em seu blog, e sentia falta dos mesmos quando demorava a postar.
Mantive contato com ele via email , de uma educação e cordialidade rara, suas posições me deixavam por vezes profundamente irritado e ao mesmo tempo encantado com tamanha cultura.
Entretanto a imensa maioria de seus textos era deliciosamente critica , incisiva e muito divertida.
Os textos ao qual relatava as suas viagens eram hipnóticos, inclusive quando eu pedia dicas de turismo a ele, prontamente recebia listas excelentes de hotéis e bons restaurantes no velho mundo.
me emocionei quando começou a contar quase que didaticamente sua doença, ri quando contava de suas aventuras na suécia e nos países nórdicos,me embriagava quando contava de suas noitadas na Espanha.
O episodio que mais me marcou foi sua briga titânica com o MSM e o Aiatolávo como ele mesmo dizia.
Vai lá Janer vai como o Fierro e te va a cantar al compás de la viguela ou como cita o Cervantes :¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!

Quem sabe o bom deus dos ateus te leve a tua baixinha.
Obrigado.