sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Soldado Brasileiro

por Francisco Cândido
Jornalista - Reg. 060/DRT/RR 
Canhões, baionetas e muito sangue. A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob as ordens do presidente Francisco Solano López. A Guerra já durava quatro anos. As tropas brasileiras não estavam conseguindo passar a ponte do Ribeirão Itororó, para tomar a estrada para Assunção. No meio do campo de batalha surgiu um homem de 65 anos, montado a cavalo. "Sigam-me os que forem brasileiros!!!." Era o brado de comando de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. 
O General Dionísio Cerqueira, à época soldado do Exército Brasileiro na guerra do Paraguai, e que esteve no campo de batalha, escreveu em suas: "Reminiscências da Campanha do Paraguai" (Gráfica Laemmert Ltda, 1948. Rio de Janeiro). 
"Quando (Caxias) passou pela nossa frente (...) Perfilamo-nos como se uma centelha elétrica tivesse passado por todos nós. (...). O Batalhão mexia-se agitado e atraído pela nobre figura, que abaixou a espada em ligeira saudação a seus soldados. O comandante dá a voz firme. Daí a pouco, o maior dos nossos Generais arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado dos batalhões galvanizados pela irradiação da sua glória. Houve quem visse (soldados) moribundos, quando ele passou, erguerem-se brandindo espadas ou carabinas, para caírem mortos adiante". Caxias, elevando o moral da tropa, bradou: "Sigam-me os que forem brasileiros!!!." Avançou a frente da tropa, e todos o seguiram. Ocorreu então a vitória nossa final. 
O DIA DO SOLDADO é comemorado em 25 de Agosto, homenageando o nascimento do Marechal Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (25/8/1803 - 07/5/1880).
Hoje, aqui nesta Coluna “Minha Rua Fala”, homenageamos não só ao Duque de Caxias, mas a todos os soldados brasileiros, de todas as Forças (naval, terrestre e aérea), de todas as Armas, e de todas as Instituições que fazem parte da Segurança do nosso País. 
Soldado! Certamente haverá um dia em que alguém te dirá em tom irônico, que o Brasil não vai à guerra desde as batalhas no Paraguai e nos campos da Europa por ocasião da 2ª Guerra Mundial e, portanto, Soldado, no presente tu não tens serventia, e és um estorvo para teu País. Não ligues, Soldado. Não deixe tais comentários, lançados em teu rosto como cusparada vil, te roubarem a calma ou te perturbarem o coração. Antes de te sentires magoado, responda serenamente: 
Meu amigo, assim falas porque não me viu amparar os sofridos sertanejos nas matas nordestinas; a curar os enfermos nos grotões da Amazônia, a socorrer os flagelados pelas enchentes no Sul e Sudeste; a agasalhar as vítimas do frio no Rio Grande do Sul; a levar socorro médico aos ribeirinhos do alto e baixo rio Branco em Roraima, entre outras ações humanitárias, que não vem ao caso aqui mencionar, porque não propalamos os benefícios que fazemos, nem o trabalho que realizamos para bem servir à Pátria e ao povo brasileiro. 
Você que me ofende assim falas, porque jamais sentistes a dor da saudade dos teus amores a aumentar a cada instante, sob o peso das longas jornadas e das imensas distâncias, pelos confins deste País de Meu Deus! Assim falas porque jamais pesou sobre teus ombros a responsabilidade de transformar no Quartel meninos em homens, forjando-lhes o caráter e dando-lhes maturidade para tomar as rédeas de suas vidas nas próprias mãos.
Jamais soubestes o que é passar dias e noites caminhando sob a chuva e frio, sentindo o vento minuano nos pampas gaúchos ou a castigar-te o corpo o vento frio da “cruviana” nos lavrados de Roraima. Nunca tivestes que enfrentar a imensidão verde e abafada da floresta, dias a fio, sobrevivendo apenas do que a mata te oferece. Em tempo algum transpusestes sob sol escaldante as caatingas de espinhos no Centro-Oeste, ou jamais vadeaste a peito nu um rio na Amazônia em noite de agosto. Enquanto isto, você dormia, calma e profundamente, enquanto eu, nas fronteiras, velava por tua guarda e segurança. Falas assim amigo, porque não estavas ao meu lado ajudando a mitigar o sofrimento do povo de Angola e do Timor Leste, de Honduras e da Nicarágua, do Peru, da Bósnia e do Haiti. Ah! Meu amigo, se tu me visses abrindo dois mil quilômetros de estrada, de Cuiabá a Rio Branco, ou cortando 800 quilômetros de floresta abrindo caminhos na mata para construir a BR-174, de Manaus a Boa Vista para que descobrisses um novo Brasil, certamente não falarias assim. Ah! Se tu tivesses chorado comigo os companheiro mortos cumprindo seu dever em outros países, e também aqui nos recantos do interior da nossa Pátria, entenderias porque existo.
Mas, amigo, não te sinta constrangido. Apague do rosto essa expressão envergonhada, pois não tens obrigação de saber disso tudo, assim como não é meu papel alardear o que faço, mas sim, trabalhar simplesmente, pois a obediência, a renúncia e a humildade, que em outros seriam apontadas como grandes virtudes, para nós Soldados espelham apenas o dever de toda uma vida. Saiba, porém, que onde estiveres, estarei sempre guardando teu sono, silencioso e anonimamente, como convém a todos os SOLDADOS deste nosso rincão. E, saiba ainda que: mesmo os que estão na Reserva militar, ainda que não enverguem mais a farda, estes continuam tendo em si a pele camuflada pelo amor pátrio. 
Apura agora teus ouvidos no som que sai do meu ufano peito e ouvirás, emanado do meu coração, o meu grito de guerra:  SELVA! CONTACT! BRASIL!!!.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Do Mercosul à Unasul

por Osmar José de Barros Ribeiro,
 em 16 Ago 2012
Nossa Constituição assinala que A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Trata-se, sem dúvida, de uma proposição romântica, notadamente se consideradas as disparidades políticas, econômicas, sociais e culturais existentes numa área onde, particularmente entre os povos de língua espanhola, encontramos disputas e problemas de toda ordem, sem falar na histórica desconfiança de todos em relação ao Brasil.
Mas vejamos a forma pela qual estão se encaminhando as coisas e o seu possível gran finale.
Em 1990, Fidel Castro e Lula, então presidente do PT, acertaram a criação de um órgão que, reunindo partidos e organizações de esquerda nas Américas do Sul e Central, nelas recuperasse o poder e a influência das ideias marxistas perdidas com a queda da URSS. 48 organizações de esquerda (incluindo terroristas como as FARC, que chegaram a fazer parte da sua direção), partidos e frentes, atenderam ao chamado e reuniram-se São Paulo/SP. O texto da declaração então aprovada, definia as bases de um novo conceito de unidade e integração continental que está na raiz da criação da UNASUL e deu força à ideia de integração continental. No encontro seguinte, realizado em 1991, 68 organizações e partidos de esquerda de 22 países, consagraram o nome de Foro de São Paulo para a frente recém-criada.
Ainda em 1991, no dia 26 de março, Brasil e Argentina, ambos com longa história de rivalidades, buscando apagar ressentimentos e o desenvolvimento integrado da região, acertaram o surgimento do Mercosul (Mercado Comum do Sul), um bloco econômico inicialmente formado pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai e, mais tarde, acrescidos da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, como países associados.
Lula, eleito presidente (2003/2011), afastou-se da direção do Foro, mas nunca deixou de apoiar governantes de esquerda, haja vista seu procedimento em relação aos problemas havidos com a Petrobras na Bolívia, com empreiteiras nacionais no Equador, a ação contra a deposição do presidente hondurenho e, por último, em relação às reivindicações de Fernando Lugo, então presidente do Paraguai, quanto aos valores pagos pela energia gerada em Itaipu.
Em maio de 2008, num momento em que era discutida a instalação de bases dos EUA na Colômbia, foi criada a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), um acordo visando unificar o Mercosul e a Comunidade Andina com a inclusão do Chile, Guiana e Suriname. Tal Acordo, reunindo os dois blocos, pretende ser um espaço de articulação entre as nações.
Havia, da parte dos dois maiores membros do Mercosul, o desejo de trazer para este, por razões políticas e econômicas, a Venezuela de Hugo Chávez, embora enfrentando a resistência do Senado do Paraguai. O impedimento do presidente Lugo pelo Congresso guarani deu o santo e a senha para a concretização desse desejo, conforme a transcrição de trechos do editorial do jornal O Estado de S. Paulo, de 6 de agosto do corrente ano:
Brasil e Argentina urdiram o isolamento do Paraguai, último obstáculo à adesão da Venezuela, e atropelaram as normas do Mercosul para receber Hugo Chávez ...; Como diz o diplomata José Botafogo Gonçalves em artigo no Estado (2/8), trata-se de um "novo Mercosul", isto é, não se pode mais falar de uma zona de livre comércio e de união aduaneira, que está no espírito da fundação do bloco, mas, sim, de "um novo clube com objetivos políticos e econômicos que não valoriza o mercado, a livre circulação de mercadorias e serviços, a internacionalização das economias e a competitividade... os valores da democracia e do livre mercado já não fazem mais parte do Mercosul. Com seu novo DNA, e em nome da expansão de oportunidades para as indústrias brasileiras e argentinas, o bloco mandou às favas os escrúpulos, instrumentalizando-se cada vez mais como contraponto bolivariano ao "império" americano.
Foi criado assim, por razões predominantemente políticas, um órgão que traz em si mais problemas que soluções. Aqueles já começam a despontar, tanto pela suspeita de que os EUA pretendem instalar uma base militar no Paraguai, quanto pelos rumores de uma retaliação paraguaia à Argentina e ao Brasil na questão energética.
Os ideais que levaram à criação do Mercosul, breve cederão o passo às razões ideológicas da Unasul, basicamente as mesmas do Foro de São Paulo e então, sob a égide do histriônico demagogo esquerdista Hugo Chávez, estarão plantadas as sementes do conflito.
Fonte:  recebido por correio eletrônico
COMENTÁRIO: do meu amigo Felix: “Numa reunião presidida por Fidel Castro e com as presenças de Lula (Luís Inácio Lula da Silva), do José Genoino, do Frei Beto e de outros líderes do Partido dos Trabalhadores (PT), Fidel disse claramente: ‘Se Lula não ganhar a eleição (de 1989) é preciso formar uma entidade para coordenar a esquerda latino-americana’. Previa-se em janeiro de 1989, nessa reunião em Cuba, o chamado Foro de São Paulo. Lula perdeu a eleição e fundou-se o Foro de São Paulo, em julho de 1990, exatamente como tinha sugerido Fidel Castro. Foi num evento no Hotel Danúbio, na capital paulista, presentes 48 entidades, várias guerrilheiras, dentre as quais duas peruanas e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). A estrutura de toda a esquerda, na América Latina, em 1990, começou a ser organizada” (Cel Aluisio Madruga de Moura e Souza - História Oral do Exército/1964, Tomo 15, pg. 353). Em 1993, na cidade de Havana, o FSP decidiu que suas então 112 entidades deveriam apoiar Cuba em seu “período especial” (após perder a mesada soviética), trabalhar para eleger Lula e impedir o desenvolvimento do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). E que se o NAFTA entrasse em vigor, haveria o levante de Chiapas - o que veio a ocorrer em 1/1/1994 com o EZLN."
Na realidade, o Foro de São Paulo é nada mais, nada menos do que a velha OLAS (Organização Latino Americana de Solidariedade) dos anos 60/70 - que naufragou em virtude da morte do "porco guevara" que lhe dava respaldo moral - agora melhor organizada e com objetivos mais adequados à safadeza e patifarias, características dos "novos esquerdistas" que só querem "se arrumar".
.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Aluno Reprovado Tentou dar Aula ao Professor Emérito

por Carlos Newton
Toffoli, a ignorância envaidecida
Foi uma aula de direito às avessas. Todo enrolado, sem saber o que dizer, fazendo pausas intermináveis, o ministro Dias Toffoli deu um voto destinado a ficar na História, mas às avessas, para que os alunos de Direito assistam diversas vezes e aprendam como não se deve proceder ao ocupar uma cadeira na mais alta corte de Justiça.
Ficou mal para ele e pior ainda para quem o conduziu até essa investidura. Sua nomeação para o Supremo mostra que, em seu permanente delírio de grandeza, Lula acabou perdendo a noção das coisas. Fez um bom governo (?), foi o primeiro operário a chegar à presidência da República de um país realmente importante, pelo voto (no) poder, tornou-se uma importante personalidade mundial, mas o sucesso lhe subiu à cabeça, começou a fazer bobagens, uma após a outra.
Lula poderia ficar na História como um dos mais destacados líderes da Humanidade, mas não tem a humildade de um Nelson Mandela nem o brilho de um Martim Luther King. Suas tiradas acabam soando em falso e os erros cometidos vão se avolumando.
Dias Toffoli foi um dos maiores equívocos cometidos pelo então presidente, que sempre se orgulhou de jamais ter lido um só livro. Desprezando o sábio preceito constitucional que exige notório saber jurídico, Lula nomeou para o Supremo um advogado de poucos livros, que por duas vezes já tinha sido reprovado em concursos para juiz.
O resultado se viu no julgamento de segunda-feira. Todo atrapalhado, Toffoli não sabia quando estava lendo alguma citação ou falando por si próprio. O mal estar no plenário foi num crescendo. Os outros ministros já não aguentavam mais tamanha incompetência. Toffoli não se comportava como um magistrado, que necessariamente tem de examinar os argumentos de ambas as partes. Limitava-se a citar as razões dos advogados de defesa dos réus, sem abordar nenhuma das justificativas da Procuradoria Geral da República ou do relator.
Ainda não satisfeito com essas demonstrações de inaptidão e de parcialidade, Dias Toffoli resolveu inovar. De repente, para justificar seu papel grotesco, proclamou que a defesa não precisa provar nada, quem tem de apresentar provas é a acusação. Fez essa afirmação absurda e olhou em volta, para os demais ministros, cheio de orgulho, como se tivesse descoberto a pólvora em versão jurídica.
Os demais ministros se entreolharam, estupefactos, e Luiz Fux não se conteve. Pediu a palavra e interpelou Toffoli, que repetiu a burrice, dizendo que não cabe à defesa apresentar provas, isso é problema da acusação.
Infelizmente, a TV não mostrou a risada de Fux, considerado um dos maiores especialistas em Processo Civil, um professor emérito e realmente de notório saber.
Até os contínuos do Supremo sabem que as provas devem ser apresentadas tanto pela defesa quanto pela acusação, mas na faculdade Toffoli não conseguiu aprender nem mesmo esta simples lição. É um rábula fantasiado de ministro, uma figura patética.
COMENTO: coloquei um ponto de interrogação entre parênteses no texto para demonstrar minha discordância com o autor do mesmo. Penso que o canalha que ocupou a cadeira presidencial "deçepaíz" por oito anos não fez nada que justifique o termo "bom governo". Por outro lado, é lamentável que não exista na legislação que rege o STF alguma norma que possibilitasse a defenestração de tipos como o garotão do PT, que não foge às suas origens. Incompetente e arrogante.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O STF Corre Perigo

por Marco Antonio Villa
No julgamento do mensalão o Supremo Tribunal Federal (STF) está decidindo a sua sorte. Mas não só: estará decidindo também a sorte da democracia brasileira. A Corte deve servir de exemplo não só para o restante do Poder Judiciário, mas para todo cidadão. O que estamos assistindo, contudo, é a um triste espetáculo marcado pela desorganização, pelo desrespeito entre seus membros, pela prolixidade das intervenções dos juízes e por manobras jurídicas.
Diferentemente do que ocorreu em 2007, quando do recebimento do Inquérito 2.245 — que se transformou na Ação Penal 470 —, o presidente Carlos Ayres Britto deixou de organizar reuniões administrativas preparatórias, que facilitariam o bom andamento dos trabalhos. Assim, tudo passou a ser decidido no calor da hora, sem que tenha havido um planejamento minimamente aceitável. Essa insegurança transformou o processo numa arena de disputa política e aumentou, desnecessariamente, a temperatura dos debates.
Desde o primeiro dia, quando toda uma sessão do Supremo foi ocupada por uma simples questão de ordem, já se sinalizou que o julgamento seria tumultuado. Isso porque não interessava aos petistas que fosse tomada uma decisão sobre o processo ainda neste ano. Tudo porque haverá eleições municipais e o PT teme que a condenação dos mensaleiros possa ter algum tipo de influência no eleitorado mais politizado, principalmente nas grandes cidades. São conhecidas as pressões contra os ministros do STF lideradas por Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente agiu de forma indigna. Se estivesse no exercício do cargo, como bem disse o ministro Celso de Mello, seria caso de abertura de um processo de impeachment.
A lentidão do julgamento reforça ainda mais a péssima imagem do Judiciário. Quando o juiz não consegue apresentar brevemente um simples voto, está sinalizando para o grande público que é melhor evitar procurar aquela instância de poder. O desprezo pela Justiça enfraquece a consolidação da democracia. Quando não se entende a linguagem dos juízes, também é um mau sinal. No momento em que observa que um processo acaba se estendendo por anos e anos — sempre havendo algum recurso postergando a decisão final — a descrença toma conta do cidadão.
Os ministros mais antigos deveriam dar o exemplo. Teriam de tomar a iniciativa de ordenar o julgamento, diminuir a tensão entre os pares, possibilitar a apreciação serena dos argumentos da acusação e da defesa, garantindo que a Corte possa apreciar o processo e julgá-lo sem delongas. Afinal, se a Ação Penal 470 tem enorme importância, o STF julga por ano 130 mil processos. E no ritmo em que está indo o julgamento é possível estimar — fazendo uma média desde a apresentação de uma pequena parcela do voto do ministro Joaquim Barbosa —, sendo otimista, que deverá terminar no final de outubro.
Esse julgamento pode abrir uma nova era na jovem democracia brasileira, tão enfraquecida pelos sucessivos escândalos de corrupção. A punição exemplar dos mensaleiros serviria como um sinal de alerta de que a impunidade está com os dias contados. Não é possível considerarmos absolutamente natural que a corrupção chegue até a antessala presidencial. Que malotes de dinheiro público sejam instrumento de "convencimento" político. Que uma campanha presidencial  como a de Lula, em 2002  seja paga com dinheiro de origem desconhecida e no exterior, como foi revelado na CPMI dos Correios e reafirmado na Ação Penal 470.
A estratégia do PT é tentar emparedar o tribunal. Basta observar a ofensiva na internet montada para pressionar os ministros. O PT tem uma vertente que o aproxima dos regimes ditatoriais e, consequentemente, tem enorme dificuldade de conviver com qualquer discurso que se oponha às suas práticas. Considera o equilíbrio e o respeito entre os três Poderes um resquício do que chama de democracia burguesa. Se o STF não condenar o núcleo político da "sofisticada organização criminosa", como bem definiu a Procuradoria-Geral da República, e desviar as punições para os réus considerados politicamente pouco relevantes, estará reforçando essa linha política.
Porém, como no Brasil o que é ruim sempre pode piorar, com as duas aposentadorias previstas  dos ministros Cezar Peluso, em setembro, e Ayres Britto, em novembro  o STF vai caminhar para ser uma Corte petista. Mais ainda porque pode ocorrer, por sua própria iniciativa, a aposentadoria do ministro Celso de Mello. Haverá, portanto, mais três ministros de extrema confiança do partido — em sã consciência, ninguém imagina que serão designados ministros que tenham um percurso profissional distante do lulopetismo. Porque desta vez a liderança petista deve escolher com muito cuidado os indicados para a Suprema Corte. Quer evitar "traição", que é a forma como denomina o juiz que deseja votar segundo a sua consciência, e não como delegado do partido.
Em outras palavras, o STF corre perigo. E isso é inaceitável. Precisamos de uma Suprema Corte absolutamente independente. Se, como é sabido, cabe ao presidente da República a escolha dos ministros, sua aprovação é prerrogativa do Senado. E aí mora um dos problemas. Os senadores não sabatinam os indicados. A aprovação é considerada automática. A sessão acaba se transformando numa homenagem aos escolhidos, que antes da sabatina já são considerados nomeados.
Poderemos ter nas duas próximas décadas, independentemente de que partido detenha o Poder Executivo, um controle petista do Estado brasileiro por intermédio do STF, que poderá agir engessando as ações do presidente da República. Dessa forma  e estamos trabalhando no terreno das hipóteses  o petismo poderá assegurar o controle do Estado, independentemente da vontade dos eleitores. E como estamos na América Latina, é bom não duvidar.
Marco Antonio Villa
é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos 
(UFSCAR)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Longo é o Caminho de Um Ribamar Até o Entendimento

por Janer Cristaldo
Leio na Folha de São Paulo de hoje:
Sabe a razão pela qual a empresa estatal dificilmente alcança alto rendimento? Porque o dono dela — que é o povo — está ausente, não manda nela, não decide nada. Claro que não pode dar certo.
Já a empresa privada, não. Quem manda nela é o dono, quem decide o que deve ser feito — quais salários pagar, que preço dar pela matéria-prima, por quanto vender o que produz —, tudo é decidido pelo dono.
E mais que isso: é a grana dele que está investida ali. Se a empresa der lucro, ele ganha, fica mais rico e a amplia; se der prejuízo, ele perde, pode até ir à falência. Por tudo isso e por muitas outras razões mais, a empresa privada tem muito maior chance de dar certo do que uma empresa dirigida por alguém que nada (ou quase nada) ganhará se ela der lucro, e nada (ou quase nada) perderá se ela der prejuízo. 
Só pode ter sido obra de um antigo porco capitalista — dirá o leitor tradicional da Folha, ao deparar-se com esta desabrida ode ao capitalismo. Ou, para usar uma nomenclatura contemporânea, obra de um pérfido neoliberal. Nada disso, ingênuo leitor. O texto tem a lavra de um velho e empedernido poeta comunista, que nasceu em 1930 e só agora, 82 anos depois, parece ter descoberto a América.
O poeta é José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar, nome que adotou para diferenciar-se dos tantos Ribamares do Maranhão. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro no dia 1º de abril de 1964, 28 anos após a denúncia das primeiras purgas de Stalin em 1936, quinze anos após a denúncia dos gulags por Viktor Krachenko em Paris, em 1949, nove anos após a denúncia dos crimes de Stalin por Nikita Kruschev, em 1956, no XX Congresso do PCUS. Isto é, o Ribamar atroz aderiu ao partido quando a nenhum cidadão honesto era mais permissível ignorar os crimes do regime soviético.
Em 1971, partiu para o exílio e foi acolhido de braços abertos por Moscou, a nova Jerusalém das esquerdas. Mas logo preferiu viver no bom mundo capitalista, passando a residir em Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.
Em 1982 — 47 anos após a denúncia das primeiras purgas de Stalin em 1936, 33 anos após a denúncia dos gulags por Viktor Krachenko em Paris, em 1949, mais de um quarto de século após a denúncia dos crimes de Stalin por Nikita Kruschev, em 1956, no XX Congresso do PCUS — escreve o "poema" abaixo, em homenagem aos 60 anos do PCB:
Eles eram poucos
e nem puderam cantar muito alto
a Internacional
naquela casa de Niterói, em 1922.
Mas cantaram e fundaram o Partido.
Eles eram apenas nove. 
O jornalista Astrojildo, o contador Cristiano, o gráfico Pimenta,
o sapateiro José Elias, o vassoureiro Luís Peres, 
os alfaiates Cedon e Barbosa, o ferroviário Hermogênio
e ainda o barbeiro Nequete, que citava Lenin a três por dois. 
Em todo o país eles não eram mais de setenta.
Sabiam pouco de marxismo 
mas tinham sede de justiça
e estavam dispostos a lutar por ela. 
Faz algum tempo que isso aconteceu. 
O PCB não se tornou o maior partido do ocidente,
nem mesmo do Brasil. 
Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis
tem que falar dele.
Ou estará mentindo. 
De fato, quem quiser contar a história do país, terá de falar do partido. Mas não de heróis, que heróis o PCB não teve. Teve apenas assassinos, celerados e cúmplices de um dos maiores assassinos do século.
O Ribamar precisou de quase meio século para render-se à evidência histórica. Tempo mais que suficiente para a prostituta maranhense construir uma carreira literária, abiscoitar aqueles prêmios que a burritsia nacional reserva para os fiéis cultores do obscurantismo e pretender-se inclusive nobelizável. Para quem vive em torre de marfim, seguido ocorre a tentação da mosca azul. Recém em fevereiro deste ano, Gullar ousou criticar a Disneylândia das esquerdas:
Nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem permissão. É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez — a 19ª — o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país.
A dificuldade advém da relação afetiva e ideológica que me prende à Revolução Cubana, desde sua origem em 1959. Para todos nós, então jovens e idealistas, convencidos de que o marxismo era o caminho para a sociedade fraterna e justa, a Revolução Cubana dava início a uma grande transformação social da América Latina. Essa certeza incendiava nossa imaginação e nos impelia ao trabalho revolucionário.
Nos primeiros dias de novo regime, muitos foram fuzilados no célebre “paredón”, em Havana. Não nos perguntamos se eram inocentes, se haviam sido submetidos a um processo justo, com direito de defesa. Para nós, a justiça revolucionária não podia ser questionada: se os condenara, eles eram culpados.
E nossas certezas ganharam ainda maior consistência, em face das medidas que favoreciam aos mais pobres, dando-lhes enfim o direito a estudar, a se alimentar e a ter atendimento médico de qualidade. É verdade que muitos haviam fugido para Miami, mas era certamente gente reacionária, em geral cheia da grana, que não gozaria mais dos mesmos privilégios na nova Cuba revolucionária.
Gullar precisou de mais de meio século — 53 anos — para descobrir que um país comandado por 47 anos pelo mesmo homem era uma ditadura. Longo é o caminho de um bolchevique até o entendimento.
Sabíamos todos — continua o vate que, além do açúcar e do tabaco, o país não dispunha de muitos outros recursos para construir uma sociedade em que todos tivessem suas necessidades plenamente atendidas. Mas ali estava a União Soviética para ajudá-lo e isso nos parecia mais que natural, mesmo quando pôs na ilha foguetes capazes de portar bombas atômicas e jogá-las sobre Washington e Nova York. A crise provocada por esses foguetes pôs o mundo à beira de uma catástrofe nuclear.
Mas nós culpávamos os norte-americanos, porque eles encarnavam o Mal, e os soviéticos, o Bem. Só me dei conta de que havia algo de errado em tudo isso quando visitei Cuba, muitos anos depois, e levei um susto: Havana me pareceu decadente, com gente malvestida, ônibus e automóveis obsoletos. 
Como se precisasse visitar Cuba para saber que os cubanos viviam na miséria. Como se precisasse visitar a ilha para saber que os cubanos optavam por morrer nas águas do Caribe a continuar vivendo sob o regime de Cuba. O pronunciamento do poeta ocorreu por ocasião da visita de Dilma Roussef a Cuba, que manteve silencioso obsequioso em relação aos atentados aos direitos humanos na ilha dos irmãos Castro:
Do contrário, como entender a atitude da presidente Dilma Rousseff que, em recente visita a Cuba, forçada a pronunciar-se sobre a violação dos direitos humanos, preferiu criticar a manutenção pelos americanos de prisioneiros na base aérea de Guantánamo, o que me fez lembrar o seguinte: um norte-americano, em visita ao metrô de Moscou, que, segundo os soviéticos, não atrasava nunca nem um segundo sequer, observou que o trem estava atrasado mais de três minutos. O guia retrucou: “E vocês, que perseguem os negros!”.
A verdade é que nem eu nem a Dilma nem nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem a permissão do governo.
Ora, o Ribamar viveu sem tugir nem mugir em regime de onde não se podia sair sem a permissão do governo e manteve o mesmo silêncio obsequioso da guerrilheira marxista. E agora, do dia para a noite, canta as glórias do capitalismo. 
Curta é a memória das gentes. Mais alguns meses, e a prostituta macróbia maranhense estará sendo celebrada como um campeão da luta pela liberdade no Ocidente.
Fonte:  Janer Cristaldo
.

domingo, 26 de agosto de 2012

Dazibao

por Clovis Purper Bandeira
Na China antiga, os jornais não circulavam nas cidades e aldeias distantes, onde o pequeno número de alfabetizados não justificava a despesa da distribuição dos periódicos. Nesses locais, existiam  existem?  painéis colocados em locais públicos, onde eram dispostos os avisos, editais, proclamas, notícias etc. Eram os dazibaos.
Diariamente, ao passar pelo extinto Canecão, em franca decadência e correndo perigo de ruir, pois agora é “do povo”, ou seja, não será usado nem sofrerá manutenção até cair, leio meu dazibao sobre a interminável greve das universidades federais.
Dois cartazes, em especial, chamam minha atenção.
O primeiro, muito bem feito, trabalho de profissionais, anuncia: “A Universidade está viva! A Universidade está em greve!”.
Vejam que preciosa afirmação, que contrassenso bem colocado, que atrai pelo aparente paralelismo entre “vida” e “greve”. No entanto, nada mais enganoso. Uma Universidade viva está em ebulição por outros motivos: pelas aulas, palestras, discussões, debates, pesquisas, monografias, publicações; seus corredores fervilham de pessoas indo e vindo, dirigindo-se às aulas, bibliotecas, laboratórios, áreas de lazer, centros de tecnologia e de informática, produzindo e difundindo conhecimento, arte, ciência, dúvidas, soluções.
Uma Universidade em greve, e em greve há mais de dois meses, é o oposto da vida: nada produz, a não ser confronto e radicalismo ideológico. Ainda não morreu, mas está moribunda.
E, por incrível que possa parecer, as principais vítimas da greve, os alunos que perdem seu ano letivo, um ano precioso de sua juventude e de sua vida, aplaudem e justificam o movimento intransigente, que alega querer negociar mas não aceita nenhuma proposta diferente de suas exigências e impede, até de forma violenta, o acesso às instalações das faculdades por aqueles que não concordam com a greve. Por certo a conduta suicida dos alunos é resultado de anos de doutrinação socialista e da verdadeira lavagem cerebral que nossos estudantes sofrem desde o ensino fundamental.
Abaixo da frase, vejo os logotipos das várias associações de classe, sindicatos e centrais pelegas que organizaram e impõem a greve.
O segundo cartaz não tem a beleza plástica do primeiro. Escrito a mão livre, com letra irregular, numa faixa de plástico amarela, exige: “Dilma e Reitor, negociem já!”. Além de não admitirem nenhuma contraproposta, os grevistas ainda jogam no colo das autoridades a responsabilidade pelo fracasso das discussões, como se as mesmas é que não quisessem negociar. Por negociar entendem ceder, submeter-se à vontade dos todo poderosos sindicalistas, donos da verdade, enviados divinos para estabelecer sua justiça entre os homens.
As autoridades, porém, merecem o impasse pelo qual são também responsáveis. Enquanto esteve na oposição, o partido da Presidente estimulou e defendeu o grevismo radical sempre que pode. No poder, fortaleceu e encheu de privilégios os sindicatos e associações de classe, pensando, com certeza, em usá-los como companheiros de viagem em sua intenção de perpetuar-se no poder. Mas os sindicalistas têm agenda própria, e caminham a passos largos para estabelecer a República Sindicalista do Brasil. Logo veremos quem usou ou quem foi usado.
O governo, agora, toma um pouco do remédio amargo que produziu para os outros.
Como diz o velho ditado, “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
Clovis Purper Bandeira
é General de Divisão na Reserva.
Fonte:  Alerta Total

Quem Vota Merece

por Janer Cristaldo
Quem me lê sabe que faz mais de vinte anos que não voto. Meu último voto, confesso sem pejo algum, eu o dei a Collor. Não por seus belos olhos. Mas porque o outro candidato era Lula. Hoje, se ainda votasse, entre Lula e Maluf, votaria no “esforçado filho do imigrante árabe”, como já foi chamado. No que, suponho, não seria reprovado por nenhum petista. Afinal, Maluf  hoje é unha e carne com Lula.
Político, escrevia eu há pouco, é um homem que mente. As regras do jogo o impelem necessariamente a mentir. O que importa é arrebanhar votos. Político diz o que cada platéia pede. E omite tudo o que cada platéia rejeita. Se não mente por intenção, mente por omissão. Se não mente hoje, mentirá amanhã. Políticos pertencem a partidos. Precisam seguir a política de seus partidos, mesmo que dela discordem. Se o partido decide fazer coligação com um canalha, o candidato tem de aderir ao canalha. Se for preciso bajular grupos religiosos que não passam de operosos caça-níqueis, bajulados sejam.
O último Censo trouxe dados significativos sobre a expansão de igrejas de uma forma ou outra ligadas ao cristianismo no país. O segmento que mais cresceu foi o dos evangélicos, passando de 15% em 2000 para 22%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26 milhões para 42 milhões).
A religião evangélica que mais cresceu entre 2000 e 2010 foi a Assembléia de Deus, passando de 8,4 milhões para 12,3 milhões. Já a Igreja Universal do Reino de Deus perdeu quase 300 mil adeptos, passando de 2,102 milhões para 1,873 milhões. Os católicos foram comidos pela concorrência, passando de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010, uma redução de 12,2%. Em 20 anos, a queda foi de 22,4%.
Junto ao crescimento dos evangélicos, houve uma pulverização sem precedente dos mesmos na última década, na cidade de São Paulo. É o que leio no Estadão. Segundo os novos dados do Censo, o número de evangélicos sem laços com uma igreja determinada aumentou mais de quatro vezes entre 2000 e 2010, enquanto a quantidade de fiéis que frequentam templos menores cresceu 62% nesse período. Juntos, esses dois grupos foram responsáveis por 96% do crescimento do rebanho evangélico da capital em uma década, de 825 mil fiéis.
Ainda segundo o jornal, o crescimento dos evangélicos não determinados em São Paulo foi tão grande que eles hoje representam a terceira maior corrente religiosa da cidade – perdem para os católicos e os sem religião, mas ultrapassaram a Assembléia de Deus, denominação evangélica que tem o terceiro maior rebanho do País.
Segundo o antropólogo Ronaldo de Almeida, "há uma diversificação e uma maior infidelidade a uma instituição específica. O sujeito ainda se identifica principalmente como evangélico, mas hoje ele molda sua experiência religiosa. Quando quer ouvir um louvor com mais música, vai a uma igreja, quando quer cura, vai a outra, quando busca mensagem espiritual mais forte, busca outras."
A antropóloga Diana Nogueira, por sua vez, faz um paralelo com pessoas que querem perder peso e vão migrando de médico em médico. "A religião fortalece e ajuda as pessoas, mas não resolve muitos dos desafios que uma vida de periferia urbana lhes impõe. Com isso, algumas dessas pessoas vão de igreja em igreja, buscando soluções".
É o que chamo de fé à la carte. São igrejas voltadas a nichos específicos. Se este deus não me serve, busco outro. Aqui perto de onde moro há uma Igreja da Comunidade Metropolitana, voltada para o público homossexual, dirigida por uma pastora lésbica. Tampouco faltam igrejas ao gosto de roqueiros adeptos do thrash metal ou surfistas. Pagando bem, que mal tem?
É óbvio que candidato algum seria insensível a tal clientela. José Serra, por exemplo, tem tentado atrair o apoio de líderes evangélicos na cidade. Para tanto, o tucano criou um comitê evangélico na campanha. Como este apoio aos operadores de caça-níqueis não cai bem junto a outros setores do eleitorado, os encontros com líderes religiosos não são divulgados em sua agenda pública, mas têm ocorrido desde abril. Algumas igrejas, como a Convenção Geral das Assembleias de Deus e a Igreja Mundial, já declararam apoio a Serra. 
A Igreja Mundial, para quem não sabe, é aquela fundada pelo apóstolo milionário Valdemiro Santiago, que usa o dinheiro da igreja para comprar bens pessoais, como fazendas no Pantanal e cabeças de gado. Somando tudo, gado, terras e benfeitorias, o investimento total de Valdemiro chega a R$ 50 milhões em dinheiro vivo, mais do que a maioria dos prêmios da Mega-Sena acumulada. É um eleitor de vulto.
O outro candidato mais cotado à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, foi mais ecumênico. Disse ontem que, se for eleito, gostaria de uma igreja em cada quarteirão. "Vou preservar todas as igrejas, regularizando a situação delas, e gostaria que em cada quarteirão houvesse uma igreja pregando o amor ao próximo".
Hábil, não manifestou preferência por esta ou aquela igreja. Quer um caça-níqueis em cada quarteirão, seja lá qual fé professar. Segundo o candidato, a linha religiosa das pessoas evita mortes e crimes. "As pessoas não matam ou roubam porque a lei proíbe, mas porque têm uma linha religiosa. Existe igreja porque a população é temente a Deus, porque a população acredita".
Nunca deve ter dado pelo menos uma trecheada na Bíblia, livro em que o bom deus dos judeus ordena matanças e saques a todas as tribos que não o cultuam. Parece tampouco conhecer a sociedade em que vive, onde as pessoas matam e roubam, apesar de a lei proibir matar e roubar.
Os tais de evangélicos, que tanto crescem, têm feito em tempo recorde a fortuna de pastores que há muito deviam estar na cadeia. E só não estão devido a uma estúpida legislação que releva exploração da fé pública, extorsão e lavagem de dinheiro em nome de uma suposta liberdade de crença. A estes vigaristas, os candidatos oferecem apoio e pedem apoio.
E não poderia ser diferente. Os evangélicos são legião e são eleitores. Os candidatos precisam de votos. Compactuar com a vigarice se impõe. 
Quem neles vota, bem que os merece.
Fonte:  Janer Cristaldo
.

sábado, 25 de agosto de 2012

Mensalão: ao Invés de Punição, Confraternização

por Catia Seabra
"Precisa de proteção?", perguntou o advogado Cláudio Fruet ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Não foi necessário.
A apenas 5,4 km do STF (Supremo Tribunal Federal), Gurgel, o ministro Marco Aurélio Mello e advogados dos réus do mensalão confraternizaram numa festa que invadiu a madrugada de ontem.
Algoz dos réus, Gurgel celebrou com os advogados o 80º aniversário de José Gerardo Grossi no salão de um hotel, em Brasília.
"Elegantíssimos, gentilíssimos", repetiu Gurgel ao cumprimentar Arnaldo Malheiros e Alberto Toron, defensores de Delúbio Soares e João Paulo Cunha, respectivamente.
O advogado Arnaldo Malheiros com o ministro do STF, Marco Aurélio Mello
 e o advogado Alberto Toron - 
Sérgio Lima /Folhapress 
No jantar, a aposta generalizada era pela absolvição de João Paulo, o que ocorreu.
Um dos primeiros a chegar, Gurgel recebeu, ao lado da mulher, a subprocuradora, Cláudia Sampaio, o advogado Márcio Thomaz Bastos com caloroso abraço. "O embate acontece lá. Aqui, é confraternização", justificou Gurgel.
Apesar do afago, assentiu quando desejavam força para "limpar o Brasil". E concordou com uma senhora que chamou os réus de "ladrões". "Ladrões", endossou.
Ao lado de Gurgel, o antecessor Antonio Fernando Souza não exibia tanta desenvoltura. Autor da denúncia e alvo dos advogados, atacou: "Eles também diziam que não havia dinheiro público. E já há dois votos a favor".
Cercado de advogados, Marco Aurélio brincou com Toron, ausente de Brasília quando Joaquim Barbosa pediu a condenação de seu cliente: "Vou cortar seu ponto", disse.
Ao ex-ministro Sepúlveda Pertence falou do gênio de Barbosa. Descreveu-lhe a sessão em que ele acusou Ricardo Lewandowski de deslealdade.
Lembrando que foi repreendido por Sepúlveda após um arroubo, opinou: "Aquilo ali é meio de vida. Não de morte".
Evanise Santos representou o namorado, o ex-ministro José Dirceu - que, de Vinhedo (SP), telefonou para parabenizar o aniversariante.
O jantar terminou com um show de gaita. No repertório, o tema de "O Poderoso Chefão".
COMENTO: e assim segue a vida. Enquanto a patuléia acredita em justiça, duendes, e similares, os donos da coisa confraternizam e afirmam que seu picadeiro é meio de vida onde se encenam embates que devem terminar sempre em confraternizações. Esse é o país em que vivemos e onde somos espoliados de metade do que produzimos para sustentar essa cambada de canalhas. Pelo menos o tal de Toffoli demonstrou ser mais coerente ao, recentemente, encher de desaforos um jornalista seu desafeto.
.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sobre a Humana Mesquinharia, a Gratidão e a Generosidade

por Janer Cristaldo
Ainda não morreu o dia e está provocando intensa celeuma no Facebook a revelação feita hoje por Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, da linha dura do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, em julgamentos recentes. Anteontem, numa das turmas do STF, o ministro negou habeas corpus para um carcereiro acusado de peculato em Tatuí, em São Paulo, condenado por furtar o farol de milha de uma moto. O valor, apurado em perícia: R$ 13.
Em outro julgamento, contra um pescador que fisgou ilegalmente doze camarões em Santa Catarina, o ministro foi voto vencido: Gilmar Mendes e Cesar Peluzo, da mesma turma, defenderam o trancamento das ações. Em um terceiro julgamento, sobre o furto de uma bermuda, acompanharam Lewandowski: o réu tinha antecedentes criminais.
Lewandowski, se alguém ainda lembra da primeira sessão de julgamento do mensalão – ou Ação Penal 470, como preferem os petistas – é aquele ministro que deu seqüência à manobra protelatória do renomado defensor de um dos mensaleiros, Márcio Thomaz Bastos, ao reivindicar o desmembramento dos processos, alegando que um juiz de primeira julgaria mais rapidamente que o STF. Sua intenção era que o tribunal julgasse apenas três dos réus, que têm foro privilegiado, encaminhando os outros 35 para a primeira instância.
Nesta sua chicana – pois de chicana se trata - teve como cúmplice Lewandowski, o ministro revisor do processo, que puxou do bolso um improviso de setenta páginas, cuja leitura durou 80 minutos. Para debater uma questão já julgada – e negada – pelo tribunal, o desmembramento do processo.
O ministro trazia seu voto pronto. Sabia que o chicaneiro-mor do mensalão alegaria a necessidade do desmembramento. Isto é, o ministro julgador agiu em concerto com a defesa dos réus. Que vote pela absolvição dos réus é direito seu – escrevi na ocasião. Que participe de uma manobra espúria para absolvê-los, isto se chama cumplicidade.
A celeuma ora provocada se deve ao fato de Lewandowski ter absolvido, ontem, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), da acusação de beneficiar a agência de publicidade de Marcos Valério com um contrato na Câmara em troca de R$ 50 mil. O ministro também votou pela absolvição do empresário – que em 2003 distribuiu milhões de reais a políticos do PT e outros partidos que apoiavam o governo Lula no Congresso - e de dois ex-sócios acusados de participar dos mesmos crimes atribuídos a João Paulo.
A indignação dos leitores, em primeiro lugar, não procede. Se um homem vai ser julgado, isto significa que pode ser absolvido ou condenado. Considerar que todo juiz está obrigado a condená-lo é o mesmo que instaurar um tribunal de execuções. Lewandowski tem o sagrado direito de absolver ladrões de milhões e condenar ladrões de merrecas e de uma dúzia de camarões. Para isso foi togado. Mas não é isto que está em jogo, e sim a visão abrangente do ministro.
Um homem que furta um farol de milha de uma moto ou fisga doze camarões ao arrepio da lei merece mesmo ser condenado. Que mais não seja por sua curta visão, ao arriscar a liberdade por centavos. É um mesquinho, de cérebro de minhoca. Outra coisa é pensar mais alto. Quem rouba 50 mil é pessoa que tem projetos, ambições.
Treze merrecas mal dá para comer um sanduíche. Cinqüenta mil reais já têm funções mais nobres: conforto da família, uma viagem à Europa, um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Roubar farol de milha é muita tacanhice. Já formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta é pensar grande. 
Uma coisa é apropriar-se de 13 reais. Isto até desmerece o Brasil no concerto das nações. Que país emergente é esse em que um cidadão arrisca sua liberdade por dois dólares? Merece cadeia mesmo. Outra coisa é uma generosa distribuição de renda entre os denodados políticos quem têm por missão administrar o país.
"Eu acho que o juiz não deve ter medo das críticas, porque o juiz vota ou julga com sua consciência e de acordo com as leis, não pode se pautar pela opinião pública", declarou hoje Lewandowski, após participar de uma audiência pública no STF. Não pode mesmo. O ministro é um homem corajoso. Apadrinhado pela mulher do capo di tutti i capi, ao medo sobrepõe a gratidão. Como dizia Hernández, nos conselhos do Viejo Vizcacha
Lo que más precisa el hombre
tener, según yo discurro,
es la memoria del burro,
que nunca olvida ande come. 
Como o burro de Fierro, Lewandowski não esquece onde come. No julgamento dos próximos réus, todos eles homens de larga visão e ligados ao partido do governo, terá inúmeras ocasiões de manifestar sua gratidão.
Ainda ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que fez acordo com o Grupo OK, do senador cassado Luiz Estevão, para o repasse à vista de R$ 80 milhões aos cofres públicos pelo desvio de recursos das obras do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP). Há 12 anos, Estevão foi acusado de fazer parte de uma rede de corrupção que entre 1994 e 1999 se apropriou de R$ 169 milhões destinados à construção de uma nova sede do Tribunal Regional de Trabalho de São Paulo. O valor total do acordo chega a R$ 468 milhões. Anunciado com estardalhaço como o "maior valor em casos de corrupção do Brasil e talvez do mundo", o dinheiro do acordo, no entanto, está longe de compensar o prejuízo de R$ 169 milhões - valor estimado nos anos 1990. Com correções, esse rombo seria de quase R$ 1 bilhão. 
O ex-senador não está preso nem precisa de habeas corpus. Com a nonchalance de um balconista que errou no troco, afirma que pagará os R$ 468 milhões à União. "Por incrível que pareça, embora eu negue o crime, é melhor eu pagar e tirar esse aprisionamento. Tem o ditado 'devo, não nego e pago quando puder'. Eu sou contrário: não devo, nego e pago sob coação".
Generoso, o Estevão. Pelo acordo, o ex-senador – cujo patrimônio ele próprio estima em R$ 20 bilhões - dará uma entrada de R$ 80 milhões e outras 96 parcelas de R$ 4 milhões. Argent de poche. Em troca, terá o processo que corre na Justiça suspenso e parte dos mais de 1.200 imóveis em seu nome serão liberados. E estamos conversados. Não se fala mais sobre o assunto. Ministro algum lembrou de exigir dos outros réus a devolução do farol de milha ou dos doze camarões.
Seja generoso como o ex-senador. Para não se incomodar com picuinhas, paga meio bilhão de reais. Mas não ouse roubar um farol de milha, furtar uma bermuda ou pescar uma dúzia de camarões ao arrepio da lei. 
Ministro que se preze pensa grande, abomina tais mesquinharias e as pune com todo o rigor da lei. 
Fonte: Janer Cristaldo
.

Na Boa, Véio! É Assim que Funciona!




COMENTO:  querem mais motivo para o incentivo à Campanha do Desarmamento?
.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Le Monde Olhando o Brasil

COMENTO:  quem se vira bem com o idioma francês pode conferir a íntegra da reportagem clicando no enlace da "Fonte".
.

Chegou!! Lançado o ORVIL


ORVIL - TENTATIVAS DE TOMADA DO PODER
UM LIVRO DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA
Há longo tempo inserido na Grande Rede, para livre consulta, cópia e download, o ORVIL não teve a repercussão nem a difusão desejadas pelos autores da louvável iniciativa (portal A Verdade Sufocada).
A finalidade da obra é divulgar a verdadeira história militar e do Brasil, para esclarecer e defender, particularmente o Exército, das mentiras e infâmias contidas na novela Amor e revolução, no livro de Paulo Vanucchi e no CD-ROM a ser distribuído aos alunos das escolas públicas do Ensino Médio. Considerando provocação e uma verdadeira agressão aos militares brasileiros, os autores tomaram a iniciativa de publicá-lo, uma vez que quem deveria fazê-lo se omitiu. 
O exemplar inicialmente disponibilizado na Internet apresenta-se digitalizado em pdf/imagem, com páginas contendo muitos carimbos,  fotografias bastante deterioradas e texto dito justificado, de incômoda leitura e de conversão complexa para ser editado.
Foi decidido, então, pelos Organizadores, mediante entendimento com os seus remanescentes legítimos participantes da obra – Comissão do CIE –, elaborar esta Edição Comemorativa ao 48º Aniversário da Contrarrevolução de 31 de Março de 1964.
Os exaustivos trabalhos de compilação para recuperação do extenso texto, das possíveis imagens, eliminação de carimbos, conversão e digitação, bem como das tarefas de diagramação e das revisões, estenderam-se por mais de um ano e meio, até a fase de apresentação à Editora para publicação.
O texto do ORVIL foi fielmente mantido, atualizado de acordo com a nova ortografia, sendo algumas fotografias substituídas por outras mais nítidas.
O livro ficou com 920 páginas, capa dura, formato 16,3×23, e contém, além do índice remissivo, extenso índice onomástico (índice de nomes) - que muito facilitará a vida dos pesquisadores - e os seguintes acréscimos:
Apresentação: Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Prefácio: General Geraldo Luiz Nery da Silva.
Breve Necrológio do General Del Nero (Coordenador e um dos escritores da Obra): General Valmir Fonseca Azevedo Pereira.
Palavras de um Amigo de Infância do General Del Nero: Deputado Nelson Marquezelli.
Epílogo: Brigadeiro Ivan Frota.
Contracapa: General Aricildes de Moraes Motta.
Organizadores: Tenente-Coronel Licio Maciel e Tenente José Conegundes do Nascimento.
Preço de Capa: R$ 72,00
Preço de Lançamento: R$ 50,00
O lançamento do livro no Rio de Janeiro ocorreu no Clube Militar, dia 20 Set 2012, às 16 horas.
Editora: Schoba
Lançamentos estão previstos para as seguintes cidades:
Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Rio de Janeiro, São Paulo, Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre e Santa Maria.
*****************************************************
Reserve já o seu exemplar na Livraria Resistência Cultural pelo e-mail:  liv.resistenciacultural@gmail.com ou pelo celular: (98) 8112-0138 .
Fonte:  texto adaptado do Blog do Lício Maciel
.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

L'Imperatore Capo! Die Nazi-capo! O Rei de Banânia!

por Manoel Pastana
"Juízes, Polícia, Ministério Público, advogados públicos. Porque eles têm um poder de chantagear os poderes públicos. E dizem: ou você faz isso ou a gente vai criar uma tremenda encrenca." 
(Corregedor-Geral do MPF, Eugênio Aragão, falando sobre "chantagem" para aumento de salário)
Vive-se um momento histórico com o julgamento do Mensalão. Isso todo mundo sabe. O que quase ninguém sabe é que as provas são escassas. Contra José Dirceu, apontado como o líder do esquema criminoso, não existem provas, apenas indícios e meras conjecturas. Por meio deste artigo, mostrarei, entre outras coisas - como a explicação para a declaração transcrita acima - a razão da carência de provas no processo Mensalão.
Por que o então procurador-geral da República (PGR), Antonio Fernando, autor da denúncia do Mensalão, não foi sequer criticado por petista algum do alto escalão, apesar de ter imputado ao PT a tentativa de perpetuação no poder, por meio de "sofisticada organização criminosa? Além disso, ele "acusou" de chefe da organização, José Dirceu, um dos expoentes do partido situacionista e amigo pessoal de Lula. Antonio Fernando não sofreu crítica e ainda foi reconduzido no cargo pelo ex-Presidente Lula. Será que Lula e os caciques petistas nada fizeram contra Antonio Fernando porque compreenderam que ele apenas cumpriu o seu dever legal? Quem acredita nessa hipótese, provavelmente também acredita em Papai Noel, Saci Pererê, Mula sem cabeça, duendes...
Peço escusas pela ironia, mas é que a situação é muito séria e procuro amenizar para facilitar a leitura. Assinalo que eu não seria irresponsável de escrever sem conhecimento de causa, pois tenho um nome e um cargo a zelar (sou procurador da República e estou na ativa). Há 31 anos encontro-me no serviço público, ocupei diversos cargos, todos conquistados por concurso. Aliás, só na área jurídica, passei em seis concursos, sendo três em primeiro lugar.
As evidências mostram que a imputação de Antonio Fernando na denúncia do Mensalão não é inverídica. Caso fosse, certamente ele teria sofrido terríveis ataques e jamais seria reconduzido. Mas não foi o fato de a imputação ser verídica que nada fizeram contra ele, pois eu fiz acusação verídica contra um integrante do PT, que resultou na primeira cassação do mandato de um parlamentar federal do referido partido, fato ocorrido no início do Governo Lula, e minha vida virou um inferno. Sofri covarde e doentia perseguição dentro e fora do Ministério Público Federal (MPF).
No meu entendimento, o que fez Antonio Fernando não sofrer nenhuma represália foi ter deixado Lula fora do rol acusatório, apesar de ele ter assinado atos normativos e documentos, escandalosamente destinados a fomentar o esquema criminoso.
Entre os vários fatos praticados por Lula que beneficiaram o esquema criminoso, consta o envio, em 2004, de mais de 10 milhões de cartas (assinadas por Lula) a aposentados, incentivando-os a tomar empréstimos consignados em folha de pagamento, que proporcionaram lucros fantásticos ao banco BMG que, segundo a denúncia, foi uma das instituições financeiras que participou da "sofisticada organização criminosa". Só para se ter uma ideia, o referido banco, com apenas 10 agências e em curto espaço de tempo, fez milhares de empréstimos a aposentados, faturando quantia superior a três bilhões de reais, ganhando da Caixa Econômica Federal, com suas mais de duas mil agências. Na formalização do convênio que beneficiou o BMG, passaram por cima de tudo, inclusive, exoneraram uma servidora do INSS que se recusou a publicar o fraudulento convênio celebrado em tempo recorde.
A ausência de Lula na peça acusatória enfraqueceu demasiadamente a denúncia, pois o que também deveria ser atribuído a ele foi imputado exclusivamente a José Dirceu. Ocorre que este, ao contrário de Lula, não assinou documento algum, sequer um bilhete. Assim, não há nenhuma prova no processo que aponte a participação do ex-chefe da Casa Civil. O que há são frágeis indícios e meras conjecturas de forma que o Supremo Tribunal Federal (STF) terá que mudar totalmente a sua jurisprudência para poder alcançá-lo. É por isso que a defesa insiste tanto que o julgamento seja técnico, pois juridicamente é quase impossível condená-lo. Faltam provas.
Para condenar José Dirceu, alegou-se a aplicação da teoria do domínio do fato, que é adotada pela maioria dos países democráticos. Ocorre que a aplicação dessa teoria não dispensa a produção de provas; caso contrário, estar-se-ia orbitando na seara da responsabilidade penal objetiva, que é repelida pelo ordenamento jurídico dos países democráticos, incluindo o Brasil.
Antonio Fernando, além de deixar o ex-Presidente da República fora da acusação, inviabilizou a produção de provas efetivas (e não meras conjecturas), aptas a comprovar a existência da "sofisticada organização criminosa". Vou indicar alguns itens (são muitos) que apontam nessa direção:
1 - Marcos Valério destruiu provas (queimou notas fiscais), 19 membros da CPMI (tinha 20 membros) solicitaram a Antonio Fernando que pedisse a prisão dele. Antonio Fernando não o fez, alegando que não havia elementos e nem necessidade da prisão. Nos meus 16 anos de atuação no MPF na área criminal, nunca vi um investigado que tenha dado tanto motivo para ser preso e não foi.
2 – A esposa de Valério foi flagrada tentando sacar milionária quantia junto a um banco em Belo Horizonte. Desesperado, o "operador do Mensalão" procurou Antonio Fernando e se colocou à disposição para colaborar nas investigações, objetivando os benefícios da delação premiada (estava com muito medo de ser preso, juntamente com a esposa). Antonio Fernando recusou a colaboração de Valério, alegando que a delação seria "prematura e inoportuna". Tudo indica que ele não queria que Valério falasse. A título de informação, a queda do ex-governador do DF (José Arruda) somente foi possível graças à colaboração de Durval Barbosa (operador do mensalão do DEM) que, beneficiado pela delação premiada, entregou provas que derrubaram o ex-governador. Se não fosse isso, Arruda jamais teria caído.
3 - Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, em entrevista a um jornal de grande circulação, disse que Marcos Valério lhe afirmara que, se ele (Valério) falasse o que sabia, derrubaria a República. Em vez de Antonio Fernando propor delação premiada ao ex-secretário, cujo nome é repetido na denúncia 50 vezes, propôs a ele suspensão do processo em troca de prestação de serviço à comunidade o que, obviamente, foi prontamente aceito e Sílvio Pereira ficou fora do processo, não tendo que prestar depoimento. Para um bom entendedor...
4 - Para sepultar de vez a possibilidade de produzir provas efetivas que demonstrassem, juridicamente, a existência da "sofisticada organização criminosa", Antonio Fernando, em vez de arrolar Roberto Jefferson como testemunha, uma vez que foi quem levou a público o esquema criminoso, ou então propusesse a ele a delação premiada, preferiu apenas acusá-lo. Assim, na condição de réu, sua palavra tem pouco valor para incriminar José Dirceu.
5 - Curiosamente, nas alegações finais, o atual PGR, Roberto Gurgel, por diversas vezes, utiliza os depoimentos de Jefferson "como prova" do envolvimento de José Dirceu. Por exemplo, à fl. 44, item 72, das alegações finais apresentadas por Gurgel, ele transcreve trecho do depoimento de Jefferson, no qual este afirma que, em 2005, Dirceu teria lhe dito que, juntamente com Lula, recebeu um grupo da Portugal Telecom para tratar do adiantamento de oito milhões de euros que seriam repartidos entre o PT e o PTB. Veja-se trecho da declaração de Jefferson transcrito nas alegações finais por Gurgel:
"QUE em um encontro com JOSÉ DIRCEU na Casa Civil ocorrido no início de janeiro de 2005, o então ministro afirmou que havia recebido, juntamente com o Presidente Lula, um grupo da Portugal TELECOM e o Banco Espírito Santo que estariam em negociações com o Governo brasileiro (...)".
6 - Ora, se esse depoimento de Jefferson é verdadeiro e pode ser utilizado como prova, conforme entende o PGR, considerando que Lula participou da reunião, por que ele não foi acusado? A presença de Lula na trama para angariar recursos com a Portugal TELECOM era meramente figurativa, uma espécie de boneco ambulante, totalmente manipulado e dominado por José Dirceu, por isso o ex-Presidente da República não fora acusado? Ainda que essa hipótese fosse verdadeira, pelo artigo 29 do Código Penal, Lula deveria figurar no rol dos acusados.
O ex-PGR Antonio Fernando, assim como o atual, Roberto Gurgel, pertencem ao grupo tuiuiú. Tuiuiú é uma ave do Pantanal que tem dificuldade para alçar voo. É assim que se consideravam alguns procuradores na época do ex-PGR Geraldo Brindeiro e, por isso, eles mesmos se denominaram de tuiuiú. Os tuiuiús são extremamente afinados com o PT. O grupo chegou ao poder com Claudio Fonteles, primeiro PGR nomeado por Lula. Fonteles foi ferrenho defensor de Lula (e do PT). Perseguiu impiedosamente procuradores que de alguma forma tentaram investigar/processar (de verdade e não por faz de conta) integrantes do Partido do governo. Por exemplo, um pouco antes de vir a público o escândalo do Mensalão, um procurador tentou obter de Carlinhos Cachoeira um vídeo que poderia alcançar Dirceu, então chefe da Casa Civil. Cachoeira gravou o procurador e o caso foi a público.
O procurador sofreu terrível perseguição dos tuiuiús, sob a alegação de que não poderia ter ouvido Cachoeira à noite. Depois de escapar da estapafúrdia acusação, o procurador pediu exoneração do MPF, faltando pouco tempo para a aposentadoria. Foram vários procuradores que sofreram perseguição. Por outro lado, outros foram favorecidos. Por exemplo, um procurador, que costumava ocupar espaço na mídia acusando integrantes do governo FHC, solicitou "ajuda financeira" a diversas empresas. Para tanto, utilizou uma estagiária da Procuradoria que enviava ofícios às empresas beneficiadas com o trabalho institucional do MPF. O procurador em questão chegou a receber dinheiro de Daniel Dantas. Tudo foi devidamente comprovado, mas ele nunca foi responsabilizado.
Fonteles, sem nenhum amparo legal, por meio da portaria "reservada" nº 628, de 20 de outubro de 2004, criou um disfarçado serviço de inteligência no MPF; concedeu função gratificada a pessoas sem vínculo com a Administração Pública como, por exemplo, para que um garçom cursasse faculdade, Fonteles deu a ele uma função gratificada, à revelia da lei. Apesar de Claudio Fonteles ter agido como um soberano, ignorando as restrições legais, algumas vezes ele recuava. Por exemplo, os tuiuiús queriam mandar embora um procurador novato que caiu na antipatia deles. Na votação no Conselho Superior do MPF, Fonteles, como presidente do Colegiado, chegou a votar duas vezes para destruir a carreira do procurador, mas desistiu, pressionado por conselheiros que apontavam a flagrante violação à lei.
Os sucessores, Antonio Fernando e Roberto Gurgel, são mais ousados do que Fonteles. Eles não recuam. Em agosto de 2004, Fonteles queria promover a subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão, procurador que passara os últimos anos no exterior cursando doutorado. Pelas regras da promoção por merecimento, as chances do referido procurador seriam ínfimas, pois os procuradores concorrentes permaneceram na batente do serviço, enquanto que o preferido de Fonteles estudava na Alemanha.
Fonteles colocou a promoção para votação às pressas porque, pouco tempo depois, os tuiuiús ficariam em minoria no Conselho Superior, onde é realizada a votação. Membros do Conselho que não faziam parte do grupo dos tuiuiús promoveram questão de ordem, exigindo o cumprimento da lei.
Diante da embaraçosa situação, Claudio Fonteles recuou, mas Antonio Fernando e Roberto Gurgel não. Depois de muita discussão, uma conselheira, que não fazia parte do grupo tuiuiús, pediu vista do processo. Tal pedido acabava com a pretensão de promover Eugênio Aragão, pois quando o processo voltasse a julgamento, os tuiuiús, que na época tinham seis membros no Conselho (o colegiado tem 10 integrantes), estariam em minoria, pois, logo em seguida, haveria (como de fato houve) renovação na composição do Conselho e dois novos membros, não pertencentes ao grupo tuiuiú, tomariam o lugar de dois tuiuiús.
Para possibilitar o imediato "julgamento" do processo de promoção, Antonio Fernando e Roberto Gurgel tiveram a "brilhante" ideia de submeter o pedido de vista à votação. Isso mesmo. Violando flagrantemente o regimento interno do Conselho, que permite vista em qualquer processo, eles alegaram que em processo de promoção não é possível pedido de vista. Realizada a votação, por seis votos (exatamente os seis tuiuiús) a quadro, decidiram que não caberia pedido de vista em processo de promoção. Um absurdo.
Negado o pedido de vista, o processo foi posto em votação e o preferido de Fonteles, Eugênio Aragão, restou promovido. O escandaloso fato ocorreu na Sexta Sessão Ordinária de 2004, do Conselho Superior do MPF.
Em novembro de 2005, a imprensa noticiou que Eugênio Aragão e o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça, na época, sob a tutela de Márcio Thomaz Bastos, o mesmo que depois se tornou defensor do Carlinhos Cachoeira, influenciaram autoridades americanas para não fornecerem à PF documentos relativos à movimentação financeira de Duda Mendonça no exterior, investigado no inquérito do Mensalão.
O relatório que informava a atuação de Eugênio Aragão atrapalhando as investigações da PF foi assinado por quatro delegados e dois peritos. Instaurou-se o inquérito administrativo nº 1.00.001.000116/2006-87 contra Eugênio, mas a comissão concluiu que não havia provas para puni-lo. O relator do inquérito no Conselho entendeu que havia provas, mas ocorreu a prescrição.
Eugênio Aragão atualmente é corregedor-geral do MPF. Ele, como todo tuiuiú, ocupa poleiro alto na cúpula da Instituição e é bastante afinado com o Governo. Ano passado, logo após assumir como corregedor, deixou transparecer (exceção, pois os tuiuiús costumam disfarçar muito bem) o afinamento com a situação. Por causa do movimento em prol de aumento de salário, ele disse que juízes, policiais, membros do Ministério Público e advogados públicos chantageiam o Estado. Vejamos trecho da entrevista do referido tuiuiú:
"A Polícia Federal e o Ministério Público, o Judiciário, os Auditores Fiscais. As carreiras que hoje têm poder de pressão sobre o Estado e sobre suas instituições são as que mais são valorizadas. Ou seja, juízes, Polícia, Ministério Público, advogados públicos. Porque eles têm um poder de chantagear os poderes públicos. E dizem: ou você faz isso ou a gente vai criar uma tremenda encrenca."
Eugênio Aragão é um tuiuiú que não sabe disfarçar como os outros sabem. Assim, pelo fato de ele não saber disfarçar, não foi reeleito para o Conselho Superior do MPF. Coisa rara, pois é muito difícil um tuiuiú perder uma eleição. Para se ter uma ideia, a Constituição Federal não prevê eleição para escolha do procurador-geral da República. Todavia, os "democráticos" tuiuiús inventaram uma eleição que escolhe três nomes para "ajudar" o Presidente da República na nomeação do procurador-geral. Até hoje, todos os que ficaram em primeiro lugar na lista de votação foram nomeados procurador-geral. Um detalhe interessante é que só são eleitos tuiuiús  o primeiro lugar da lista é sempre o procurador-geral que está no cargo ou quem ele indique.
Embora Eugênio Aragão tenha perdido a eleição para o Conselho no ano passado, ficou pouco tempo sem cargo elevado na cúpula do MPF. Dois meses depois, foi nomeado corregedor-geral. Os tuiuiús  transformaram a cúpula do MPF em propriedade particular. Quem não é tuiuiú ou simpatizante do grupo não tem vez. Eles ocupam todas as funções da cúpula, bem como onde o MPF tem representação como no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A audácia é tão grande que até o filho do Antonio Fernando foi assessor de uma conselheira do CNMP. Ou seja, o órgão Colegiado que tem a missão de combater o nepotismo abrigava como assessor o filho do Presidente.
Aliás, a exemplo do filho do Lula que parece ser um fenômeno nos negócios, o filho de Antonio Fernando é um fenômeno no serviço público. Isso porque, quando terminou o mandato do pai no CNMP, ele ocupou o cargo de assessor no Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e quem o nomeou foi o então procurador-geral, Leonardo Bandarra, que hoje está afastado da função, acusado de corrupção. Mas o menino prodígio não ficou por muito tempo no MPDFT, alçou voo e foi ser assessor na Vice-Procuradoria-Geral Eleitoral, onde reina a tuiuiú Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral. Se os tuiuiús continuarem no poder, esse rapaz vai muito longe...
A "briguinha" entre petistas e tuiuiús, que a imprensa tem divulgado ultimamente, tudo indica, é só aparência. Na prática, a realidade é outra. Citarei alguns episódios, entre muitos ocorridos, que evidenciam essa hipótese. Vários procuradores da República pediram ao PGR, Roberto Gurgel, que arguisse a suspeição do ministro Dias Toffoli. Apesar da notoriedade da suspeição (e até mesmo do impedimento), Gurgel preferiu não arguir "para não atrasar o julgamento". Ora, o MPF, além de titular da ação penal, é fiscal da lei. Assim, tem o dever de agir de acordo com a ordem jurídica.
Com efeito, o PGR jamais deveria silenciar diante de hipóteses indicativas de parcialidade do julgador (suspeição e impedimento são hipóteses legais que indicam parcialidade), mormente em caso tão importante. A possibilidade de atraso no julgamento não justifica o descumprimento da lei. Daí, como a norma prevê que determinadas situações importam em comprometimento da imparcialidade do julgador, o fiscal da lei não pode se omitir, ainda que sua atuação resulte em "atraso no julgamento". Atraso, aliás, que seria pequeno (no máximo alguns dias), insignificante diante da dúvida eterna que pairará sobre a imparcialidade não aferida pela Corte.
No final da "sustentação oral" na Ação Penal do Mensalão, o PGR, Roberto Gurgel, pediu a expedição de mandados de prisão, imediatamente após o julgamento. Ora, Gurgel, assim como qualquer estudante de Direito, sabe que a Constituição Federal alberga o princípio da presunção de inocência, isso quer dizer que o condenado só pode ser preso, após o trânsito em julgado da decisão condenatória. Apesar de o STF ser a última instância do Judiciário, as suas decisões estão submetidas ao mesmo princípio constitucional, ou seja, elas também devem passar pelo crivo do trânsito em julgado para serem executadas.
Assim, o trânsito em julgado não ocorre com o fim do julgamento, uma vez que depende da publicação do acórdão e dá ausência de recurso (mesmo perante o STF, é cabível recurso após qualquer julgamento). Dessa forma, caso houvesse, de fato, interesse na prisão dos acusados, principalmente, a de José Dirceu, Gurgel justificaria o pedido, fundamentando a pretensão no artigo 312 do Código de Processo Penal (assegurar a aplicação da lei penal). Assinalo que não seria difícil justificar essa hipótese.
Roberto Gurgel tão somente pediu a emissão de mandado de prisão, sem sequer apresentar justificativa alguma. Agiu como o seu antecessor (Antonio Fernando), que fez de tudo para não pedir a prisão de Marcos Valério, quando ele destruía provas. Depois, ao ofertar a denúncia, sem justificativa alguma, pediu a prisão de todos os acusados, sabedor de que jamais seria decretada, pois seria impossível realizar a instrução processual com elevado número de acusados presos. Sabia que o STF iria negar, como de fato negou. Ou seja, deixou de cumprir a lei, pois deveria ter pedido a prisão de Valério no momento oportuno e ainda jogou para a galera, requerendo decreto prisional em momento inoportuno, deixando a impressão de que ele fez a sua parte, mas o STF não quis prender. É muita...
São incontáveis os casos que demonstram a extrema ousadia de os tuiuiús "justificarem" suas extravagantes atitudes. Vou contar mais um caso que ocorreu recentemente. Roberto Gurgel engavetou o Inquérito policial 042/2008 (Operação Vegas) por quase três anos. Instado pela CPMI a justificar a omissão, ele respondeu, por escrito, invocando os princípios da operação controlada (hipótese prevista na Lei 9.034, art. 2º, inciso II, que permite o retardo da atuação policial), ou seja, o engavetamento, na justificativa de Gurgel, não foi omissão, mas sim "ação controlada". Curioso é que somente ele e a sua esposa, que é subprocuradora-geral da República e o auxilia nos casos mais importantes, sabiam da "operação controlada". O STF não sabia, a Polícia Federal não sabia, os procuradores da República que atuam na primeira instância e o juiz federal também não sabiam. Só o casal sabia da "operação controlada".
Incrível é que Gurgel ainda teve a coragem de dizer que, graças à sua "estratégia" (de engavetar o inquérito), o esquema criminoso de Cachoeira foi desvendado. Veja-se o que ele disse no ofício encaminhado ao presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo: "Se assim não tivesse agido a Procuradoria Geral da República, não se teria desvendado o grande esquema criminoso protagonizado por Carlos Cachoeira." Ora, a operação que resultou na prisão de Cachoeira ocorreu em outra investigação (Operação Monte Carlo – inquérito policial 089/2011), instaurada porque Gurgel engavetou a primeira investigação (Operação Vegas – inquérito policial 042/2008). A título de informação, não acredito que o engavetamento da investigação foi para favorecer o ex-senador Demóstenes Torres. A intenção, com certeza, foi outra...
Peço desculpas pela extensão do texto, mas o assunto é muito importante para ser tratado em poucas linhas. Enfatizo que escrevi o mínimo, pois as barbaridades praticadas pelos tuiuiús são inúmeras. Eles sabem dissimular muito bem. Comportam-se como se fossem serenos, equilibrados, justos. Na verdade, praticam verdadeiras atrocidades, seja perseguindo, seja favorecendo. Eles são extremamente ousados, basta ver que Gurgel engavetou a Operação Vegas por longo tempo e ainda teve a ousadia de dizer que se tratava de "operação controlada" e, graças à sua "estratégia", o esquema de Cachoeira foi desvendado. O mesmo eles estão fazendo com o Mensalão. Deixaram Lula fora da acusação e fizeram de tudo para não produzir provas; porém, caso o STF condene mesmo sem provas, eles cantarão vitória e dirão que a condenação ocorreu graças ao trabalho deles. Contudo, se o STF mantiver a sua jurisprudência e absolver, os tuiuiús dirão que a culpa é do Supremo que não pune.
Concluo este artigo dizendo que não inventei nada (tenho prova de tudo que afirmo), inclusive ofertei representação contra o ex-PGR Antonio Fernando, pelo fato de ele não ter incluído Lula na denúncia, apesar da abundância de provas contra o ex-Presidente da República. Os tuiuiús arquivaram a minha representação sob pífios argumentos. Posteriormente, em abril de 2011, representei ao PGR, Roberto Gurgel, contra o ex-Presidente Lula. Curioso é que, em determinados casos, Gurgel age rápido. Por exemplo, ele recebeu uma representação contra um procurador que é odiado pelos tuiuiús. Imediatamente ele despachou, designando um procurador para tomar as medidas criminais contra o procurador perseguido.
No caso da representação que fiz contra Lula, Gurgel engavetou por um ano e dois meses. Depois de eu muito insistir sobre o andamento da representação, ele me enviou ofício, informando que a arquivou porque os fatos que imputo a Lula estão sendo apurados no inquérito 2.474, em trâmite no STF. Esse inquérito, que tem pertinência com o esquema do Mensalão, tramita no Supremo desde março de 2007.
Manoel Pastana é Autor do livro autobiográfico
 De Faxineiro a Procurador da República
Fonte:  Fique Alerta
COMENTO:  o texto é longo e o autor usou um tema atualmente em destaque para apresentar graves denúncias contra o sistema do MPF. Como ele mesmo afirma, não apresentaria tais dados sem estar embasado em provas. Em resumo, afirma que o processo e julgamento do MENSALÃO não passa de uma grande pantomima com teatrais jogos de cena já ensaiados para, mais uma vez, enganar a platéia, ou patuléia. E seus argumentos nos deixam cada vez mais certos de que o Mensalão, ao final, resultará em uma enorme e caríssima pizza! Que você ajudará a pagar!
.