sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cabo do Exército Odílio Cruz Rosa

UM HERÓI DO ARAGUAIA
Cabo Odílio Cruz Rosa
Hás de voltar, meu filho! E não voltaste.
Pelo bem do País que tanto amaste
o teu corpo caiu, morreu teu passo.
De tua mocidade generosa
ficou somente a farda gloriosa
tinta de sangue. E o capacete de aço.
Tua mãe chora sempre a tua falta.
Árvore frágil para ser tão alta,
a precisão de um tiro traiçoeiro te cortou
as promessas risonhas de fartura,
o desejo de glória ou de ventura,
o civismo sem par que te abrasou
(Oliveira Ribeiro Neto)
Jorge Alberto Forrer Garcia
Coronel R1
Um preito de reconhecimento.
Aprendi, desde as primeiras letras e ainda nos bancos da catequese, que todas as pessoas são iguais em essência. Por isso, ao acompanhar o noticiário sobre a busca de ossadas humanas na região onde houve a guerrilha do Araguaia, causa-me estranheza a forma desigual como são tratadas as personagens daquele episódio histórico.
Os jovens integrantes de organizações de esquerda que lá estavam para instalar um foco guerrilheiro, por influência de seus chefes partidários, pensavam derrotar a chamada “ditadura militar”, a fim de “restabelecer a democracia” no Brasil. Na verdade, era a senha para a implantação sim de uma forma radical de comunismo, fosse aos moldes da China, de Cuba ou, surpreenda-se, até da Albânia.
Hoje, aqueles jovens são tidos pela imprensa como “idealistas fuzilados pelo Exército”, num endeusamento que já vem de anos. Como se, dentre as forças em presença, só a eles fosse concedida a prerrogativa de serem heróis e idealistas.
Pouco ou nenhum caso é feito para com os militares de todas as Forças que para lá seguiram a fim de debelar o foco guerrilheiro. Desta forma, torna-se digno de nota que a chamada grande imprensa não procure destacar as condições nas quais foi morto o Cabo do Exército Odílio Cruz Rosa — o Cabo Rosa — que, este sim fuzilado pelos guerrilheiros treinados em Pequim/China e Cuba, veio a ser a primeira vítima fatal da guerrilha, apanhado numa emboscada desencadeada pelos “idealistas”, morrendo a oito de maio de 1972.
O Cabo Rosa, justamente por ser Cabo, também era jovem. Tinha pai, mãe, irmãos, amigos. Tinha gostos, aspirações, preferências, torcia por um time ... E por que então não é resgatada a sua história de vida ou, pelo menos, as circunstâncias de sua morte? Certamente, não daria muito trabalho à imprensa. Sua história seria fácil de contar, pois, afinal, foi uma vida simples, sofrida como a de tantos outros jovens brasileiros. Porém, foi curta, interrompida bem cedo, pelo chumbo dos idealistas, estes, por sua vez, já retratados em vários filmes patrocinados com verbas públicas. Para ser justo, devo destacar o estudo da vida do Cabo Rosa feito pelos jornalistas Thais Morais e Eumano Silva em livro do ano de 2005, mas que, por seu preço elevado, ficou confinado a um grupo restrito de leitores.
Acredito que boa parte das pessoas que procuram informar-se pelos jornais gostaria de saber como está vivendo, se ainda viva, a senhora mãe do Cabo Rosa, com a mirrada pensão militar que o filho falecido lhe legou. Como estão seus irmãos e amigos, que não tiveram a oportunidade de se autoexilarem e formarem-se em cursos superiores de elevado nível no exterior?
Ou considera-se que, em essência, a dor e a saudade dos familiares do Cabo Rosa são menos dolorida e sentida que a de outros?
O Brasil não nasceu quando os jovens jornalistas atualmente em serviço terminaram suas faculdades, nem nasceu com o fim dos governos revolucionários pós-1964. O Brasil nasceu bem antes e construiu sua História ao longo dos séculos, criando, desenvolvendo, aperfeiçoando e tornando permanentes certas instituições, como a Justiça, por exemplo; como as Forças Armadas, por exemplo; como o Exército Brasileiro, por exemplo.
Por isso, quando os militares receberam a missão de neutralizar o foco guerrilheiro, não saíram por aí qual um “bando” de facínoras que fuzilava idealistas. Integravam sim uma força armada legalmente constituída e taticamente organizada, em combate — destaco: combate — contra uma outra força, também armada, que lhe opunha resistência.

Se a força guerrilheira (e ela própria assim se intitulava) era mal armada, mal alimentada, mal vestida, mal suprida, enfim, mal comandada, quem deve responder são os ícones partidários. Alguns já são falecidos, mas outros estão aí, bem vivos. Quem sabe eles, ou seus partidos políticos, possam também ser acionados judicialmente e responsabilizados pelas mortes dos idealistas insidiosamente afastados de suas famílias e enviados para o Araguaia?
Tomo o caso do Cabo Rosa como emblemático. Sei de outros militares que combateram a guerrilha — tanto na cidade como no campo — que foram mortos ou feridos, e há ainda aqueles aos quais os jovens idealistas não concederam nem o supremo orgulho de morrerem combatendo, matando-os à traição. Todos tinham famílias. Como elas estão hoje?
Senhores, “Cabo Rosa” não é apenas o nome de uma clareira perdida na mata, onde, conforme os jornais, militares fuzilavam idealistas. “Cabo Rosa” é nome dado pelo Exército a uma base de instrução especializada localizada às margens da Rodovia Transamazônica, onde “outros jovens idealistas” são muito bem treinados na arte da guerra na selva. “Cabo Rosa” é, antes de tudo o nome de um verdadeiro herói. E o Exército cultua seus heróis.
Ou, modernamente, ser herói é uma questão partidária ligada ao pensamento “politicamente correto”?
O que diriam a “Dona” Olindina e o “Seu” Salvador, pais do Cabo Rosa? Os filhos dos outros são tidos como heróis. E o filho deles? Não? Se a todos os idealistas e familiares for concedida certa reparação econômica, a família do Cabo Rosa também será contemplada?
22 de julho de 2009
Jorge Alberto Forrer Garcia – Coronel R1

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