segunda-feira, 2 de junho de 2008

Pulgas no Legislativo

Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, peculato. A lista das acusações é mais ou menos a mesma 
— quando não se estende aos crimes de contrabando, seqüestro e homicídio.
Só mudam os nomes dos políticos envolvidos em casos desse tipo.

Mal se inicia o inquérito contra o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), no Supremo Tribunal Federal, e o noticiário registra a prisão de Álvaro Lins, deputado peemedebista na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e ex-chefe da Polícia Civil daquele Estado. Apontam-no como o chefe de um esquema de nomeações de delegados, aos quais se encarregaria de facilitar as atividades de sonegadores de impostos e donos de caça-níqueis.
Da "Operação Segurança S.A.", empreendida pela PF, também saem acusados um vereador, vários policiais e o sucessor de Lins na chefia da Polícia Civil fluminense. Toda a organização, segundo a PF, tinha entretanto um mentor de maior calibre: o ex-governador Anthony Garotinho, que passa à história do Estado do Rio como o primeiro chefe de governo estadual a ser apontado formalmente como chefe de quadrilha também.
Durou pouco, todavia, a prisão do deputado Álvaro Lins. Invocando o princípio de que deputados só podem ser detidos em caso de flagrante criminal, a Assembleia Legislativa aprovou, com folgada maioria de votos, projeto de resolução devolvendo-lhe a liberdade.
De certo ponto de vista, foi uma sábia decisão: dos 70 deputados da Casa, 33 debatem-se com acusações na Justiça. Como diz outro parlamentar, "cachorro que não tem pulga, ou já teve ou ainda vai ter".
O autor da frase é ninguém menos do que o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Sérgio Moraes (PTB-RS), que justifica desse modo — como se fosse uma contingência profissional — o fato de ser ele próprio acusado de irregularidades.
Verdade que são de pouca monta; o deputado teria contratado enfermeiras sem licitação, quando foi prefeito de Santa Cruz do Sul, e intercedido com policiais para que não multassem carros da prefeitura. Pulgas maiores acometem o senador Gim Argello (PTB-DF), que enfrenta inquérito no STF por crimes contra o patrimônio, peculato e lavagem de dinheiro.
Não deixa de ser melancólico notar que, em tantos parlamentares, a lavagem de dinheiro pareça ser um procedimento de higiene mais constante que o de submeter-se a banhos contra pulgas de vez em quando. Talvez, com o passar do tempo, estas já tenham se imunizado contra venenos e pesticidas. Caso típico de imunidade parlamentar.

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