quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trabalhe Pesado!

por João Melão Neto
No início dos anos 1700, quando a revolução comercial já era um fator determinante do progresso e do desenvolvimento das nações, um pensador espanhol teria escrito um ensaio defendendo a tese de que o seu país não deveria entrar naquela competição porque seria um esforço desnecessário. A Espanha, então, possuía reservas em metais preciosos suficientes para comprar tudo aquilo o que seu povo necessitava. Este mesmo argumento poderia ser válido, um século depois, nos anos 1800, para não embarcar na aventura industrial.
O resultado é que o império espanhol ruiu, as suas decantadas reservas se dissiparam, e a outrora pujante nação ibérica amargou mais de dois séculos de decadência. Está voltando ao proscênio agora, quando nem o seu governo e nem o seu povo se pautam mais por aquela enganosa opulência do passado.
De certa forma, é este mesmo problema que inviabiliza o progresso e o desenvolvimento de muitos países que vivem, atualmente, da riqueza fácil gerada pela extração de petróleo. Para que, afinal, arregaçar as mangas? O ouro negro supre todas as carências.
Não é à toa que, dentre os países mais pobres da África, figurem — em aparente paradoxo — aqueles que possuem as maiores reservas mundiais de diamantes e pedras preciosas. A posse de recursos naturais abundantes e de fácil extração já causou a desgraça de muitas nações, através dos tempos.
O que dizer, então, quando a falsa abundância não provém de riquezas reais, mas sim de programas assistenciais promovidos pelos governos locais?
Todos os analistas isentos e imparciais seriam unânimes em afirmar que, em tais casos, o caminho da perdição seria ainda mais curto.
E se tais políticas paternalistas estivessem sendo promovidas em um país pobre e desprovido de maiores recursos? Aí, então, seria suicídio — afirmariam os estudiosos — uma nação deliberadamente atirando em seus próprios pés.
Pois é esse exatamente o caso do Brasil e do seu programa Bolsa-Família.
Segundo se vangloria o próprio governo, o programa já contempla 11 milhões de famílias, alcançando, assim, entre um quarto e um terço de toda a população brasileira. Trata-se de um exemplo ímpar: em toda a história universal, somos o único povo que logrou escapar da miséria através de mesadas.
Argumentos para defender o Bolsa-Família não faltam. O difícil é acreditar que o programa seja viável para sempre.
Pode-se argumentar, a favor do mesmo, que, em termos imediatos, ele é uma forma eficaz para combater os malefícios causados pela miséria. Sem dúvida. Mas se trata de um paliativo — um remédio que cuida dos efeitos e não das causas da moléstia. Assim sendo, o seu efeito não é duradouro nem, tampouco, definitivo.
Há ao menos três aspectos cruciais que estão eivando a iniciativa:
— Não se está exigindo, na prática, qualquer contrapartida do beneficiário.
— Não se está fixando um prazo máximo para a concessão do benefício.
— O valor do benefício pago está se revelando muito elevado.
Benefício concedido sem reciprocidade é esmola. E esmola não cria cidadãos ativos. Cria, isto sim, mendigos.
Benefício concedido para sempre não é uma ajuda, mas sim um privilégio. E privilégios não geram indivíduos independentes. Geram, quando muito, um massa disforme de parasitas.
Benefício com valor elevado não complementa o trabalho, mas sim o substitui. Não gera trabalhadores, mas sim desocupados. Ao invés de pessoas ativas, uma multidão apática de ociosos. Um exercito de pensionistas, totalmente dependentes da boa vontade dos governantes.
Se o objetivo final de Lula e do PT é o de criar um gigantesco curral eleitoral, eles estão sendo muito bem sucedidos. Os “bolsistas” do famigerado programa estarão sempre dispostos a sufragar os candidatos que o governo recomendar.
Mas se o que se pretende é emancipar as pessoas, então o bolsa-família está se revelando uma grande excrescência.
Como está escrito na porta do Inferno de Dante: abandonai todas as esperanças, vós que entrais”.
Aqueles que se inscrevem no “bolsa-família”, hão de saber que dele jamais sairão. As suas virtudes ativas, a sua independência, a sua cidadania, tudo isso, enfim, é impiedosamente moído tão logo se ingressa no programa. A ética do trabalho e do esforço como as únicas formas legítimas de se prosperar na vida, deixa de existir já na soleira da porta.
Como reza o ditado: montar em um tigre é fácil. O difícil é desmontar dele depois.
O Bolsa-família é um programa que, uma vez implantado, não há mais como descartá-lo. Os milhões de beneficiários já estão acostumados com o aporte mensal do dinheiro fácil. Como dizer a eles que, dali em diante, deveriam suar o rosto para obtê-lo?
Tanto para o governo como para a oposição, propor o fim do bolsa-família seria algo eleitoralmente desastroso. E o programa, assim, se impõe como algo definitivo.
Aqueles que trabalham hão de votar na oposição, já aqueles que não trabalham votarão sempre no governo. Como estes últimos estão se tornando maioria, o continuísmo parece ser um prognóstico evidente.
Como é economicamente impossível colocar a totalidade dos brasileiros sob o guarda-chuva do bolsa-família — alguém tem que pagar a conta — teremos no País, doravante, duas classes de cidadãos: Aqueles que sustentam e aqueles que são sustentados pelo bolsa-família.
Quanto a você, que está lendo este artigo, a recomendação do governo é a seguinte: Trate de trabalhar duro! Além da sua família, há mais outras 11 milhões que dependem de você!
João Mellão Neto, jornalista, deputado estadual, foi
deputado federal, secretário e ministro de Estado
E-mail: j.mellao@uol.com.br
Fonte: Blog do João Melão,
com indicação do meu amigo Áureo.

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