sexta-feira, 9 de maio de 2008

Grande Circo Brasil

por Paulo Carvalho Espíndola, Cel Refo
O bicharedo ideológico de um só viés cada vez mais atuante; adestradores de incautos esmerando-se na eficácia; a lona acobertando barbaridades de todos os matizes; o elenco dirigente empanturrando-se de propinas e de tudo o que cartões corporativos lhes permitem; no picadeiro o vale-tudo das pantomimas cobrindo todos os espaços; e o enredo entorpecendo consciências e levando a platéia ao delírio. Estava armado o Grande Circo Brasil.
A platéia, ah a platéia! Esta era dividida em setores diferenciados  verdadeiros currais eleitorais — e que se destinavam às diversas classes de espectadores. Lá estavam desde famélicos até abastados, todos separados por biombos que alguns chamavam de “justiça social”, não se sabe o porquê.
Os componentes dos setores, por sua assiduidade, comportamento no circo e retorno eleitoral, eram premiados pelos dirigentes: a muitos necessitados e a alguns aproveitadores, indistintamente e pela fidelidade no voto, vários tipos de bolsas, em que se destacava a bolsa-família; à classe média — o setor mais numeroso e resignado —, um “mimo” chamado ora de carga tributária, ora de carestia, com o qual expiavam o pecado do voto duvidoso; aos ricos, a boa parte da mídia, a inúmeros parlamentares, a ex-criminosos políticos e a outros escolhidos benesses de toda ordem. Na tribuna de honra, o setor mais nobre da platéia, aboletavam-se integrantes dos “movimentos sociais”, regiamente aquinhoados pela liberdade que lhes assegurava uma pervertida cegueira na lei. O grão-mestre dos dirigentes, embriagado, recebia deles diversos bonés diferentes, com desfaçatez e total desprezo pelo Estado de Direito. 
Ontem, 07 de maio de 2008, o Grande Circo Brasil apresentou memorável exibição. 
A mulher barbada abriu o espetáculo, engolindo dossiês vazados e carpindo as mágoas sofridas pela tortura de uma ditadura cruel a que ela combatera com a sua infinita e pretérita coragem revolucionária. Em seguida, com genialidade, fugiu do script, teceu loas a um certo PAC do qual é madrinha. Sua performance foi entusiasticamente aplaudida por uma claque de animados palhaços. Por sua atuação no picadeiro, recebeu do grão-mestre juras de amor eterno e a promessa de fazer dela a grande dama de 2010. 
O ato final do espetáculo foi do capataz do circo, trazendo preso, com marcante teatralidade, um cruel fazendeiro que teve a audácia de molestar inocentes silvícolas invasores de terras na longínqua Roraima. O paladino mostrou, claramente, que direito à propriedade é letra morta da lei, que soberania é bobagem de militares e que Brasil é só nome de circo. Novamente, a claque ruidosa dos palhaços ribombou aplausos pelos ares. Ventos uivantes, num “grand finale”, fizeram drapejar estandartes vermelhos adornados com estampas de foices e martelos. 
Encharcado de suor, acordei desse terrível pesadelo, recompus-me, alimentei-me com farto desjejum e continuei a gozar das delícias do ócio de militar reformado, na certeza de que tudo vai bem no Brasil. 
Fonte: Ternuma Regional Brasília
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