quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O Preço da Liberdade

por João Luiz Mauad
"Já pensou em viver num país onde todos tenham tudo de forma igual? Esse é o objetivo do comunismo, um sistema de organização política e econômica que surgiu como oposição ao capitalismo.(*)
As principais metas do comunismo são acabar com a propriedade privada e com o domínio sobre os meios de produção. Ou seja, a terra passa a ser de todos e todo mundo deve ter acesso aos meios de produção (ferramentas, máquinas, indústrias).
No comunismo, o objetivo não é o lucro, e sim o bem-estar geral. Cada pessoa só vai possuir o necessário para viver bem. E se, por acaso, uma fábrica produzir muito e gerar lucro, o dinheiro deve ser dividido para a população de acordo com a necessidade de cada um.
O comunismo acredita que nenhum homem deve servir a outro homem. Por isso, eles pregam o fim do Estado. A sociedade funcionaria baseada na solidariedade e na igualdade, sem divisão entre ricos ou pobres. As pessoas seriam mais conscientes e não precisariam de alguém para dizer o que fazer.
Para chegar a essa condição, o comunismo deve passar primeiro por um estágio chamado socialismo, em que existe uma ditadura que irá organizar a distribuição dos bens, deixando todos nas mesmas condições. Depois, a ditadura deve se desfazer e, como vimos, a sociedade funcionaria sozinha.
(*) Você já teve aquela figurinha mais difícil de conseguir e trocou por várias? Se já fez isso alguma vez, então você é um capitalista nato! Você foi atrás de um lucro. "'A essência do capitalismo é conseguir o máximo com o mínimo', explica o historiador Erivan Raposo."
Não pense o leitor que essas gracinhas estampadas aí em cima foram retiradas da página do Partido Comunista ou de qualquer outro desses partidos nanicos que, em pleno século XXI, ainda insistem na idealização de uma doutrina que já demonstrou toda a sua tirania social e ineficácia econômica ao longo da História dos últimos 100 anos.
Estranhamente, essa peça de retórica, nitidamente dirigida à doutrinação infantil, estava inserida, até poucos dias atrás, num site voltado para crianças vinculado à Câmara dos Deputados, devidamente misturada a joguinhos, brincadeiras, bonequinhos etc. Seu endereço eletrônico é plenarinho.gov.br e, como todo endereço .gov, é financiado com recursos retirados dos impostos que todos nós pagamos, independentemente das nossas ideologias ou princípios.
Foi então que alguns pais — cujos filhos haviam sido instruídos pelos respectivos professores a "fazer pesquisas" naquele jardim da insensatez — tomaram conhecimento da estrovenga e resolveram protestar, enviando mensagens eletrônicas para os amigos e para alguns blogs, os quais, imediatamente, passaram a divulgar o absurdo.
Passados alguns dias, os responsáveis pela página, provavelmente pressionados por uma avalanche de reclamações em suas caixas postais, decidiram dar uma satisfação à sociedade — que, afinal, é quem paga os seus salários — e alteraram (em 03/09) o conteúdo daquela aberração. Entre outras mudanças, agora informavam às crianças que "o sonho do comunismo parece não ter se concretizado, sabe? Muitos pesadelos — como o desrespeito aos direitos humanos e a morte de muitos inocentes — aconteceram desde o início do século passado nos países que adotaram o comunismo. Isso prova que, nem sempre o que é idealizado, na prática funciona como se imaginava".
Como, provavelmente, os "panos quentes" não surtiram o efeito desejado, no dia 04/09 o disparate foi retirado do ar, sob a seguinte alegação, expressa em editorial:
"(...) Após receber as referidas críticas, a equipe de redação do Plenarinho releu a reportagem e percebeu que, mesmo não tendo agido de má-fé, a matéria não atingiu seu objetivo, que era apenas o de apresentar às crianças o que era o comunismo. Analisamos que, mesmo sem intenção, produzimos uma matéria tendenciosa, que apresentou apenas os pontos positivos da teoria e não apontou os pontos negativos dos sistemas comunistas estabelecidos ou já extintos na História da Humanidade. Portanto, em respeito aos nossos internautas mirins, resolvemos retirar a reportagem do ar, assim como a outra matéria da série, 'Sobre o capitalismo'."(sic)
A grande lição que fica — especialmente nesses tempos em que a tirania tem andado sempre à espreita — é que nunca o velho adágio foi tão atual: "O preço da liberdade é a eterna vigilância."
João Luiz Mauad é administrador de empresas.
Fonte: O Globo - 10 Set 08
COMENTO: É só para mostrar como foi ganha a guerra contra o terrorismo comunista e como foi perdida a batalha no âmbito da doutrinação. "Eles" atacam de todos os lados. Mas, como na estória da dupla cercada pelo inimigo, em que um diz: "— eles estão todos ao nosso redor!"
Responderemos: "— Melhor, assim não me escapa nenhum!"

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