sábado, 22 de agosto de 2009

A "Segunda Revolução Americana" Já Começou

por Gerald Celente
KINGSTON, NY — Os nativos estão inquietos. O terceiro tiro da "Segunda Revolução Americana" já foi disparado. A história está sendo feita. Mas tal como os dois primeiros tiros, o terceiro tiro não está sendo ouvido. 
A América está fervilhando. Desde a Guerra Civil nada comparável a isto jamais aconteceu. Porém, os protestos ou estão sendo intencionalmente minorados ou simplesmente mal interpretados.
O primeiro tiro foi disparado em 15 de abril de 2009. Mais de 700 comícios anti-tributação e tea parties [1] irromperam por todo o país. Ao invés de reconhecer a sua importância, a mídia em geral ou ignorou ou ridicularizou tanto protestos quanto manifestantes, jogando com a expressão tea bagging [2] por sua conotação sexual.
Inicialmente, o presidente Obama disse que não tinha conhecimento das tea parties. Em seguida, a Casa Branca alertou que elas poderiam "transformar-se" em algo "insalubre".
O tiro número dois foi disparado no quatro de julho quando multidões de cidadãos reuniram-se por todo o país para protestar novamente contra a "tributação sem representação". E, como antes, as manifestações foram rotuladas de travessuras de direita e descartadas.
A terceira descarga, disparada no início de agosto, foi mirada bem de perto contra senadores e deputados que empurravam o pacote de reformas do sistema de saúde proposto pelo presidente Obama aos seus eleitores. Em inflamadas audiências públicas, cidadãos furiosos, aos berros, reduziram seus representantes eleitos ao silêncio. A presença de um grande número de policiais e/ou de guarda-costas corpulentos foi necessária para preservar um espaço físico seguro entre políticos e o povo enfurecido.
A Casa Branca e os meios de comunicação rotularam os manifestantes de "elementos marginais ao movimento conservador" ou de atores de espetáculos organizados por agentes do Partido Republicano encorajados pela Fox News e por apresentadores de programas de rádio de direita.
Em relação a esta última onda de irrupções, as empresas de plano de saúde, cujos interesses são opostos a qualquer reforma, também estão sendo responsabilizadas por incitar o público. A questão, porém, não é saber se os protestos são organizados ou espontâneos. Embora a maioria dos manifestantes mostre ter pouco entendimento do documento de 1.000 páginas sobre a reforma do sistema de saúde (documento que nem um único legislador leu), o que eles sentem é claramente verdadeiro e nada teatral.
Com ou sem razão, a legislação é considerada como mais uma gota no já transbordante copo d'água. Dinheiro público foi usado para salvar empresas quebradas, ações majoritárias foram compradas e pacotes de resgate e de estímulo financeiro foram lançados  isto é, uma série de medidas gigantescas, impopulares, impostas pelo governo, mas financiadas pelos contribuintes, foram socadas goela abaixo dos americanos. Sem uma tribuna pública para dar voz à sua oposição a tudo isso, os cidadãos viram suas opções limitadas a petições infrutíferas, mensagens eletrônicas e ligações telefônicas para o congresso, as quais foram todas respondidas por funcionariozinhos subalternos.
Agora, com o recesso do senado e da câmara e os representantes eleitos perto das suas bases, o povo está explodindo. O diabo não está nos detalhes da reforma dos planos de saúde; o diabo é o governo tornar os planos de saúde obrigatórios. Independentemente da forma como o plano é vendido ou do que está sendo prometido, para os cidadãos, a legislação é mais um caso em que o governo arranca um pedaço de suas vidas, fazendo-os pagar por isso; é o governo mais uma vez dizendo o que o povo pode ou não fazer.
Embora ainda nas suas fases iniciais, a "Segunda Revolução Americana" já está em curso. No entanto, isto que nós prevemos se tornará a mais profunda tendência política do século. A tendência que vai mudar o mundo — ainda é invisível para aqueles mesmos experts, autoridades e comentaristas que só viram a crise financeira chegar no momento em que o fundo da economia cedeu.
Previsão de tendência: as condições continuarão a deteriorar-se. A economia global é uma doente em fase terminal. A recessão está numa breve remissão e não nas fases iniciais de recuperação. Dinheiro barato, crédito fácil, empréstimo irrestrito causaram uma crise econômica que não pode ser curada por políticas monetárias e fiscais que promovem mais dinheiro barato, crédito fácil e empréstimo irrestrito.
No entanto, Washington continuará a intervir, tributar e exercer controle. Os protestos vão intensificar-se e motins se seguirão.
Quarto tiro da "Segunda Revolução Americana": embora existam muitos fatores incógnitos que poderiam acender o pavio, o Trends Research Institute [Instituto de Pesquisa de Tendências] prevê que, se a ameaça de vacinação obrigatória contra a gripe suína for cumprida, ela é que será o quarto tiro. Dezenas de milhões de pessoas vão lutar pelo seu direito de permanecer livres e não-vacinadas.
Nota do editor: o poder da internet e das novas tecnologias está inexoravelmente fermentando a "Segunda Revolução Americana". Mesmo que generalizados e carregados de emoção, se os comícios contra os impostos, as tea parties e os protestos contra a reforma do sistema de saúde tivessem ocorrido anos atrás, eles poderiam ter ganhado a cobertura da mídia local, mas talvez não conseguissem aparecer nas manchetes dos noticiários nacionais, e já teriam nascido mortos.
Agora, com o onipresente celular equipado com câmera, o acesso universal ao YouTube, e os milhões de twitters e tweets, as revoltas não podem ser ignoradas, contidas, geridas, distorcidas ou editadas desfavoravelmente. O fervor revolucionário vai provar-se contagioso.
Existe algo que pode detê-lo?
Previsão de tendência: antes de o ímpeto da "Segunda Revolução Americana" tornar-se irresistível, ele poderia ser descarrilado por meio de um acontecimento false flag [3] para enganar o público, ou por meio de uma crise ou acontecimento genuínos, capazes de mobilizar toda a nação sob a liderança do presidente. Na pior das hipóteses, o diretor do Instituto de Pesquisa de Tendências, Gerald Celente, prevê: "Dado o padrão dos governos de apostar em fracassos notórios para gerar mega-fracassos, a tendência clássica que eles seguem é a de fazer seus países entrar em guerra quando tudo o mais tiver falhado". 
Um atentado false flag, uma crise verdadeira, ou uma declaração de guerra podem retardar o ritmo da "Segunda Revolução Americana", mas nada vai detê-la.
Publicado originalmente em Infowars
Tradução: Alessandro Cota
Notas do tradutor:
[1] Tea party, ou festa do chá, é como os conservadores americanos têm chamado seus protestos contra a expansão do governo, a criação e o aumento de impostos. A expressão tea party faz referência à Boston Tea Party, assim definida pelo The Century Dictionary: "Um nome humorístico dado a uma ação revolucionária ocorrida em Boston, em 16 de dezembro de 1772, em protesto contra a tributação do chá imposta pelo governo britânico às colônias americanas. Cerca de cinqüenta homens disfarçados de índios subiram a bordo de navios carregados de chá que estavam atracados no porto e atiraram a carga ao mar". Dwight Whitney, William. The Century Dictionary: An Encyclopedic Lexicon of English Language. New York, The Century Co., 1891, v. VI, p. 6206.
[2] A expressão tea bagging vem do verbo to tea bag, um eufemismo sexual assim definido pelo Contemporary Dictionary of Sexual Euphemisms, de Jordan Tate, na página 103: "puxar os testículos para dentro da boca através de movimentos da língua que criam sucção. (...) A gíria tea bag muito provavelmente originou-se da prática britânica de colocar o restante do saquinho de chá na boca depois de terminar de tomar a bebida para chupar as últimas poucas (e geralmente potentes) gotas da infusão. O uso de tea bag referindo-se aos testículos não é prática recente e originou-se no início do século vinte devido à similaridade do formato de ambos quando molhados (já que o saquinho de chá molhado tem uma aparência meio caída devido ao assentamento das folhas). Tate, Jordan. Contemporary Dictionary of Sexual Euphemisms. Macmillan, 2007, p. 103.
[3] A expressão false flag, bandeira falsa, denota uma tática em que a fraude é utilizada como meio para a obtenção de objetivos militares ou políticos. Segundo o Dictionary of Politics (Brunswick, 1992, p.162) de Walter John Raymond, false flag é "uma prática comum entre oficiais de inteligência que consiste em tentar recrutar agentes para fins de espionagem por meios fraudulentos (por exemplo, nunca revelando o estado ou a agência que o agente recrutador representa e, em lugar disso, fazendo os recrutados acreditarem que o agente representa um outro estado ou organização). A KGB soviética, por exemplo, freqüentemente usava esta tática, fazendo os recrutados acreditar que eles representavam antes uma organização pacifista no ocidente do que um serviço de inteligência." Nem sempre o recrutamento de pessoas é o objetivo, a false flag operation, segundo o Army Dictionary and Desk Reference (Stackpole Books, 2004, p. 90) é "uma operação que se apresenta como alinhada ou simpática a forças que se opõem aos verdadeiros aliados da operação."

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