segunda-feira, 20 de outubro de 2008

De Quem Teria Sido a Culpa?

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Trago um assunto, que devo confessar em nada me inspira, principalmente pela maneira comercial que está sendo abordado e explorado pela imprensa. Porém, devido a alguns pedidos para que me pronunciasse a respeito achei por bem destacar alguns dos infindáveis pontos que poderiam ser trazidos à colação.
GATE é o Grupo de Ações Táticas Especiais. É o Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar de São Paulo. É o grupo de operações táticas que atende ao maior número de ocorrências complexas no mundo "e com o maior índice de sucesso", segundo o Coronel Eduardo Félix de Oliveira.
Turma do Didi é um programa humorístico exibido semanalmente aos domingos, no horário de 12h15, pela Rede Globo. O protagonista é o personagem Didi, interpretado por Renato Aragão, contando com um elenco fixo Dedé Santana, Roberto Guilherme (Sargento Pincel), Tadeu Mello, Marcelo Augusto, Jacaré, entre outros.
Inicialmente achei por bem deixar bem clara a diferença entre a realidade e a ficção, entre o grotesco e o cômico, entre o fazer rir (de chorar) e o fazer chorar (de rir). A turma do Didi veio de alguma forma na tentativa de substituir "Os Trapalhões", programa humorístico capitaneado pelo mesmo Renato Aragão, o mesmo da "Turma do Didi". E o GATE? Eu particularmente não consigo vislumbrar qualquer tipo de humor capaz de me fazer rir, se bem que nem os "trapalhões", nem muito menos a "Turma do Didi" conseguem tal proeza. Eu definitivamente devo ser um sujeito extremamente mal-humorado.
O tragicômico seqüestro das meninas Eloá e Nayara, brasileiras, embora os nomes não nos remetam à referida nacionalidade, contaram com alguns personagens que de alguma forma se destacaram. Prometo não citar nomes.
1. A polícia:
Desenvolveu uma ação inicialmente com contornos de melodrama, mas que sua direção, surpreendentemente, fez introduzir traços de comicidade, quem sabe aproveitando o potencial de seus atores, findado por um inusitado terror trash.
2. A imprensa:
Foi a responsável pela filmagens. Teve um papel preponderante nas escolhas da direção. Interferiu decisivamente na miscelânea de gêneros (drama/comédia terror), principalmente em seu final. Falou mais alto o "comercial", afinal era quem estava lucrando ($$$$) com a produção de longuíssima metragem.
3. Os Pais:
Tiveram ambos atuação apagada. Permitiram, ou não proibiram de forma eloquente a participação de seus filhos menores, tanto na formação do casal principal (caso Eloá), como o retorno estrambólico a um ambiente hostil de quem já havia terminado sua participação (caso Nayara). Pecaram pela omissão!
4. As ONGs:
"Protetoras" dos direito dos bandidos, ops, humanos: A eterna pressão para que se trate o anti-herói como herói faz as direções tomarem caminhos pouco eficientes para o desfecho de suas produções, e não foi diferente. Na realidade ONGs são lobos famintos em pele de cordeiro.
5. A sociedade:
Esta é uma grande consumidora e incentivadora para a produção de porcarias, ainda que algumas delas sejam vendidas hipocritamente como como produto bom, de qualidade. E porcaria tem seu lugar no coração popular. Tudo, claro, é explicável pela ignorância cultural histórica que não nos deixa enxergar um palmo à frente do nariz. Estão sempre a adquirir gato por lebre e engolir cocô que lhe disseram tratar-se de caviar.
6. Lindberg: 
O verdadeiro anti-herói, tratado durante toda a filmagem como herói ou vítima de seu coração incontrolavelmente apaixonado por todos os citados acima, mas que no final resolveu mostrar aos mesmos, que o único papel que sabia desempenhar era o de vilão. Contribuiu para que a produção não terminasse como os abestalhados propagadores despreparados de opinião imaginaram, pois só perceberam a verdadeira vocação do protagonista na última cena, ocasião esta demasiadamente tardia, sem mais fita para rodar ou rolo para trocar.
Resumindo: A polícia mostrou-se mais um bando atrapalhado de um programa humorístico com indicação para até 12 anos do que propriamente uma força de segurança especial. Agiu inexplicavelmente sem qualquer independência ou autonomia cognitiva de decisões, sendo caoticamente influenciada pelo que a imprensa, as ONGs ou a sociedade poderiam vir a achar de suas atuações. Protegeram o agressor e indiretamente mataram as vítimas!
A imprensa foi novamente decisiva. A cobertura quase cinematográfica, que vale dizer produziu pauta e audiência para uma série de programas aquém do tragável, mostrou-se novamente um verdadeiro perigo iminente. Hoje, o microfone, o direito de opinião, o poder da palavra é conferido a verdadeiros idiotas, que vão desde modelos em fim de carreira à cozinheiras endinheradas. Logo eu, grande defensor da democracia, do direito de opinião, criticando quem às dão? De forma alguma, só entendo, que no programa de culinária deve se falar de culinária, o mesmo digo em relação aos de fofoca. E quanto aos de variedade como o tal Hoje em Dia da Rede Record de Televisão? Complicado isso não? Neste, em tese, poder-se-ia falar de tudo, como o próprio nome diz. Aí que surge um tal Mr. Been da TV tupiniquim colocando em um patético discursar o seqüestrador como a grande vítima do seqüestro, vitimado pelo amor incompreendido de uma menor até então não vitimada. Coloca ainda, de forma imperiosa a necessidade de se proteger a vida do pobre seqüestrador, que sempre se mostrou uma pessoa boa, apenas confusa naquele momento fruto de uma rejeição passional. Na realidade o seqüestrador precisava é de carinho. Poupe-me.
E a polícia? A polícia, mal remunerada, repleta de pais com família para sustentar, e tomada pelo medo de ser acusada por uma ação mais enérgica contra o pobre "Romeu" apaixonado, temeu ter seus policiais exonerados ao final, ainda indiretamente pela mídia e pela sociedade e diretamente pelo Estado. Isso está tão só para explicar o completo despreparo de uma polícia influenciável e incompetente. Incompetente, pois a forma pela qual se deu a invasão levando-se 15 segundos para abrir uma porta, com um seqüestrador armado na posse de duas menores é no mínimo risível e vergonhoso. Mais triste ainda foi aquele pobre policial subindo a escada só após a explosão e restando dependurado, metade para dentro, metade para fora entalado na janela. Será que não conheciam a técnica do rapel? Por certo sim. Será que não sabem que a invasão deve se dar de forma concomitante para pegar o agressor de inopino e reduzir-lhe a possibilidade de reação? Por certo sim. Como uma polícia, que se diz preparada para missões especiais como essa, permanece ao telefone durante cinco dias levando tiros do seqüestrador "bonzinho", optando por não dar o seu de misericórdia, e quando entende por bem invadir. Vocês já sabem. Afinal era apenas um menininho de pouco mais de 20 anos. E os de 12 anos que os metralham do morro? Ninemos os coitadinhos.
Presenciamos um episódio dramático, que poderia ter sido evitado pelos pais, e que tomou ares lamentavelmente tragicômicos com relação a polícia. Essa produção contou com a colaboração de uma sociedade hipócrita, de ONGs lavadoras de dinheiro e de uma "imprensa" desqualificada e tão hipócrita como a sociedade.
Entendo inclusive que algumas emissoras de TV (não me cabe citá-las) deveriam ser responsabilizadas pela escolha de suas programações, pautas e pelo material humano apresentados, indenizando as famílias pela tragédia em litisconsórcio com o Estado. Isso não é censura, é "responsabilidade social", como gostam de dizer. Essa é minha opinião, não sou comediante nem cozinheiro, embora curta umas palavras cômicas bem colocadas e mande de vez em quando bem na cozinha.
Apenas gostaria de saber quem cometeu o crime de "convencer" a menor Nayara a retornar a cena do crime. Custa-me crer, que tenha sido a polícia, quero profundamente acreditar que Nayara incorporou a Mulher Maravilha ou a mulher invisível ou algum outra heroína dos quadrinhos, que em um piscar de olhos, sem mais nem menos, haja desaparecido da visão ocular do homem normal, dos terráqueos de farda. Resta-me aguardar para ver quais das versões virá à tona, a real ou a encomendada.
COMENTO: Não há o que comentar! O cara mandou bem! O resultado pode-se imputar aos efeitos do que poderíamos chamar "síndromes" dos casos da professora Adriana Caringi (1990) e do "ônibus 174" (2000), em que a fatalidade fez vítimas além do devido, possibilitando o questionamento das ações policiais em geral pelos "especialistas" de plantão, sem que houvesse uma liderança que enfatizasse que a polícia havia feito o que devia ter sido feito. Isto, graças à falta de lideranças institucionais (políticas e nas próprias instituições), substituídas nos dias de hoje por chefias que se apropriam dos elogios quando seus subordinados alcançam sucesso mas que os abandonam à própria sorte quando algo "dá errado". Logo, logo, veremos o tal Lindberg vendendo direitos autorais para a realização de algum filme "filosófico" sobre "os efeitos do amor sobre a estrutura nervosa do dedo indicador quando em contato com um gatilho". Infelizmente, o grande número de sucessos que os órgãos policiais obtém diariamente não dão Ibope e são rapidamente esquecidos pela nossa "imprensa livre", isto quando são noticiados pois, às vezes, não recebem sequer uma pequena nota de rodapé.
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Um comentário:

... disse...

Por essas e outras que sou fã de Pollyanna. Tão fácil destilarmos os nossos venenos por entre linhas e palavras. Difícil é tentar ser justo, honesto, e imparcial. Difícil é não querer fazer nome em cima da desgraça alheia. Difícil é...
Ai, ai

Tantas são as dificuldades.

É o cara mandou bem... Como tantos são capazes de mandar. Difícil é "mandar diferente".

Puta gente inteligente essa que compõe o nosso mundo, né?