domingo, 5 de dezembro de 2010

Quem Conhece os Amigos Que Tem, Tem Medo.

por José Ernesto Credencio
Editoria de Arte/Folhapress 
Documentos sigilosos do Ministério da Justiça obtidos pela Folha desmentem a versão do Itamaraty de que o Brasil não estava preocupado com ações de terrorismo por ocasião da realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, organizados pelo Rio.
Os papéis agora descobertos mostram que o governo se equipou contra terroristas, diferentemente da versão oficial que fez circular.
"Organizações terroristas, que se utilizam de eventos dessa natureza para chamar a atenção da opinião pública internacional podem se aproveitar desse espaço para promover a instabilidade do evento", diz o documento.
A atitude do governo brasileiro com relação à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, que também serão realizados no país, é idêntica, como confirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Na terça-feira, a Folha revelou que, segundo telegrama da embaixada americana em Brasília, integrantes do Itamaraty admitiram a possibilidade de um ataque terrorista durante a Olimpíada. Os papéis foram reunidos pelo site WikiLeaks.
Indagado sobre os documentos confidenciais, Amorim confirmou a preocupação séria com ataques. "Sim, estamos muito preocupados com o terrorismo", disse.
Os documentos do Ministério da Justiça sobre o esquema de segurança do Pan do Rio, com timbre "confidencial", provam que o governo tentou camuflar essa preocupação há três anos.
Um dos tópicos trata especificamente da delegação dos EUA. O Pan, diz o papel, desperta "possível interesses dos países conhecidos como hostis aos EUA, podendo haver atentados durante a realização dos Jogos".
A preocupação não ficou só no papel. O Ministério da Justiça gastou R$ 8,1 milhões no Pan somente com o subsistema de inteligência voltado ao monitoramento de possíveis ataques terroristas.
O item "banco de dados grupos terroristas/eventos internacionais" custou R$ 894 mil. Foi contratado ainda um sistema de interceptação de mensagens — pela internet e por telefone — para identificar palavras que pudessem estar associadas a possíveis atentados.
As centenas de páginas de documentos integram o processo de contratação do Consórcio Integração Pan, sem licitação, por R$ 161 milhões.
O consórcio, liderado pela Motorola, incluía a Digitro Tecnologia, dona do Guardião, sistema de grampos telefônicos usados no país.
Também estava no consórcio a ISDS (International Security & Defense Systems), empresa israelense cujo portfólio destaca mecanismos de combate ao terror.
COMENTO:  vejamos então. É salutar a preocupação com atos terroristas que possam a vir ser tentados pelos 'cumpanhêrus das diversas "forças beligerantes"  que vulgarmente conhecemos como 'terroristas'. Amigos, amigos, ações terroristas à parte, já dizia o poeta Mono Jojoy. Mas o que interessa, neste caso, é que o fabuloso espetáculo do Pan-2007, orçado inicialmente em R$ 410 milhões (em 2002) e que acabou consumindo mais de R$ 3,7 bilhões — e cuja prestação de contas não foi devidamente esclarecida até agora —, incluiu entre seus gastos R$ 8,1 milhões com segurança, mais um contrato de R$ 161 milhões para monitoramento de telefones celulares e mensagens da internet, em busca de palavras que pudessem estar associadas a possíveis atentados (vulgarmente conhecidas como 'palavras-chave'). O que isso significa? Significa que "todas as mensagens via internet e/ou telefones celulares trocadas na ocasião pelos cidadãos brasileiros foram 'grampeadas' e analisadas sem ordem judicial ou qualquer outra bobagem do gênero". Ou haverá outra forma de se 'buscar palavras-chave' nas comunicações ocorridas na época? Pior, o destaque dado pelo jornal limita-se à preocupação com terrorismo. O sigilo das comunicações, tão preocupante quando se trata de investigações policiais foi simplesmente  ou convenientemente "esquecido"! Essa é a nossa imprensa investigativa!!
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