segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Em Crise, Esquerda Busca Rumo no Chile

Primeira derrota nacional em 18 anos traz ascensão da nova direita
por João Paulo Charleaux
Ao contrário de quase todos os outros países da América  incluindo os EUA , a direita foi quem mais cresceu com as eleições municipais do dia 26 no Chile. E isso aconteceu justamente em um dos poucos países onde a clássica divisão direita-esquerda dispensa eufemismos como cocaleiros, indígenas, peronistas e bolivarianos.
A Concertação, aliança da atual presidente socialista, Michelle Bachelet, perdeu sua primeira eleição em 18 anos para a direita. O prejuízo da esquerda foi de 56 das 203 prefeituras, enquanto a Aliança, coligação de partidos de direita, elegeu 36 novos prefeitos, além dos 104 que detinha anteriormente. A dança das cadeiras representa um salto de 25% para a direita e um tombo de 27% para a esquerda.
Desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990, a Concertação, coalização de socialistas, social-democratas e democratas-cristãos, vinha se mantendo e se expandindo no poder, em um claro sinal de que o legado de 17 anos de governo militar (1973-1990) tinha sido suficiente para a maioria dos chilenos.

Entretanto, as eleições da semana passada mostraram mais do que uma revanche da direita — revelam que talvez já não haja no país aquela mesma direita das décadas de 70 e 80, ou que, pelo menos, mostraram que ela está em vias de extinção.
Prova disso foi que Lucía Pinochet Hiriart, filha do ex-ditador, foi a segunda vereadora em número de votos na comuna (bairro) de Vitacura, com 15,75% dos votos. No entanto, ela saiu como candidata independente, em vez de usar o guarda-chuva da direita.
Aqui, todos querem distância daquela direita da ditadura Pinochet”, disse ao Estado o cientista político da Universidade do Chile, Guillermo Holzmann. “A coligação de direita (Aliança) é agora uma mescla daquela direita antiga, do Pinochet, representada pela União Democrática Independente (UDI), juntamente com uma nova direita chilena, que se apresenta como moderna e neoliberal, chamada Renovação Nacional.
É essa nova direita que mais ameaça a hegemonia da Concertação nas eleições presidenciais de 2009. No cenário mais provável, o candidato da Aliança seria o milionário Sebastían Piñera, dono da empresa aérea Lan Chile, que tem hoje 37% das intenções de voto.

OPÇÕES
Do lado da Concertação, o nome mais cotado era o de Soledad Alvear, até as eleições presidente da Democracia Cristã. Mas o desempenho do partido foi tão fraco que forçou os caciques da Concertação a reverem seus planos. O partido de Soledad perdeu 41 prefeituras, deixando de ser o maior do país.
Depois do duro golpe da semana passada, a Concertação teve de buscar candidatos no passado, como o ex-presidente chileno Eduardo Frei, que governou o país de 1994 a 2000, e Ricardo Lagos, que antecedeu Bachelet.
Outra alternativa seria o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, mas a média de intenção de votos de qualquer um desses candidatos não passa de 5%.
Pela esquerda ou pela direita, as eleições puseram uma pedra pesada no caminho da hegemonia da Concertação”, disse Holzmann.

Fonte: Estadão

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