segunda-feira, 7 de abril de 2008

Campanha do TSE Para Incentivar os Jovens a Votar Tem Erro de Português e de Interpretação Histórica Dos Fatos


Por Christina Fontenelle
Professores afirmam (e estão certos) que os filmes produzidos pela agência de publicidade de Washington Olivetto, W/Brasil, para o Tribunal Superior Eleitoral apresentam erro de português – mais precisamente, um erro de regência. O TSE diz que os filmes passaram por revisões e que o português estaria correto. A série de filmes faz parte da campanha "Heróis pela Democracia", lançada no último dia 28 de fevereiro, pelo TSE em parceria com a TV Cultura. Os filmes, com duração de 30 a 60 segundos cada, contém todos o mesmo texto e devem ser veiculados, sem obrigatoriedade, entre os dias 7 de março e 7 de maio em emissoras de rádio e de TV.
A polêmica gira em torno da última da última frase dos filmes: "Heróis existem. Não desperdice o direito que eles tanto lutaram e conquistaram para você. Vote!"
Para a W/Brasil, se a assinatura fosse apenas “Não desperdice o direito que eles tanto lutaram”, a sentença estaria errada e o correto seria reescrevê-la: “Não desperdice o direito pelo qual eles tanto lutaram”. Porém, a agência diz que a mensagem que querem comunicar é a de que “eles lutaram para conquistar o direito” e não a de que “eles lutaram pelo direito”. Para a W/Brasil, a palavra “direito” não tem relação sintática com o verbo que vem logo depois (“lutaram”), mas sim com infinitivo “conquistar”, do qual seria objeto direto. Isto a agência comunicou por escrito, via e-mail, a aqueles que reclamaram do erro que explicações semânticas não corrigem. É, infelizmente para muitos, é preciso, sim, saber o português correto para que uma mensagem seja transmitida adequada e corretamente.
O professor Rabin, coordenador de redação e interpretação de texto do curso Vestibular A a Z, do Rio de Janeiro, em entrevista ao portal G1, por exemplo, contesta a explicação da agência: "Supondo que o sentido fosse esse que eles queriam dar, a frase deveria ser assim: 'Não desperdice o direito que eles tanto lutaram para conquistar para você'". Ainda, segundo o professor, o "e" da frase original estabelece coordenação entre as orações, que são independentes: "A coordenação é a ausência de nexo sintático entre as orações. Para dar o sentido que queriam, deveriam subordinar uma frase à outra ou colocar uma locução verbal", afirmou. "Prova disso é que o verbo 'conquistaram' não está no infinitivo, mas no pretérito perfeito. A emenda saiu pior que o soneto."
O professor e consultor de português Ademir Araújo Filho, de Brasília, aponta outra possibilidade para a frase, também na matéria do portal G1. "Por que" poderia ser usado em lugar do "pelo qual" ("Não desperdice o direito por que eles tanto lutaram e que conquistaram para você."). "O por que separado e sem acento, do ponto de vista clássico, é lindíssimo e muito bem formulado", afirmou.
O consultor do jornalismo da Globo e colunista do G1, Sérgio Nogueira, concorda com seus colegas: "Lutaram pelo direito e conquistaram o direito”. Logo, 'pelo qual lutaram e que conquistaram'. Isso acontece porque temos dois verbos de diferentes regências, mas com o mesmo complemento. O melhor seria refazer a frase", disse ao G1.
Os filmes foram feitos gratuitamente para o TSE pela agência de Washington Olivetto - um dos mais premiados publicitários brasileiros. Sendo a primeira vez que faz uma campanha institucional para um órgão público, Olivetto, segundo o TSE, teria aberto mão de pagamento por entender "a importância das eleições neste momento de nossa história e pela admiração que nutre pela TV Cultura e pela sua dimensão pública".
Os filmes mostram imagens de personagens históricos que, segundo a visão da agência, corroborada pelo TSE, contribuíram para a redemocratização do país, como o ex-deputado Ulysses Guimarães, o cartunista Henfil, o sociólogo Betinho, Chico Buarque, o poeta Vinicius de Moraes e outros, além de compilar cenas que retratariam a época da ditadura militar. Não, não são as cenas do país crescendo 14% ao ano, as estradas boas, as praias repletas e sem arrastão, os cidadãos de todas as idades, de todas as cores e de todos os níveis sócio-econômicos passeando nas ruas e nas favelas (que, por sinal, estavam sendo remanejadas e urbanizadas). Não. São aquelas cenas de sempre. Cenas que mostram as aflições de quem queria fazer desse país uma Cuba gigante e não conseguia.
Tudo bem. A intenção do presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, como revelou durante o lançamento da campanha, é a de que se passe a imagem de que: "Não somos vítimas. Somos autores, responsáveis pelos políticos e administradores públicos que temos. Devemos fazer a melhor escolha possível para depois não nos arrependermos". Para o ministro, "o que queremos é revelar a evolução que tivemos a partir de 1988, deixando para trás o regime de exceção e sinalizar que passa pela escolha dos representantes a solidez do próprio estado de direito. Não somos saudosistas".
Que me perdoe o excelentíssimo senhor ministro presidente do TSE, mas os filmes são insultantes à inteligência dos brasileiros e não cometem somente um erro de regência em português, mas também um erro de interpretação histórica dos fatos que ocorreram no país. Neste sentido, com todo o respeito, o filme presta um desserviço à nação e, principalmente, aos jovens brasileiros, quase que completamente indefesos em matéria de conhecimento dos fatos históricos – tamanha a lavagem cerebral que sofrem nos bancos escolares.
Eu prefiro achar que um homem como o senhor Marco Aurélio Mello, que, sem sombra de dúvidas têm lutado corajosamente para preservar as instituições democráticas e o estado de direito em nosso país (e com cujas declarações quase sempre temos que concordar), tenha optado por privilegiar os meios para chegar a um fim. Ele deve ter entendido que usar a linguagem histórica que já está impregnada no cérebro de nossos jovens, ainda que distorcida, seria a forma mais rápida e eficaz de incentivá-los a assumir uma postura de luta pela democracia e pela liberdade.
Na minha modesta opinião (inclusive a julgar pelas “surpresas” que vieram a público depois do sucesso do filme Tropa de Elite), os meios de comunicação e os projetos de educação para o país, continuam a insistir em querer fabricar a maneira como o jovem deva ver a História do país e a não permitir que ele simplesmente use sua lógica simples e descompromissada para chegar à verdade. E nesse caso específico do tempo dos governos militares e da campanha pelas Diretas Já o que essa gente que aparece como “herói” nos filmes da campanha do TSE queria era justamente o contrário de democracia e de liberdade. Queriam a ditadura comunista e usar a democracia para chegar ao poder, como de fato o conseguiram e de onde passariam a minar as instituições democráticas - e onde também pretenderiam ficar por muitos e muitos anos, através do aparelhamento dessas instituições com gente do partido e com simpatizantes da causa comunista.
Estou mentindo? Estou enganada? Não, absolutamente. A História futura que se fez depois das Diretas Já e que hoje se apresenta para nós me dá razão. De fato, os tais “heróis” chegaram ao poder e aí estão, roubando, colocando grampos até em ministros do STJ e do TSE, aparelhando o estado, comprando votos, e, enfim, querendo transformar o nosso ex-grande país numa republiqueta socialista integrada a união das repúblicas socialistas da América-Latina.
Democracia e liberdade? É claro que houve aqueles que lutaram e que até deram suas vidas por estes dois ideais. Tiradentes, por exemplo. E ainda há casos mais recentes como os do Tenente Alberto Mendes Júnior, morto por proteger seus soldados pelo covarde e assassino guerrilheiro comunista Carlos Lamarca (cuja viúva e filhos receberam indenizações milionárias e ainda recebem pensão do Exército pelos crimes cometidos pelo desertor – tudo patrocinado pela “democracia” que os “heróis” patrocinaram). Casos como os dos policiais brasileiros que dão suas vidas, diariamente, para livrar a população brasileira dos criminosos. Bombeiros que arriscam suas próprias vidas para salvar as de outros seres humanos que jamais conheceram. Médicos, trabalhando com salário de miséria e sem condições adequadas para bem exercer suas profissões, que salvam vidas, milagrosamente, país afora. Sim, temos heróis, de carne e osso. Mas não estes que aparecem nos filmes do TSE.
Mostrar Henfil, Betinho e Chico Buarque como se fossem heróis nacionais é, no mínimo, uma ofensa à inteligência de todos nós brasileiros. Mostrar um filme desses e não completar dizendo que toda essa gente manipulou a democracia para chegar ao poder e por lá permanecer, forjando uma economia de mercado e uma democracia, é uma infâmia.
Temos sim, insisto, muitos heróis de carne e osso, inclusive ainda vivos e atuantes. Usem esses heróis nos seus filmes. Sim, há que se corrigir não somente o erro de regência de português – erro, aliás, que deve ter sido percebido por muito poucos brasileiros, a começar pelo presidente da república. Mas, principalmente, há que se corrigir esse erro de interpretação da nossa História. Erro imperdoável, diga-se de passagem, para um órgão que deveria ter muita responsabilidade sobre aquilo que produz e sobre o que veicula como é o caso do TSE.
Como afirmou o ministro Marco Aurélio Mello, "Apatia não conduz a nada. É fuga. O jovem, que é idealista por natureza, não pode ser apático", assim também, complemento eu: nem tampouco o podem ser aqueles que têm o dever de mostrar a eles a verdade sobre sua História e sobre seus verdadeiros heróis.
Christina Fontenelle

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