domingo, 14 de junho de 2009

O Rio Grande do Sul Não Existe!

por Giuseppe DelGesu
Acompanhar os acontecimentos no Rio Grande do Sul e suas repercussões é de certa forma equivalente a ler uma obra de ficção científica: coisas horríveis acontecem, indivíduos são injustiçados de forma brutal, mas apesar dos acontecimentos nos moverem, eles são, afinal, acontecimentos em um outro mundo, um mundo que felizmente sabemos não existir. Como não existe, fechamos o livro e vamos, sei lá, comer uma banana.
Reinaldo Azevedo leu o livro, fechou, e foi comer uma banana. Rodrigo Maia foi comer uma banana. Sérgio Guerra foi comer uma banana. O bananeiro que mais me intriga é o primeiro, e o motivo é óbvio: ele sempre fez questão de afirmar a sua intolerância com a ideologia e os métodos atualmente empregados com plena força no Estado. Recentemente despejou sua lábia contra os assassinos de reputação no caso de Wilson Simonal. Não tão recentemente fez o mesmo com o caso de Ibsen Pinheiro. O que faz, no entanto, quando os assassinos de reputação acionam todos os seus instrumentos contra a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius? Fecha o livro e vai comer uma banana.
Seria um problema com Yeda Crusius? Vejamos quem é ela, então:
— Ministra do Planejamento em 1993. Sua gestão foi curta, mas séria. Nada há que a desabone neste papel. (Pesquisem e verão que é exatamente o contrário. Mas estamos tentando entender porque Reinaldo foi comer a banana.);
 Deputada Federal, de 1994 a 2006. Neste papel realizou inúmeros projetos, entre os quais a regulamentação da quebra de sigilo bancário. Foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Finanças e Tributação. E por aí vai. Algo contra? Até agora, não. Até agora, exatamente o contrário;
 Governadora do Rio Grande do Sul, 2006. Retira, em menos de dois anos, o Estado de um buraco financeiro que todos acreditavam ser sem fundo. Inicia o pagamento de precatórios, algo que não acontecia desde o governo de Olívio Dutra em 1999 (Olívio Dutra foi o segundo colocado nas eleições de 2006!). Enfrenta de frente movimentos como MST e Via Campesina, fazendo a lei ser cumprida (ora onde já se viu?) quando fazem de reféns clientes de estabelecimentos no centro de Porto Alegre.
E por aí vai.
Hum. Yeda parece sofrer de um defeito imperdoável: tenta resolver problemas de forma séria e corajosa, sem se preocupar muito com o departamento de marketing. Ora, esperamos que Reinaldo Azevedo também não se importe muito com o departamento de marketing, não é mesmo? É claro, porém, que não se importa com o assassinato da reputação de Yeda. Mas por que? Vejamos como este assassinato vai sendo executado, então. Talvez Reinaldo não seja contra o método.
Passeatas violentas são organizadas pelo MST, Via Campesina, PCdoB e PT contra "a corrupção do governo Yeda" em 2008. À qual "a corrupção" se referiam nunca ficou claro, mas isso nunca interessou a essa gente mesmo. Yeda faz a lei ser cumprida, e Reinaldo gosta. Ué?
Manifestações são organizadas pelos mesmos grupos, desta vez na frente da casa de Yeda, onde manifestantes a chamam de nomes impublicáveis na frente dos netos de Yeda, crianças pequenas, que estão dentro da casa.
O CPERGS inicia uma campanha publicitária de ataque ao indivíduo com outdoors tão ofensivos que nem a justiça gaúcha consegue tolerar. São ordenados a retirar os outdoors, mas isso não interessa, não é mesmo? Os mesmos gráficos são utilizados em outras atividades ilegais, como o recente caso onde usaram faixas com o outdoor na Assembléia Legislativa do RS durante praticamente o dia inteiro, com a conivência do presidente da casa, Ivar Pavan, do PT.
O motorista da filha de Yeda recebe ameaças contra a sua família vinda de, pasmem, jornalistas! E por que? Ora, porque ele não "fornece provas da corrupção do marido de Yeda", ora bolas! E como, todos sabem, qualquer ser vivente possui um arquivo infinito que "prova a corrupção de Yeda e sua família".
Ah, a casa! Nunca um negócio tão transparente foi fonte de tanta intransparência. Foi minuciosamente investigado em uma CPI, cujo produto foi provar que o óbvio era verdade. Mas os jornais, rádios e TVs, por confluências cósmicas e quânticas inexplicáveis, deixam de existir e portanto nunca tomam conhecimento das provas. Quando reaparecem do nada, confusos que estão, retomam campanha histérica contra a ... bem ... "compra da casa que foi comprovadamente legal mas não pra mim porque eu não estava aqui". Mais uma CPI! E já!
A Veja (opa!) entra na dança e publica "denúncias" contra a Yeda que já foram desprovadas inequivocamente e facilmente, em exemplo de jornalismo digno de Carta Capital. É um empurrão decisivo para mais uma "CPI contra os que nos venceram" no Estado. Ou seria uma outra "CPI da mesma coisa tudo de novo repetindo"? Não, nada disso: é mais uma "CPI como instrumento de assassinato de reputação da Yeda", nada mais.
É claro que o que vai acima é só uma amostra, mas é suficiente.
Hum. Será que Reinaldo aprova esses métodos? Pelo histórico de suas opiniões, provavelmente não. Então porque Reinaldo ignora o caso mais flagrante do terrorismo organizado contra a reputação de um indivíduo no Brasil atual?
Porque para Reinaldo, o estado com a quarta maior economia do Brasil, depois de SP, RJ, e MG, não existe. Porque para Reinaldo, Yeda não existe. E, se não existe para o Reinaldo, que quer queira quer não representa publicamente a ojeriza aos métodos que aos poucos vão se tornando normais no Brasil, então não existe para o Brasil. O Brasil, então, que arque com as consequências. E o Reinaldo que seja consistente sobre o quê realmente ele é contra e considera digno de atenção.
É realmente trágico que uma história corajosa e grande como a de Yeda se torne irrelevante, que uma pessoa como ela seja desperdiçada. E que o Rio Grande do Sul, ao torná-la irrelevante com ajuda de Veja e Reinaldo, afunde neste abismo moral que, ao que parece, tomará conta do Brasil.
E que não se culpe somente o Brasil: o Rio Grande do Sul, ao aceitar o que está acontecendo, escolhe de livre e espontânea vontade entregar-se ao Mal, ou seja, à não-existência.
Fonte: blog de Giuseppe DelGesu
citado em Por Outro Lado

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